Pesquisadores de Londres descobriram que, quando se trata de manter a função cognitiva à medida que envelhecemos, o maior impacto pode advir de uma única escolha de estilo de vida: não fumar. Esta é a conclusão de um estudo inovador, publicado na Nature Communications, que abrangeu 14 países europeus.
O estudo acompanhou mais de 32 mil adultos entre 50 e 104 anos por até 15 anos. Embora pesquisas anteriores tenham frequentemente agrupado vários comportamentos saudáveis, tornando difícil identificar quais deles realmente importam, este estudo adotou uma abordagem diferente. Ao examinar 16 combinações diferentes de estilos de vida, os pesquisadores conseguiram isolar os efeitos do tabagismo, do consumo de álcool, da atividade física e do contato social no declínio cognitivo.
Os resultados mostraram que independentemente de outros fatores de estilo de vida, os não fumantes apresentaram consistentemente taxas mais lentas de declínio cognitivo em comparação aos fumantes. Esta descoberta sugere que parar de fumar – ou nunca começar – pode ser o passo mais crucial para preservar a função cerebral à medida que envelhecemos.
“Nossas descobertas sugerem que, entre os comportamentos saudáveis que examinamos, não fumar pode estar entre os mais importantes em termos de manutenção da função cognitiva”, disse a médica Mikaela Bloomberg, da Universidade College London, em comunicado.
“Para as pessoas que não conseguem parar de fumar, os nossos resultados sugerem que o envolvimento em outros comportamentos saudáveis, como exercício regular, consumo moderado de álcool e ser socialmente ativo, pode ajudar a compensar os efeitos cognitivos adversos associados ao tabagismo”.
Os pesquisadores chegaram essa conclusão após analisar dados de dois grandes estudos sobre envelhecimento: o Estudo Longitudinal Inglês sobre Envelhecimento (ELSA) e o Inquérito sobre Saúde, Envelhecimento e Aposentadoria na Europa (SHARE). Ambos acompanharam milhares de idosos ao longo de muitos anos, coletando dados sobre saúde, estilo de vida e função cognitiva.
Ao combinar estes fatores, eles criaram 16 perfis de estilo de vida distintos. Por exemplo, um perfil pode ser um não fumante que bebe moderadamente, faz exercício semanalmente e tem contato social frequente, enquanto outro pode ser um fumante que bebe muito, não faz exercício regularmente e tem interação social limitada.
Para medir a função cognitiva, os pesquisadores usaram um teste de memória, onde os participantes tinham que lembrar uma lista de palavras imediatamente e após um atraso e um teste de fluência verbal, onde os participantes nomearam tantos animais quanto puderam em um minuto.
Esses testes foram repetidos em vários momentos ao longo dos anos, permitindo aos pesquisadores acompanhar como a função cognitiva mudou ao longo do tempo para cada perfil de estilo de vida. Para garantir que captavam os efeitos do estilo de vida e não os sinais precoces de demência, os investigadores excluíram qualquer pessoa que apresentasse sinais de comprometimento cognitivo no início do estudo ou que tivesse sido diagnosticada com demência durante o período de acompanhamento.
Quando os pesquisadores analisaram os números, surgiu um padrão claro. Em geral, os estilos de vida que incluíam fumar foram associados a um declínio cognitivo mais rápido, independentemente de outros fatores. Por exemplo: fumantes que consumiam muito álcool, praticavam exercícios pouco frequentes e contato social limitado apresentavam a taxa mais rápida de declínio cognitivo.
Mesmo os fumantes que seguiram todos os outros comportamentos saudáveis (consumo moderado de álcool, exercícios regulares e contato social frequente) ainda apresentaram declínio cognitivo mais rápido do que os não fumantes. Por sua vez, entre os não fumantes, as diferenças em outros fatores de estilo de vida tiveram efeitos muito menores no declínio cognitivo.
Para colocar isto em perspectiva, ao longo de 10 anos, as pontuações de memória dos fumantes diminuíram até 0,17 desvios padrão a mais do que os não fumantes, e as suas pontuações de fluência verbal diminuíram até 0,16 desvios padrão a mais. Embora estes números possam parecer pequenos, podem traduzir-se em diferenças perceptíveis na função cognitiva diária ao longo do tempo.
Por outro lado, os efeitos de outros fatores de estilo de vida foram menos pronunciados. O consumo moderado de álcool foi associado a um declínio cognitivo ligeiramente mais lento em comparação com o consumo excessivo de álcool, mas a diferença foi muito menor do que a observada com o tabagismo. A atividade física regular e o contato social mostraram pouco ou nenhum efeito independente no declínio cognitivo neste estudo.
Essas descobertas têm implicações importantes tanto para os indivíduos quanto para os esforços de saúde pública. Os pesquisadores sugerem que parar de fumar – ou nunca começar – pode ser o passo mais importante que as pessoas podem dar para manter a função cognitiva à medida que envelhecem. Isto é particularmente relevante dado o longo período pré-clínico de doenças como Alzheimer, onde alterações cerebrais podem ocorrer décadas antes do aparecimento dos sintomas.
No entanto, os pesquisadores também alertam contra desconsiderar completamente outros comportamentos saudáveis. Embora este estudo não tenha encontrado fortes efeitos independentes da atividade física e do contato social no declínio cognitivo, sabe-se que esses fatores trazem vários benefícios à saúde. Além disso, para quem fuma e tem dificuldade em parar, a adoção de outros hábitos saudáveis pode ajudar, até certo ponto, a mitigar o declínio cognitivo
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Diversos estudos já apontaram como os corpos das mulheres são alterados após dar à luz um bebê — inclusive sua massa encefálica. Agora, pesquisadores estão se aprofundando em pesquisas sobre o que acontece com os homens depois da paternidade. A surpresa é que cuidar de um bebê também afeta o cérebro deles, que perde volume.
O efeito na forma e função do cérebro já tinha sido observado em roedores em pesquisas anteriores. Em uma nova investigação de cientistas da Universidade do Sul da Califórnia, diversos exames de ressonância magnética foram realizados em homens logo após virarem pais. Os resultados vistos em animais se mantiveram.
Em um artigo escrito no site The Conversation, a professora de psicologia Darby Saxbe, líder do estudo, detalhou as conclusões sobre os efeitos da paternidade.
“Em um novo estudo que analisou mudanças cerebrais em pais de primeira viagem, meus colegas e eu descobrimos que a perda de volume cerebral estava ligada a um maior envolvimento na paternidade, mas também a mais problemas de sono e sintomas de saúde mental. Esses resultados podem apontar para um custo do cuidado, tradicionalmente absorvido pelas mulheres, mas cada vez mais assumido pelos homens também”, escreveu.
Pesquisas com mães
O mesmo efeito tinha sido observado em mães por meio de estudos anteriores. Pesquisadores recrutaram mães de primeira viagem e fizeram uma varredura de seus cérebros antes da gravidez e após alguns meses do parto do bebê. Concluíram que a massa cinzenta (camada de tecido cerebral que contém células neuronais) havia encolhido na comparação com um grupo de controle feminino que não havia engravidado.
“Embora um cérebro encolhido pareça ruim, os pesquisadores teorizaram que esse cérebro mais enxuto poderia ser adaptativo, ajudando a processar informações sociais de maneira mais eficiente e, portanto, facilitando o cuidado sensível”, escreveu Saxbe.
Os trabalhos também vincularam as mudanças cerebrais das mães ao seu apego aos bebês. Mulheres que tiveram respostas emocionais mais fortes ao visualizar imagens dos filhos também foram aquelas que tiveram maior perda de massa cinzenta.
A vez dos pais
No novo trabalho, houve um efeito semelhante nos pais, porém em menor escala. Foram analisados 38 homens, durante a gravidez de suas parceiras e em três períodos subsequentes: após três, seis e 12 meses do parto. Os pesquisadores também fizeram perguntas sobre como eles se sentiam em relação ao bebê, como estavam dormindo, e se apresentavam sintomas de depressão, ansiedade e outros transtornos psíquicos.
“Como antes, vimos diferenças cerebrais significativas do pré-natal ao pós-parto em todo o córtex, a camada mais externa do cérebro que realiza muitas funções de ordem superior, como linguagem, memória, resolução de problemas e tomada de decisão. Em média, os homens em nossa amostra perderam cerca de 1% do volume de massa cinzenta durante a transição para a paternidade”, descreveu a pesquisadora.
A mesma ligação com o apego dos pais surgiu na pesquisa. Homens que declararam mais conexão com o filho sendo gestado e manifestaram vontade de ampliar o tempo da licença paternidade foram aqueles que perderam mais massa cinzenta, principalmente nos lobos frontal e parietal – partes envolvidas no funcionamento executivo e processamento sensório-motor.
Saúde mental
Homens que perderam mais volume cerebral também relataram maior depressão, ansiedade, angústia e pior sono aos seis e 12 meses após o nascimento. “Esse achado fornece uma pista para uma possível direção de causalidade: em vez de problemas de sono ou angústia psicológica no pré-natal preverem maior mudança cerebral, concluímos que a perda de volume de massa cinzenta dos pais precedeu seus problemas de sono e saúde mental no pós-parto, além do efeito do seu bem-estar antes do nascimento”, escreveu Saxbe no Conversation.
Segundo a pesquisadora, o trabalho apontou para o custo físico e emocional que cuidar de um filho cobra tanto de homens quanto de mulheres envolvidos no dia a dia da criação do bebê:
“A mensagem aqui não é que os homens devem parar de cuidar dos filhos. Uma série de pesquisas sugere que crianças com pais envolvidos se saem melhor em todos os aspectos: acadêmica, econômica e emocionalmente”, defendeu.
Para a pesquisadora, o estudo só reforça que pais em geral devem ser objeto de ações de saúde pública para reduzir o estresse do período pós-natal, “como licença remunerada e esforços no local de trabalho para normalizar a licença entre os homens”.
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Para a neurocientista Jimo Borjigin, foi uma surpresa: ela não podia acreditar que, embora “morrer seja uma parte essencial da vida”, não sabíamos “quase nada” sobre o cérebro em processo de morte. Ela percebeu isso há pouco mais de 10 anos por puro “acidente”.
“Estávamos fazendo experimentos com ratos no laboratório, examinando suas secreções neuroquímicas após uma cirurgia”, contou ela à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
De repente, dois dos ratos morreram, o que permitiu observar o processo de morte em seus cérebros. “Um dos ratos mostrou uma massiva secreção de serotonina.”
Ela se perguntou se aquele rato teria tido alucinações, já que “a serotonina está ligada a elas”, explicou.
Ver aquela explosão do neurotransmissor despertou seu interesse. “Naquele fim de semana, comecei a pesquisar a literatura especializada, acreditando que haveria uma explicação. Procurei repetidamente e acabei percebendo que sabemos muito pouco sobre o processo de morrer.”
Desde então, a professora associada de neurologia e fisiologia molecular e integrativa da Universidade de Michigan tem se dedicado a estudar o que acontece no cérebro humano quando estamos morrendo. E o que ela descobriu — assegura — vai contra o que se imagina.
A definição de morte
“Não sei se você já viu uma pessoa sofrendo uma parada cardíaca”, me diz. “O comportamento mais óbvio é que ela cai, desmaia. Você chama pelo nome e ela não responde, toca nela e não há reação, não se move, é como se estivesse morta.”
Precisamos de profissionais que nos digam se o paciente está vivo. Muitas vezes, usam máquinas de eletrocardiograma para determinar isso.
“Mas, há muito tempo, se alguém sofre uma parada cardíaca, o médico verifica os braços ou o pescoço e, se não encontra pulso, significa que o coração não está bombeando sangue. Isso é definido como morte clínica.”
Nesse processo, a maior atenção tem sido dada ao coração, “chama-se parada cardíaca, não parada cerebral”.
“Para toda a medicina, inclusive para a compreensão científica, parece que o cérebro não está funcionando porque não há resposta: a pessoa não consegue falar ou se sentar”.
O cérebro precisa de muito oxigênio para funcionar. Se o coração não bombeia sangue, o oxigênio não chega ao cérebro.
“Todos os sinais superficiais indicam que o cérebro se torna hipoativo”, explica Borjigin. No entanto, as pesquisas dela e de sua equipe mostram algo diferente.
Neurotransmissores
Em um estudo de 2013 com ratos, observaram uma intensa atividade de vários neurotransmissores após os corações dos animais pararem e seus cérebros deixarem de receber oxigênio.
“A serotonina aumentou 60 vezes; a dopamina, que é uma substância química que te faz sentir bem, aumentou de 40 a 60 vezes; a noradrenalina, que te deixa muito alerta, também subiu.”
Esses níveis tão altos — afirma — “nunca são vistos” quando o animal está vivo.
Em 2015, publicaram outro estudo sobre o cérebro moribundo em ratos.
“Em ambos estudos, 100% dos animais mostraram uma intensa ativação da função cerebral”, aponta a especialista. “O cérebro estava em um estado hiperativo.”
Ondas gama
Em 2023, foi publicada uma pesquisa que se concentrou em quatro pacientes que estavam em coma e recebiam suporte vital, com eletrodos de eletroencefalografia.
“Eles estavam morrendo de diferentes doenças”, explica a cientista.
Quando os médicos e as famílias concluíram que “estavam além de qualquer procedimento médico que pudesse ajudá-los, decidiram deixá-los ir”.
Com a permissão dos parentes, os ventiladores mecânicos foram retirados.
Ao fazer isso, os pesquisadores encontraram que, em dois dos pacientes, houve alta atividade cerebral vinculada a funções cognitivas. Foram detectadas ondas gama — as ondas cerebrais mais rápidas — que estão envolvidas no processamento complexo de informações e na memória.
Quando se desconecta o respirador de um paciente — explica a especialista em neurologia — ocorre uma hipoxia generalizada, que é como se denomina a falta de oxigênio no sangue.
A hipoxia generalizada está sempre associada a uma parada cardíaca, quando o coração não bombeia sangue.
“A hipoxia parece ser o tema unificador para ativar o cérebro. Assim que os ventiladores foram retirados, os cérebros de dois dos quatro pacientes se ativaram em segundos.”
Partes específicas
Em contraste com os ratos, onde os cientistas observaram uma ativação global e todo o cérebro estava ativo, “nos humanos, apenas algumas partes foram ativadas”. Essas áreas estão associadas às funções conscientes do cérebro.
Uma delas é conhecida como “zona quente cortical posterior”, que é a junção temporo-parieto-occipital (TPO), onde os lóbulos temporal, parietal e occipital se interconectam. “É a parte de trás do seu cérebro responsável pela percepção sensorial”, explica.
Essa área está associada à consciência, bem como aos sonhos e às alucinações visuais. Outra zona observada foi a área de Wernicke, relacionada à linguagem, fala e audição. “Demonstramos que o lobo temporal em ambos os lados é a parte mais ativada.”
Localizada próxima aos nossos ouvidos, essa seção é muito importante não apenas para o armazenamento da memória, mas também para outras funções cognitivas.
A professora destaca que a junção temporoparietal (TPJ, em inglês) do lado direito do cérebro tem sido associada ao desenvolvimento da empatia.
“De fato, muitos pacientes que sobreviveram a paradas cardíacas e tiveram experiências próximas à morte (ECM) relatam que essas experiências os mudaram para melhor, que sentem mais empatia”.
Ao falar sobre um dos pacientes do estudo, Borjigin acredita que, se tivesse sobrevivido, provavelmente “teria relatado o mesmo, mas, é claro, nunca saberemos”.
Experiências próximas da morte
Ao longo da história, muitas pessoas que estiveram à beira da morte ou até mesmo que registraram uma morte clínica e sobreviveram graças às técnicas de reanimação relataram ter tido Experiências de Quase Morte (EQM).
Algumas falaram sobre ter revivido suas vidas em um flash ou lembrado de momentos cruciais; muitas viram uma luz intensa; outras descreveram sair de seus corpos, flutuar e observar o que acontecia ao seu redor.
Será que esse cérebro hiperativo observado por Borjigin em seus estudos pode explicar por que algumas pessoas tiveram experiências tão intensas no limiar da morte?
“Eu acredito que sim”, responde. Seu estudo de 2023 aponta que em um grupo de pessoas que sobreviveram a uma parada cardíaca pelo menos 20% a 25% relataram ter visto uma luz, o que sugere que suas cortezas visuais estavam ativadas.
Ao mencionar os dois pacientes nos quais foi observada alta atividade cerebral após a retirada dos respiradores, a pesquisadora explica que suas cortezas visuais mostraram uma intensa ativação, “o que possivelmente está correlacionado com essa experiência visual”.
“Alguns pacientes sobreviventes até relataram ter ouvido o que estava acontecendo durante sua cirurgia ou o que os paramédicos disseram ao socorrê-los após um acidente de carro.”
Referindo-se aos dois pacientes que faleceram, a professora indica que “a parte do cérebro responsável pela percepção da fala, da linguagem, a zona quente posterior, estava muito ativa em ambos”.
‘Paradigmático’
O foco histórico na morte estar centrado no coração levou à ideia de que o cérebro cessa de funcionar quando alguém sofre uma parada cardíaca, explica Borjigin. “Mas esse fenômeno não é consistente com as observações de pessoas que tiveram experiências próximas da morte”.
Embora não haja comportamentos que indiquem que o cérebro esteja funcionando durante uma parada cardíaca, não se pode presumir que ele não esteja, ela aponta.
“Como é possível que uma pessoa possa ter experiências mentais extremamente emocionais, impressionantes, como ver uma luz, ouvir vozes, sentir-se fora do corpo, flutuando no ar? Tudo isso faz parte da função cerebral”.
“Dado que os profissionais médicos consideram o cérebro hipoativo, há aqueles que acreditam que toda essa atividade deve vir de fora do corpo, como algo extracorpóreo”.
“No entanto, nós não acreditamos nisso e em 2013, quando publicamos a primeira pesquisa com animais, afirmamos que a ideia de que essas experiências subjetivas vêm de fora do corpo não pode ser comprovada, é impossível”.
“Por isso, desde o início, tenho firmemente acreditado que essas experiências vêm do cérebro, mesmo que isso seja paradoxal porque se pensa que o cérebro não funciona durante uma parada cardíaca”.
“Estou convencida de que as experiências próximas da morte vêm da atividade cerebral que ocorre antes que os sinais vitais do coração e do cérebro cessem, não de uma atividade posterior”.
Uma nova compreensão
Borjigin reconhece que seu estudo em humanos é muito limitado e que são necessárias muitas mais pesquisas sobre o que ocorre no cérebro quando estamos morrendo. No entanto, após mais de dez anos focada nesta área, uma coisa está clara para ela:
“Em vez de estar hipoativo, o cérebro se torna hiperativo durante uma parada cardíaca”.
“É crucial melhorarmos nossa compreensão da função cerebral durante uma crise como essa”.
De fato, ela acredita que esse aumento da atividade cerebral observado em seus estudos faz parte de um mecanismo de sobrevivência do cérebro quando privado de oxigênio.
Mas o que acontece com o cérebro quando ele percebe que não está recebendo oxigênio?
“Estamos tentando entender isso, há pouca literatura, não se sabe ao certo”, responde. Ela menciona a hibernação e compartilha uma hipótese: “Que os animais, incluindo pelo menos ratos e humanos, têm um mecanismo endógeno para lidar com a falta de oxigênio.”
“Até agora, acredita-se que o cérebro é apenas um espectador inocente de uma parada cardíaca: quando o coração para, o cérebro simplesmente morre; a ideia atual é que o cérebro não consegue lidar com isso e morre.”
No entanto, ela insiste, “não sabemos”.
Sobrevivência
Borjigin acredita que o cérebro não desiste facilmente. Em outras crises, ele luta.
“A hibernação é de fato um dos melhores exemplos pelos quais eu acredito que o cérebro está equipado com mecanismos para sobreviver a essa terrível experiência, a falta de oxigênio, mas isso precisa ser investigado.”
Ela pede para imaginar uma família que, de repente, é atingida por uma crise econômica: os pais perdem seus empregos e não há mais nenhuma fonte de renda.
“O que eles fazem? Reduzem seus gastos, cortam o que não é essencial.”
“Eles usam o dinheiro restante apenas para o que lhes permite sobreviver”.
Agora, ela compara o dinheiro ao oxigênio para o cérebro.
“Eu acredito que o cérebro faz o mesmo. Qual é a função mais essencial dele? Não é aquela que permite dançar, falar, se mover. Essas funções não são essenciais. O essencial é respirar, fazer o coração bater.”
“Por isso, eu acredito que o cérebro diz: ‘Melhor eu fazer algo diante desta crise que está chegando’. Ele precisa conservar essa quantidade decrescente de oxigênio que está entrando no sistema.”
Sob um iceberg
Borjigin considera que o que foi descoberto em seus estudos é apenas a ponta de um iceberg gigante, debaixo do qual há muito a ser descoberto.
“Quando eu estava explicando minha teoria com o exemplo de uma família que precisa redefinir suas prioridades financeiras, é porque acredito que o cérebro faz o mesmo. Eu acredito que ele tem mecanismos endógenos para lidar com a hipóxia que ainda não compreendemos.”
“É isso que eu quero dizer com algo abaixo de um iceberg imenso que vemos na superfície.”
“Superficialmente, sabemos que há pessoas que sofrem parada cardíaca e têm essa experiência subjetiva incrível, e nossos dados mostram que essa experiência é devida ao aumento da atividade cerebral.”
“Mas a pergunta é: por que o cérebro moribundo tem uma atividade tão intensa?”
“Precisamos investigar, descobrir, entender isso porque poderíamos estar fazendo diagnósticos prematuros de morte em milhões de pessoas, já que não compreendemos o mecanismo da morte.”
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A gagueira, caracterizada pela fala repetida ou arrastada na cadência das palavras, é um distúrbio neurobiológico presente em pelo menos 1% da população adulta. Um novo estudo multidisciplinar publicado na revista científica Brain mostrou a partir de qual local do cérebro o distúrbio se origina.
Inicialmente relacionada a causas de origem psicológica, agora se sabe que os dois diferentes tipos de gagueira, a do desenvolvimento (que surge ainda na infância) e a adquirida (associada a problemas neurológicos ou acidente vascular), são condições neurológicas que afetam a fala.
“Embora a maioria das pesquisas trate esses diferentes tipos de gagueira como condições separadas, este estudo adota uma abordagem única, combinando conjuntos de dados para ver se pudermos identificar um link comum”, explica coautora e professora associada na Universidade de Canterbury (UC), em comunicado.
Neste contexto, a equipe, que também contou com pesquisadores da Universidade de Turku, na Finlândia, da Universidade de Toronto, no Canadá, da Universidade de Boston, e do Brigham and Women’s Hospital da Harvard Medical School, nos EUA, analisaram um conjunto de dados para compreender se existem conexões entre ambos os tipos de gagueira.
Desta maneira, foi descoberto que a origem em comum está em uma parte específica do putâmen esquerdo, parte do telencéfalo. Assim como o claustro, fina camada de substância cinzenta, no telencéfalo, e a área de transição amigdaloestriatal foram considerados “duas áreas adicionais de interesse”.
“[As duas últimas citadas] São áreas minúsculas do cérebro — com apenas alguns milímetros de largura — e é por isso que normalmente podem não ter sido identificadas em estudos anteriores”, afirma Theys.
De acordo com a especialista, os achados são uma ótima notícia para a pesquisa sobre o distúrbio, pois a partir disso novas opções de tratamento mais eficazes poderão ser desenvolvidas.
“As pessoas sempre olharam para a gagueira adquirida e de desenvolvimento como duas coisas distintas, mas conseguimos mostrar que, além das semelhanças no nível comportamental, também existem semelhanças no nível neural”, diz Catherine Theys, coautora e professora associada na Universidade de Canterbury (UC).
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Um novo estudo apresentado na Translational Psychiatry mostra que o estado de flow (também conhecido como estado de fluxo, aquela condição em que a pessoa fica submersa em uma concentração inabalável) pode ajudar a proteger não apenas o cérebro, mas também o coração: a tendência é que pessoas mais suscetíveis a esse estado sejam menos propensas a condições cardiovasculares.
O estado de flow é definido como o ápice da atividade cerebral. Por enquanto, fica o alerta de que as pesquisas científicas ainda não conseguem chegar a uma conclusão concreta sobre os efeitos que o fluxo possa causar na saúde física ou mental.
No entanto, a nova pesquisa analisou os diagnósticos de 9.300 pessoas na Suécia para entender se um traço específico chamado neuroticismo — uma tendência de ser emocionalmente desequilibrado e facilmente irritado — influencia as associações observadas entre fluxo e saúde mental, e se existe algum papel exercido pelo histórico familiar e pela genética
Descoberta: as pessoas mais propensas a experimentar o estado de flow tinham um risco menor de certos diagnósticos, incluindo:
Depressão
Ansiedade
Esquizofrenia
Transtorno bipolar
Distúrbios relacionados ao estresse
Doenças cardiovasculares
Mas quando os pesquisadores fizeram uma relação com esse traço do neuroticismo e os fatores familiares, notaram que as experiências de fluxo permaneceram associadas apenas à depressão maior e à ansiedade. Além disso, essas associações diminuíram.
De qualquer forma, a conclusão dos cientistas é que o estado de flow pode ter algum efeito protetor, principalmente no que diz respeito à saúde mental.
Estado de flow e saúde mental
No entanto, os próprios autores têm a ressalva de que essa relação é mais complexa do que se pensava.
O material traz a teoria de que o estado de fluxo também pode não causar diretamente um risco menor para estas condições, mas que fatores como os genes devem ser levados em consideração.
Ou seja: as próximas devem nos ajudar a entender melhor os efeitos do estado de flow. Mas um dos motivos para essa relação pode ser que o ser humano tende a gastar menos tempo com reflexões e preocupações, o que ajuda a ter um sutil vislumbre da relação com a ansiedade.
“Os resultados estão alinhados com um papel protetor causal das experiências do estado de flow na depressão e potencialmente na ansiedade”, diz o estudo, mas relembra que “o neuroticismo e os fatores familiares são fatores de confusão notáveis nas associações observadas entre a propensão ao fluxo e os resultados de saúde”.
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O Brasil ultrapassou os 4,2 milhões de casos de dengue previstos pelo Ministério da Saúde para todo o ano de 2024. Esse número configura o maior surto de dengue no país nos últimos 24 anos. Em comparação, o Brasil registrou 1.658.816 casos da doença em 2023. No total, nove estados e o Distrito Federal decretaram situação de emergência. Entre esses estados está Santa Catarina, que possui mais de 210 mil casos prováveis desde o início do ano.
Os sintomas mais comuns da dengue são febre alta, manchas vermelhas no corpo, dor nas articulações e atrás dos olhos. Em casos mais graves, podem ocorrer lesões no fígado e hemorragias e hemorragia cerebral. A dengue também pode provocar riscos neurológicos nos infectados.
De acordo com pesquisa publicada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre 1% e 5% dos pacientes contaminados podem desenvolver doenças neurológicas, como Encefalite, Mielite, Neuropatia, Meningite e Guillain-Barré. O estudo foi publicado na revista Neurology, como um dos destaques da edição.
Doenças neurológicas que chegam com a dengue
A neurocirurgiã Danielle de Lara, que atua no Hospital Santa Isabel (Blumenau-SC), explica como essas doenças neurológicas afetam os pacientes infectados pela dengue.
“A Encefalite é uma infecção no sistema nervoso central que provoca inflamação do cérebro. Já a Mielite é uma inflamação focal que, em geral, atravessa os dois lados da medula espinhal, uma das estruturas que compõem o sistema nervoso central. É preciso ficar atento também à Neuropatia, que afeta os nervos periféricos do corpo e causa danos em áreas como mãos, pés, pernas e braços, causando perda de sensibilidade e atrofia muscular nesses locais. Outras doenças, como a Meningite, inflamação das meninges, e a Guillain-Barré, que é o ataque do próprio sistema imunológico do corpo ao sistema nervoso, também podem ocorrer em pessoas infectadas pela dengue”, revela.
Essas patologias neurológicas apresentam maior risco aos pacientes contaminados pelos sorotipos 2 e 3.
“Vale ressaltar que existem os sorotipos de dengue 1, 2, 3 e 4. Os problemas que afetam o sistema nervoso aparecem, principalmente, nos casos de reinfecção da dengue. Além disso, essas doenças também podem se manifestar em pessoas que já foram contaminadas pela Zika, Chikungunya e Febre Amarela”, conta a neurocirurgiã.
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Um novo estudo, publicado nesta quarta-feira (27), mostrou quais são os fatores de risco genéticos e modificáveis que podem influenciar para o envelhecimento precoce do cérebro e, consequentemente, aumentar o risco para doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Publicado na revista científica Nature Commucations, o estudo analisou exames cerebrais de 40 mil participantes do Biobank, um banco de dados do Reino Unido, que tinham mais de 45 anos. Os pesquisadores também analisaram 161 fatores de risco para a demênciae classificaram o seu impacto em uma área do cérebro mais suscetível para o envelhecimento precoce.
Em seguida, classificaram esses fatores modificáveis — ou seja, que podem ser alterados ao longo da vida — em 15 categorias:
“Sabemos que uma constelação de regiões do cérebro degenera mais cedo no envelhecimento e, neste novo estudo, mostramos que essas partes específicas do cérebro são mais vulneráveis ao diabetes, às doenças relacionadas à poluição atmosférica — cada vez mais um fator importante para a demência — e o álcool, de todos os fatores de risco comuns para a demência”, afirma Gwenaëlle Douaud, que liderou o estudo, em comunicado à imprensa.
De acordo com a pesquisadora, diversas alterações genéticas também influenciam nesta rede cerebral e estão relacionadas a mortes cardiovasculares, esquizofrenia, doenças de Alzheimer e Parkinson. Além disso, o estudo descobriu que dois antígenos de um grupo sanguíneo pouco conhecido, chamado antígeno XG, também é um fator de risco. “Essa foi uma descoberta totalmente nova e inesperada”, comentou.
|Lloyd Elliott, coautor do estudo e professor da Universidade Simon Fraser, no Canadá, concorda: “Na verdade, duas das nossas sete descobertas genéticas estão localizadas nesta região específica que contém os genes do grupo sanguíneo XG, e essa região é altamente atípica porque é compartilhada pelos cromossomos sexuais X e Y. Isto é realmente bastante intrigante, pois não sabemos muito sobre estas partes do genoma; nosso trabalho mostra que há benefícios em explorar mais profundamente esta terra incógnita genética.”
Para os autores, o atual estudo esclarece alguns dos fatores de risco mais críticos para a demência e fornece novas informações que podem contribuir para a prevenção de doenças neurodegenerativas e estratégias futuras para intervenções específicas.
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A corrida é uma das atividades físicas mais praticadas, afinal, basta um tênis e disposição para praticá-la. E, além de ser uma das que promove a maior queima de calorias, importante para aqueles que buscam tratar ou prevenir a obesidade, ela também é conhecida por oferecer uma sensação única de bem-estar, que ganha popularmente o nome de “runner’s high”, que, em português, seria algo como “o barato do corredor”.
Por muito tempo, essa euforia era creditada às endorfinas, os analgésicos opioides naturais produzidos por nossos corpos. No entanto, a sensação durante o exercício aeróbico tem sido associada a outras moléculas: os endocanabinoides. São substâncias produzidas pelo próprio organismo que se liga a receptores do sistema endocanabinoide, o mesmo onde atua os compostos da planta Cannabis.
Num dos estudos mais recente sobre o tema, pesquisadores bloquearam a capacidade dos corpos de corredores de responder às endorfinas. Ainda assim, eles relataram sentir a “runner’s high”, o que apontou que os neurotransmissores não estavam por trás do efeito. Em vez disso, sugeriu o estudo, é provável que um conjunto diferente de bioquímicos, os endocanabinoides, seja o responsável.
O que é a runner’s high?
Em pesquisas e estudos com corredores de longa distância experientes, a maioria relata que, pelo menos algumas vezes, desenvolve um estado de euforia suave. Em geral, a experiência da “runner’s high” é caracterizada por uma felicidade com os membros soltos e uma eliminação da ansiedade e do mal-estar após meia hora ou mais de corrida.
Na década de 1980, os cientistas de exercícios físicos começaram a atribuir essa sensação às endorfinas, depois de perceberem que os níveis sanguíneos dos analgésicos naturais aumentavam na corrente sanguínea das pessoas quando elas corriam.
Mais recentemente, porém, outros cientistas ficaram céticos. As endorfinas não conseguem atravessar a barreira hematoencefálica, que reveste o cérebro, devido à sua estrutura molecular. Portanto, mesmo que o sangue dos corredores contenha endorfinas extras, elas não chegarão ao cérebro e alterarão os estados mentais. Também é improvável que o próprio cérebro produza mais endorfinas durante o exercício, de acordo com estudos em animais.
Já os endocanabinoides são um bioquímico mais provável, acreditam esses cientistas. De estrutura química semelhante à dos compostos da maconha, os canabinoides produzidos por nossos próprios corpos aumentam em número durante atividades agradáveis, como orgasmos, e também quando corremos, segundo estudos. Eles também podem atravessar a barreira hematoencefálica, o que os torna candidatos viáveis para causar a “runner’s high”.
Alguns experimentos anteriores reforçaram essa possibilidade. Em um estudo de 2012, os pesquisadores colocaram cães, pessoas e furões a correr em esteiras, enquanto mediam seus níveis sanguíneos de endocanabinoides.
Os cães e os seres humanos são corredores, ou seja, possuem ossos e músculos bem adaptados à corrida de longa distância. Os furões não são; eles se esgueiram e correm, mas raramente percorrem quilômetros longos, e não produziram canabinoides extras durante a corrida na esteira. No entanto, os cães e as pessoas produziram, o que indica que eles provavelmente estavam sentindo uma “runner’s high” e que isso poderia ser atribuído aos canabinoides internos.
No entanto, esse estudo não descartou o papel das endorfinas, como percebeu Johannes Fuss, diretor do Laboratório de Comportamento Humano do Centro Médico Universitário Hamburg-Eppendorf, na Alemanha. Ele e seus colegas há muito tempo se interessam em saber como várias atividades afetam o funcionamento interno do cérebro e, depois de ler o estudo do furão e outros, acharam que poderiam examinar mais de perto a “runner’s high”.
Eles começaram com camundongos, que são corredores ávidos. Em um estudo de 2015, eles bloquearam quimicamente a absorção de endorfinas no cérebro dos animais e os deixaram correr, e depois fizeram o mesmo com a absorção de endocanabinoides. Quando o sistema endocanabinoide foi desligado, os animais terminaram a corrida tão ansiosos e nervosos quanto estavam no início, o que sugere que não sentiram a euforia.
Mas, quando as endorfinas foram bloqueadas, o comportamento deles após a corrida foi mais calmo, relativamente mais feliz. Eles pareciam ter desenvolvido aquele zumbido familiar e leve, embora seus sistemas de endorfina tivessem sido inativados. No entanto, os camundongos não são pessoas.
Por isso, para o o estudo mais recente, publicado em 2021 na revista científica Psychoneuroendocrinology, Fuss e seus colegas se propuseram a replicar o experimento, na medida do possível, em seres humanos. Recrutando 63 corredores experientes, homens e mulheres, e os convidaram para o laboratório.
Lá, testaram seu condicionamento físico e estados emocionais atuais, coletaram sangue e designaram aleatoriamente metade para receber naloxona, uma droga que bloqueia a absorção de opioides, e o restante, um placebo. A droga que eles usaram para bloquear os endocanabinoides no trabalho com camundongos não é legal para o uso em pessoas, por isso essa segunda parte do experimento não pôde ser replicada, apenas a relacionada ao bloqueio das endorfinas.
Em seguida, os voluntários correram por 45 minutos e, em um dia diferente, caminharam pelo mesmo período de tempo. Após cada sessão, os cientistas coletaram sangue e repetiram os testes psicológicos. Eles também perguntaram aos voluntários se eles achavam que tinham experimentado a famosa “runner’s high”.
A maioria disse que sim, que se sentiu bem durante a corrida, mas não durante a caminhada. De forma mais significativa, também não houve diferenças entre os grupos da naloxona e do placebo. E todos também apresentaram aumentos nos níveis sanguíneos de endocanabinoides após a corrida e mudanças equivalentes em seus estados emocionais. A euforia após a corrida foi maior, e a ansiedade menor, mesmo entre aqueles cujo sistema de endorfina tinha sido inativado.
Em seu conjunto, essas descobertas são um golpe para a imagem das endorfinas. — Em combinação com nossa pesquisa em camundongos, esses novos dados descartam uma função importante para as endorfinas na runner’s high — disse Fuss.
Por que o corpo humano produz a runner’s high?
O estudo não explica, entretanto, por que existe a euforia do corredor em primeiro lugar. Os voluntários não sentiram o mesmo ao caminhar, por exemplo. Fuss suspeita que a resposta esteja em nosso passado evolutivo.
— Quando as savanas abertas se estenderam e as florestas se retiraram, tornou-se necessário que os seres humanos caçassem animais selvagens correndo por longas distâncias. Nessas circunstâncias, é benéfico ficar eufórico durante a corrida — diz.
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Um novo estudo, publicado nesta quarta-feira (27), mostrou quais são os fatores de risco genéticos e modificáveis que podem influenciar para o envelhecimento precoce do cérebro e, consequentemente, aumentar o risco para doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Publicado na revista científica Nature Commucations, o estudo analisou exames cerebrais de 40 mil participantes do Biobank, um banco de dados do Reino Unido, que tinham mais de 45 anos. Os pesquisadores também analisaram 161 fatores de risco para a demência e classificaram o seu impacto em uma área do cérebro mais suscetível para o envelhecimento precoce.
Em seguida, classificaram esses fatores modificáveis — ou seja, que podem ser alterados ao longo da vida — em 15 categorias:
“Sabemos que uma constelação de regiões do cérebro degenera mais cedo no envelhecimento e, neste novo estudo, mostramos que essas partes específicas do cérebro são mais vulneráveis ao diabetes, às doenças relacionadas à poluição atmosférica — cada vez mais um fator importante para a demência — e o álcool, de todos os fatores de risco comuns para a demência”, afirma Gwenaëlle Douaud, que liderou o estudo, em comunicado à imprensa.
De acordo com a pesquisadora, diversas alterações genéticas também influenciam nesta rede cerebral e estão relacionadas a mortes cardiovasculares, esquizofrenia, doenças de Alzheimer e Parkinson. Além disso, o estudo descobriu que dois antígenos de um grupo sanguíneo pouco conhecido, chamado antígeno XG, também é um fator de risco. “Essa foi uma descoberta totalmente nova e inesperada”, comentou.
Lloyd Elliott, coautor do estudo e professor da Universidade Simon Fraser, no Canadá, concorda: “Na verdade, duas das nossas sete descobertas genéticas estão localizadas nesta região específica que contém os genes do grupo sanguíneo XG, e essa região é altamente atípica porque é compartilhada pelos cromossomos sexuais X e Y. Isto é realmente bastante intrigante, pois não sabemos muito sobre estas partes do genoma; nosso trabalho mostra que há benefícios em explorar mais profundamente esta terra incógnita genética.”
Para os autores, o atual estudo esclarece alguns dos fatores de risco mais críticos para a demência e fornece novas informações que podem contribuir para a prevenção de doenças neurodegenerativas e estratégias futuras para intervenções específicas.
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A primeira infância é um período crítico para o desenvolvimento cerebral do ser humano. Nesse momento, uma vida saudável pode impulsionar a cognição e o bem-estar durante outros períodos da vida, como a adolescência e a vida adulta. Também pode proporcionar resiliência em momentos de estresse.
Agora, um estudo publicado na revista Psychological Medicine constatou que crianças que lêem por prazer no início da infância tendem a ter melhor saúde mental e desempenho cognitivo durante a adolescência.
Pesquisadores do Reino Unido e da China analisaram dados do projeto de Desenvolvimento Cognitivo e Cerebral do Adolescente (ABCD). Este é um programa de pesquisa dos EUA com mais de 10 mil participantes de diferentes etnias e status socioeconômicos.
Entre os jovens analisados, aproximadamente metade começou a ler cedo na infância. Por outro lado, a outra metade não tinha o hábito ou começou com ele mais tarde na vida.
Além dos hábitos de leitura, os pesquisadores também analisaram entrevistas clínicas, testes cognitivos, avaliações mentais e comportamentais e varreduras cerebrais.
O objetivo era comparar os resultados daqueles que começaram a ler por prazer entre 2 e 9 anos com aqueles que começaram a ler mais tarde – ou que ainda não tinham esse hábito.
Como resultado, o estudo descobriu que a leitura por prazer na primeira infância estava relacionada a melhores pontuações em avaliações de cognição.
As crianças que leem por prazer também tinham áreas de superfície cortical maiores em várias regiões do cérebro, incluindo as áreas frontais – e elas estão relacionadas à cognição e saúde mental.
O quadro também tinha ligação com melhores comportamentos na adolescência. As crianças que começaram a ler cedo se desenvolveram com mais atenção na escola, menos agressividade e quebra de regras.
A leitura por prazer na infância também estava associada a menos problemas de saúde mental, como depressão e estresse. Outro ponto importante é que essas crianças também gastavam além de menos tempo gasto em dispositivos eletrônicos.
A leitura impulsionando a cognição
Já se sabe que a aprendizagem de linguagem é um fator essencial no desenvolvimento saudável do cérebro. A leitura e a discussão de livros faz parte desse processo.
Além disso, a leitura também é um bloco de construção para o sistema cognitivo. É importante para funções como a memória, o planejamento e o autocontrole, além da inteligência social.
Dessa forma, incentivar a leitura em crianças pequenas poderia, por exemplo, ajudar a neutralizar alguns dos efeitos negativos do desenvolvimento cognitivo delas durante os bloqueios da pandemia de Covid-19.
Em geral, as descobertas também têm importantes implicações para pais, educadores e formuladores de políticas públicas na promoção da leitura por prazer em crianças pequenas.
Posteriormente, no futuro, os pesquisadores pretendem realizar investigações com dados de outros países, incluindo aqueles em desenvolvimento.
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