Estudo de pesquisadores do Brasil e do Canadá indica que cérebro pode ser afetado em casos graves de Covid-19

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Trabalho foi publicado na revista científica Trends in Neurosciences nesta terça-feira (21). Eles observaram casos em UTIs da China e França. Estudo vai prosseguir com a análise clínica de dados de pacientes.

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e da Queen’s University, do Canadá, publicaram um artigo sobre a possibilidade de que o sistema nervoso central possa ser afetado em casos graves do novo coronavírus. O trabalho foi publicado na revista científica Trends in Neurosciences na terça-feira (21).

A pesquisa, assinada por quatro pesquisadores brasileiros e um canadense, usa dados sobre a Covid-19 (SARS-CoV-2), sobre outros tipos de coronavírus e outras famílias de vírus.

Os pesquisadores usaram como uma das bases para o trabalho, dados de pacientes do coronavírus em UTIs na China e na França. Nos dois locais, eles observaram danos cerebrais em uma relevante parcela dos pacientes que estavam internados com sinais severos da doença.

A pesquisadora disse ainda que a infecção dos neurônios já havia sido observada em outros tipos de coronavírus e o tipo de inflamação observado na Covid-19 pode ser semelhante. No entanto, ela lembra que todo conhecimento sobre o coronavírus que gerou a pandemia no mundo ainda é muito novo.

“Os pacientes severos devem ser seguidos com cuidado porque eles podem ter um risco aumentado de desenvolver demência e doenças neurodegenerativas como, Alzheimer e Parkinson. E já tem associações de infecção no sistema nervoso e aumento do risco dessas doenças. Acho que é mais um fator para a população ficar ligada, principalmente a população que segue o conceito de ser uma gripezinha e algo leve. Os impactos podem ser muito grandes e duradouros e pode aumentar a prevalência de doenças degenerativas no Brasil e no mundo”, explicou.

Andamento do estudo

Fernanda Tovar-Moll, diretora-presidente do Instituto Idor, disse que o estudo terá andamento com a análise de casos clínicos que vão observar, de várias maneiras, os efeitos da Covid-19 no cérebro do maior número possível de pacientes.
A pesquisadora disse ainda que os pacientes que fazem parte do estudo também terão suas funções cognitivas mapeadas a longo prazo para identificar os efeitos do coronavírus.

“Estas capacidades cognitivas que serão investigadas serão em diversos domínios, como memória, tomada de decisão e outras funções e estes dados serão relacionados com as informações de imagem”, disse.

Casos leves

A professora do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ ressaltou que, nos casos mais leves, pacientes também podem apresentar sintomas de origem neurológica, como dor de cabeça e perda do olfato, sintomas da doença que ficaram conhecidos, mas que não deixam sequelas.

“Pode ser que a doença também esteja impactando o cérebro em casos mais leves também. Mas aí, enquanto não fica grave, o corpo está acostumado a combater e resolver. Então, a gente acha que os problemas não devem ser mais acentuados, pois temos os nossos mecanismos de proteção”, afirmou.