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É possível treinar o cérebro para melhorar a audição em situações barulhentas. Saiba como.

Se você é sempre aquele amigo que, durante as festas, fica sorrindo e acenando, com cara de paisagem, porque nunca escuta direito o que seus colegas falam, a ciência tem uma notícia boa para você: pesquisadores descobriram um novo treinamento que ajuda nosso cérebro processar sons ambientes barulhentos.

Especialistas da Universidade de Maryland desenvolveram um exercício que pode ajudar o cérebro humano a melhorar seu recebimento de estímulos sonoros ao longo do tempo, chamado de processamento temporal auditivo.

“Vimos algumas evidências de que esses déficits de processamento temporal podem ser melhorados em modelos animais, mas esta é a primeira vez que mostramos isso em humanos”, diz a neurocientista auditiva Samira Anderson.

O estudo envolveu 40 voluntários que, durante nove sessões de aproximadamente uma hora, foram solicitados a distinguir conjuntos de sons tocados em uma sequência rápida. Esses indivíduos tiveram que identificar mudanças na frequência, apontando tons mais baixos e mais altos nos sons escutados.

Medindo frequências sonoras

Em comparação com grupo controle (particpantes que passaram por exercícios mais simples de identificação de sons), os indivíduos que fizeram exercícios complexos de distinção de frequência mostraram uma melhora em sua capacidade de detectar mudanças de tom e de velocidade dos sons.

A melhora foi constatada tanto em participantes mais jovens quanto mais velhos, com alguns mais velhos, inclusive, apresentando pontuações maiores depois do treinamento do que alguns jovens antes do treino.

Segundo os pesquisadores, os achados do estudo demonstram o potencial do treinamento auditivo para restaurar, mesmo que parcialmente, o processamento temporal em ouvintes mais velhos.

“Os resultados oferecem uma grande esperança no desenvolvimento de programas de treinamento auditivo clinicamente viáveis que podem melhorar a capacidade dos ouvintes mais velhos de se comunicar em situações difíceis”, diz a pesquisadora principal do projeto e fonoaudióloga Sandra Gordon-Salant, também da Universidade de Maryland.

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Fonte: Redação Byte (Portal Terra)

Cérebro da mãe realmente muda para receber o bebê, diz estudo

Uma pesquisa publicada nesta terça-feira (22) na revista científica Nature descobriu que durante a gravidez o cérebro da mãe realmente parece mudar para acomodar o bebê. Segundo os resultados, o período que causa uma “névoa mental” — comumente chamado de “cérebro do bebê” — não é apenas resultado de desconfortoestresse hormonal e noites sem dormir.

O novo estudo foi realizado por pesquisadores holandeses da Universidade de Leiden e aponta ligação entre surtos de hormônios da gravidez e mudanças na arquitetura em áreas do cérebro envolvidas com contemplação e devaneios.

De acordo com a pesquisa, as alterações podem ser a maneira da natureza ajudar as mães a se relacionarem com a nova mudança. 

Durante a gravidez, uma mulher é exposta a uma inundação incomparável de hormônios. A ciência já sabe que os períodos de distração durante a gravidez são universais, informalmente descritos com termos como “cérebro de mamãe” e “mamnésia”. 

No entanto, por mais comum que o fenômeno pareça, os efeitos sutis têm sido notoriamente difíceis de medir.

Elseline Hoekzema, neurocientista de Leiden, pesquisou as mudanças neurológicas que acompanham a gestação humana e animal por vários anos. Em 2016, ela havia mostrado como a gravidez coincidiu com reduções significativas na massa cinzenta, o tecido que transmite mensagens e conduz os cálculos do cérebro.

Mapeando os cérebros das mães

Nesta última análise, a pesquisadora analisou o mapa cerebral de 40 mães com ajuda de ressonância magnética. Com seus colegas, Hoekzema realizou os exames durante a pré-gravidez e pré e pós-parto, incluindo imagens de um ano inteiro após o parto do bebê.

Os resultados foram comparados com imagens semelhantes tiradas de uma amostra de 40 mulheres que não estavam grávidas no momento do estudo.

Na pesquisa, os hormônios foram testados por meio de amostras coletadas da urina a cada duas a quatro semanas durante a gravidez do grupo de teste. O emocional das mães em relação aos bebês — como comportamentos de nidificação (quando uma espécie animal faz seu ninho), padrões de sono e níveis de angústia psicológica — foram analisados por meio de pesquisas e questionários.

Das 40 voluntárias, 28 concluíram o estudo e os pesquisadores observaram que os hormônios da gravidez não apenas ajustam as células “pensantes” do cérebro: eles parecem mudar a maneira como as redes cerebrais se conectam.

Mudanças hormonais nas grávidas

De acordo com os pesquisadores, as alterações são mais evidentes entre as regiões do cérebro conhecidas coletivamente como rede de modo padrão, que é ativada quando há mudança de foco do mundo exterior para os pensamentos internos.

Apesar de já ser sabido que hormônios sexuais como o estrogênio e a testosterona influenciam nossas conexões neurológicas, o novo estudo demonstra a maneira como os hormônios flutuantes da gravidez, como o estradiol, exercem uma influência forte sobre regiões específicas do cérebro.

Para os cientistas, essas descobertas sugerem que “as mudanças neurais da gravidez podem criar um plano que facilite o desenvolvimento subsequente do relacionamento mãe-bebê, que poderia ser potencialmente reforçado pela interação com o bebê”, escrevem.

Fonte: Site Terra

Transtornos alimentares são doenças do cérebro, e não pressão social, aponta estudo

Um novo estudo da Keck School of Medicine, da Universidade do Sul da Califórnia (USC), mostrou que está errada a noção popular de que os transtornos alimentares são resultado de pressão social e falta de força de vontade. Outra comprovação feita pelos pesquisadores é que a doença é diferente entre meninos e meninas.

A comparação entre gêneros é inédita para pesquisas sobre transtorno de compulsão alimentar periódica. De acordo com o professor associado de Psiquiatria e Ciências do Comportamento da universidade, Stuart Murray, nas últimas décadas, os homens foram excluídos das pesquisas sobre esses transtornos, o que impacta os resultados nos tratamentos já desenvolvidos.

“Como resultado dessa exclusão, desenvolvemos tratamentos apenas a partir do estudo de mulheres, que depois aplicamos a meninos e homens e esperamos que funcionem com a mesma eficácia”, explica.

Ainda de acordo com ele, essa exclusão ocorria pela errada percepção de que distúrbios alimentares eram incomuns entre homens.

Baseado em trabalhos anteriores, o estudo mostrou que o transtorno de compulsão alimentar está diretamente relacionado ao cérebro, que apresenta diferenças significativas em sua estrutura a depender do gênero.

Observando 74 crianças com idade entre 9 e 10 anos, foi possível concluir que as meninas com transtorno de compulsão alimentar tinham densidade elevada de massa cinzenta em várias partes do cérebro conhecidas por estarem conectadas ao controle de impulsos e compulsão alimentar, que são sintomas do transtorno.

Já os meninos não apresentaram densidade elevada de massa cinzenta nessas áreas. Com isso, Murray reforça a importância de diferenciar o gênero para a pesquisa e o desenvolvimento de tratamentos.

O professor afirma, ainda, que novos procedimentos de remediação estão no horizonte e contemplam a relação direta entre o transtorno e o cérebro.

Conforme divulgado pela USC, o próximo passo da pesquisa deve ser estudar se além de ter estruturas diferentes, os cérebros de homens e mulheres com transtorno de compulsão alimentar têm funcionamentos distintos.

Fonte: CNN

Diferentes áreas do cérebro ‘conversam’ entre si durante o sono para formar as memórias

O sono é essencial para garantir a capacidade de aprendizado e memória. Isto já se sabe há muito tempo. No entanto, cientistas conseguiram agora comprovar como o nosso cérebro trabalha enquanto dormimos para fixar determinadas informações em locais onde elas permanecerão disponíveis por um período maior.

Em um artigo publicado na segunda-feira (24) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, o grupo de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia mostrou o que acontece em várias fases do sono.

À medida que passamos do sono de ondas lentas para o REM (movimentos rápidos dos olhos), algo que acontece cerca de cinco vezes por noite, o hipocampo ensina ao neocórtex o que aprendeu.

De acordo com os autores, essa comunicação entre diversas áreas do cérebro permite a conversão de informações novas em memória duradoura.

O hipocampo é a região do cérebro considerada a principal sede das memórias recentes. Já o neocórtex é a porção cerebral associada ao armazenamento de memória mais permanente.

“Este não é apenas um modelo de aprendizado em circuitos locais no cérebro. É como uma região do cérebro pode ensinar outra região do cérebro durante o sono, um momento em que não há orientação do mundo externo. É também uma proposta de como aprendemos graciosamente ao longo do tempo à medida que nosso ambiente muda”, acrescenta, em comunicado, a neurocientista Anna Schapiro, autora do estudo e professora assistente do Departamento de Psicologia da Universidade da Pensilvânia.

Os pesquisadores construíram um modelo de rede neural composto de hipocampo e neocórtex. Durante o estudo, no sono simulado, eles observaram e registraram quais neurônios disparam em cada área. Também foi possível analisar os padrões de atividade.

Nas várias simulações de sono conduzidas pela equipe, foi possível perceber que durante a fase de ondas lentas o cérebro revisita principalmente incidentes e dados recentes, guiado pelo hipocampo.https://d-257381744736125168.ampproject.net/2210211855000/frame.html

Na fase de sono REM, o cérebro é levado a acontecimentos passados, algo presente nas regiões neocorticais.

“À medida que as duas regiões do cérebro se conectam durante o sono não REM, é quando o hipocampo está realmente ensinando o neocórtex. Então, durante a fase REM, o neocórtex se reativa e pode reproduzir o que já sabe”, explica Dhairyya Singh, estudante de doutorado no laboratório de Anna Schapiro.

Os achados fizeram a equipe entender que existe uma necessidade de atingir diversos estágios do sono para que as memórias se formem, embora isso ainda precise ser testado em estudos futuros.

“Um dos nossos próximos passos será realizar experimentos para entender se o sono REM está realmente trazendo à tona memórias antigas e quais implicações isso pode ter para integrar novas informações ao seu conhecimento existente”, afirma Dhairyya.

A professora ressalta que o estudo possui limitações, pois simula o cérebro e o sono de um adulto típico, não sendo necessariamente aplicável a toda a população.

De qualquer forma, a equipe espera, no longo prazo, que essa compreensão do efeito dos estágios do sono na memória possa auxiliar no tratamento de distúrbios psiquiátricos e neurológicos para os quais o déficit de sono são um sintoma.

Por que o cérebro só consegue prestar atenção em uma coisa por vez

A ideia de que é possível prestar atenção em duas ou mais coisas ao mesmo tempo é uma ilusão: o máximo que a mente humana consegue fazer é saltar muito rapidamente de uma tarefa para outra. Novos estudos sugerem que essa limitação deriva da arquitetura profunda do cérebro, um órgão que precisaria se virar com um suprimento mais ou menos fixo de energia trazido pelos vasos sanguíneos.

“É vida que funciona no limite, quase forçando a barra —mas funciona, que é o que importa”, diz a neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, pesquisadora da Universidade Vanderbilt (EUA) e colunista da Folha.

Ela e seus colegas estão propondo um modelo diferente para enxergar como o cérebro lida com suas necessidades energéticas. Em vez de supor que o organismo é capaz de redirecionar todos os recursos necessários para os tecidos cerebrais sempre que houver demanda para isso, eles argumentam que a estrutura do órgão precisa sempre lidar com o fato de que tem pouca margem de manobra —daí a necessidade de resolver um problema cognitivo por vez, entre outras restrições intrínsecas ao funcionamento dele.

A pesquisadora detalha os dados em favor dessa hipótese em artigos no periódico especializado Frontiers in Integrative Neuroscience. Entre os coautores dos estudos estão Lissa Ventura-Antunes e Oisharya Moon Dasgupta, também da Universidade Vanderbilt, e Douglas Rothman, da Universidade Yale (EUA).

Como qualquer outro órgão, o cérebro depende da rede de vasos sanguíneos distribuída pelo nosso organismo para sobreviver. Neurônios e demais células cerebrais são abastecidas com oxigênio e glicose (açúcar) por meio dos capilares sanguíneos, finíssimas “mangueiras” que desembocam nelas. O sangue chega aos capilares a partir da artéria carótida principal, responsável por abastecer a cabeça e o pescoço.

Sabe-se ainda que o cérebro é uma estrutura particularmente “beberrona”, feito um automóvel nem um pouco econômico na hora de usar combustível. Entre seres humanos, ele pode consumir entre 20% e 25% da energia gasta pelo corpo ao longo do dia, embora corresponda apenas a algo entre 2% e 3% do peso corporal. Em menor escala, esse dispêndio desproporcional de energia por parte do cérebro também vale para outras espécies de mamíferos.

Um detalhe intrigante nesse aparente esbanjamento de energia é que, embora o fluxo sanguíneo possa quase dobrar em determinada região do cérebro que esteja sendo ativamente usada (digamos, o córtex visual, crucial para a visão, quando alguém está examinando os detalhes de uma fotografia), o consumo de oxigênio aumenta muito menos nessa mesma região cerebral. Tal “desacoplamento” aparente, que intriga neurocientistas há três décadas, é agora explicado pela capacidade de transporte de oxigênio do sangue para o cérebro, limitada pela densidade de capilares no tecido.

Além disso, tem ficado cada vez mais claro que o cérebro aparentemente em repouso, quando o indivíduo está acordado, mas sem se envolver em nenhuma tarefa cognitiva definida, na verdade está tão ativo, e consumindo tanta energia, quanto um cérebro mais “focado”. Em outras palavras, o tecido nervoso funcionaria de um jeito completamente diferente dos músculos, por exemplo, que só passam a gastar muita energia quando a pessoa está movimentando alguma parte do corpo.

A esses dados se soma uma análise detalhada do consumo de glicose nos neurônios de camundongos e ratos, realizada por Herculano-Houzel, Ventura-Antunes e Dasgupta. O trio de pesquisadoras verificou que, embora a densidade de neurônios (ou seja, quantas dessas células estão empacotadas num dado espaço) possa variar centenas de vezes dependendo da região do cérebro dos roedores, a densidade de capilares que abastecem cada região varia, no máximo, quatro vezes.

Para as cientistas, isso joga por terra a ideia de que o cérebro estaria organizado de maneira a alimentar com mais oxigênio e glicose as regiões que são mais “famintas” por causa da grande quantidade de neurônios, já que o aumento da densidade de células nervosas não é acompanhado de um aumento proporcional de capilares sanguíneos. Na verdade, tudo indica que as áreas com mais densidade de neurônios recebem proporcionalmente menos combustível do que as que têm uma concentração menor dessas células.

Em conjunto, tudo isso sugeriria que o máximo que o cérebro consegue fazer é redirecionar ligeiramente a distribuição de recursos para certas áreas, dependendo da atividade realizada. É aí que se inserem as implicações da hipótese para entender as limitações da atenção humana (e de outros animais).

“É extremamente difícil fazer bem duas coisas ao mesmo tempo. Fazê-las em sequência é mais fácil”, resume o neurocientista português António Damásio, da Universidade do Sul da Califórnia.

De fato, mesmo as pessoas que parecem funcionar bem como “multitarefas” em geral estão apenas alternando com frequência entre uma tarefa e outra. E vários estudos mostram que, na grande maioria dos casos, a qualidade das tarefas realizadas tende a cair quando são realizadas em paralelo. Também podem surgir efeitos negativos de longo prazo sobre a capacidade de concentração.

Segundo Herculano-Houzel, há indícios de que ocorra uma espécie de cabo de guerra entre as diferentes estruturais cerebrais nesse caso, com saltos da atenção de uma modalidade sensorial para a outra (da audição para a visão, digamos). “O que Doug [Rothman] e eu propomos é que existe uma limitação fundamental, de origem energética, a fazermos várias coisas ao mesmo tempo; claro que outros sistemas funcionam por cima dessa limitação.”

Se a proposta estiver correta, ela pode trazer implicações que vão além da compreensão mais detalhada sobre como o cérebro funciona. O mecanismo poderia ajudar a entender por que certas regiões do cérebro são mais vulneráveis à perda de suas funções durante o declínio cognitivo natural que acontece no envelhecimento, ou em formas mais severas dele, como a doença de Alzheimer. Uma das possibilidades, dizem os pesquisadores, é que justamente as regiões com maior densidade de neurônios, com presença proporcionalmente menor de capilares desde o princípio, estejam suscetíveis a isso.

Fonte: Folha S.Paulo

Setembro Amarelo: jovens e idosos são mais vulneráveis aos problemas mentais

Cada vida importa! Mas não basta reconhecer este fato. É preciso estar atento para ajudar na prevenção ao suicídio. Criado em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina, o Setembro Amarelo tem o compromisso de chamar a atenção para este tema considerado tabu, mas que deve ser abordado para impedir que pessoas tomem uma atitude irreversível contra elas mesmas. Só para se ter uma ideia da urgência de fazer este alerta, um levantamento da Organização Mundial de Saúde, em 2015, apontou que pelo menos 800 mil suicídios acontecem todos os anos no mundo. No Brasil, são cerca de 15 mil casos anualmente.


— O suicídio é uma questão de saúde pública. A pandemia, devido ao isolamento social, agravou esse problema. A depressão, o transtorno de ansiedade, a dependência química, a esquizofrenia, entre outras doenças, podem levar ao suicídio. Uma maneira de salvar vidas é o tratamento adequado das doenças mentais — comenta o especialista, que tem consultório no Leblon.

Gebara garante que os sinais de quem está precisando de ajuda são fáceis de ser identificados:

— Há uma mudança de comportamento. O sujeito que era extrovertido deixa de ser. Fica claro um desinteresse por atividades estudantis, profissionais ou sociais. O indivíduo também passa a dizer frases, como “Não aguento mais essa vida”. O auxílio profissional, imediato, para quem apresenta estes sintomas é fundamental.

Jovens e idosos são os mais afetados pelo problema, como ele confirma: Pessoas entre 15 e 24 anos, assim como quem já passou dos 60, fazem parte de um grupo mais vulnerável. No caso dos jovens, é porque sofrem influências de terceiros e de jogos da internet que incitam práticas de atos terríveis. Já os idosos, é porque muitas vezes ficam sem esperança no amanhã.

— Um avô e um tio tiraram suas vidas. É um baque pela morte e pelo fato de a própria pessoa ter feito isso. Minha mãe se preocupava que eu fizesse o mesmo. Mas tenho gana de viver — ressalta.

Fonte: O Globo

Envelhecimento do cérebro: entenda 10 mitos e verdades

Como qualquer órgão do corpo humano, o cérebro também passa por alterações e mudanças ao longo dos anos, características do seu envelhecimento. Essas alterações não ocorrem apenas nas estruturas do órgão, mas também na execução das suas funções. Nos cérebros idosos, por exemplo, há uma perda de sintonia entre as regiões, o que impacta diretamente no funcionamento do cérebro.

O Dr. Marcelo Valadares, médico neurocirurgião do Hospital Albert Einstein e pesquisador da Unicamp, esclarece as principais curiosidades sobre a saúde e o envelhecimento cerebral. Confira! 

1 – O tamanho do cérebro pode diminuir com a idade

Verdade. De acordo com o médico, a redução do volume do cérebro é comum durante o envelhecimento. Isso se deve à diminuição no número de células, entre elas, os neurônios, que são os principais responsáveis pelo funcionamento do órgão. 

“Além disso, acontece também uma diminuição das conexões entre os neurônios. Esta alteração do volume cerebral também é chamada de atrofia e pode ser maior ou menor, de acordo com outras condições de saúde, que variam para cada pessoa”, explica o especialista.

2 – Exames preventivos podem contribuir para evitar o envelhecimento do cérebro

Mito. Até o momento, não existem exames que possam prevenir o envelhecimento do cérebro, como aponta o Dr. Marcelo. “As recomendações são relacionadas à prevenção de problemas de saúde. Exames podem ser úteis quando existem alterações neurológicas perceptíveis, como problemas de memória e de atenção”, justifica.

3 – Os neurotransmissores também sofrem com mudanças durante o envelhecimento

Verdade. Essas substâncias que levam a informação de um neurônio ao outro ou a um tecido específico também podem sofrer alterações com o passar do tempo. “Hoje conhecemos mais de 60 tipos de neurotransmissores e, com a idade, a concentração de cada um pode variar; isso pode estar associado a problemas de saúde”, ressalta o neurocirurgião.

4 – Já existem formas de frear o desenvolvimento das doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson

Mito. Infelizmente, ainda não existe uma maneira eficaz de impedir processos degenerativos no cérebro, principalmente quando doenças como Alzheimer e Parkinson já foram identificadas. Porém, segundo o neurocirurgião, existem condições de saúde que podem reduzir as chances do desenvolvimento destas doenças. 

“Adotar um estilo de vida mais saudável desde cedo, com alimentação balanceada, prática de atividades físicas e evitando o excesso de bebidas alcoólicas, por exemplo, pode reduzir o risco de doenças neurodegenerativas”, destaca.

5 – O estilo de vida de um jovem pode influenciar no envelhecimento do seu cérebro

Verdade. Um cérebro jovem deve ser estimulado e bem cuidado, e isso não deve mudar com o passar do tempo. “A forma como se estimula o cérebro hoje, impacta diretamente no amanhã. O cuidado deve ser físico, mental e emocional, uma vez que as emoções e a cognição estão ligadas às conexões entre os neurônios. Hábitos de vida saudáveis associados a um sono regular, evitando estresse e ansiedade, são cuidados essenciais”, afirma o médico.

6 – Pessoas que mantêm hábitos relacionados à atividade intelectual têm uma menor predisposição a desenvolver demência

Verdade. Hábitos simples como ler e estudar podem reduzir os impactos do tempo na saúde do seu cérebro. Conforme o especialista, essas práticas parecem estar relacionadas a um menor risco de desenvolver demências. Ele explica que a principal hipótese que justifica esse mecanismo é chamada de reserva cognitiva. 

“Estudos indicam que, quem estimula o cérebro, teria mais conexões entre seus neurônios e maior capacidade de processamento da informação. Essa reserva seria fundamental diante da morte de neurônios ligada ao envelhecimento ou a doenças, suprindo a função que seria perdida normalmente”, esclarece.

7 – A qualidade do sono é importante porque o cérebro desliga e, assim, estaremos descansados para o próximo dia

Mito. Segundo o Dr. Marcelo, o sono de qualidade é um dos principais elementos para manter a saúde do cérebro em dia, mas não porque é um momento do órgão descansar, ao contrário. Isso porque, enquanto dormimos, em vez de ‘desligar’, nosso cérebro inicia um dos seus momentos de maior atividade. 

“Enquanto nossa consciência está ausente e sonhamos, os neurônios processam e arquivam as informações recebidas durante o dia. Além disso, acreditamos que boa parte da ‘limpeza’ de resíduos de atividade cerebral ocorra durante o sono. Esse trabalho noturno é o que garante a qualidade e a limpeza, garantindo que o órgão esteja apto às atividades no próximo dia”, explica.

8 – A prática de atividades físicas que desenvolvam a musculatura corporal também pode contribuir para o cérebro

Verdade, por mais estranho que possa parecer. Diversas pesquisas apontam que a atividade física moderada está associada com menores índices de atrofia do cérebro. Isso significa que o cérebro de quem faz exercício físico pode ser maior do que o daqueles que não fazem. Pesquisadores também acreditam que isso também signifique um risco menor de doenças neurodegenerativas, como acrescenta o neurocirurgião.

9 – Alimentação desregulada e excesso de álcool podem influenciar diretamente no envelhecimento do cérebro

Tanto o consumo excessivo de álcool, quanto de açúcares e alimentos processados podem influenciar o envelhecimento do cérebro. Entre as principais mudanças possíveis estão: 

  • Alterações na capacidade cognitiva em qualquer idade;
  • Aumento na atividade inflamatória, afetando especialmente pessoas idosas. 

No caso do álcool, especificamente, podem ocorrer alterações profundas nos neurotransmissores. De acordo com o médico, pesquisas apontam que evitar o consumo em excesso de alimentos do tipo pode preservar a estrutura e as funções cerebrais.

10 – Suplementação com DHA é essencial para prevenção do envelhecimento cerebral

Mito. O DHA é um ácido-graxo que faz parte do chamado ômega 3, complexo de 3 tipos diferentes de substâncias muito importantes para o organismo, como explica o especialista. É possível obter o nutriente por meio do leite materno e através do consumo de alimentos como óleos de peixes. Porém, é preciso avaliar caso a caso a necessidade de suplementar ou não o DHA , com orientação médica e nutricional.

“O DHA está presente em nosso corpo e é parte essencial de nosso cérebro, mas ainda não está claro se consumi-lo pode ajudar no funcionamento do organismo. Como dito anteriormente, é importante ressaltar que também não existe, até o momento, uma forma de prevenir o envelhecimento do cérebro”, finaliza o Dr. Marcelo.

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Fonte: Portal Terra

Cérebro é capaz de se recuperar mesmo após lesão grave

Em 2012, um operário da construção civil do Rio, de 24 anos, teve uma barra de ferro atravessada na cabeça. Quem testemunhou a cena jamais poderia esperar que o homem sobrevivesse. Hoje, ele tem uma vida praticamente normal. Depois de dez anos estudando o caso, cientistas brasileiros e americanos conseguiram comprovar o motivo do “milagre”: o lado do cérebro não afetado pelo acidente assumiu as funções da área lesionada. A descoberta inédita, publicada na revista The Lancet, abre caminho para novos tratamentos.

O acidente foi em 16 de agosto de 2012. Ele amarrou um vergalhão de 2,5 metros de comprimento. Fez sinal para um colega que estava a 15 metros de altura puxar a barra de ferro. Quase chegando ao seu destino, o vergalhão se soltou e caiu na cabeça do trabalhador. Foi um impacto de cerca de 300 quilos. A barra entrou pelo lado superior direito da cabeça e a ponta saiu entre os olhos.

Mesmo com o vergalhão atravessado na cabeça, o jovem chegou ao hospital lúcido e orientado. Foi submetido a uma cirurgia de seis horas e ficou duas semanas internado. Segundo os médicos que o atenderam, ele perdeu aproximadamente 11% de massa encefálica. A perda foi do lado direito do córtex pré-frontal. Essa região do cérebro é uma das mais importantes.: responsável pela tomada de decisões, comanda impulsos, atenção, raciocínio, planejamento das ações e controle das emoções.

Histórico
O único registro disponível na história da Medicina de acidente similar indicava que o operário teria alterações comportamentais significativas. Foi em 1848. O operário americano Phineas Gage, de 25 anos, sofreu um acidente muito parecido com o do brasileiro. Perdeu cerca de 15% de massa encefálica. A única diferença foi que, no caso de Gage, a barra de ferro entrou pelo lado esquerdo da sua cabeça.

Os relatos mais conhecidos da época, no entanto, dão conta de que, após o acidente, o americano se tornou agressivo e grosseiro. São recorrentes as descrições de que ele “não era mais o mesmo homem”.

Pesquisadores da Fiocruz, da UFRJ, no Rio, e da Escola de Medicina Albert Einstein e da Universidade de Nova York, nos EUA, decidiram acompanhar o caso recente. Queriam traçar paralelos. O trabalho é fruto da tese de doutorado de Pedro de Freitas, sob orientação do professor Renato Rozental, pesquisador da UFRJ e da Fiocruz. A pesquisa contou com recursos não disponíveis na época do acidente do americano: exames como tomografia, eletroencefalograma, ressonância magnética, modulação da atividade elétrica cerebral e exames neuropsicológicos para avaliar as disfunções no lobo frontal e estimar as consequências da lesão.

O operário brasileiro não apresentou alterações no comportamento. A única sequela do grave acidente é uma epilepsia pós-traumática. É comum em caso de ferimentos graves na cabeça e é controlável com medicamentos. Os pesquisadores começaram, então, a questionar os relatos relacionados a Phineas Gage. Descobriram outras impressões, menos conhecidas. E sustentam que ele não teria tido alterações comportamentais.

“Os relatos da época em que ele morou no Chile (de 15 a 20 anos depois do acidente nos EUA) não descrevem um homem grosseiro. Lá, ele trabalhou como cocheiro, lidava com cavalos, que são animais sensíveis, e com o transporte de passageiros em charretes. Era tido como uma pessoa educada, sensível e responsável.”, conta Renato Rozental. “Nosso estudo acabou contribuindo também para a compreensão do caso de Phineas Gage, considerado um dos grandes mistérios da neurociência.”

Compensação
No caso do brasileiro, já logo depois do acidente, os pesquisadores constataram que o seu lobo frontal esquerdo começou a compensar o lado lesionado. Isso ocorria desde que aquele lado não fosse recrutado para outra atividade. As diferentes áreas do cérebro se comunicam por meio de impulsos elétricos. Quando uma área é lesionada, a atividade elétrica começa a funcionar mal e essa comunicação cerebral interna piora muito. Entretanto, explica Rozental, o hemisfério sadio começa a compensar essa atividade.

Para testar essa compensação, os pesquisadores pediram ao operário brasileiro que observasse um desenho cheio de detalhes. Em seguida, deveria copiá-lo sem olhar. Depois de três minutos, eles repetiram o pedido. Por fim, pediram novamente, depois de meia hora.

Os desenhos se mostraram muito acurados, mesmo após o período mais longo do experimento. Mas quando os cientistas suprimiram a atividade elétrica no lado sadio do cérebro e pediram que ele repetisse a tarefa, o resultado não foi tão bom. Isso mostrou uma capacidade deteriorada tanto da memória quanto do desenho. O operário também tem dificuldades para tarefas que exijam o recrutamento simultâneo dos dois lados do cérebro. “Não houve declínios perceptíveis em seu processamento mental, raciocínio moral, comportamento social, capacidade de resolver problemas diários, capacidade de interagir com colegas de trabalho ou com familiares ou capacidade de agir com eficiência”, conclui o trabalho.
fonte: O Estado de S. Paulo.

‘Em poucos anos, a maioria dos casos de Alzheimer será em países como o Brasil’, diz neurologista

Em agosto, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais Paulo Caramelli assumiu a coordenação do conselho consultivo da Sociedade Internacional para o Avanço da Pesquisa e Tratamento da Doença de Alzheimer. Trata-se de um feito não apenas inédito para um brasileiro, mas também a estreia de um pesquisador de fora de países da Europa e da América do Norte à frente da organização. Criada em 2008, a Sociedade conecta uma equipe internacional de cientistas dedicados a ampliar os trabalhos sobre o Alzheimer e outras formas de demência.

Em entrevista ao GLOBO, Caramelli fala sobre como a estimativa de crescimento do diagnóstico – que deve triplicar até 2050 – afeta desproporcionalmente países de média e baixa renda, como o Brasil. O coordenador da ISTAART também explica como é possível prevenir quase metade das formas de demência e comenta sobre as perspectivas para o tratamento do Alzheimer em meio a fraudes de estudos reveladas neste ano.

O senhor costuma afirmar que países como o Brasil terão nos próximos anos um número maior de casos de Alzheimer do que outros. O que isso significa?

Mais da metade dos casos de demência, como Alzheimer, no mundo ocorrerá em poucos anos em países de média e baixa renda, que são, em geral, também muito populosos, como Brasil, Índia, China, Nigéria, México. Além disso, são países que estão passando por um aumento do número de idosos que em grande parte já foi atingido em países da Europa e da América do Norte. Outro motivo importante é que alguns fatores de risco reconhecidos para a demência, como os cardiovasculares, a hipertensão arterial e a diabetes, são mais frequentes nestes países e de forma pior controlada.

Há ainda a questão do nível socioeconômico. Nós sabemos que níveis mais baixos reduzem o acesso à educação de melhor qualidade e ao maior número de anos de educação formal, além do acesso a melhores sistemas de saúde e a alimentos com melhor nutrição. A questão da escolaridade é especialmente importante porque nós sabemos que níveis mais baixos, de forma mais dramática o analfabetismo, são grandes fatores de risco para a demência, porque eles diminuem o que chamamos de reserva cognitiva do cérebro para fazer frente a essas doenças que afetam justamente a cognição.

Qual é a verdadeira relação entre mudanças de estilo de vida e a incidência do diagnóstico?

A prevenção consiste no controle de fatores de risco modificáveis. Sabemos hoje, de acordo com uma comissão patrocinada pela revista Lancet, que aproximadamente 40% das demências estão relacionadas a 12 fatores sobre os quais nós podemos atuar para reduzir a prevalência do diagnóstico, o que é uma parcela muito grande dos casos. Esses fatores são distribuídos ao longo da vida. Na infância, por exemplo, a escolaridade reduz esse risco. Na meia-idade, deficiência auditiva moderada a grave não tratada é outro fator ligado ao risco maior. Mas há uma série de outros fatores que perduram durante toda a vida, como níveis de hipertensão arterial e colesterol, diabetes, sedentarismo, tabagismo, que se não forem evitados ou controlados elevam o risco. Há ainda pontos que são mais difíceis de serem modificados, como poluição ambiental.

A Organização Mundial da Saúde diz que o mundo está falhando no combate à demência, traçando um cenário de crescimento da doença em mais de 150% até 2050, passando de 55 para 139 milhões de pacientes. O que deveríamos fazer de diferente?

Existem programas sociais como os voltados para a melhora de condições de vida da população, para o acesso universal à escola de boa qualidade, da educação de jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de estudar na infância, para o controle de fatores de risco de saúde, como evitar o sedentarismo, que poderiam ser implementados em nível nacional em cada um dos países, o que levaria a um impacto enorme sobre os casos de demência a médio e longo prazo. De certo modo, é algo que já está no radar, pois há planos nacionais de demência em diversos países, e a Organização Pan-americana de Saúde definiu em 2015 que os países membros implementariam as medidas, o Brasil sendo um deles. Porém sabemos que as velocidades com que isso tem acontecido são bem diferentes. Costa Rica e Chile, por exemplo, estão mais avançados, mas em outros a discussão ainda está de forma mais incipiente, como no Brasil.

A resposta à demência no Brasil nos últimos anos tem sido insatisfatória?

Nós melhoramos muito, mas temos uma lição de casa longa a ser cumprida. Existem algumas políticas de saúde pública interessantes, muito relacionadas ao idoso e ao envelhecimento, mas ainda poucas iniciativas e programas específicos para demência, seja para prevenção ou tratamento. Especificamente sobre Alzheimer, desde 2002 há projetos públicos de tratamento, o que é um avanço, mas ainda não é suficiente. Até porque é muito desigual, (os projetos) são apenas em cidades grandes, ligadas a instituições acadêmicas, onde existe uma estrutura melhor, mas no geral não há tanto acesso a uma atenção multiprofissional e a um número necessário de profissionais especializados em lidar com a demência pelo país.

Quais as perspectivas para um tratamento que reverta a perda cognitiva causada pelo Alzheimer?

Medidas preventivas são muito importantes justamente pois ainda estamos distantes de um tratamento curativo para de fato modificar o curso da doença de Alzheimer, que é a forma de demência mais frequente. Embora haja uma quantidade enorme de pesquisas, ainda estamos longe dessa realidade. Além disso, nós sabemos hoje com base em diversos estudos que o Alzheimer, embora seja a causa mais frequente de demência, na maioria das vezes está acompanhado de outras doenças, como um acidente vascular cerebral e outras causas degenerativas que podem estar presentes no cérebro de pessoas idosas em conjunto com o Alzheimer.

Um estudo muito interessante conduzido há poucos anos nos Estados Unidos mostrou que, em pessoas com mais de 80 anos que faleceram com demência e doaram seus cérebros, 25% delas tinham quatro proteinopatias, ou seja, quatro doenças degenerativas diferentes que estavam relacionadas ao diagnóstico de demência. Então mesmo se hoje nós tivéssemos uma medicação extremamente efetiva para o Alzheimer hoje, o problema não estaria completamente resolvido. Diante deste cenário, nós entendemos que a prevenção tem um papel fundamental.

Em 2021, pela primeira vez em 18 anos, os Estados Unidos aprovaram um remédio destinado ao Alzheimer, o Aducanumab. No entanto, esse aval não é um consenso na comunidade científica, sendo restrito ao país norte-americano. Por que o medicamento não atendeu às expectativas?

Nós estamos vivendo uma entressafra longa, o último medicamento aprovado de forma unânime foi em 2003, há quase 20 anos, para uma forma de demência moderada a grave. Desde então, a única nova medicação aprovada foi o Aducanumab, que recebeu o aval apenas da agência dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, a Anvisa, assim como a agência europeia, a japonesa, e outras, não aprovaram. Isso porque foi um medicamento com resultados controversos nos estudos de fase 3. Foram dois estudos, um com efeito positivo, outro com negativo, mas que foram interrompidos no meio do caminho. Uma análise dos dados parciais pela FDA (agência dos EUA) constatou uma eficácia em apenas um dos estudos, especialmente na redução de uma das proteínas que formam placas no cérebro ligadas ao diagnóstico de Alzheimer, a beta-amiloide. Mas a aprovação foi polêmica e o remédio é muito pouco utilizado, até porque tem certos problemas de segurança e um preço muito elevado. No momento, estão em andamento novos estudos com o remédio.

Além dele, existe um número enorme de pesquisas em andamento que buscam atuar na doença com mecanismos diferentes. Eu diria que estamos vivendo um momento interessante de quantidade e qualidade grande dessas pesquisas, mas é uma doença muito complexa, desafiadora, com ações biológicas não 100% conhecidas, o que torna tudo mais difícil. Mas vejo o cenário com otimismo, acho que é uma questão de tempo até surgirem novas medicações. Uma cura ainda deve estar distante, mas remédios que ajudem no controle dos sintomas e a tornar a evolução mais lenta, acredito que é algo a médio prazo que devemos conseguir. Isso precisa de tempo, de qualificação e de dinheiro. E obviamente os países ricos saem na frente.

Neste ano, uma investigação publicada na revista Science revelou indícios de fraude e manipulação em imagens utilizadas em estudos consolidados sobre o Alzheimer, muitos dos quais embasam a teoria de que a formação de placas da proteína beta-amiloide no cérebro levaria ao desenvolvimento da doença – que é a base da atuação do Aducanumab. De que forma isso está sendo recebido pela comunidade científica?

Houve esse episódio de indício de fraude sobre um estudo publicado na revista Nature em 2006, que ainda está em análise. As evidências apresentadas num artigo longo publicado na Science são muito sugestivas de que houve realmente um tipo de fraude. Infelizmente, fraudes, falsificação de dados, são problemas que acontecem em todas áreas, e a ciência não está isenta disso. O que não significa que a ciência deva ser criticada, mas sim a conduta de determinados pesquisadores, que deve ser investigada e, se comprovado que houve fraude, deve enfrentar as medidas cabíveis.

Um aspecto importante, no entanto, é que algumas pessoas alegaram que essa suposta fraude colocaria por terra a teoria do papel das placas de proteína beta-amiloide no diagnóstico de Alzheimer, mas isso não é verdade. Embora de fato haja muita discussão sobre o real papel da proteína na doença, já que estudos com moléculas que limpam a amiloide no cérebro têm sido negativos para combater a doença, o estudo de 2006 se refere a uma partícula muito específica, e não à teoria amiloide como um todo. Então, se for comprovado que é fraude, isso questiona uma partícula específica da proteína, mas não derruba a teoria.

Ainda assim, hoje as formas de tratamento disponíveis conseguem garantir uma qualidade de vida melhor às pessoas com demência?

Eu vivi uma época do Alzheimer antes de existir qualquer medicação e depois, no final dos anos 90, quando começaram a ser aprovados alguns medicamentos. O surgimento dos remédios e um conhecimento maior a respeito da doença, dos fatores de risco, tudo levou a um acompanhamento clínico muito melhor para essas pessoas. Hoje conseguimos dar um suporte tanto clínico como psicológico para o paciente, cuidadores e familiares. E sobre os medicamentos, os estudos observacionais mostram que com o passar dos anos aqueles que aderem ao tratamento tiveram uma redução na mortalidade e na evolução para demência grave. Então hoje, embora ainda estejamos num cenário longe do que gostaríamos, estamos muito melhores do que nos anos 90, quando você não tinha opções de tratamento para o problema. Nós vivemos um cenário melhor, mas ainda distante do que buscamos e queremos para as pessoas com demência.

Fonte: Jornal O Globo

‘O cérebro é uma máquina de esquecer’

Se alguém lhe pergunta o que significa ter uma boa memória, o que você responderia? Quem acredita que a resposta seja “lembrar-se claramente de muitas informações por um longo período de tempo” – a definição ‘clássica’ da memória – talvez esteja errado. É o que indicam os resultados de uma recente revisão científica sobre como o cérebro armazena informações, realizada por neurocientistas da Universidade de Toronto, no Canadá. Estudo mostra que o principal objetivo da memória não é armazenar informações de maneira precisa por muitos anos.

De acordo com o estudo, o principal objetivo da memória não é armazenar informações de maneira precisa por muitos anos. Ao invés disso, seu papel seria o de guiar e otimizar o processo de tomada de decisões – retendo, para isso, apenas as informações mais valiosas. As outras informações – aquelas que são pouco úteis para decidirmos qual rumo tomar – seriam devidamente ‘eliminadas’.

ESQUECER NÃO É TÃO RUIM ASSIM

No estudo, publicado na última edição do periódico científico Neuron, os pesquisadores argumentam que nosso cérebro trabalha ativamente para esquecer. Assim, o que por muito tempo foi considerada uma falha nos mecanismos cerebrais de armazenamento e recuperação de informações pode ser, na verdade, um processo que nos ajuda a tomar decisões mais certeiras em nosso cotidiano.Este conceito pode parecer contra intuitivo, mas os pesquisadores defendem que esquecer é tão importante quanto lembrar.

De acordo com o estudo, que fez uma revisão de diversas pesquisas relacionadas à memória e ao esquecimento, a literatura científica está revelando que esquecer é um componente tão importante dos nossos mecanismos de memória quanto lembrar.“É importante que o cérebro se esqueça de detalhes irrelevantes e, em vez de guardar [esse tipo de informação], se concentre naquilo que irá nos ajudar a tomar decisões”, diz o pesquisador Blake Richards, membro do grupo de Aprendizado em Máquinas & Cérebros da Universidade de Toronto e um dos autores do artigo.

“Nós encontramos várias evidências de pesquisas recentes que mostram que há mecanismos que promovem o esquecimento, e que eles são distintos daqueles envolvidos no armazenamento de informação”, diz o cientista Paul Frankland, co-autor do artigo e membro do grupo de estudo de Crianças & Desenvolvimento Cerebral do Canadian Institute for Advanced Research.

Mas como exatamente esquecer de detalhes e reter apenas as informações mais importantes podem nos ajudar a tomar decisões melhores? Os pesquisadores citam duas hipóteses interessantes.

Em primeiro lugar, esquecer pode ajudar na adaptação a novas situações. Ao descartar informações desatualizadas e que podem potencialmente nos prejudicar, o esquecimento nos auxilia a lidar com ambientes que estão em constante mudança.

“Se você tenta navegar pelo mundo e seu cérebro está constantemente trazendo à tona várias memórias que se contradizem, isso pode tornar mais difícil tomar uma boa decisão”, explica Richards.

Além disso, esquecer facilita o processo de tomada de decisão ao permitir generalizar informações antigas para aplicá-las em novas situações. Quando nos lembramos apenas da essência de uma situação, o processo de esquecimento seletivo das particularidades cria memórias ‘simples’ desse evento. Tais memórias ‘resumidas’ são muito mais efetivas para serem aplicadas em novas situações do dia a dia. Se, ao invés disso, nós nos lembrássemos de todos os pormenores de cada memória, seria mais difícil tirar conclusões a partir das experiências e utilizá-las como base para novas tomadas de decisão.

Esse princípio é utilizado, inclusive, na área de inteligência artificial, em que é conhecido como regularização, e funciona ao criar modelos computacionais simples que priorizam informações essenciais e eliminam detalhes extremamente específicos e supérfluos, o que permite ao modelo ser utilizado em uma gama mais ampla de aplicações.

COMO O CÉREBRO SE ESQUECE DE DETERMINADAS MEMÓRIAS?

Um dos mecanismos do ‘esquecimento proposital’ do cérebro proposto pela literatura científica é o enfraquecimento ou eliminação das sinapses – as conexões entre os neurônios – nas quais a memória está codificada.Um ambiente que muda constantemente requer menos formação de memórias de longo prazo.

Outro mecanismo, que é apoiado por evidências do próprio laboratório de Frankland, é a geração de novos neurônios a partir de células tronco. Ao se integrarem no hipocampo – região do cérebro associada à memória –, os novos neurônios criam conexões inéditas, as quais remodelam os circuitos cerebrais e gravam novas memórias “por cima” daquelas que já estão armazenadas nesses circuitos, tornando as antigas mais difíceis de serem acessadas. Esse mecanismo pode explicar, inclusive, o motivo pelo qual crianças, cujo hipocampo está produzindo novos neurônios constantemente, se esquecem de informações mais facilmente do que os adultos.

Os cientistas dizem, também, que o acionamento desses mecanismos do esquecimento depende muito do ambiente no qual vivemos. Um ambiente que muda constantemente requer menos formação de memórias de longo prazo – por exemplo, um taxista que conhece várias pessoas diferentes todos os dias tende a se lembrar dos nomes apenas por um curto período de tempo. Já o porteiro de um prédio residencial, que encontra os mesmos moradores regularmente, tende a se lembrar dos nomes de vários deles por um período maior (mesmo que não faça nenhuma atividade de reforço, como cumprimenta-los diariamente).

“Um dos fatores que distinguem um ambiente em que você vai querer lembrar de informações de um ambiente em que você vai querer esquecer informações é o quão consistente ele é, ou seja, quão provável é que as mesmas coisas aconteçam repetidamente em sua vida”, diz Richards.

De forma similar, pesquisas mostram que nos lembramos por mais tempo de informações que acessamos todos os dias. Quando passamos muito tempo sem usar uma determinada informação, tendemos a esquecê-la. E, como a Ciência está nos mostrando, isso pode não ser tão ruim assim.


Fonte: Valor Econômico