O sono é essencial para garantir a capacidade de aprendizado e memória. Isto já se sabe há muito tempo. No entanto, cientistas conseguiram agora comprovar como o nosso cérebro trabalha enquanto dormimos para fixar determinadas informações em locais onde elas permanecerão disponíveis por um período maior.
Em um artigo publicado na segunda-feira (24) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, o grupo de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia mostrou o que acontece em várias fases do sono.
À medida que passamos do sono de ondas lentas para o REM (movimentos rápidos dos olhos), algo que acontece cerca de cinco vezes por noite, o hipocampo ensina ao neocórtex o que aprendeu.
De acordo com os autores, essa comunicação entre diversas áreas do cérebro permite a conversão de informações novas em memória duradoura.
O hipocampo é a região do cérebro considerada a principal sede das memórias recentes. Já o neocórtex é a porção cerebral associada ao armazenamento de memória mais permanente.
“Este não é apenas um modelo de aprendizado em circuitos locais no cérebro. É como uma região do cérebro pode ensinar outra região do cérebro durante o sono, um momento em que não há orientação do mundo externo. É também uma proposta de como aprendemos graciosamente ao longo do tempo à medida que nosso ambiente muda”, acrescenta, em comunicado, a neurocientista Anna Schapiro, autora do estudo e professora assistente do Departamento de Psicologia da Universidade da Pensilvânia.
Os pesquisadores construíram um modelo de rede neural composto de hipocampo e neocórtex. Durante o estudo, no sono simulado, eles observaram e registraram quais neurônios disparam em cada área. Também foi possível analisar os padrões de atividade.
Nas várias simulações de sono conduzidas pela equipe, foi possível perceber que durante a fase de ondas lentas o cérebro revisita principalmente incidentes e dados recentes, guiado pelo hipocampo.https://d-257381744736125168.ampproject.net/2210211855000/frame.html
Na fase de sono REM, o cérebro é levado a acontecimentos passados, algo presente nas regiões neocorticais.
“À medida que as duas regiões do cérebro se conectam durante o sono não REM, é quando o hipocampo está realmente ensinando o neocórtex. Então, durante a fase REM, o neocórtex se reativa e pode reproduzir o que já sabe”, explica Dhairyya Singh, estudante de doutorado no laboratório de Anna Schapiro.
Os achados fizeram a equipe entender que existe uma necessidade de atingir diversos estágios do sono para que as memórias se formem, embora isso ainda precise ser testado em estudos futuros.
“Um dos nossos próximos passos será realizar experimentos para entender se o sono REM está realmente trazendo à tona memórias antigas e quais implicações isso pode ter para integrar novas informações ao seu conhecimento existente”, afirma Dhairyya.
A professora ressalta que o estudo possui limitações, pois simula o cérebro e o sono de um adulto típico, não sendo necessariamente aplicável a toda a população.
De qualquer forma, a equipe espera, no longo prazo, que essa compreensão do efeito dos estágios do sono na memória possa auxiliar no tratamento de distúrbios psiquiátricos e neurológicos para os quais o déficit de sono são um sintoma.