A OMS (Organização Mundial de Saúde) classifica o TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) como um transtorno de ansiedade, e diz que transtornos desse tipo são o sexto maior fator contribuinte para comprometimento não-fatal de saúde, e estão entre as dez principais causas de YLD (anos vividos com incapacidade, na sigla em inglês). Um estudo realizado nos EUA revelou um mecanismo cerebral que pode estar na raiz desse tipo de doença.
O trabalho – realizado por cientistas do Centro de Ciência e Medicina Neural do Hospital Cedars-Sinai, em Los Angeles (EUA) –, publicado em maio na revista especializada Science, buscou decifrar como o cérebro consegue generalizar e se especializar ao mesmo tempo, usando um mesmo grupo de neurônios. Essa capacidade é essencial para nosso monitoramento de desempenho – que, explicam os autores, é uma espécie de alerta, um sinal interno que permite à pessoa saber que cometeu um erro. Por exemplo: quem trafega por vias expressas já passou pela experiência (não exatamente agradável) de ver que acabou de passar direto e perder o acesso a uma ponte. O monitoramento de desempenho entra então em ação: as informações são levadas a áreas que regulam emoções, memória, planejamento e resolução de problemas. O incidente se torna experiência e vai ajudar a não cometer erros desse tipo no futuro.
Para realizar a pesquisa, os cientistas acompanharam 34 pacientes com epilepsia, registrando a atividade de um grupo de neurônios (células cerebrais) no córtex pré-frontal medial. O que se registrou foi que, ao realizar os testes cognitivos a que foram submetidos os pacientes, a atividade dos neurônios observados aumentou depois que as decisões erradas foram tomadas.
A hiperatividade nessa região cerebral se manifestaria como TOC, destaca o estudo. A descoberta pode ter aberto uma via importante para aprimorar os tratamentos para quem sofre da doença– no Brasil, cerca de 3 milhões de pessoas teriam TOC e, segundo a OMS, em cerca de 2% da população mundial. Trata-se de uma larga população que tem de conviver com sintomas que, se não são eminentemente fatais, causam grandes transtornos, prejudicando relacionamentos, vida profissional e escolar. Na ponta oposta, a baixa atividade estaria relacionada à esquizofrenia – em que o paciente não teria percepção dos erros que comete. Com o mecanismo decifrado, abre-se o caminho para que se desenvolva medicamentos e tratamentos para aliviar quem sofre dessas duas condições.
Fonte: Veja / CLAUDIO LOTTENBERG Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein