US$ 1.9 bilhão em gastos com treino cerebral em 2018

Gastos com aplicativos de treino cerebral quadruplicam e chegam a US$ 1.9 bilhão

Confira o que realmente funciona!

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Com a população envelhecendo e vivendo mais cresce a preocupação com o declínio cognitivo e os programas de treinamento cerebral ganham popularidade

 

Por Sarah Toy

Sandra Wisham nunca tinha ouvido falar de treinamento cognitivo até que a associação de aposentados da qual faz parte em Coral Gables, na Flórida, organizou um seminário sobre envelhecimento e convidou os participantes a se matricularem em um curso sobre fitness cerebral. Curiosa, ela se inscreveu.

“Eu quero permanecer independente o maior tempo possível”, diz Wisham, com 76 anos. Ela conta que trabalha duro para se manter fisicamente em forma, indo a aulas semanais de condicionamento corporal e de Zumba promovidas pela associação. Fazia sentido para ela fazer o mesmo com seu cérebro, conta a aposentada.

O treinamento cognitivo ou cerebral consistem em exercícios destinados a melhorar aspectos específicos das funções cognitivas de uma pessoa, como velocidade de processamento, raciocínio e memória. Os exercícios podem ser feitos tanto em computador quanto em smartphones.

Com uma população envelhecida preocupada com o declínio cognitivo e a demência, esses programas de treinamento tiveram uma explosão de popularidade nos últimos anos. Os consumidores gastaram estimados US$ 1,9 bilhão em aplicativos de neurotecnologia e saúde mental do cérebro em 2018, um aumento de quatro vezes, ante US$ 475 milhões em 2012, de acordo com dados globais da SharpBrains, uma empresa independente de pesquisa de mercado.

Treino de velocidade cerebral x declínio cognitivo  
Mas, apesar do crescente interesse pelo treinamento cognitivo, a evidência de seus benefícios ainda é controversa em alguns casos, dizem os especialistas.

“Haverá um estudo que mostra um benefício, mas haverá outro estudo que não mostrará”, diz Dan Press, neurologista e diretor da unidade de neurologia cognitiva do Centro Médico Beth Israel Deaconess, em Boston, que ajuda a administrar o Brain Fit Club, um programa de treinamento cerebral oferecido no Centro Médico,  que adiciona atividades como tai-chi e yoga, bem como educação nutricional.

Um estudo que virou referência nos EUA, chamado ACTIVE (Treinamento Cognitivo Avançado para Idosos Independente e Vital), mostrou que o treinamento de velocidade de processamento – que ajuda as pessoas a processarem informações visuais mais rapidamente – pode reduzir o risco de uma pessoa desenvolver demência em até 48%. O estudo analisou 2.802 adultos saudáveis, com idades entre 65 e 94 anos, que receberam treinamento em memória, raciocínio ou velocidade de processamento ou foram colocados em um grupo de controle.

Os pesquisadores descobriram que aqueles no grupo de velocidade de processamento tiveram um risco 29% menor de desenvolver demência dez anos mais tarde. Os pesquisadores também descobriram que cada sessão extra de treino de velocidade cerebral foi associada a uma redução de mais 10% no risco de desenvolvimento de demências.
Por outro lado, uma avaliação sistemática de 2018 de estudos anteriores sobre o treinamento cognitivo mostrou que direcionar o treinamento do cérebro para áreas como memória ou velocidade de processamento poderia ajudar o desempenho nessas áreas específicas. Ainda assim, não havia evidências suficientes para determinar se o treinamento cerebral sozinho poderia prevenir ou retardar o declínio cognitivo ou a demência.

Abordagens Múltiplas

Um grande estudo analisou 1.260 adultos de 60 a 77 anos na Finlândia com problemas cognitivos leves ou fatores de risco cardiovascular como colesterol alto, hipertensão ou obesidade – coisas que aumentam o risco de desenvolver demência. Os sujeitos do estudo foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um recebeu aconselhamento geral de saúde no início do estudo, enquanto o outro recebeu aconselhamento geral de saúde e quatro serviços adicionais: aconselhamento nutricional, programa de exercícios personalizados, programa de treinamento cognitivo e monitoramento consistente de fatores de risco cardiovascular.

Após dois anos, os pesquisadores descobriram que, embora a cognição tenha melhorado nos grupos de intervenção e controle, o grupo de intervenção mostrou significativamente mais melhorias na função cognitiva geral, velocidade de processamento e função executiva, o domínio cognitivo responsável pela resolução de problemas e planejamento.

Programas online de treino cerebral
Sandra Wisham, hoje com 76 anos, conta que espera viver mais duas décadas. Ela começou a frequentar um novo curso de treino cerebral em seu centro de aposentadoria, oferecido pelo Brain Fitness Pavilion, um centro de treinamento cognitivo que faz parte do Sistema de Saúde da Universidade de Miami. Ela trabalhou com dois programas: BrainHQ da Posit Science, que usa os neurogames cientificamente testados para aprimorar a velocidade de processamento, atenção, memória e raciocínio de uma pessoa; e o i-Function, um conjunto de exercícios baseados em computador que ajuda as pessoas a aprender ou reaprender certas habilidades práticas da vida como por exemplo fazer suas transações bancárias online.

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Um dos níveis mais difíceis do exercício de velocidade cerebral da plataforma online BrainHQ, conhecido no Brasil como "Decisão Dupla": redução de até 48% no risco de desenvolvimento de demências

Ela passou de uma ou duas horas por semana trabalhando com neurogames. Um deles era o exercício de velocidade de processamento do cérebro chamado Decisão Dupla, em que a tarefa básica é identificar um objeto no centro de seu campo de visão e outro objeto na periferia o mais rápido possível. A medida que seu desempenho melhora, o programa acelera introduzindo objetos mais rapidamente e lançando mais distrações na tela.

Espectro de Alzheimer e outras demências
Existem várias causas de demência, mas a mais comum é a doença de Alzheimer, marcada pelo acúmulo de uma proteína chamada beta-amilóide no cérebro e o aparecimento de massas desorganizadas de fibras proteicas chamadas emaranhados neurofibrilares dentro das células cerebrais. Não há cura para o mal de Alzheimer, e as opções de tratamento para a maioria dos tipos de demência são limitadas. Não há medicamento ainda aprovado para prevenir ou retardar os sintomas.

“O treinamento cognitivo mostrou ser promissor, mas as pessoas não devem esperar que seja uma bala mágica.” ressalta Sarah Lenz Lock, diretora executiva do Conselho Global de Saúde do Cérebro. O mesmo vale para dispositivos médicos. A Food and Drug Administration ainda não aprovou nenhum dispositivo para prevenir ou retardar a demência, mas o presidente-executivo da Posit Science, Henry Mahncke, espera que o BrainHQ, que vem sendo utilizado pela aposentada Sandra Wisham, seja o primeiro.

A empresa tem trabalhado com pesquisadores e cientistas de instituições acadêmicas ao longo de anos e em todo mundo para avaliar seus produtos e benefícios potenciais. Agora está envolvida em pelo menos 78 ensaios sobre o envelhecimento, além de ter mais de 60 artigos cientifíficos já publicados e revisados a respeito dos benefícios  dos exercícios da plataforma online BrainHQ no combate ao declínio cognitivo.

Os benefícios do treinamento cerebral cientificamente testado
Os estudos mostraram que o treinamento de velocidade cerebral da plataforma BrainHQ ajudou a diminuir também os riscos de acidentes de trânsito entre motoristas mais velhos, reduzir os custos com despesas médicas, além de melhorar a autoestima e autoconfiança, tornando os idosos que praticam os exercícios regularmente mais independentes de um modo geral. Outros mostraram que certos exercícios de treinamento cognitivo podem levar a um melhor desempenho nas atividades da vida diária e proteger contra a depressão.

A aposentada Sandra Wisham diz que dois meses de treinamento cerebral com BrainHQ “fizeram com que ela se sentisse ótima.” Ela conta que o programa de treinamento cognitivo deu-lhe um impulso de confiança e a fez se sentir mais capaz. Também a tirou do seu pequeno apartamento e ajudou-a a conhecer novas pessoas.

“Vou continuar com certeza!”, afirma a aposentada.

Fonte: MarketWhatch