Estudo publicado na última edição da revista Nature aponta para gene específico relacionado ao desenvolvimento de Esquizofrenia.
O processo biológico que resulta no desenvolvimento da esquizofrenia pode ter sido finalmente descoberto após uma análise genética detalhada de mais de 60 mil pessoas na tentativa de decifrar quais as características genômicas são mais fortemente associadas com a esquizofrenia.
A esquizofrenia é uma condição hereditária que tende a tornar-se evidente no final da adolescência e início da vida adulta, e é caracterizada por comprometimento cognitivo, instabilidade emocional e alucinações. Durante estes anos, a maioria das pessoas passam por um processo chamado de poda sináptica, em que as conexões entre os neurônios – ou algumas sinapses – são eliminados.
Embora um certo grau de poda sináptica seja normal nesta fase da vida, em casos extremos, pode haver uma redução anormal do volume de tecido de matéria cinzenta e de estruturas sinápticas em regiões do cérebro que estão fortemente associadas à cognição de alto nível e ao controle emocional, tais como o córtex pré-frontal. Isto é observado em indivíduos com esquizofrenia, embora tal informação já esteja disponível há algum tempo, os mecanismos que causam esta maior poda sináptica permaneciam até então pouco compreendidos.
Para tentar resolver este enigma, os pesquisadores analisaram os dados genéticos de 28.799 pessoas que sofrem com a esquizofrenia e de 35.896 de pessoas saudáveis. Em particular, concentraram-se nos genes contidos dentro de uma região do genoma humano – no cromossomo seis – que codifica o principal complexo de histocompatibilidade (MHC). Embora esta proteína seja conhecida principalmente pelo papel que desempenha na imunidade, os genes na região do MHC têm previamente exibido um número de marcadores genéticos que estão associados com a esquizofrenia.
Nas descobertas, publicadas na edição de fevereiro da conceituada revista Nature, os autores do estudo encontraram uma forte correlação entre o desenvolvimento de esquizofrenia e a presença de uma variação particular do gene C4. Este gene pode existir em múltiplas formas, que codificam a expressão de duas proteínas diferentes, conhecidas como C4A e C4B.
Ambas C4A e C4B promovem a ativação de outra proteína chamada C3, que se ligam a certos alvos dentro do cérebro e da medula espinhal, a fim de “marcá-los” para a destruição por células do sistema imunológico chamadas de microglia. Quando C3 se liga a certos subconjuntos de sinapses, estas são eliminadas por estas células, resultando na poda sináptica.
Embora ainda não se saiba o porquê do mecanismo pelo qual a proteína C4A realiza o excesso de poda sináptica enquanto a C4B não realiza esta função, o fato de que as duas proteínas produzam efeitos diferentes é pouco inesperado, dadas as grandes diferenças bioquímicas entre as duas. Por exemplo, C4A prontamente se liga a outras proteínas, enquanto C4B favorece ligações com carboidratos. Portanto, é provável que as duas formas da proteína possuam diferentes locais de interligação nas sinapses.
Comentando sobre estes resultados, Bruce Cuthbert – atual diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental (Agência Federal Americana líder na pesquisa sobre doença mental) – ressaltou que esse estudo “muda o jogo” na luta contra a doença mental, uma vez que pode levar ao desenvolvimento de novas terapias que tratam as causas da doença.
Você sabia que a NeuroForma® apóia estudo para o tratamento de pacientes portadores de esquizofrenia e trasntornos cognitivos leves no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro? Saiba mais aqui.