Como o cérebro decide culpa e punição?

30 de Setembro, 2015 –

 

capital punishment

 

A casa de uma senhora viúva é invadida por um homem segurando uma faca. Ele rouba suas jóias, bolsa, mas a deixa ilesa. Como esse homem deve ser punido? Será que o tipo de punição que você pensou mudaria depois de saber que ele tem uma criança com leucemia e que passa dificuldades para pagar as contas, fazendo tudo isso por desespero?

 

Ambas decisões morais – que determinam culpabilidade e definição de justa punição – são os fundamentos da execução das normas sociais, o que a sociedade considera como comportamentos aceitáveis. Mas como é que o cérebro processa tais julgamentos?

 

Segundo pesquisa realizada pela Universidade de Vanderbilt, as avaliações de culpa e punição, na verdade, acontecem em áreas distintas do cérebro. E, embora elas estejam conectadas, cientistas descobriram que através de estímulos podem modificar uma delas sem alterar a outra. Vamos entender melhor?

 

O foco desse estudo foi numa região do cérebro chamada de córtex pré-frontal dorsolateral (CPFD), onde já se observou em estudos anteriores ser uma região constantemente ativada em situações de julgamento com base em normas.

 

Segundo os estudos, o CPFD está envolvido na integração de informações com outras partes do cérebro e que através desta função básica, provavelmente é responsável por comportamentos e tarefas mais complexas, como a tomada de decisão.

 

Mas como o CPFD contribui para nossas decisões relativas à culpabilidade e respectiva punição?

 

Para saber mais, cientista das universidades de Harvard e Vanderbilt pesquisaram 66 voluntários – homens e mulheres – apresentando-lhes uma série de situações hipotéticas de crimes cometidos, que variavam em sua gravidade, desde furtos e roubos até assassinatos. A probabilidade de que o principal suspeito tenha sido culpado também variou nos diferentes cenários e, em alguns casos, havia determinadas circunstâncias atenuantes.

 

cortex-dorsolateral-prefrontalOs participantes, em seguida, tiveram que decidir se o acusado era culpado e como ele deveria pagar por seu crime. Simultaneamente, metade dos participantes tiveram a atividade no seu córtex pré-frontal dorsolateral (CPFD) alterada usando uma técnica conhecida como estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr). A outra metade recebeu uma estimulação falsa (placebo). Os resultados publicados na revista Neuron são superinteressantes.

 

Como esperado, o grau de dano causado e a culpabilidade eram os grandes indicadores da punição proferida pelos participantes do estudo. No entanto, os participantes que receberam a EMtr foram mais brandos nas punições do que aqueles no grupo que recebeu o placebo, especialmente sobre os crimes menos graves.

 

Ao analisar seus cérebros durante a tarefa, eles descobriram que o CPFD se iluminava durante as decisões de punição, mas nem tanto ao determinar culpabilidade (por isso as classificações sobre os culpados não foram aparentemente afetadas).

 

As análises indicaram que as punições reduzidas observadas naqueles que receberam EMTr foram provavelmente devido a uma interferência com a integração de sinais provenientes de áreas responsáveis por avaliação de danos e de culpabilidade.

 

O estudo sugere que além da uma dissociação neural entre juízos de culpabilidade e decisões sobre a punição, sua aplicação adequada requer equilíbrio entre a informação a respeito dos danos e da culpabilidade.

 

Olhando para o futuro, o principal autor do estudo René Marois relata que seria interessante ver como que o sistema de tomada de decisão é afetado quando o nível de intenção é variado.

 

– Estamos interessados ​​em variar a intensidade do dano e também compreender os diferentes graus de estados mentais, pois sabemos que isso também influencia a tomada de decisão – afirma o pesquisador.