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A pior parte da esquizofrenia não é o que você pensa

Staglin, Brando Esquizofrenia

Brandon Staglin nas vinícolas de Rutherford, Califórnia.

Brandon Staglin perdeu o contato com a realidade pela primeira vez no verão de 1990 após entrar na faculdade. Seu primeiro relacionamento sério tinha acabado. De volta a sua casa na Califórnia (EUA), ele estava lutando para encontrar um emprego temporário durante o verão. Foi quando as vozes se tornaram impossíveis de ignorar.

Staglin conta que não conseguia dormir e achava que um muro tinha caído dentro de sua cabeça, deixando o lado direito oco. “Eu senti que tinha perdido metade do meu espírito”. Ele lembra que chegou a cobrir seu olho direito com a mão, com medo de que uma nova personalidade fosse preencher o vazio.

O pensamento delirante, como este, muitas vezes é acompanhado de vozes e de outras alucinações. É um sintoma clássico da psicose que predomina entre as pessoas com esquizofrenia.

Travis Webster Esquizofrenia
Travis Webster na casa de sua mãe em La Jolla, Califórnia.

Travis Webster também teve seu pior momento quando ele tinha 18 anos, em 2013. Diagnosticado com transtorno esquizoafetivo, que combina a psicose com humor selvagem, ele deixou de tomar uma medicação. Isso levou a um conflito com seus pais, pensando que os mesmo estavam conspirando contra ele, apesar dos esforços por parte dos pais em tentar ajudar. Ele já havia entrado com um processo judicial para obter uma medida de restrição contra a sua família quando dois policiais e um assistente social bateram à sua porta no centro de San Diego (Califórnia).

As coisas rapidamente saíram do controle na medida que ele resistia às tentativas dos policiais para contê-lo. “Eu tinha 1,95m de altura e 100kg”, lembra Webster. Ele deu um soco no rosto de um deles e foi condenado a dois meses de prisão.

Mas hoje a vida ficou melhor para ambos. Atualmente, a psicose é controlada por medicação e eles se tornaram defensores da saúde mental: Staglin ajuda a administrar o Instituto Uma Mente – uma organização de pesquisa criada por sua família produtores de vinho na Califórnia – e Travis fala sobre suas experiências em escolas locais. Silenciar as vozes e banir os delírios, no entanto, não significa que tudo ficou tudo perfeito. Ambos eram bons alunos, mas suas notas entraram em queda livre quando foram afetados pela psicose. E mesmo depois que os sintomas foram controlados, eles ainda tem muitas dificuldades para se concentrar nos estudos.

Alucinações e delírios podem ser a face pública da esquizofrenia, mas os sintomas cognitivos ocultos – que incluem a dificuldade em se concentrar em tarefas mentais, compreender a fala, e lembrar-se com precisão do que aconteceu – faz com que seja muito difícil ter uma vida produtiva e satisfatória.

“Eles podem ouvir vozes e aprender a ignorá-las”, diz Cameron Carter, professor da Universidade da Califórnia, especialista nos aspectos cognitivos da esquizofrenia. Mas é difícil acompanhar conversas das pessoas se você literalmente não pode processar o que elas estão dizendo.

Entretanto, Staglin e Travis – juntamente com dezenas de outros voluntários – encontraram um alívio ao praticar jogos de computador destinados a reforçar as suas capacidades mentais. Eles participaram de estudos conduzidos por Sophia Vinogradov (foto abaixo) e seus colegas da Universidade da Califórnia, em San Francisco, que realizam pesquisas na área de neuroplasticidade – o conceito de que o cérebro muda em resposta à forma como ele é usado. Isto significa que os circuitos neurais podem ser reforçados através de treinamento mental, assim como um atleta constrói seus músculos ao malhar na academia.

Sophia Vinogradov

Os jogos computadorizados foram projetados por neurocientistas da empresa Posit Science, sediada na Califórnia. A empresa tem como diretor-científico um dos pioneiros da neuroplasticidade, o médico PhD Michael Merzenich, também professor da Universidade da Califórnia.No Brasil e países de língua portuguesa, os jogos são disponibilizados pela NeuroForma Tecnologias®, empresa sediada no Rio de Janeiro, sendo traduzidos e adaptados ao português sob a supervisão do médico PhD Rogério Panizzutti, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Eles ajustam a sua dificuldade automaticamente para que os jogadores obtenham sucesso em apenas cerca de 80% das tarefas. Ao melhorar o seu desempenho, o jogo fica mais difícil. Se a sua concentração desliza, as tarefas podem ficar um pouco mais fáceis até que você recupere seu ritmo. É como ter um personal trainer na academia, mantendo-o na zona correta para construir a força e fitness, sem faltar ou treinar demais. E como um regime de aptidão física, a melhora só vem com a persistência. Os estudos de Sophia Vinogradov normalmente envolvem até 50 horas de treinamento no espaço de 8 a 10 semanas.

“Se você não fizer o treinamento de forma intensiva, você não vai obter os mesmos resultados”, ressalta Vinogradov. “Você precisa voltar a cada três dias, e fazer suas repetições novamente.”, completa a neurocientista. Confira aqui o estudo que está sendo feito na mesma linha de pesquisa com pacientes portadores de esquizofrenia e transtornos cognitivos leves no Instituto de Psiquiatria da UFRJ.

Staglin Brandon
Brandon Staglin

Depois de seu primeiro episódio psicótico, Staglin voltou às suas aulas no Dartmouth College em New Hampshire, mas suas notas despencaram. Ele finalmente foi capaz de melhorar suas notas, mas ao custo de se isolar socialmente e dedicar quase toda a sua energia mental para os estudos. A leitura era um grande esforço. Sentia-se socialmente desajeitado e conta que se esforçava para fazer amigos.

Após a faculdade, Staglin trabalhou para uma empresa de engenharia de satélites em Palo Alto, Califórnia, e estava pleiteando uma vaga para a pós-graduação no MIT quando a pressão se tornou grande demais novamente. “Eu tive que renunciar ao meu trabalho. Eu não conseguia focar. Não conseguia me concentrar “, lembra ele.

Assim, no final dos anos 1990, Staglin participou de alguns dos primeiros experimentos de Vinogradov, que foram projetados para ajudar as pessoas com esquizofrenia a compreenderem a fala e outros sons. Entre outras tarefas, ele teve que dizer se um tom rapidamente subia ou descia como é o caso do exercício Ondas Sonoras disponível em nossa plataforma on-line. Staglin diligentemente fez suas repetições e viu surgirem os benefícios depois de muitos anos de luta com os sintomas cognitivos da esquizofrenia.

Para Staglin, perceber que estava ficando melhor nessas tarefas aumentou sua confiança. Como seu desempenho melhorou, tornou-se mais extrovertido. “Não tenho dúvidas que é por causa dos benefícios cognitivos de ser capaz de perceber e compreender conversas melhor”, disse ele.

Apesar dos benefícios da experiência inicial para Staglin e outros voluntários, demorou vários anos para que a pesquisa ganhasse financiamento. Em seu primeiro grande estudo, publicado em 2009, a equipe de Vinogradov convidou pessoas com esquizofrenia para visitar o seu laboratório e jogar uma variedade de jogos para melhorar a forma como eles entendem os sons. Além do exercício de distinguir “os tons de subida ou descida”, eles também praticaram exercícios de distinção entre sílabas distorcidas contendo sons semelhante, além de exercícios mais complexos, como lembrar detalhes de conversas “jogadas” na tela.

Os voluntários que tinham treinado com esses exercícios, posteriormente realizaram testes em que eles tinham que lembrar as palavras. Eles tiveram melhor desempenho do que um grupo de controle participante da pesquisa e que havia treinado somente em jogos de quebra-cabeça. Eles também se saíram melhor em testes gerais de capacidade cognitiva. Surpreendentemente, os ganhos foram cerca de duas vezes maiores que aqueles tipicamente relatados em estudos de treinamento cognitivos anteriores. E os benefícios ainda podiam ser verificados seis meses depois.

Devido a esse sucesso inicial, a neurocientista Sophia Vinogradov e seus colegas têm estudado e testado diferentes jogos de treinamento que trabalham também circuitos cerebrais responsáveis por processar informações sociais – por exemplo, pedindo voluntários para ler as emoções em imagens de rostos de pessoas. Os pesquisadores também tentaram intervir no início da doença (assim como Staglin e Travis, a maioria das pessoas que tem esquizofrenia sofre seu primeiro episódio ainda jovem)

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No ano passado, no Congresso Internacional de Pesquisa em Esquizofrenia, em Colorado Springs, a equipe de Vinogradov informou que o treinamento fez mais do que aumentar as habilidades cognitivas de jovens recém-diagnosticados: ele também pareceu reduzir a gravidade dos seus sintomas psicóticos, medidos seis meses mais tarde.

Isso não significa que o treinamento cerebral pode substituir as drogas que controlam as alucinações e os delírios. Mas sugere que os jogos computadorizados cientificamente projetados podem ajudar a proteger o cérebro da “fiação rompida”, que se acredita ser a principal causa dos sintomas da esquizofrenia.

Os pesquisadores querem transformar as melhorias cognitivas em fatores reais de mudança de vida, mas ainda não está comprovado se o treinamento pode fazer uma grande diferença no que se trata de manter um emprego por exemplo. Vinogradov acha que isso pode exigir uma combinação dos jogos de computador com outros tratamentos, como a terapia ocupacional, a fim de ajudar as pessoas com esquizofrenia a gerenciar as tarefas diárias, e também com baixas doses de drogas estimulantes, que podem melhorar o foco.

 

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Travis se envolveu na pesquisa de Vinogradov somente no ano passado (2015), como voluntário do estudo que está testando se o treinamento funciona com o uso de um tablet iPad – para que os jovens com esquizofrenia possam realizar seu treino de casa ou qualquer outro lugar com conexão à Internet.

Assim como Staglin, Travis tinha dificuldades com tarefas mentais e sentia-se socialmente isolado. Estes problemas foram agravados, lembra ele, por várias concussões durante o seu tempo na cadeia, quando ele foi espancado por outros internos.

“Eu começava a fazer a lição de casa e não conseguia continuar”, diz Travis. “Ficava extremamente irritado nesse estado”, completa ele.

Travis conta que vem sentindo o treinamento com os jogos computadorizados no tablet ajudar bastante. “Eu comecei a perceber que eu estava menos ansioso, inclusive quando estava em público”, lembra ele. “Meus pensamentos tornaram-se mais organizados”, ressalta.

Jogos projetados para ajudar um usuário a compreender o que se está vendo, aprimoram a visão periférica e tem o potencial de aumentar a consciência durante conversações. A mãe de Travis notou que ele passou a responder mais rapidamente – anteriormente suas conversas eram pontuadas por longas pausas.

Ainda assim, Travis, muitas vezes interrompia os jogos antes do tempo porque ele achava os exercícios chatos. “Eu deveria fazer cinco horas por semana. Eu acabava fazendo três”, disse ele. “Com a esquizofrenia, é muito comum ter falta de motivação”, resume.


Intervenção preventiva

A equipe da neurocientista Sophia Vinogradov agora está se concentrando em intervir ainda mais cedo, em jovens que ainda não tiveram um episódio psicótico completo, mas que estão começando a se comportar estranhamente ou que têm dificuldade em distinguir os sonhos da realidade. Os pesquisadores já demonstraram que o treinamento ajuda os jovens em alto risco de desenvolver psicose a ficarem melhores para se lembrar das palavras e das coisas, o que já é um grande avanço para não perderem a conexão com a realidade.

 

Mas a ideia de iniciar o tratamento antes que as pessoas tenham tido um surto psicótico completo é controversa. A Síndrome de Psicose Atenuada que se destina a descrever as pessoas em risco de desenvolver esquizofrenia, foi rejeitada como um novo diagnóstico psiquiátrico em 2012. Os críticos argumentavam que mais de 70% dos jovens que têm pensamentos estranhos e alucinações menores não desenvolverão a patologia. Eles se preocupavam com a possibilidade desse diagnóstico se tornar comumente aceito, o que poderia levar a uma expansão enorme e injustificada na prescrição de poderosas drogas antipsicóticas.

 

Fazer com que os jovens joguem jogos de computador não desperta os mesmos medos. “O treinamento cognitivo é provavelmente benigno o suficiente”, segundo Allen Frances, da Duke University, que liderou a oposição ao diagnóstico proposto em 2012. Mas ele continua preocupado com os jovens que nunca desenvolveriam a esquizofrenia, pois estes poderia ficar estigmatizados por um rótulo “de risco”.

 

Travis, por sua vez, conta que gostaria muito de ter tido a oportunidade de acesso precoce a todos os tipos de tratamento. Ele começou a ter problemas de concentração a partir da idade de 14 anos, e foi difícil para se socializar com outras crianças principalmente a partir daí. “Eu acho que minha vida teria sido diferente”, ressalta ele, “se tivessem diagnosticado essa doença antes de ter um episódio completo”, completa.

Acesse agora os jogos computadorizados em nossa plataforma on-line totalmente em português!

Fonte: BuzzFeedNews

Como o cérebro decide culpa e punição?

30 de Setembro, 2015 –

 

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A casa de uma senhora viúva é invadida por um homem segurando uma faca. Ele rouba suas jóias, bolsa, mas a deixa ilesa. Como esse homem deve ser punido? Será que o tipo de punição que você pensou mudaria depois de saber que ele tem uma criança com leucemia e que passa dificuldades para pagar as contas, fazendo tudo isso por desespero?

 

Ambas decisões morais – que determinam culpabilidade e definição de justa punição – são os fundamentos da execução das normas sociais, o que a sociedade considera como comportamentos aceitáveis. Mas como é que o cérebro processa tais julgamentos?

 

Segundo pesquisa realizada pela Universidade de Vanderbilt, as avaliações de culpa e punição, na verdade, acontecem em áreas distintas do cérebro. E, embora elas estejam conectadas, cientistas descobriram que através de estímulos podem modificar uma delas sem alterar a outra. Vamos entender melhor?

 

O foco desse estudo foi numa região do cérebro chamada de córtex pré-frontal dorsolateral (CPFD), onde já se observou em estudos anteriores ser uma região constantemente ativada em situações de julgamento com base em normas.

 

Segundo os estudos, o CPFD está envolvido na integração de informações com outras partes do cérebro e que através desta função básica, provavelmente é responsável por comportamentos e tarefas mais complexas, como a tomada de decisão.

 

Mas como o CPFD contribui para nossas decisões relativas à culpabilidade e respectiva punição?

 

Para saber mais, cientista das universidades de Harvard e Vanderbilt pesquisaram 66 voluntários – homens e mulheres – apresentando-lhes uma série de situações hipotéticas de crimes cometidos, que variavam em sua gravidade, desde furtos e roubos até assassinatos. A probabilidade de que o principal suspeito tenha sido culpado também variou nos diferentes cenários e, em alguns casos, havia determinadas circunstâncias atenuantes.

 

cortex-dorsolateral-prefrontalOs participantes, em seguida, tiveram que decidir se o acusado era culpado e como ele deveria pagar por seu crime. Simultaneamente, metade dos participantes tiveram a atividade no seu córtex pré-frontal dorsolateral (CPFD) alterada usando uma técnica conhecida como estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr). A outra metade recebeu uma estimulação falsa (placebo). Os resultados publicados na revista Neuron são superinteressantes.

 

Como esperado, o grau de dano causado e a culpabilidade eram os grandes indicadores da punição proferida pelos participantes do estudo. No entanto, os participantes que receberam a EMtr foram mais brandos nas punições do que aqueles no grupo que recebeu o placebo, especialmente sobre os crimes menos graves.

 

Ao analisar seus cérebros durante a tarefa, eles descobriram que o CPFD se iluminava durante as decisões de punição, mas nem tanto ao determinar culpabilidade (por isso as classificações sobre os culpados não foram aparentemente afetadas).

 

As análises indicaram que as punições reduzidas observadas naqueles que receberam EMTr foram provavelmente devido a uma interferência com a integração de sinais provenientes de áreas responsáveis por avaliação de danos e de culpabilidade.

 

O estudo sugere que além da uma dissociação neural entre juízos de culpabilidade e decisões sobre a punição, sua aplicação adequada requer equilíbrio entre a informação a respeito dos danos e da culpabilidade.

 

Olhando para o futuro, o principal autor do estudo René Marois relata que seria interessante ver como que o sistema de tomada de decisão é afetado quando o nível de intenção é variado.

 

– Estamos interessados ​​em variar a intensidade do dano e também compreender os diferentes graus de estados mentais, pois sabemos que isso também influencia a tomada de decisão – afirma o pesquisador.

 

 

Estudo revela novos fatores que podem levar a esquizofrenia

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28 de maio, 2015 – A esquizofrenia (nome proveniente da junção de dois radicais gregos que significam “dividir em dois” e “mente”), ou seja, “mente dividida ou fragmentada”, é um problema de saúde mental de longo prazo com uma série de sintomas que variam entre o pensamento e fala desorganizada até alucinações auditivas e visuais. As causas aparentemente dependem de uma combinação de fatores físicos, psicológicos, ambientais e genéticos. Porém, em estudo publicado no início deste mês, na revista Nature Neuroscience, pesquisadores da Universidade de Duke (EUA) relacionaram três possíveis fatores para a causa da esquizofrenia que anteriormente não estavam relacionados.

 

Os pesquisadores decidiram pesquisar como um gene, no caso o Arp2/3, contribuía para a formação de transtornos mentais. Eles escolheram este gene em particular por ser conhecido pela sua importância na regulação de sinapses (ligações entre os neurônios) e também por já ter sido associado a vários problemas de saúde mental. Os pesquisadores então resolveram suprimir este gene em camundongos e descobriram que os ratos geneticamente modificados apresentaram um comportamento semelhante à esquizofrenia. Além disso, como os seres humanos, os animais pioraram ao longo do tempo, mas reagiam bem quando lhes eram administrado um medicamento anti-psicótico.

 

Quando a equipe – liderada por Scott Soderling – investigou se havia quaisquer alterações físicas ou químicas no cérebro ligadas aos comportamentos observados nos ratos que não possuíam o gene Arp2/3, eles descobriram três anomalias cerebrais – originalmente consideradas como não associadas – que também aparecem em humanos com esquizofrenia.

 

Primeiramente, eles descobriram que as células do cérebro da área frontal – região responsável pelo planejamento e tomada de decisão – tinham menos “espinhas dendríticas” do que normal. Estas são os ramos que ajudam os neurônios a se ligarem entre si. À medida que os ratos envelheciam, eles perdiam mais e mais essas espinhas. Isto é conhecido como a “teoria da poda sináptica”.

 

 

De maneira consistente com o que ocorre com as pessoas que sofrem de esquizofrenia, eles descobriram também que os ratos sem o gene Arp2/3 também tinham neurônios hiperativos na mesma região frontal do cérebro. Era originalmente considerado que os neurônios hiperativos eram incompatíveis com a “teoria da poda sináptica”.

 

Os pesquisadores comprovaram, por fim, que os neurônios hiperativos na região frontal dos cérebros dos ratos modificados geneticamente despejavam grandes quantidades de dopamina. O excesso de dopamina no cérebro desempenha um papel relevante na esquizofrenia, segundo estudos.

 

– A parte mais interessante  foi quando todas as peças do quebra-cabeça se juntaram – , explicou Soderling, autor principal da pesquisa.  – Quando o Dr. Kim e eu finalmente percebemos que estes três fenótipos exteriormente não relacionados – teoria da poda sináptica, os neurônios hiperativos e o excesso de dopamina – eram funcionalmente inter-relacionados uns com os outros, isso foi realmente surpreendente e também muito emocionante para nós – ressaltou.

 

Esta nova visão sobre a base molecular da esquizofrenia oferece esperança para novos tratamentos que são mais direcionados para as causas subjacentes da doença, ao invés de tratar apenas os sintomas.

A meditação no combate ao estresse, depressão e problemas do coração

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20 de Maio, 2015 – Nos últimos anos, vários estudos científicos sobre os efeitos da meditação, mais especificamente a meditação plena (ou mindfulness, em inglês), têm sido conduzidos por universidades em todo o mundo.

 

Um desses estudos foi publicado em 2011 pelo professor Jon Kabat-Zinn, da Universidade de Massachusetts, na revista Psychiatry Research: Neuroimaging. O trabalho analisou 16 pessoas, com idade entre 25 e 55 anos, que foram treinadas e participavam fazendo meditação por cerca de 30 minutos durante 8 semanas. Nos exames realizados após o término do treino, o cérebro dos praticantes apresentou a massa cinzenta bem mais espessa do que era antes, em várias regiões, entre elas o hipocampo: área cujas atividades têm relação com a aprendizagem, memória, orientação espacial e a regulação das emoções.

 

Recentemente, um estudo da Universidade Carnegie Mellon (na Pensilvânia, EUA) conseguiu, de acordo com o professor e autor principal do estudo J. David Creswell, “uma das primeiras explicações biológicas baseadas em evidências”. E, segundo ele, tudo se deve à redução do estresse que a meditação plena promove.

 

Quando uma pessoa está estressada, a atividade no córtex pré-frontal (área do cérebro responsável pelo pensamento consciente e planejamento) diminui, enquanto a atividade na amígdala, no hipotálamo, e no cíngulo anterior do córtex – regiões que ativam respostas ao estresse – aumentam.

 

De acordo com o estudo, a meditação inverte esses padrões: ela aumenta a atividade pré-frontal, o que pode regular e “desligar” a resposta biológica ao estresse. Isso torna possível reduzir o risco e a gravidade de doenças ligadas a essas respostas, como depressão e problemas do coração.

 

O professor acredita que, ao entender como esse tipo de exercício mental afeta diferentes doenças e distúrbios, os pesquisadores serão capazes de desenvolver melhores tratamentos e trabalhar com os que já existem de forma mais eficaz.

Pesquisadores brasileiros identificam potencial biomarcador para detecção de Alzheimer

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06 de Maio, 2015 – Fundador da NeuroForma Tecnologias é autor principal do estudo que estabelece um novo marco para o diagnóstico precoce da doença Alzheimer

 

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificaram que níveis elevados de uma pequena molécula chamada D-serina estão associados com o declínio cognitivo na doença de Alzheimer (DA). A descoberta tem o potencial de estabelecer um novo e eficaz biomarcador para o diagnóstico precoce dessa doença degenerativa do cérebro, que afeta milhões de pessoas no mundo inteiro.

 

A D-serina é um aminoácido – classe de moléculas que compõem as proteínas ou podem funcionar de forma independente para transmitir sinais fisiológicos no corpo humano. A D-serina pertence à subclasse de D-aminoácidos, que muitas vezes não se compõem em proteína, mas tem importantes funções de sinalização.

 

O autor sênior do estudo Prof. Rogerio Panizzutti (M.D, PhD), seus colegas e outros pesquisadores já vêm relatando que a D-serina está presente no cérebro e atua como uma molécula essencial de sinalização nas sinopses – os pontos de contato entre os neurônios, onde sinais neuronais são propagados.

 

Agora, ao olhar para o tecido post-mortem de pacientes com doença de Alzheimer (DA) e comparar com indivíduos sem a doença, a equipe liderada pelo Dr. Panizzutti constatou que a D-serina é anormalmente elevada no hipocampo e córtex, regiões cerebrais afetadas na DA. Eles verificaram ainda que o aumento de D-serina pode ser causado pela acumulação de oligômeros do peptídeo beta-amilóide, toxinas que se sabe desempenharem um papel central na fase inicial da doença.

 

A descoberta principal, no entanto, é que os níveis de D-serina são elevados no fluido cerebroespinhal de pacientes portadores da doença que já exibem sintomas clínicos precoces. Atualmente, o diagnóstico da doença de Alzheimer definitivo só é possível após investigação patológica de cérebros post-mortem e, a falta de biomarcador efetivo para detectar a doença precocemente, impede os esforços para deter ou reverter sua progressão.

 

No entanto, através da combinação de dados de avaliações cognitivas em pacientes, níveis de do peptídeo beta-amilóide no fluido cerebroespinhal e níveis de proteína tau, os autores identificaram um grupo de doentes que provavelmente pode desenvolver a doença de Alzheimer (DA). Nesses pacientes, os níveis no fluido cerebroespinhal de D-serina foram claramente superiores do que em grupos controles sadios, pareados por idade, ou mesmo em pacientes afetados por doenças não relacionadas. Além disso, os níveis de D-serina no fluido cerebroespinhal se correlacionaram com o declínio cognitivo em pacientes com DA provável, sugerindo que se poderia melhorar a predição clínica para deter o avanço da doença.

 

Para testar essa possibilidade, os autores Rogério Panizzutti e Caroline Madeira incluíram as medidas de D-serina em um índice amilóide-tau (AITA), que tem sido proposto para auxiliar no diagnóstico da doença de Alzheimer (DA). A incorporação das medidas de D-serina ao AITA notavelmente melhorou a sensibilidade e especificidade de diagnóstico, indicando que a D-serina pode, efetivamente, ser adicionada a um painel de biomarcadores destinados a detecção inicial de DA. Estes resultados foram publicados on-line no último dia 5 de maio, na revista Translational Psychiatry, do grupo Nature.

 

Embora níveis normais de D-serina sejam necessários para as funções cerebrais apropriadas, níveis excessivos de D-serina podem ser prejudiciais para o cérebro e contribuir para a DA. Mas talvez o que é mais interessante é que este estudo piloto revelou que D-serina poderia ir além de suas funções neuromoduladores e a sua medida ter aplicações clínicas, servindo como um potencial biomarcador para a doença. Novos estudos em grupos maiores de pacientes são necessários para replicar os resultados e confirmar esse potencial.

Efeitos neurofisiológicos da música transcendem a cultura

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14 de Maio, 2015 – Só de ouvir a trilha sonora do filme de suspense Psicose já é suficiente para acelerar o coração de muita gente, não é mesmo? Mesmo quando não estamos conscientes desse fato, ouvir música pode afetar tanto nossos corpos quanto nossas mentes de maneira estranhamente semelhante.

 

Mas será que os efeitos fisiológicos da música são mais peculiares a uma ou outra cultura ou eles são mais generalizados?

Para responder a esta pergunta, cientistas selecionaram 40 canadenses do centro de Montreal e 40 pigmeus da floresta tropical do Congo. Todos os voluntários ouviram trilhas sonoras dos filmes Psicose, Star Wars, Lista de Schindler, assim como também ouviram músicas da cultura pigmeu. À medida que os participantes ouviam, os pesquisadores observaram as suas reações emocionais, bem como as respostas fisiológicas, como alterações do ritmo cardíaco, respiração e a taxa de produção de suor na palma da mão.

 

Os dois grupos discordaram a respeito do fato de que uma seleção musical em especial era feliz ou triste. Mas todos eles tinham níveis semelhantes de excitação, medido por suas respostas fisiológicas.

 

Estes resultados sugerem que alguns aspectos da forma como reagimos à música são universais, e não estritamente culturais. O estudo foi publicado na revista Frontiers in Psychology [Hauke Egermann et al, Music induces universal emotion-related psychophysiological responses: comparing Canadian listeners to Congolese Pygmies].

 

Características acústicas fundamentais, incluindo ritmo, afinação e timbre parecem ser responsáveis ​​pelas respostas semelhantes dos canadenses e dos pigmeus congoleses. Será que esse achado significa que a Ciência pode ajudar a criar a música pop mais envolvente e universal do mundo? Nessa frente, a ciência pode estar a favor de Pharrell Williams e hits seus como “Happy”.

 Fonte: Scientific American

Videogames de ação aumentam massa cinzenta e habilidades cognitivas, afirma estudo

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30 de Abril, 2015 – Boa notícia para quem gosta de jogar videogame: estudo publicado no último dia 16, pela conceituada revista Nature, demonstrou que jogadores experientes em videogames de ação tem mais massa cinzenta, melhor conectividade, além de maior incremento das funções cognitivas, do que jogadores eventuais.

 

Com base nas evidências de que pessoas que jogam videogames de ação apresentam melhores habilidades em funções de atenção, sensoriais e motoras, este estudo examinou a relação entre a experiência e o nível de jogabilidade, a plasticidade das sub-regiões insulares bem como as redes de ativação no cérebro, relacionadas a essas funções.

 

Ao comparar os experientes e eventuais jogadores, os pesquisadores descobriram que os primeiros tinham melhorado a conectividade funcional e volume de massa cinzenta em suas respectivas sub-regiões insulares. Além disso, apresentaram maior conectividade funcional entre a atenção e respectivas redes sensoriais e motoras. Dessa forma, evidenciou que o videogame de ação pode reforçar a conectividade funcional das sub-regiões insulares e as redes pertinentes no seu interior.

 

Videogames de ação estão se tornando cada vez mais populares em todo o mundo. Similar a esportes convencionais como volei, basquete, tênis, esses jogos requerem um alto nível de atenção e coordenação olho-mão. Dada a sua influência sobre o desenvolvimento das capacidades e funções cognitivas, os experimentos com essa tecnologia tem atraído cada vez mais a atenção de estudiosos e pesquisadores. Neste estudo, por exemplo, o pesquisador Dezhong Yao investigou – através de exames de ressonância magnética – os cérebros de 30 jogadores experientes e 27 amadores.

 

Os resultados evidenciaram que os experientes tiveram maior nível de conectividade funcional em seus hemisférios cerebrais do que os amadores. A imagem abaixo mostra um mapa dos hemisférios esquerdo (L) e direito (R) do cérebro e as áreas onde há mais atividades de interconectividade. As linhas brancas evidenciaram onde os experts tiveram significativo incremento no processamento dessas atividades:

 

L-R

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ESTÍMULOS E NEUROPLASTICIDADE

 

No cérebro dos jogadores experts, as áreas com maior quantidade de atividades de interconectividade foram em grande parte no hemisfério esquerdo, responsável por resoluções de cálculos, raciocínio lógico e pensamento objetivo. Este por si só já seria um bom indício de ocorrência de neuroplasticidade mediante estímulos de games, já que os jogadores experientes são realmente melhores quando se trata de habilidades como visão espacial, resolução de problemas, tempo de reação e resposta.

 

Mas foi observado também que os 30 jogadores experientes apresentavam mais massa cinzenta em seus cérebros do que os 27 jogadores eventuais, especialmente no córtex insular esquerdo e no sulco insular central.

 

Estudos sobre neuroplasticidade e melhoria das capacidades cognitivas com a prática de jogos tecnológicos e exercícios computadorizados cada vez mais evidenciam os benefícios do uso dessas novas tecnologias. Nosso programa de exercícios para o cérebro conta com mais de 25 jogos concebidos por neurocientistas para aprimorar seis principais capacidades cerebrais: atenção, memória, velocidade de processamento, inteligência, habilidades sociais e orientação espacial. Trata-se do único programa on-line com mais de 70 estudos e pesquisas publicadas demonstrando reais benefícios para o treino e desenvolvimento de habilidades cognitivas. Ainda não o conhece ?

 

Alzheimer, Sono, Sol e Dieta

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22 de Abril, 2015 – Um novo estudo de pesquisadores holandeses relaciona a perda de sono com o Mal de Alzheimer. Nesse estudo, foi descoberto que até mesmo aquela noite de sono mal dormida ou perdida é suficiente para que haja uma maior produção de uma substância chamada beta amiloide.

 

Mas o que são essas beta amiloides?

 

São proteínas produzidas normalmente no cérebro. Já existem evidências de que pequenas quantidades dessas proteínas são necessárias para manter os neurônios saudáveis. O problema é que uma noite mal dormida produz uma grande quantidade dessas proteínas, que se acumulam e se agregam na forma de “placas” no cérebro, causando a alteração de sinapses. Essas placas são características marcantes do Mal de Alzheimer.

 

Já se sabe que o sono é essencial para que o cérebro possa eliminar os metabólitos (“lixo” produzido) provenientes da atividade das células neuronais, incluindo a beta amiloide. Dessa maneira, quando você não dorme bem, o seu cérebro não consegue eliminar todo esse lixo celular e a beta amiloide começa a se acumular. É claro que o sono é apenas um fator de risco em potencial para o acúmulo dessa substância, que é apenas um dos vários aspectos do Mal de Alzheimer. Portanto, não é prudente considerar que o sono de má qualidade faz com que uma pessoa tenha alto risco de desenvolver Alzheimer!

 

Mas quais providências podemos tomar para evitar o excesso de beta amiloide no cérebro?
O segredo pode estar na sua dieta e outros hábitos saudáveis como pegar sol (nos horários corretos) para produção de vitaminas pelo corpo. Veja abaixo alguns compostos encontrados em alimentos que podem diminuir efetivamente o acúmulo de beta amiloide no cérebro:

  • CURCUMINA: Substância presente no Açafrão-da-Índia. Alguns cientistas argumentam que, comparado com outros países, a Índia possui menores índices de demência e Alzheimer devido ao grande uso desse tempero pela sua população.
  • VITAMINA D3: Ajuda o cérebro na “limpeza” de placas de beta amiloide. Essa vitamina é em sua maior parte sintetizada através da pele, quando exposta moderadamente ao sol, mas também pode ser encontrada em alguns alimentos como gema de ovos, queijo e fígado.
  • ÁCIDOS GRAXOS – ÔMEGA 3: Também são indicados. São encontrados em peixes de águas frias como por exemplo, o salmão selvagem, anchovas, sardinhas e trutas, assim como também em nozes, ovos e sementes de linhaça.
  • OLEOCANTHAL: Composto presente no azeite de oliva. Já foram descobertas evidências que ele ajuda a remover as placas de beta amiloide do cérebro de ratos.

O que mais que eu posso fazer para manter meu cérebro saudável?
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Por que o Hodor no seriado “Game of Thrones” só fala UMA PALAVRA? A Neurociência explica.

figura pro post (facebook)

16 de Abril, 2015 – Fãs da série de TV da HBO, que entrou em sua 5ª temporada nesta semana, sabem do que estamos falando. Hodor, personagem famoso que consegue falar apenas a palavra que lhe denomina: “Hodor”.
Intencionalmente ou não, o autor dos livros da saga Game of Thrones criou um personagem que é um exemplo clássico de uma pessoa portadora da doença neurológica chamada de Afasia de Expressão, ou Afasia de Broca.

De um modo geral, as pessoas com afasia de Broca (afasia de expressão) entendem o que se lhes diz e sabem como devem responder, mas têm dificuldades em exprimir as palavras. As suas palavras articulam-se lentamente e com grande esforço e são frequentemente interrompidas por algumas sem sentido.
Uma lesão que afete ao mesmo tempo o lobo temporal esquerdo e o frontal pode inicialmente causar o emudecimento quase total. Durante a recuperação desta afasia completa (global), a pessoa tem dificuldades em falar (disfasia), em escrever (agrafia ou disgrafia) e em compreender as palavras.
A causa mais comum de afasia expressiva é o AVC, que ocorre quando um coágulo bloqueia o sangue de um dos vasos no cérebro, resultando em danos nos tecidos devido à falta de oxigênio.

Figura Afasia de Broca (texto destino post)Estima-se que afasia expressiva ocorre em 12% dos pacientes com AVC, enquanto cerca de 35% dos pacientes com AVC sofrem de alguma afasia de linguagem.
A afasia expressiva também pode ser causada por um tumor, hemorragia, hematoma no revestimento de membrana do cérebro, ou traumatismo craniano.
Sabemos que Hodor é um exemplo extremo da Afasia de Broca, mas afinal de contas, qual é a história dele? Será que ele levou uma pancada na cabeça ou sofreu um acidente vascular cerebral? O que aconteceu de fato? Talvez a série algum dia nos responda e mate de vez a nossa curiosidade.

Fontes científicas: Manual Merck de Medicina.

Pesquisa com BrainHQ mede nível de melhorias cognitivas em idosos saudáveis

Brain BIke

 

11 de Abril, 2015 – No século passado, pessoas de meia e terceira idades tinham por hábito manter seus cérebros ativos por meio da leitura e da escrita, jogando cartas, fazendo palavras cruzadas, montando quebra cabeças, entre outras atividades lúdicas e mentais. Já no século XXI, com a massificação das tecnologias digitais, novas ferramentas vem sendo desenvolvidas para o aprimoramento das capacidades cognitivas como exercícios computadorizados e, quem diria,  “videogames” cientificamente programados para estimular a memória, o foco e atenção, rapidez de raciocínio, entre outras importantes funções cerebrais.

 

“Nunca havia mexido com computadores. No início não foi tão fácil, mas agora vejo que não é nenhum bicho de sete cabeças. Já estou pensando até em comprar um”, comenta a aposentada Enila Barcellos Palhares, de 69 anos, logo após uma sessão de treino cognitivo computadorizado no Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE), na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro.

 

Dona Enila e um grupo de mais de 30 pessoas da terceira idade vem participando do primeiro estudo no Brasil com idosos saudáveis que analisa se um programa de treinamento cognitivo cientificamente projetado e disponível on-line pode melhorar significativamente as capacidades cognitivas da população acima de 60 anos no Brasil.

 

O estudo, conduzido pelo médico-psiquiatra e professor da UFRJ, Rogério Pannizzutti, usa como base comparativa videogames tradicionais e os jogos e exercícios da plataforma on-line BrainHQ, lançada recentemente no Brasil pela NeuroForma Tecnologias e Serviços – que atua no segmento de novas tecnologias digitais na área de neurociências.

 

– Nesse estudo, basicamente temos um grupo de idosos que praticam os exercícios da plataforma desenvolvida cientificamente e outro grupo controle que só joga videogames normais. Todos os participantes passam por uma triagem – através de uma bateria de testes de avaliação cognitiva com psicólogos, antes de começarem a praticar. São em média 3 sessões por semana de aproximadamente 30 minutos com o objetivo de alcançar uma carga horária de 40 horas até passarem por uma nova bateria de testes e exames -, explica Rogério Panizzutti.

 

Outra participante do estudo que relata também nunca ter antes se conectado com computadores, Guilhermina Maria Pereira, 69 anos, diz com orgulho que “hoje já consegue acessar os jogos e exercícios sozinha”.

 

– O que for bom para mente eu estou dentro. Sempre fui muito esquecida e tive dificuldades para aprender a ler. Tudo o que é novo assusta um pouco, mas já estou bem familiarizada. Alguns exercícios vão ficando bem difíceis. Mas eu gosto, me sinto desafiada – afirma a aposentada que mora no Parque da Cidade, ali perto, da Gávea.

 

O professor Rogério Panizzutti conta que o engajamento das pessoas nesse tipo de estudo é bastante animador para os pesquisadores. Ele adianta que já tem planos para replicar a pesquisa em outras instituições públicas e privadas no Rio de Janeiro e outros estados do Brasil.

 

– Por se tratar de uma ferramenta digital muito acessível e que trabalha com elementos lúdicos e desafiadores, o nível de engajamento é muito alto. Nosso laboratório nessa pesquisa é basicamente uma sala com oito computadores conectados à Internet – relata, acrescentando que a ideia é poder aplicar a pesquisa no máximo número possível de idosos saudáveis aqui no país ao exemplo do maior estudo já feito nos EUA nessa linha, conhecido como Estudo ACTIVE.

 

O Estudo ACTIVE

 

Com 2.832 participantes, o estudo ACTIVE é o maior estudo sobre treinamento cognitivo/cerebral já realizado. Financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde e conduzido por pesquisadores na Universidade do Alabama, em Birmingham, no Instituto Nacional do Envelhecimento, na Escola de Medicina da Universidade de Indiana, Universidade de Penn State, e outros, o estudo ACTIVE mostrou que idosos saudáveis ​​podem obter melhorias cognitivas muito significativas com treinamento e prática cognitiva adequada.

 

O estudo ACTIVE foi desenvolvido para comparar três diferentes tipos de treinamento cognitivo: um cujo foco foi a memória, um que tinha como alvo o raciocínio, e um treinamento com a ferramenta BrainHQ que exercitava a velocidade de processamento cerebral. O estudo foi realizado em seis locais nos Estados Unidos e todos os participantes eram adultos saudáveis ​​com idade igual ou superior a 65 anos. Os pesquisadores acompanharam os participantes por um período de até dez anos.

Confira mais detalhes sobre o estudo ACTIVE.