17 de Agosto, 2015 –
Em estudo recente publicado na revista Nature Neuroscience, cientistas descobriram grupos de neurônios que são ativados em percentuais diferentes dependendo da velocidade em que um animal está se movendo. Apelidadas de “células de velocidade”, elas poderiam ser o elo perdido no entendimento da forma pela qual os animais são capazes de identificar sua própria localização no espaço.
O estudo, realizado por cientistas da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, baseia-se em pesquisas anteriores que haviam identificado dois grupos de neurônios responsáveis por ajudar animais a rastrear a sua localização. As “células de localização” (ou Place Cells, em inglês) foram descobertas na década de 1970 em experimentos com ratos. Os cientistas identificaram que esses grupo de células cerebrais era ativado quando os animais interagiam com um novo lugar.
Em 2005, novos experimentos já haviam identificados as “células de grade ou rede” (Grid Cells, em inglês), que são ativadas em intervalos regulares quando um animal se move, ajudando os seus cérebros a criar mapas e coordenadas de geolocalização mentais.
Como essas células obtinham informações sobre o ângulo e a velocidade de movimento, no entanto, ainda permanecia um mistério. Agora, os pesquisadores noruegueses afirmam ter encontrado evidências da existência de “células de velocidade” (speed cells, em inglês).
“As células de velocidade que descobrimos são uma espécie de elo que faltava na compreensão de como o nosso sistema de posicionamento (orientação espacial) funciona”, disse o co-autor do estudo Edvard Moser.
Nos experimentos, os ratos foram conectados à uma esteira móvel e colocados numa via de quatro metros de comprimento. Em seguida, eles tinham que correr em determinadas velocidades, na medida em que os cientistas alteravam a velocidade da esteira. Os eletrodos foram implantados nos cérebros dos ratos para estudar o tecido cerebral profundo conhecido como o córtex entorrinal, onde as “células de rede” foram encontradas anteriormente.
Durante os testes, verificou-se que entre 13 e 15% das células monitoradas mostraram um padrão de ativação que se correlacionou com a velocidade a qual os animais estavam em diferentes momento.
“As células, em número de várias centenas, parecem não ter nenhum outro propósito além de monitorar a velocidade do animal””, disse Moser. “Esta é a primeira vez que as células de velocidade foram demonstradas como um tipo de célula única”, completou ele.
Embora a experiência seja com ratos, Moser disse que é “muito provável” que estas mesmas células existam nos seres humanos.
“Sabemos que algumas ‘células de grade’ existem em seres humanos, como já foi demonstrado em pacientes com epilepsia que têm minúsculos eletrodos implantados em seu cérebro”, disse ele, acrescentando que “células de lugar” também já foram observadas em seres humanos.
Estes não são exclusivamente os únicos tipos de células de posicionamento; “células de fronteira” e “células de direção” também já foram detectadas previamente. Se os neurocientistas compreenderem como todas elas funcionam, esse conhecimento poderia ser aplicado para o tratamento de certas doenças.
“Elas podem nos fornecer uma melhor compreensão de como todo o córtex trabalha”, ressaltou Moser. “E o córtex é a base de toda a atividade, de modo que esta seria uma base muito melhor para a compreensão das doenças psiquiátricas.”, completou. Em particular, ele cita que poderia ser útil no tratamento da doença de Alzheimer, que pode ser acompanhada pela perda dos sentidos de orientação.
Em 2014, o Prêmio Nobel de Medicina foi concedido aos autores das duas primeiras descobertas. Metade do prêmio foi concedida ao norte-americano John O’Keefe (que descobriu as “células de localização), e a outra metade aos noruegueses, May-Britt Moser e Edvard Moser (responsáveis pela descoberta das “células de grade ou rede”).
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