Músicas-chiclete? Saiba mais sobre seu imaginário musical involuntário

23 de Julho, 2015 –

Músicas-chiclete? Saiba mais sobre seu imaginário musical involuntário.

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Vivemos expostos a muita música em nosso cotidiano, seja através do rádio, dos nossos dispositivos eletrônicos, em lojas ou até mesmo ao interagir com pessoas cantarolando pelas ruas. Daí, muitas vezes é comum uma ou outra música ficar gravada em nossas mentes. Ela implacavelmente retorna aos nossos cérebros sem o menor gatilho ou aviso e não há nada que se possa fazer, a não ser começar a cantarolar a bendita melodia novamente.

 

Esse fenômeno – chamado de imaginário musical involuntário (do inglês ‘involuntary musical imagery ou, na linguagem coloquial em português, “músicas-chiclete”) – é uma experiência comum, mas pessoas com certos traços de personalidade, como o neuroticismo (traço de personalidade que pode levar a neuroses), podem ter esse tipo de experiência com maior frequência.

 

Embora essa experiência seja muita conhecida, sua base neural era um mistério. De acordo com estudo publicado recentemente no periódico ScienceDirect, a frequência desse fenômeno está relacionada com a espessura das regiões do cérebro relacionadas com as imagens musicais, ou a capacidade de imaginar sons ausentes. Além disso, sua ocorrência e processamento estão associados com áreas envolvidas com emoções e memória.

 

Enquanto alguns de vocês podem estar pensando que este é um assunto trivial para passar o tempo, os neurocientistas estão interessados ​​em descobrir não só porque este fenômeno é onipresente e complexo, mas também porque ele pode impulsionar o nosso estado de espírito e emoções. Outras pesquisas já indicaram que cerca de 40% dos nossos pensamentos diários não estão sob controle voluntário consciente, e o imaginário musical involuntário é uma das formas mais comuns de cognição espontânea.

 

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Neste novo estudo, os pesquisadores inscreveram 44 pessoas saudáveis do sexo masculino e feminino com idade variando de 25 a 70 anos. Nenhum dos voluntários possuía histórico de lesão neurológica ou perda de audição e nenhum deles eram músicos experientes.

 

Depois de completar uma pesquisa sobre suas experiências pessoais de imaginário musical involuntário incluindo sua frequência, além do seu envolvimento com a música (a fim de que as diferenças entre os participantes e suas experiências musicais pudessem ser controladas), os pesquisadores avaliaram os cérebros dos participantes usando um aparelho de ressonância magnética. Em particular, eles estavam procurando por diferenças morfológicas, tais como maiores volumes de tecido cerebral em áreas específicas que já haviam sido associadas com o imaginário musical involuntário.

 

Conforme fora descrito no periódico, eles encontraram uma correlação entre a frequência do fenômeno de imaginário musical involuntário e a espessura do córtex cerebral em duas regiões do cérebro: o giro direito de Heschl (HG) e no giro frontal inferior direito (IFG). Curiosamente, o primeiro era previamente ligado com a percepção auditiva ou como o nosso cérebro interpreta os sons que ouvimos, e também o imaginário musical voluntário, a versão consciente do imaginário musical. Esta última área, por outro lado, acreditava-se que ela estaria envolvida na nossa memória de pitch (grau de quanto agudo ou grave um som pode ser).

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Surpreendentemente, eles descobriram que, na verdade, as pessoas que apresentaram redução da espessura no HG direito tenderam a experimentar o imaginário musical involuntário com mais frequência, o que vai contra o senso de que  músicos e especialistas em música tendem a ter córtex mais espesso do que não- especialistas.

 

Uma correlação negativa também foi observada para o IFG direito, mas isto faz sentido porque esta região desempenha funções inibidoras no cérebro que podem reduzir a atividade espontânea em outras áreas. Portanto, se a zona é reduzida em espessura, em seguida, a sua ação inibitória também pode ser reduzida e aumentar assim a frequência do imaginário musical involuntário.

 

Por fim, os pesquisadores encontraram ainda uma relação entre a utilidade do imaginário musical involuntário para desempenhar atividades diárias e o volume de tecido cerebral em uma região crítica para a formação da memória útil, chamada de córtex hipocampal. No geral, os pesquisadores concluíram que o “imaginário musical involuntário é uma experiência comum interna que recruta circuitos cerebrais envolvidos na percepção, emoções, memória e pensamentos espontâneos”.