11 de Abril, 2015 – No século passado, pessoas de meia e terceira idades tinham por hábito manter seus cérebros ativos por meio da leitura e da escrita, jogando cartas, fazendo palavras cruzadas, montando quebra cabeças, entre outras atividades lúdicas e mentais. Já no século XXI, com a massificação das tecnologias digitais, novas ferramentas vem sendo desenvolvidas para o aprimoramento das capacidades cognitivas como exercícios computadorizados e, quem diria, “videogames” cientificamente programados para estimular a memória, o foco e atenção, rapidez de raciocínio, entre outras importantes funções cerebrais.
“Nunca havia mexido com computadores. No início não foi tão fácil, mas agora vejo que não é nenhum bicho de sete cabeças. Já estou pensando até em comprar um”, comenta a aposentada Enila Barcellos Palhares, de 69 anos, logo após uma sessão de treino cognitivo computadorizado no Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE), na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro.
Dona Enila e um grupo de mais de 30 pessoas da terceira idade vem participando do primeiro estudo no Brasil com idosos saudáveis que analisa se um programa de treinamento cognitivo cientificamente projetado e disponível on-line pode melhorar significativamente as capacidades cognitivas da população acima de 60 anos no Brasil.
O estudo, conduzido pelo médico-psiquiatra e professor da UFRJ, Rogério Pannizzutti, usa como base comparativa videogames tradicionais e os jogos e exercícios da plataforma on-line BrainHQ, lançada recentemente no Brasil pela NeuroForma Tecnologias e Serviços – que atua no segmento de novas tecnologias digitais na área de neurociências.
– Nesse estudo, basicamente temos um grupo de idosos que praticam os exercícios da plataforma desenvolvida cientificamente e outro grupo controle que só joga videogames normais. Todos os participantes passam por uma triagem – através de uma bateria de testes de avaliação cognitiva com psicólogos, antes de começarem a praticar. São em média 3 sessões por semana de aproximadamente 30 minutos com o objetivo de alcançar uma carga horária de 40 horas até passarem por uma nova bateria de testes e exames -, explica Rogério Panizzutti.
Outra participante do estudo que relata também nunca ter antes se conectado com computadores, Guilhermina Maria Pereira, 69 anos, diz com orgulho que “hoje já consegue acessar os jogos e exercícios sozinha”.
– O que for bom para mente eu estou dentro. Sempre fui muito esquecida e tive dificuldades para aprender a ler. Tudo o que é novo assusta um pouco, mas já estou bem familiarizada. Alguns exercícios vão ficando bem difíceis. Mas eu gosto, me sinto desafiada – afirma a aposentada que mora no Parque da Cidade, ali perto, da Gávea.
O professor Rogério Panizzutti conta que o engajamento das pessoas nesse tipo de estudo é bastante animador para os pesquisadores. Ele adianta que já tem planos para replicar a pesquisa em outras instituições públicas e privadas no Rio de Janeiro e outros estados do Brasil.
– Por se tratar de uma ferramenta digital muito acessível e que trabalha com elementos lúdicos e desafiadores, o nível de engajamento é muito alto. Nosso laboratório nessa pesquisa é basicamente uma sala com oito computadores conectados à Internet – relata, acrescentando que a ideia é poder aplicar a pesquisa no máximo número possível de idosos saudáveis aqui no país ao exemplo do maior estudo já feito nos EUA nessa linha, conhecido como Estudo ACTIVE.
O Estudo ACTIVE
Com 2.832 participantes, o estudo ACTIVE é o maior estudo sobre treinamento cognitivo/cerebral já realizado. Financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde e conduzido por pesquisadores na Universidade do Alabama, em Birmingham, no Instituto Nacional do Envelhecimento, na Escola de Medicina da Universidade de Indiana, Universidade de Penn State, e outros, o estudo ACTIVE mostrou que idosos saudáveis podem obter melhorias cognitivas muito significativas com treinamento e prática cognitiva adequada.
O estudo ACTIVE foi desenvolvido para comparar três diferentes tipos de treinamento cognitivo: um cujo foco foi a memória, um que tinha como alvo o raciocínio, e um treinamento com a ferramenta BrainHQ que exercitava a velocidade de processamento cerebral. O estudo foi realizado em seis locais nos Estados Unidos e todos os participantes eram adultos saudáveis com idade igual ou superior a 65 anos. Os pesquisadores acompanharam os participantes por um período de até dez anos.