Pesquisadores estão se dedicando a estudar o cérebro de atletas paralímpicos para entender como eles se adaptam às deficiências físicas.
As próteses passaram a fazer parte da vida de Vinicius Rodrigues em 2014, depois de um acidente de moto que causou a amputação de parte da perna esquerda. Seis meses depois, Vinicius Rodrigues já queria correr, mas descobriu, na prática, que nada seria tão simples como antes.
“Eu me lembro que quando eu tentava correr, eu tentava fazer o mesmo movimento. Tentava elevar o joelho. Mas eu via que minha corrida não estava tão simétrica assim”, conta Vinicius Rodrigues.
A situação mudou depois que Vinícius passou a frequentar uma sala repleta de espelhos, comum em escolas de balé. Ele descobriu que precisava se enxergar novamente – entender o novo corpo para depois utilizá-lo.
“Comecei a me visualizar de lado, vi o quadril, a postura. O atletismo é como se fosse um balé. 12 segundos sem errar. Quanto menos erro possível, mais rápido você fica”, diz Vinicius.
Estudando cada minúcia dos próprios movimentos, Vinicius decolou. Hoje, é vice-campeão paralímpico na prova mais rápida do atletismo: os 100 metros. E virou, pela naturalidade da corrida, objeto de desejo de cientistas como o japonês Kimitaka Nakazawa.
O pesquisador usou tecnologia para olhar como os cérebros de atletas amputados, como o Vinicius, se comportam quando estão correndo. E os comparou com amputados que não praticam esporte.
Para controlar a perna amputada, o cérebro dos esportistas ativa diversas áreas. Nos amputados não-atletas, a ativação cerebral é muito menor.
“Você vê claramente no caso dos atletas que os dois lados do cérebro estão envolvidos no movimento da perna amputada. Geralmente o que vemos é um lado só”, explica o cientista.
Algo semelhante foi visto em um dos atletas mais notáveis do esporte paralímpico do Brasil. Ricardinho vive na escuridão desde os oito anos, quando uma doença degenerativa o deixou totalmente cego. E isso não o impede de criar lances de extrema precisão em campo. Uma habilidade recompensada com títulos. Ele tem quatro ouro nas paraolimpíadas no futebol de cegos.
Quando o neurologista Renato Anghinah conseguiu avaliar o cérebro dele, descobriu isso aí: a área da visão funciona plenamente, e por isso brilha mais do que as outras no exame de imagem. Ela é até mais ativada do que em pessoas que enxergam normalmente.
“Ele tem essa perspicácia, percepção visuoespacial super aflorada. E ele utiliza essas áreas do cérebro de maneira plena, superativado”, conta Renato.
Ele não vê nada com os olhos, mas enxerga muito bem com o cérebro.
“Eu tenho meio que uma leitura na minha cabeça do que está acontecendo no jogo pelo que estou escutando. E aí eu tomo a decisão, se vou passar a bola, tentar driblar, todos esses pontos que a gente utiliza”, conta Ricardinho.
Esses estudos ajudam a compreender como nosso cérebro não é imutável. A depender dos estímulos, ele consegue se transformar. O que se aprende com os atletas vira conhecimento, que pode ajudar a vida de muita gente.
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Fonte: Jornal Nacional