Dançar pode ser melhor para cérebro de idosos que exercícios físicos

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Pés de bailarina no Theatro Municipal do Rio: resultado melhor seria fruto da união de demandas corporais e mentais nas aulas de dança - Roberto Moreyra (JORNAL O GLOBO)

Dançar, além de divertido, pode trazer mais benefícios para a saúde do cérebro de idosos do que exercícios físicos. Pelo menos é o que indica estudo que comparou os efeitos de dois programas de atividades físicas em uma pequena amostra de homens e mulheres saudáveis com idade média de 68 anos recrutada na área da cidade de Magdeburg, na Alemanha, e publicado recentemente no periódico científico de acesso aberto “Frontiers in Human Neuroscience”.

No experimento, os voluntários foram divididos em dois grupos: um se submeteu a um treinamento de resistência com exercícios aeróbicos, como pedalar em bicicletas ergométricas e a chamada caminhada nórdica, que une o uso de batões semelhantes ao de esqui; enquanto o outro se dedicou a aulas de dança demandantes tanto do ponto de vista físico quanto mental, tendo que frequentemente aprender novas coreografias em ritmos como mambo, jazz e danças folclóricas. Ambas práticas tinham duração de 90 minutos, a princípio duas vezes por semana e depois semanalmente.

Segundo os pesquisadores, ao fim dos dois programas, após 18 meses de atividades, os integrantes do grupo que se dedicou às aulas de dança tiveram resultados bem melhores em testes de equilíbrio do que os que alcançaram antes de começarem o experimento. Já os que só fizeram os exercícios não obtiveram melhorias neste quesito. Mais importante, no entanto, foram as diferenças dos efeitos dos dois programas no hipocampo, região do cérebro ligada à memória e navegação espacial, entre outras funções.

Embora os dois grupos tenham apresentado aumento no volume geral do hipocampo – que “encolhe” com a idade a uma taxa de 2% a 3% por década que se acelera para 1% anual a partir dos 70 anos, e é uma das áreas atingidas por doenças neurodegenerativas como o mal de Alzheimer e outras demências -, só o que fez as aulas de dança teve ganhos aparentes numa subárea chamada giro denteado, fundamental para os processos de formação de memória e reconhecimento espacial.

– Os exercícios têm o efeito benéfico de frearem ou mesmo reverterem o declínio nas capacidades física e mental que vêm com a idade – destaca Kathrin Rehfeld, do Centro Alemão para Doenças Neurodegenerativas e da Universidade Otto von Guericke, ambos em Magdeburg, é líder da pesquisa. – Neste estudo, mostramos que dois diferentes tipos de exercícios físicos, dança e treinamento de resistência, aumentam o volume de uma região do cérebro que diminui com o tempo. Mas, em comparação, só a dança levou a mudanças comportamentais notáveis em termos de melhoras no equilíbrio.

Assim, embora o estudo reforce ainda mais a importância das atividades físicas como forma de manter ou recuperar a saúde do cérebro, ao detectar diferenças entre os efeitos de quem se dedicou a exercícios repetitivos daqueles que também eram desafiados a aprender algo novo toda semana, ele também sugere que algumas podem ser mais vantajosas do que outras, em especial se incluírem algum tipo de demanda mental.

– Tentamos dar aos idosos do grupo da dança mudanças constantes nas coreografias de diferentes gêneros – conta Kathrin. – Passos, movimentos de braços, formações, velocidade, e ritmos eram alterados a cada duas semanas para mantê-los em um constante processo de aprendizado. E o aspecto mais desafiante para eles era justamente lembrar as coreografias sob a pressão do tempo e sem receberem pistas do instrutor.

Diante disso, Kathrin e equipe estão desenvolvendo um novo sistema batizado “Jymmin” (corruptela das palavras em inglês jamming e gymnastic – improvisação e ginástica, em tradução livre) que pretendem testar em pacientes com demência numa tentativa de maximizar os efeitos benéficos da atividade física para o cérebro de idosos.

– É um sistema baseado em sensores que gera sons (melodias e ritmos) em resposta à atividade física – revela. – Sabemos que os pacientes com demência têm uma reação forte a ouvir música, então queremos combinar os aspectos promissores da atividade física e da música em um estudo de viabilidade com estes pacientes.

O estudo, no entanto, tem limitações, admitem os próprios pesquisadores. Para começar, a amostra final foi pequena, com apenas 14 integrantes do grupo dos “dançarinos” e 12 dos “esportistas” tendo completado seus programas de atividades um ano e meio e feito os exames e testes necessários para as análises. A alta taxa de desistência – eram 52 os originalmente inscritos, 26 em cada grupo – também obrigou os pesquisadores a diminuírem a frequência das atividades de duas para uma vez por semana aos seis meses do experimento, então não é possível dizer se os benefícios seriam mais ou menos diferentes se a carga inicial tivesse sido mantida.

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FONTE: O GLOBO