O que bolas de papel amassado tem a ver com o formato do nosso cérebro?

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14 de Julho, 2015 – Cérebros maiores tendem a ser mais enrugados do que cérebros menores e, por causa disso, os cientistas acreditavam que o grau de dobragem tinha a ver com o número de neurônios. Estudo publicado na revista Science deste mês pelo físico Bruno Mota e pela neurocientista Suzana Herculano-Houzel, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), demonstrou que a quantidade de dobras do cérebro não tem nada a ver com o número de neurônios e sim com a área de espessura e superfície do córtex cerebral.

 

A equipe da UFRJ utilizou grandes conjuntos de dados comparando o número total de neurônios de diferentes espécies de animais, bem como a área de superfície cortical, espessura, volume cerebral e a quantidade de dobraduras. Eles desenvolveram uma única equação matemática que explica a razão da aparência apresentada dos cérebros de mamíferos de várias espécies. A equação mostrou que quando o córtex é mais espesso, haverá menos dobras, mas quando o córtex é mais fino e possui mais área de superfície, ele apresentará mais dobras.

 

Cérebro e dobras nos animais

 

Os pesquisadores notaram que a equação é muito semelhante àquela que governa a dobragem de papel. “Se você pudesse desdobrar um cérebro e, em seguida, dobrá-lo novamente, a superfície iria agir de maneira muito parecida com o papel, que dobra sobre si mesmo ao invés de se ligar ou grudar como o ocorre com a argila”. Suzana Herculano-Houzel, co-autora do estudo, conta que teve essa percepção ao sentar-se à mesa de sua sala de jantar amassando pedaços de papel de diferentes tamanhos e espessuras. “Papéis mais grossos tinham menos dobras quando amassados. Já papéis finos com a área de superfície maior, dobravam sobre si mesmos mais facilmente”.

 

Apesar do fato de que possuir mais dobras não significa ter mais neurônios, as dobras têm suas vantagens. Maior número de dobras corticais diminuem a quantidade de tempo que leva para a transmissão de sinais neurais, resultando assim em funções cerebrais mais rápidas.

 

“Esta pesquisa nos dá insights sobre uma doença do cérebro chamada de Lisencefalia, a qual o cérebro é liso como um córtex desdobrado. As crianças com essa condição geralmente têm atrasos de desenvolvimento e outras limitações cognitivas. Ao invés de tentar encontrar algum gene ‘para dobrar’ o cérebro, esta pesquisa sugere para aqueles que estudam lisencefalia, que olhem para os genes que controlam a espessura e a área de superfície do cérebro” , completa a co-autora do estudo.