28 de Agosto, 2015 –
No filme cult Amnésia (2000), o personagem Leonard, de Guy Pearce, acorda todas as manhãs com tudo em branco, sendo incapaz de formar novas memórias devido a uma doença rara que ele desenvolveu por causa de um golpe na cabeça. O personagem Leonard é fictício, mas sua doença não. O caso de um homem britânico que desde que recebeu um anestésico há 10 anos, só se lembra de coisas por até 90 minutos, foi descrito na revista Neurocase.
Dia sim, dia não, este homem acorda pensando que é 14 de março de 2005, a data em que sua incomum história começou. Aos 38, William O. foi para um procedimento odontológico que necessitava de um anestésico local, mas depois de obter a anestesia na cadeira do dentista, sua memória ficou totalmente em branco. Sua situação é tão incomum que pesquisadores têm a descrito como uma novidade para a ciência.
“Uma de nossas razões para relatar o caso deste indivíduo foi que nunca havíamos visto nada igual na literatura científica”, disse o autor principal, Dr. Gerald Burgess, do estudo realizado sobre o caso na Universidade de Leicester.
Antes do evento da perda de memória, William era um membro saudável das Forças Armadas britânicas. Ele não tinha nenhum histórico de problemas psiquiátricos ou de variações de humor, nem havia qualquer registro de doença mental em sua família. Na tarde do dia 14 de março, ele foi ao dentista para um tratamento de canal para o qual recebeu um anestésico local. Após a conclusão do procedimento, ele não conseguia se levantar e foi relatado que ele estava “desorientado”. Às 17h nesse mesmo dia, ele foi levado para o hospital.
Durante um mês após a internação, ele só conseguia se lembrar de coisas novas por cerca de 10 minutos. Sua personalidade não mudou, e ele estava plenamente consciente de quem ele era e de todo o resto até o incidente. Com o tempo, sua memória episódica lentamente se estendeu, mas ainda hoje ele só consegue se lembrar de eventos ocorridos há no máximo uma hora e meia (90 minutos), e cada dia ele acorda acreditando que ainda é 2005 e que precisa ir ao dentista. Ele consegue se orientar melhor com anotações feitas por sua esposa em seu smartphone para leitura todas as manhãs.
William tem uma condição chamada de amnésia anterógrada, que se manifesta muitas vezes devido a danos que ocorrem na região do cérebro fundamental para a aprendizagem e a memória, o hipocampo, que tem forma de cavalo marinho. Acredita-se que ele poderia ter tido uma reação ao anestésico que resultou em lesão neurológica, mas vários tipos diferentes de exames cerebrais não encontraram quaisquer anormalidades visíveis.
Os especialistas vem apresentando idéias diferentes a respeito do caso, nenhuma das quais apontam para o anestésico ou o procedimento odontológico. Uma delas é que poderia ser uma forma incomum de amnésia dissociativa, que é aquela em que os pacientes têm perda de memória após um acontecimento traumático. Mas o intrigante é que William não relata ter sofrido nenhum desses eventos e ele sempre permanece emocionalmente estável.
Outra explicação possível é que William poderia ter uma deficiência na síntese de proteínas, um processo necessário para a reestruturação das conexões das células nervosas (sinapses), responsáveis pelo fluxo de informações. Sem a nossa capacidade de alterar e reforçar estas estruturas diante dos acontecimentos, as memórias não são consolidadas e, portanto, desaparecem. Assim, essa última teoria tem sido a mais convincente, pois esse processo leva cerca de 90 minutos – que é o tempo que ele é capaz de reter novas memórias.
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