21 de Setembro, 2015 –
Imagine viver sem ter a capacidade de lembrar-se do rosto de um ente querido, daquele pôr do sol ou daquela praia paradisíaca?
– Quando eu era pequeno eu me lembro do fato de não conseguir entender o que significava ‘contar carneirinhos’ quando eu não conseguia dormir. Considerava que as pessoas falavam isso num sentido bastante figurado, não conseguia imaginar. Fiquei anos pesquisando sobre o assunto na internet e não encontrava nada. Estou feliz que agora que isso está sendo melhor pesquisado e definido – relata Niel Kenmuir, morador de Lancaster na Inglaterra.
Em novo artigo publicado sobre o assunto na Revista Cortex, o médico PhD Adam Zeman – estudioso da área de neurologia cognitivo comportamental e professor da Universidade de Exeter – descreveu a experiência de mais 20 pessoas portadoras de afantasia congênere (de nascença). Apesar de já haver relatos médicos desde o século XIX, muitas vezes o fenômeno estava relacionado a casos de dano cerebral.
Uma dessas pessoas, Tom Ebeyer, de Ontário, no Canadá, não percebia o distúrbio até seus 21 anos de idade. Todos os seus sentidos são impactados e ele não consegue se lembrar de músicas, texturas e até mesmo cheiros. “Isso teve um impacto emocional sério”, ele explicou. “Comecei a me sentir isolado, incapaz de fazer coisas importantes para a experiência humana, como a habilidade de lembrar, por exemplo, o cheiro de flores ou o som da voz de algum ente querido. Antes que eu tivesse descoberto que era humanamente possível se lembrar dessas coisas, eu nem sabia o que eu estava perdendo.”
A capacidade de visualização é conhecida como um resultado de uma rede de regiões encontradas por todo o cérebro que, integradas, têm como objetivo gerar imagens baseadas em memórias. O melhor palpite até agora é que aqueles que sofrem de afantasia, de alguma forma, não possuem essas áreas conectadas. Isso também ajuda a explicar a razão pela qual o distúrbio também pode ser causada por algum dano cerebral.
O curioso na maioria dos casos é que, embora os portadores de afantasia não consigam imaginar figuras voluntariamente, eles são capazes de sonhar. O professor Zeman tem certeza que trata-se de uma doença real, que acomete muito mais pessoas, e prometeu continuar investigando o assunto.