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Entenda o TDAH, condição que afetou Fiuk na infância

1RIO — O ator e cantor Fiuk comoveu os telespectadores do “Big Brother Brasil” esta semana ao narrar sua luta contra o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Segundo a Organização Mundial da Saúde, a condição afeta cerca de 5% das crianças, que podem carregar os sintomas para a fase adulta caso o quadro não seja tratado ainda na infância.

Fabio Barbirato, chefe da Psiquiatria Infantil da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, lembra que o diagnóstico deve ser feito por um especialista. Segundo ele, outras condições podem produzir sintomas semelhantes aos do TDAH, como a ansiedade.

— Em circunstâncias ansiogênicas (que causam ansiedade), como a separação dos pais, crianças podem parecer mais desatentas do que o habitual. O diagnóstico do TDAH é clínico, mas o médico pode solicitar exames caso haja alguma dúvida — diz.

Segundo o especialista, o maior diferencial do TDAH para outros transtornos psíquicos é que ele tem como um de seus maiores fatores a hereditariedade genética:

— Hoje já se sabe que o TDAH é uma das condições psíquicas que mais sofrem influência do aspecto genético.

O especialista explica que o TDAH tem três diferentes apresentações. Há o perfil hiperativo-impulsivo, que manifesta mais traços de inquietude e impaciência do que os outros; o perfil desatento, que pode ser até tímido, mas também tem dificuldades para se concentrar; e há o perfil combinado, que mescla características das duas outras formas. (Barbirato detalha alguns sintomas de TDAH abaixo.)

Para a psicopedagoga Luciana Brites, diretora do Instituto NeuroSaber, dedicado à educação especial, a forma mais delicada do TDAH é a puramente desatenta. Ela pode se manifestar em crianças silenciosas, o que retarda e atrapalha a identificação do problema:

— Se a criança cresce num ambiente em que ninguém sabe o que é TDAH, dificuldades de aprendizado relacionadas ao transtorno podem se passar por obstáculos pontuais.

Esta forma também está mais exposta ao bullying, diz Brites:

— A criança TDAH tem menor maturidade emocional, o que a deixa mais vulnerável a ataques e ordens descabidas.

Segundo a especialista, o alerta deve se acender quando os sintomas do transtorno persistem por mais de seis meses. Uma vez diagnosticado, o quadro deve ser tratado com medicação e psicoterapia, sempre sob acompanhamento profissional.

Seu filho é TDAH? Conheça os sintomas

Tarefas incompletas

A criança com TDAH tem dificuldade para completar uma tarefa simples, como o dever de casa. Suas brincadeiras são curtas, e ela está sempre pulando de uma brincadeira para a outra. Não se interessa por passatempos que envolvam um maior nível de planejamento e concentração.

É um furacão

Um sinal de TDAH na infância é a agitação extrema: a criança fica a mil o tempo todo, correndo e pulando, e não consegue ficar séria ou parada quando isso é necessário. Às vezes, ela chega a parecer que não escuta o que a gente diz.

Não tem senso de perigo

A criança com TDAH gosta de brincadeiras que nos parecem arriscadas, com objetos proibidos, por exemplo. Isso acontece porque ela não tem o mesmo senso de perigo que as outras pessoas.

Vive distraído

Seu filho vive no mundo da lua, sem prestar atenção nos acontecimentos ao redor? Ele pode ter TDAH. A distração é um sintoma do transtorno, sobretudo na fase escolar.

É impulsivo e impaciente

Ele é irritadiço, toma atitudes por impulso e falha em calcular consequências. Em certas situações, ele parece não ter tato social, interrompendo pessoas e infringindo regras sem perceber.

Inquietude

Já na adolescência, um dos sinais do TDAH é a inquietude, que se manifesta no movimento frenético das mãos e dos pés, por exemplo. Também é comum que nesta fase a pessoa comece a demonstrar dificuldade para se planejar, lembrar compromissos e realizar tarefas demoradas.

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Fonte: Globo

Meditação treina o cérebro para enfrentar as adversidades do dia a dia

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Novo estudo americano apresenta um plano de bem-estar emocional concentrado em habilidades específicas que podem ser aprendidas, como meditar. Entenda:

Um novo estudo da University of Wisconsin-Madison, recentemente publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences
, apresentou um plano de bem-estar emocional concentrado em habilidades específicas que podem ser aprendidas. Dentre elas, está a meditação. Assim como a atividade física, que desencadeia mudanças em nosso corpo, a meditação também é considerada uma atividade neural, com possibilidade de melhora através do tempo e possíveis alterações não só no estado de espírito, mas também na nossa mente. E as primeiras horas do dia são um dos melhores momentos para praticá-la.

– A meditação pela manhã serve principalmente para você despertar de vez e potencializar o restante do seu dia. A maneira como acordamos reflete inevitavelmente no restante do nosso dia. Deste modo, meditar se torna uma forma de “limpar” as preocupações logo ao acordar. Assim, você possui mais energia e tranquilidade para enfrentar as adversidades do seu dia – afirma Adriana Camargo, profissional de educação física, instrutora de Yoga e adepta da meditação, que ensina no vídeo abaixo como fazer a postura ideal pra começar a meditar.

Em meio à pior crise de saúde do século, relaxar nem sempre é uma opção. Pesquisas ao redor do mundo apontam que houve uma piora na saúde mental das pessoas devido aos estragos causados pela pandemia de Covid-19. Diante desse cenário, o estudo conduzido pelos pesquisadores da University of Wisconsin-Madison traz uma estrutura baseada em evidências científicas que sugerem que o bem-estar pode ser cultivado por meio de prática na vida diária. Neste caso, o objetivo da pesquisa foi defender o cultivo do bem-estar em qualquer estágio, mesmo quando estamos relativamente saudáveis, visto que essas habilidades têm como objetivo nos tornarem mais resilientes para momentos como ao que vivemos agora. A estrutura se concentra em quatro pilares que foram estudados e que podem sofrer alterações com o treinamento:

  1. Consciência – atenção ao ambiente, com sensações corporais, pensamentos e sentimentos;
  2. Conexão ou apreciação – aspectos como bondade e compaixão;
  3. Insight – fomento da curiosidade e do autoconhecimento;
  4. Propósito – entender seus valores e motivações.

A consciência e em particular a metaconsciência (estar ciente de que você está ciente) parecem diminuir o estresse e aumentar as emoções positivas, podendo ser fortalecidas por meio de práticas de treinamento mental, como meditação. Ela, por sua vez, ajuda a reduzir alguns dos efeitos prejudiciais da distração, que prejudicam a função cognitiva e aumentam as respostas do corpo ao estresse relacionado à inflamação e ao envelhecimento.

A pesquisa fornece evidências de que podemos resistir aos altos e baixos da vida com resiliência, apontando ainda que o cérebro e o corpo podem mudar e se adaptar. No entanto, em vez de substituir outras visões de bem-estar, os pesquisadores dizem que a estrutura apresentada busca complementar outros modelos, focalizando especificamente em dimensões de bem-estar que são treináveis e podem ser aprendidas. Ou seja, a ideia foi dar espaço a qualidades de uma mente saudável que muitas vezes não sabemos que são treináveis, como por meio da meditação.

– A meditação é uma técnica utilizada para se manter no momento presente. Durante a prática, você não pensa em nada objetivamente, mas o pensamento ainda existe, e você deve deixá-lo vir. Com o tempo, você vai sentir uma paz e equilíbrio cada vez mais orgânicos. Para tudo isso acontecer, é preciso uma posição adequada, um bom local e encontrar sua técnica – explica Adriana Camargo.

Como começar

As pesquisas sobre meditação ainda buscam proporcionar novas percepções sobre os métodos de treinamento mental, embora já seja atestado o potencial de melhorar a saúde e o bem-estar emocional. Para você que pensa em começar, é preciso considerar dois fatores:

  • Foco: você tem que ter um tempo mínimo de foco, você pode começar com um tempo de cinco minutos e depois ir aos poucos aumentando.
  • Frequência: é melhor você meditar menos tempo, mas todo dia, do que meditar muito tempo só que em dias alternados. Somente com a repetição diária uma atividade se torna um hábito.

– Os tempos de meditação máxima variam. Os monges zen budistas, por exemplo, meditam cerca de 40 minutos, três vezes ao dia. Por outro lado, já na meditação com mantra tem gente que medita por uma hora, duas vezes ao dia. Desta forma, o tempo vai depender da linha que você segue. No entanto, o mais importante é fazer num horário onde você não será interrompido e em um lugar calmo – conclui Adriana.

Como funciona

Meditar não custa nada, a não ser alguns minutos do seu dia, e pode ser praticado em qualquer lugar. A meditação é um exercício milenar, inclusive fazendo parte de muitas religiões ao redor do mundo. Dentre as inúmeras formas, destacam-se o mindfulness, a meditação transcendental, meditação vipassana, raja yoga e meditação zazen. Embora haja variedade nas técnicas, Adriana Camargo ressalta que na meditação, assim como na matemática, a ordem dos fatores não altera o produto. Ou seja, o resultado final.

– Eu comecei com a meditação que é um “mantra yoga”, mas ultimamente venho utilizando mais a meditação Zazen. No fundo, o objetivo é o mesmo, embora os caminhos sejam diferentes. Todas elas objetivam você estar presente no momento, com uma consciência plena. Nós não temos uma segunda chance nessa vida, não é mesmo? Então, temos que ser felizes agora e viver esse presente, não somente ficar preso aos projetos a longo prazo. Essa necessidade de querer avançar o tempo todo, sempre pensando no passo posterior, te tira de viver o agora. Por isso, a meditação busca, se não acabar com isso, ao menos minimizar essa nossa constante necessidade de viver no depois – conta Adriana.

A meditação apresenta ganhos para saúde mental, destacando-se as modificações neurais, que cada vez mais são analisadas pela literatura médica, sobretudo o processo conhecido como neuroplasticidade.

Quando aprendemos uma habilidade nova, por exemplo, como tocar um instrumento musical, o nosso cérebro muda por meio desse processo. É o que chamamos de neuroplasticidade. E isso também ocorre na meditação, uma vez que o praticante passa por uma experiência que afeta o funcionamento e a estrutura física do cérebro de forma benéfica.

Só para ilustrar, em 2018, pesquisadores da University of Wisconsin-Madison examinaram a atividade cerebral em não meditadores, novos meditadores e praticantes da meditação, com milhares de horas de experiência vitalícia, e ficaram constatadas diferenças nas redes de emoções do cérebro entre esses grupos.

A pesquisa incluiu mais de 150 adultos, sendo que os meditadores de longa data já praticavam diariamente e completaram retiros de meditação de vários dias. Por outro lado, os novos meditadores foram designados aleatoriamente para um curso de redução do estresse baseado na atenção plena de oito semanas que incluía meditação. Por fim, o grupo de controle composto de pessoas sem experiência em meditação foi aleatoriamente designado para um “programa de melhoria da saúde” durante o mesmo período de tempo, incluindo práticas de bem-estar, mas não meditação especificamente.

Após um período de oito semanas, os participantes viram e rotularam fotografiass como emocionalmente positivas, negativas ou neutras, enquanto faziam uma varredura cerebral por ressonância magnética funcional. Tanto os praticantes de longa data quanto os novos meditadores – quando comparados aos não-meditadores – mostraram atividade reduzida na amígdala ao verem imagens emocionalmente positivas. A amígdala é uma área do cérebro crítica para a emoção e detecção de informações importantes do ambiente.

Da mesma forma, os pesquisadores também descobriram que os meditadores de longo prazo apresentaram redução da atividade em suas amígdalas ao verem imagens negativas. Embora as reduções na reatividade a imagens positivas tenham sido observadas em todos os níveis de treinamento, isso indica que reagir a desafios emocionais negativos requer mais treinamento, o que pode ser alcançado por meio da meditação.

A atividade mais baixa na amígdala em resposta a imagens negativas era uma tendência geral entre os meditadores, mas era mais forte e mais significativa em meditadores de longa duração com experiência. Além disso, a equipe descobriu que, após oito semanas de treinamento, as pessoas novas em meditação mostraram um aumento na conectividade entre a amígdala e uma área do cérebro que suporta a função executiva (que inclui autorregulação e rastreamento de metas) e emoção, a córtex pré-frontal ventromedial.

– Com a meditação, é provável que você tenha mais facilidade de viver o momento presente, além de se sentir melhor emocionalmente e fisicamente para as adversidades do dia a dia. Como consequência, você acaba levando isso, inclusive, para as pessoas ao seu entorno. O ambiente também acaba se tornando mais saudável, já que as nossas oscilações (de humor) são menores e isso reflete em todo ambiente – conta Adriana Camargo.

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Fonte: G1

Sono profundo limpa “resíduos do cérebro”

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O sono profundo tem a capacidade regeneradora de limpar “resíduos do cérebro”, como a eliminação de proteínas tóxicas que podem levar a doenças neurodegenerativas, concluiu um estudo da Northwestern University, nos Estados Unidos, hoje divulgado.

Segundo este estudo da instituição norte-americana, a eliminação dos resíduos apresenta-se como “crucial para a saúde do cérebro”, prevenindo doenças neurodegenerativas, o que vem reafirmar a importância de “ter uma boa noite de sono”.

“A eliminação de resíduos pode ser importante para manter a saúde do cérebro ou para prevenir doenças neurodegenerativas. A eliminação de resíduos pode ocorrer durante a vigília e o sono, mas é substancialmente aumentada durante o sono profundo”, salientou Ravi Allada, autor principal da investigação que foi hoje publicada na revista Science Advances.

Este novo estudo recorreu a moscas da fruta que, segundo os investigadores, têm neurónios que gerem os ciclos de vigília e do sono “notavelmente semelhantes” aos dos humanos, razão pela qual estes insetos têm sido utilizados em investigações científicas sobre o sono, doenças neurodegenerativas e ritmos circadianos (período de cerca de 24 horas sobre o qual o ciclo biológico de quase todos os seres vivos se baseia).

A equipa de Ravi Allada, que é também diretor do Centro de Sono e Biologia Circadiana da Northwestern, constatou que, quando num estádio semelhante ao sono profundo de ondas lentas em humanos, os insetos eliminavam com maior facilidade resíduos cerebrais, ajudando na recuperação de lesões.

De acordo com o especialista, as conclusões deste estudo contribuem para a “compreensão do mistério” sobre a necessidade dos organismos de dormir e sugerem que a “eliminação de resíduos” do cérebro constitui uma função central do sono profundo.

Como nosso cérebro lida com situações extremas?

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Situações extremas englobam a violência em todas as suas manifestações, desigualdade, pobreza e abuso infantil; nosso cérebro está configurado para sobreviver a elas, mas sua resposta varia em função de vários fatores.

Como nosso cérebro responde a situações extremas que perduram ao longo do tempo? A violência, o terrorismo, a exclusão social, os maus tratos, o abuso infantil ou outras circunstâncias extremas podem ser enfrentadas dentro da normalidade?

A verdade é que, graças a dois conceitos inerentes a este tipo de situação, o estresse e a resiliência, sim.

O termo estresse geralmente está associado a um estado patológico. No entanto, se refere a uma reação do ser humano diante de situações ameaçadoras ou de excessiva demanda.

Na verdade, a biologia do estresse não é simplesmente um sistema de emergência. Está mais para um processo contínuo: o corpo e o cérebro se adaptam às experiências diárias, estressantes ou não.

O termo resiliência, por sua vez, é definido pelo Instituto Espanhol de Resiliência como a capacidade de enfrentar adversidades. A neurociência considera que as pessoas mais resilientes têm um equilíbrio emocional maior diante de situações de estresse.

Isso dá a elas uma sensação de controle sobre os acontecimentos e uma capacidade maior de enfrentá-los.

Como nosso cérebro funciona em situações estressantes?

A base do que as pessoas fazem, sentem e pensam está no cérebro. Ele percebe e reconhece o ambiente, influencia e responde a ele. É capaz de integrar passado e presente e, o que é fundamental, antecipar o futuro incerto.

O cérebro é o órgão central de percepção e resposta fisiológica, emocional-psicológica e comportamental aos fatores de estresse. É quem determina o que é ameaçador e potencialmente estressante. E as respostas fisiológicas e comportamentais que podem se adaptar ou causar danos.

São distintas as regiões cerebrais que respondem ao estresse crônico e agudo, passando por uma remodelação estrutural.

Uma equipe de cientistas da Universidade Yale, nos EUA, revelou que a atividade cerebral flexível em uma área específica do cérebro pode predizer a capacidade de recuperação diante de situações estressantes ou de risco.

Na psicologia, isso é conhecido como resiliência. Definido de forma mais global, é a capacidade de indivíduos, grupos e comunidades de enfrentar e se adaptar às adversidades.

O córtex pré-frontal ventromedial parece ser a área do cérebro responsável por predizer a capacidade de recuperação de situações de estresse.

A mediação do estresse em situações extremas

Situações extremas englobam contextos como a violência em todas as suas manifestações, a desigualdade, a miséria, a exclusão, os maus-tratos, o abuso infantil ou o terrorismo.

A resposta ao estresse em circunstâncias como essas ocorre como uma tentativa do organismo de restaurar o equilíbrio em contextos de exigência. Também para se adaptar a mudanças nas condições biológicas, psicológicas e/ou sociais.
Essa resposta pode ser modulada por meio de um conjunto de variáveis cognitivas, sociais e pessoais. Do ponto de vista adaptativo, o estresse permite a mobilização imediata das reservas de energia do organismo.

Além disso, possui um valor adaptativo elevado, ao gerar mudanças para facilitar o enfrentamento de uma ameaça. No entanto, também pode facilitar comportamentos desadaptativos diante dessas situações.

Resiliência como fator-chave

Como algumas pessoas fazem para se adaptar e superar situações extremas e traumas pessoais? Como mencionamos anteriormente, isso depende da capacidade que temos de nos recuperar de situações extremas.

Embora a resiliência seja uma qualidade inata, também é considerada um processo dinâmico. Portanto, pode ser desenvolvida como uma capacidade de adaptação a diferentes ambientes adversos sem gerar um nível de estresse negativo.

O conceito evoluiu desde a década de 1960. Seu estudo se concentrou tanto em fatores individuais, quanto familiares, comunitários e culturais. Assim, os pesquisadores do século 21 entendem a resiliência como um processo comunitário e cultural que responde a três modelos: compensatório, de proteção e de desafio.

Há muitos exemplos conhecidos de processos resilientes. É o caso de Viktor Frankl, pai da psicologia humanística e da logoterapia, que sobreviveu três anos em campos de concentração nazistas.

A logoterapia é uma psicoterapia que propõe a vontade de sentido como a motivação primária do ser humano: se a pessoa encontra essa vontade nas situações mais extremas, ela será capaz de se adaptar e superá-las melhor.

Outro exemplo pode ver observado em um dos pais da resiliência, o neurologista francês de origem judaica Boris Cyrulnik. Para se esconder durante a Segunda Guerra Mundial, ainda criança, foi levado sem os pais para uma pensão da qual teve que fugir pouco tempo depois.

Até o fim do conflito, Cyrulnik se escondeu em vários lugares. Seus pais não tiveram tanta sorte. Após serem deportados, ele não teve mais notícias deles.

Em virtude de suas vivências, Cyrulnik dedicou sua carreira profissional ao tratamento de crianças com traumas e outros problemas de comportamento e exclusão social. Aos 82 anos, continua exercendo a profissão como professor e pesquisador.

Em suma: nosso cérebro está configurado para sobreviver. Embora sua resposta a situações extremas varie em função de diversos fatores intrapessoais, ele pode chegar a aceitá-las como normais. Nesse processo, a resiliência será um fator determinante.

*Fátima Servián Franco é psicóloga geral de saúde e diretora do Centro de Psicologia RNCR e PDI na Universidade Internacional de Valência, na Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em espanhol).

Covid-19: 7 maneiras de recalibrar nossos cérebros após um ano duro com a pandemia

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Não há dúvida de que 2020 foi difícil para todos e trágico para muitos. Mas agora as vacinas contra a covid-19 estão finalmente sendo distribuídas em alguns países — dando a tão necessária esperança de um retorno à normalidade e um feliz 2021.

No entanto, meses de ansiedade, tristeza e solidão podem facilmente criar uma espiral de negatividade da qual é difícil sair. Isso ocorre porque o estresse crônico muda o cérebro. E às vezes, quando estamos para baixo, não temos interesse em fazer as coisas que poderiam realmente nos fazer sentir melhor.

Para desfrutar de nossas vidas em 2021, precisamos deixar hábitos destrutivos e recuperar nossos níveis de energia. Em alguns casos, isso pode significar inicialmente se obrigar a fazer as coisas que gradualmente o farão se sentir melhor. Se você estiver experimentando sintomas mais graves, no entanto, deve falar com um profissional sobre terapia ou medicação.

A seguir, veja seis maneiras baseadas em evidências científicas para mudar nossos cérebros para melhor.

1. Seja gentil e prestativo

Bondade, altruísmo e empatia podem afetar o cérebro. Um estudo mostrou que fazer uma doação de caridade ativou o sistema de recompensa do cérebro de uma forma semelhante a receber dinheiro. Isso também se aplica a ajudar outras pessoas que foram injustiçadas.
O voluntariado também pode dar sentido à vida, promovendo felicidade, saúde e bem-estar. Os adultos mais velhos que são voluntários regularmente também apresentam maior satisfação com a vida e redução da depressão e da ansiedade. Em resumo, fazer os outros felizes é uma ótima maneira de se fazer feliz.

2. Exercício

O exercício tem sido associado a uma melhor saúde física e mental, incluindo melhor saúde cardiovascular e redução da depressão. Na infância, a prática de exercícios está associada a melhor desempenho escolar, ao mesmo tempo que promove melhor cognição e desempenho profissional em adultos jovens. Em adultos mais velhos, o exercício mantém o desempenho cognitivo e fornece resiliência contra doenças neurodegenerativas, como a demência.

Além disso, estudos mostraram que indivíduos com níveis mais elevados de aptidão física aumentaram o volume do cérebro, o que está associado a um melhor desempenho cognitivo em adultos mais velhos.

Pessoas que se exercitam também vivem mais. Uma das melhores coisas que você pode fazer para reiniciar seu cérebro é, na verdade, sair e tomar um pouco de ar fresco durante uma caminhada, corrida ou sessão de ciclismo. Certifique-se de escolher algo de que você realmente goste para garantir que continue fazendo isso.

3. Alimente-se bem

A nutrição pode influenciar substancialmente o desenvolvimento e a saúde da estrutura e da função do cérebro. Ela fornece as bases adequadas para o cérebro criar e manter conexões, o que é essencial para melhorar a cognição e o desempenho acadêmico. Evidências anteriores mostraram que a falta de nutrientes pode levar, no longo prazo, a danos estruturais e funcionais ao cérebro, enquanto uma dieta de boa qualidade está relacionada a um maior volume cerebral.

Um estudo com 20 mil participantes, do UK-Biobank, mostrou que uma maior ingestão de cereais estava associada aos efeitos benéficos de longo prazo do aumento do volume de massa cinzenta (um componente-chave do sistema nervoso central), que está relacionado à melhoria da cognição. No entanto, dietas ricas em açúcar, gorduras saturadas ou calorias podem prejudicar a função neural. Também podem reduzir a capacidade do cérebro de fazer novas conexões neurais, o que afeta negativamente a cognição.

Portanto, seja qual for a sua idade, lembre-se de fazer uma dieta bem balanceada, incluindo frutas, vegetais e cereais.

4. Mantenha-se socialmente conectado

A solidão e o isolamento social prevalecem em todas as idades, gêneros e culturas, agravados pela pandemia de covid-19. Evidências científicas robustas indicam que o isolamento social é prejudicial à saúde física, cognitiva e mental.

Um estudo recente mostrou que havia efeitos negativos do isolamento devido à covid-19 na cognição emocional, mas que esse efeito era menor naqueles que permaneceram conectados com outras pessoas durante o lockdown. O desenvolvimento de conexões sociais e o alívio da solidão também estão associados à diminuição do risco de mortalidade, bem como a uma série de doenças.

Portanto, a solidão e o isolamento social são cada vez mais reconhecidos como questões críticas de saúde pública, que requerem intervenções eficazes. E a interação social está associada a sentimentos positivos e maior ativação no sistema de recompensa do cérebro.

Em 2021, não deixe de acompanhar a família e os amigos, mas também expanda seus horizontes e faça novos contatos.

5. Aprenda algo novo

O cérebro muda durante períodos críticos de desenvolvimento, mas também é um processo que dura a vida toda. Novas experiências, como aprender novas habilidades, podem modificar a função cerebral e a estrutura cerebral subjacente. Foi demonstrado, por exemplo, que o malabarismo aumenta as estruturas da substância branca (tecido composto de fibras nervosas) no cérebro associadas ao desempenho viso motor.

Da mesma forma, músicos demonstraram ter aumentado a massa cinzenta nas partes do cérebro que processam as informações auditivas. Aprender um novo idioma também pode alterar a estrutura do cérebro humano.

Uma grande revisão da literatura sugeriu que atividades de lazer com estímulo mental aumentam a reserva cerebral, o que pode incutir resiliência e proteger o declínio cognitivo em adultos mais velhos — seja xadrez ou jogos cognitivos.

6. Durma adequadamente

O sono é um componente essencial da vida humana, mas muitas pessoas não entendem a relação entre a boa saúde do cérebro e o processo de dormir. Durante o sono, o cérebro se reorganiza e recarrega e remove subprodutos de resíduos tóxicos, o que ajuda a manter o funcionamento cerebral normal.

O sono é muito importante para transformar experiências em nossa memória de longo prazo, mantendo a função cognitiva e emocional e reduzindo a fadiga mental. Estudos sobre a privação do sono demonstraram déficits na memória e na atenção, bem como mudanças no sistema de recompensa, que muitas vezes atrapalha o funcionamento emocional. O sono também exerce uma forte influência reguladora sobre o sistema imunológico. Se você tiver a quantidade e a qualidade ideais de sono, descobrirá que tem mais energia, melhor bem-estar e é capaz de desenvolver sua criatividade e pensamento.

7. Pratique exercícios cognitivos

Você sabia que nossos exercícios são cientificamente desenvolvidos para evitar declínio cognitivo, deficit de atênção e demência? Clique aqui e mantenha seu cérebro em forma!

Tenha um Feliz Ano Novo! E vamos fazer o melhor de nós mesmos em 2021 e ajudar outros a fazer a mesma coisa.

*Barbara Jacquelyn Sahakian é professora de Neuropsicologia Clínica na Universidade de Cambridge; Christelle Langley é pesquisadora de Neurociência Cognitiva na Universidade de Cambridge; Jianfeng Feng é professor de ciência e tecnologia para inteligência inspirada no cérebro na Universidade Fudan.

Ilusão que ganhou o prêmio de melhor do ano vai dar um nó no seu cérebro

Para finalizar um ano tão maluco, algo igualmente surreal: o Concurso Melhor Ilusão do Ano de 2020. O grande vencedor foi o matemático e ilusionista japonês Kokichi Sugihara, com a obra “3D Schröder Staircase”. Veja o vídeo abaixo e cuidado para não dar um nó em seu cérebro. Quantas escadarias você vê? Elas estão subindo ou descendo?

A “Escadaria de Schröder” original, em 2D, foi publicada em 1958, pelo cientista alemão Heinrich G. F. Schröder. Foi ela que deu origem ao icônico trabalho do artista holandês M. C. Escher, com ilusões em diversas formas com efeito tridimensional.

Na ilustração clássica, o que à primeira vista parece ser uma única escadaria, vista de cima, se revela serem duas – a outra vista de baixo. Se não conseguir visualizar, basta girar o desenho de cabeça para baixo.

Mas isso só pode ser enxergado por alguns segundos: logo, seu cérebro volta para a para a percepção anterior. Esse fenômeno psicológico é explicado pela teoria de Gestalt, que explica as ilusões de ótica.

Sugihara levou o conceito ao extremo, construindo um objeto realmente 3D. Ele usou recortes de papelão para montar a escadaria, e o resultado foi o mesmo truque com nossas mentes, sob certas perspectivas.

“O objeto 3D também tem duas interpretações, ambas as quais são escadas vistas de cima. As interpretações mudam de uma para a outra quando giramos o objeto em 180 graus em torno do eixo vertical”, disse o matemático.

Mas só porque a gente vê, não quer dizer que seja. O truque é simples: parecem escadas, mas na verdade são superfície planas, em um esperto jogo de ângulos e sombras para enganar nosso cérebro.

Nossa mente preguiçosa está constantemente fazendo suposições: uma área acinzentada significa sombra, ou seja, profundidade; ângulos e linhas convergentes representam distâncias. Em geral, esse mecanismo facilita nossa percepção dos objetos e situações do dia a dia.

Se você não acredita no vídeo ou quer brincar com os amigos, pode construir sua própria escada mágica. Em seu site, Sugihara disponibilizou gratuitamente um modelo em PDF para qualquer um imprimir e montar em casa.

“Este objeto é um exemplo do meu material para investigar o comportamento dos cérebros, que são capazes de interpretar erroneamente imagens 2D como objetos 3D, quando estão embutidos em estruturas 3D reais”, explica.

A adição de paredes laterais 3D reais e colunas de apoio completam a ilusão. Girar o objeto de Sugihara é o equivalente a virar o desenho original de cabeça para baixo. Na versão moderna, também é possível posicionar um espelho à frente da escadinha e ver as duas perspectivas simultaneamente. Uau!

Fonte: UOL

4 formas como o racismo afeta o cérebro e o corpo das crianças, segundo Harvard

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Universidade demonstra como exposição direta ou indireta ao racismo estrutural pode alterar arquitetura cerebral e causar doenças

Episódios diários de racismo, desde ser alvo de preconceito até assistir a casos de violência sofridos por outras pessoas da mesma raça, têm um efeito às vezes “invisível”, mas duradouro e cruel sobre a saúde, o corpo e o cérebro de crianças.

A conclusão é do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard, que compilou estudos documentando como a vivência cotidiana do racismo estrutural, de suas formas mais escancaradas às mais sutis ou ao acesso pior a serviços públicos, impacta “o aprendizado, o comportamento, a saúde física e mental” infantil.

No longo prazo, isso resulta em custos bilionários adicionais em saúde, na perpetuação das disparidades raciais e em mais dificuldades para grande parcela da população em atingir seu pleno potencial humano e capacidade produtiva.

Embora os estudos sejam dos EUA, dados estatísticos — além do fato de o Brasil também ter histórico de escravidão e desigualdade — permitem traçar paralelos entre os dois cenários.

Aqui, casos recentes de violência contra pessoas negras incluem o de Beto Freitas, espancado até a morte dentro de um supermercado Carrefour em Porto Alegre em 20 de novembro, e o das primas Emilly, 4, e Rebeca, 7, mortas por disparos de balas enquanto brincavam na porta de casa, em Duque de Caxias em 4 de dezembro.

No Brasil, 54% da população é negra, percentual que é de 13% na população dos EUA.

1. Corpo em estado de alerta constante

O racismo e a violência dentro da comunidade (e a ausência de apoio para lidar com isso) estão entre o que Harvard chama de “experiências adversas na infância”. Passar constantemente por essas experiências faz com que o cérebro se mantenha em estado constante de alerta, provocando o chamado “estresse tóxico”.

“Anos de estudos científicos mostram que, quando os sistemas de estresse das crianças ficam ativados em alto nível por longo período de tempo, há um desgaste significativo nos seus cérebros em desenvolvimento e outros sistemas biológicos”, diz o Centro de Desenvolvimento Infantil da universidade.

Na prática, áreas do cérebro dedicadas à resposta ao medo, à ansiedade e a reações impulsivas podem produzir um excesso de conexões neurais, ao mesmo tempo em que áreas cerebrais dedicadas à racionalização, ao planejamento e ao controle de comportamento vão produzir menos conexões neurais.

“Isso pode ter efeito de longo prazo no aprendizado, comportamento, saúde física e mental”, prossegue o centro. “Um crescente corpo de evidências das ciências biológicas e sociais conecta esse conceito de desgaste (do cérebro) ao racismo. Essas pesquisas sugerem que ter de lidar constantemente com o racismo sistêmico e a discriminação cotidiana é um ativador potente da resposta de estresse.”

“Embora possam ser invisíveis para quem não passa por isso, não há dúvidas de que o racismo sistêmico e a discriminação interpessoal podem levar à ativação crônica do estresse, impondo adversidades significativas nas famílias que cuidam de crianças pequenas”, conclui o documento de Harvard.

2. Mais chance de doenças crônicas ao longo da vida

Essa exposição ao estresse tóxico é um dos fatores que ajudam a explicar diferenças raciais na incidência de doenças crônicas, prossegue o centro de Harvard:

“As evidências são enormes: pessoas negras, indígenas e de outras raças nos EUA têm, em média, mais problemas crônicos de saúde e vidas mais curtas do que as pessoas brancas, em todos os níveis de renda.”

Alguns dados apontam para situação semelhante no Brasil. Homens e mulheres negros têm, historicamente, incidência maior de diabetes — 9% mais prevalente em negros do que em brancos; 50% mais prevalente em negras do que em brancas, segundo o Ministério da Saúde — e pressão alta, por exemplo.

Os números mais marcantes, porém, são os de violência armada, como a que vitimou as meninas Emilly e Rebeca. O Atlas da Violência aponta que negros foram 75,7% das vítimas de homicídio no Brasil em 2018.

A taxa de homicídios de brasileiros negros é de 37,8 para cada 100 mil habitantes, contra 13,9 de não negros.

Há, ainda, uma incidência possivelmente maior de problemas de saúde mental: de cada dez suicídios em adolescentes em 2016, seis foram de jovens negros e quatro de brancos, segundo pesquisa do Ministério da Saúde publicada no ano passado.

“O adoecimento (pela vivência do racismo) é constante, e vemos nos dados escancarados, como os da violência, mas também na depressão, no adoecimento psíquico e nos altos números de suicídio”, afirma a psicóloga Cristiane Ribeiro.

“E por que essa é violência é tão marcante entre pessoas negras? Porque aprendemos que nosso semelhante é o pior possível e o quanto mais longe estivermos dele, melhor. A criança materializa isso de alguma forma. Temos estatísticas de que crianças negras são menos abraçadas na educação infantil, recebem menos afeto dos professores. (Algumas) ouvem desde cedo ‘esse menino não aprende mesmo, é burro’ ou ‘nasceu pra ser bandido'”, prossegue Ribeiro.

Embora muitos conseguem superar essa narrativa, outros têm sua vida marcada por ela, diz Ribeiro. “Trabalhei durante muito tempo no sistema socioeducativo (com jovens infratores), e essas sentenças são muito recorrentes: o menino que escuta desde pequeno que ‘não vai ser nada na vida’. São trajetórias sentenciadas.”

3. Disparidades na saúde na educação

Os problemas descritos acima são potencializados pelo menor acesso aos serviços públicos de saúde, aponta Harvard.

“Pessoas de cor recebem tratamento desigual quando interagem em sistemas como o de saúde e educação, além de terem menos acesso a educação e serviços de saúde de alta qualidade, a oportunidades econômicas e a caminhos para o acúmulo de riqueza”, diz o documento do Centro de Desenvolvimento infantil.

“Tudo isso reflete formas como o legado do racismo estrutural nos EUA desproporcionalmente enfraquece a saúde e o desenvolvimento de crianças de cor.

“Mais uma vez, os números brasileiros apontam para um quadro parecido. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, 67% do público do SUS (Sistema Único de Saúde) é negro. No entanto, a população negra realiza proporcionalmente menos consultas médicas e atendimentos de pré-natal.

E, entre os 10% de pessoas com menor renda no Brasil, 75% delas são pretas ou pardas.

Na educação, as disparidades persistem. Crianças negras de 0 a 3 anos têm percentual menor de matrículas em creches. Na outra ponta do ensino, 53,9% dos jovens declarados negros concluíram o ensino médio até os 19 anos — 20 pontos percentuais a menos que a taxa de jovens brancos, apontam dados de 2018 do movimento Todos Pela Educação.

4. Cuidadores mais fragilizados e ‘racismo indireto’

Os efeitos do estresse não se limitam às crianças: se estendem também aos pais e responsáveis por elas — e, como em um efeito bumerangue, voltam a afetar as crianças indiretamente.

“Múltiplos estudos documentaram como os estresses da discriminação no dia a dia em pais e outros cuidadores, como ser associado a estereótipos negativos, têm efeitos nocivos no comportamento desses adultos e em sua saúde mental”, prossegue o Centro de Desenvolvimento Infantil.

Um dos estudos usados para embasar essa conclusão é uma revisão de dezenas de pesquisas clínicas feita em 2018, que aborda o que os pesquisadores chamam de “exposição indireta ao racismo”: mesmo quando as crianças não são alvo direto de ofensas ou violência racista, podem ficar traumatizadas ao testemunhar ou escutar sobre eventos que tenham afetado pessoas próximas a elas.

“Especialmente para crianças de minorias (raciais), a exposição frequente ao racismo indireto pode forçá-las a dar sentido cognitivamente a um mundo que sistematicamente as desvaloriza e marginaliza”, concluem os pesquisadores.

O estudo identificou, como efeito desse “racismo indireto”, impactos tanto em cuidadores (que tinham autoestima mais fragilizada) como nas crianças, que nasciam de mais partos prematuros, com menor peso ao nascer e mais chances de adoecer ao longo da vida ou de desenvolver depressão.

Na infância, diz a psicóloga Cristiane Ribeiro, é quando começamos a construir nossa capacidade de acreditar no próprio potencial para viver no mundo. No caso da população negra, essa construção é afetada negativamente pelos estereótipos racistas, sejam características físicas ou sociais — como o “cabelo pixaim” ou “serviço de preto”.

“A gente precisa ter referências mais positivas da população negra como aquela que também é responsável pela constituição social do Brasil. A única representação que a gente tem no livro didático de história é de uma pessoa (escravizada) acorrentada, em uma situação de extrema vulnerabilidade e que está ali porque ‘não se esforçou para não estar'”, diz a pesquisadora.

Mesmo atos “sutis” — como pessoas negras sendo seguidas por seguranças em shopping centers ou recebendo atendimento pior em uma loja qualquer —, que muitas vezes passam despercebidos para observadores brancos, podem ter efeitos devastadores sobre a autoestima, prossegue Ribeiro.

“Isso que a gente costuma chamar de sutileza do racismo não tem nada de sutil na minha perspectiva. Quando alguém grita ‘macaco’ no meio da rua, as pessoas compartilham a indignação. É diferente do olhar (preconceituoso), que só o sujeito viu e só ele percebeu. Mesmo para a militante mais empoderada e ciente de seus direitos — porque é uma luta sem descanso —, tem dias que não tem jeito, esse olhar te destroça. A gente fala muito da força da mulher negra, mas e o direito à fragilidade? será que ser frágil também é um privilégio?”

Como romper o ciclo

“Avanços na ciência apresentam um retrato cada vez mais claro de como a adversidade forte na vida de crianças pequenas pode afetar o desenvolvimento do cérebro e outros sistemas biológicos. Essas perturbações iniciais podem enfraquecer as oportunidades dessas crianças em alcançar seu pleno potencial”, diz o documento de Harvard.

Mas é possível romper esse ciclo, embora lembrando que as formas de combatê-lo são complexas e múltiplas.

“Precisamos criar novas estratégias para lidar com essas desigualdades que sistematicamente ameaçam a saúde e o bem-estar das crianças pequenas de cor e os adultos que cuidam delas. Isso inclui buscar ativamente e reduzir os preconceitos em nós e nas políticas socioeconômicas, por meio de iniciativas como contratações justas, oferta de crédito, programas de habitação, treinamento antipreconceito e iniciativas de policiamento comunitário”, diz o Centro de Desenvolvimento Infantil de Harvard.

Para Cristiane Ribeiro, passos fundamentais nessa direção envolvem mais representatividade negra e mais discussões sobre o tema dentro das escolas.

“Se tenho uma escola repleta de negros ou pessoas de diferentes orientações sexuais, mas isso não é dito, não é tratado, você tem a mesma segregação que nos outros espaços”, opina.

“Precisamos extinguir a ideia do ‘lápis cor de pele’. Tem tanta cor de pele, porque um lápis rosa a representa? Tem também a criança com cabelo crespo em uma escola onde só são penteados os cabelos lisos. Se a professora der conta de tratar aquele cabelo de uma forma tão afetiva quanto ela trata o cabelo lisinho, ela mudará o mundo daquela criança, inclusive incluindo nessa criança defesa para que ela responda quando seu cabelo for chamado de duro, de feio. E daí ela se olha no espelho e vê beleza, que é um direito que está sendo conquistado muito aos poucos. A chance é de que faça diferença pra família inteira. A criança negra que fala ‘não, mãe, meu cabelo não é feio’ desloca aquele ciclo naquela família, de todas as mulheres alisarem o cabelo. (…) Um olhar afetivo nessa história quebra o ciclo.”

O afeto e a construção de redes de apoio também são apontados por Harvard como formas de aliviar o peso do estresse tóxico e construir resiliência em crianças e famílias.

“É claro que a ciência não consegue lidar com esses desafios sozinha, mas o pensamento informado pela ciência combinado com o conhecimento em mudar sistemas entrincheirados e as experiências vividas pelas famílias que criam seus filhos sob diferentes condições podem ser poderosos catalisadores de estratégias eficientes,” defende o Centro para o Desenvolvimento Infantil.

Alimentos de fim de ano que turbinam o cérebro

frutas

Especialmente nessa época do ano, temos a tendência de comer alguns alimentos que podem fazer mal, se consumidos em excesso. Aliás, tem uma matéria aqui mesmo no portal que aborda o que esses alimentos, quando consumidos exageradamente, causam ao corpo humano. Ao contrário disso, existem alguns alimentos que aparecem no período de dezembro que podem fazer bem à saúde. Quais?

Começamos pelas frutas vermelhas. Compostas de ação antioxidante, anti-inflamatórias, além de proteger o cérebro contra o envelhecimento, essas frutinhas são bem usadas pelas famílias brasileiras, principalmente na montagem das refeições de final de ano, o que inclui morangos, uva, amora, framboesa e muitas outras.

Outro alimento presente em muitas comemorações é o amendoim. Cheio de gorduras boas, vitaminas e minerais que contribuem para o bom funcionamento do cérebro, o amendoim é fácil de consumo e produz bons resultados para a mente humana, claro, quando consumido na forma natural, sem adição de sal.

O azeite também é um ótimo parceiro para a saúde corpórea. Utilizado como tempero em muitas saladas, o azeite combate a oxidação do colesterol ruim, o LDL. Além disso, o óleo ainda carrega consigo benefícios físicos, como a recuperação de músculos, recomendada numa alimentação de quem pratica exercícios físicos.

Remetendo aos líquidos, uma bebida muito consumida, principalmente nas ceias natalinas, é o vinho. O consumo moderado da bebida faz muito bem para o organismo e o corpo em geral. O vinho reduz a pressão arterial e é rico em bioativos que trazem uma série de benefícios, como a proteção dos tecidos contra radicais livres de oxigênio, diminuindo riscos de doenças como a aterosclerose (acumulo de placas de gordura).

Existem diversas variedades da gama dos alimentos que foram apresentados e também muitos que não foram exibidos. O ponto é levarmos uma alimentação balanceada e não nos perdemos, caso estejamos fazendo alguma dieta nesse período do ano, onde as mesas ficam fartas de refeições que, ao excesso, fazem mal à saúde. Queira terminar seu 2020 assim como quer iniciar o próximo ano: bem!

Fonte: Portal R7

Como a Ciência explica que nunca esquecemos de algumas músicas

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Para ter memória, o mundo criou a música. No início das civilizações, os principais saberes de diferentes culturas eram passados de geração em geração através da tradição oral. E essa tradição oral dependia da memória.

“Antes que as narrativas pudessem ser escritas, elas eram recitadas ou cantadas”, diz David C. Rubin, professor de Psicologia da Universidade Duke, no livro Memory in Oral Tradition (Memória em tradição oral, em tradução livre).

É por isso que textos como A Ilíada, a Odisséia e outros grandes épicos antigos foram transmitidos pela primeira vez na forma de versos.

Então, a música ocupou esse mesmo espaço. As canções nos levam a um lugar, um momento.


Não sabemos ainda muito bem o porquê, mas a música é uma das poucas armas que os terapeutas têm para lidar com o avanço do mal de Alzheimer, a forma mais comum de demência em idosos.

Mas como a música tem esse efeito na memória? Por que nunca esquecemos de nossas músicas favoritas?
“A música tem a capacidade dupla de criar e recuperar memórias dentro do cérebro humano”, diz a psicóloga Lucía Amoruso, pesquisadora da Universidade de Buenos Aires na Argentina, que investiga aspectos do comportamento e da música.

“Quando as pessoas sofrem de demência senil ou Alzheimer, em muitos caso,s a música é a única chave que lhes resta para desbloquear essas memórias.”

Embora existam muitas teorias, não existe uma definitiva sobre quando a música apareceu na vida do ser humano.


De todas as hipóteses, incluindo a que indica que se pretendia imitar o “canto” dos animais, há uma surpreendente: a que sugere que foi a forma que as mães encontraram para acalmar seus filhos.


“Em tempos pré-históricos, as mães tinham que se afastar de seus bebês em intervalos regulares para ter as mãos livres para outras atividades e usavam uma forma de falar como bebês, um ‘tom maternal’, para tranquilizá-los”, explica Dean Falk, antropólogo da Universidade da Flórida no livro How Humans Achieved their Words (Como humanos conquistaram suas palavras, em tradução livre).


A tonalidade, aquela musicalidade com que nossas mães falam conosco especialmente quando somos bebês, abre nossos primeiros canais em nossa memória.

“Várias análises indicaram que o cérebro dos bebês tem a capacidade de responder à melodia muito antes que a comunicação possa ser estabelecida por meio de palavras”, diz Amoruso.


“A música, de alguma forma, nos ajuda a criar nosso primeiro vínculo social, que é com nossos pais. E isso será replicado em nossos outros laços sociais no futuro e, claro, com a música.”


Então, quando crescemos com essa programação, toda vez que ouvimos uma melodia, um processo impressionante ocorre em nosso cérebro: em vez de ativar uma área ou região, várias são ativadas.


“A primeira coisa que ocorre no cérebro quando ouvimos música é que nosso centro de prazer é ativado e libera dopamina, que é basicamente um neurotransmissor que nos deixa felizes”, explica Robert Zatorre, que é músico, psicólogo e fundador do Centro de Pesquisa do Cérebro, Música e Som, no Canadá.


Normalmente, as músicas que memorizamos ficam no lobo frontal, onde está localizada nossa “discoteca” mental.


“No entanto, embora pareça que a música simplesmente nos dá prazer e o guardamos na memória, a verdade é que muito mais coisas acontecem em nossas cabeças”, diz Zatorre.

O cérebro, para começar, compara a melodia que está ouvindo com aquela gravada em sua cabeça, o que nos permite reconhecer uma música simplesmente ouvindo suas primeiras notas.

“E outro processo que ocorre é que o cérebro deve separar a música do ruído externo. Esse processo também é bastante complexo, porque devemos iniciar vários processos cognitivos”, explica Zatorre.

Músicas favoritas

emoções (que podem até ser tristes) e desperta sentimentos?

Recentemente, por ocasião do Dia Mundial da Luta contra a Doença de Alzheimer, perguntamos aos leitores sobre as canções que pensavam que nunca iriam esquecer.

E embora muitas delas estivessem relacionadas ao amor, a verdade é que a maioria era determinada por um momento preciso da vida: o nascimento de um filho, a primeira viagem ao exterior, a morte de um amigo, a libertação da prisão.

Na ciência, essa correlação também é explicada pela conexão das melodias com a memória.

“Existem vários sistemas de memória: episódica, temporal, semântica, de curto prazo, de longo prazo”, enumera Amoruso.

Assim como uma música pode fazer parte de um momento específico, como uma viagem inesquecível, o momento em que nos apaixonamos por alguém, uma conquista importante, o artista que interpreta a música ou a letra da música também desempenha um papel importante.

“Uma viagem, um momento, fazem parte da memória episódica, mas acontece que a música é interpretada por um artista que conhecemos bem, suas características, história… Aí também se ativa a memória semântica”, afirma o especialista.

“Para ser armazenada em nosso cérebro, a música depende de todos esses sistemas de memória”, acrescenta.

’Toque de novo’
Para Zatorre, além desse processo, com a música, também existe um fenômeno associado à repetição.

“O que acontece quando gostamos muito de uma música? Nós a repetimos”, diz ele.
“E não apenas por um breve período. Por exemplo, uma música que nos marcou quando tínhamos 15 anos, podemos ouvi-la muitas vezes pelo resto de nossas vidas. Ela acaba gravada na nossa memória de forma excepcional”, explica Zatorre.

“Algo que não acontece da mesma forma com outras coisas que nos dão prazer: comer nossa comida favorita ou visitar nosso lugar preferido”, completa.

E aí vem outro fator: a música não só cria memórias e evoca emoções, mas também condiciona nosso comportamento e nossas memórias.

Um dos principais estudos de Amoruso examinou como, por meio da música, as pessoas podem antecipar o comportamento dos outros.

Em sua pesquisa, intitulada “O tempo do tango: experiência e antecipação contextual durante a observação da ação”, a neurologista destaca que as pessoas estudadas que ouviam tango há muitos anos (e também o dançavam) podiam antecipar, em apenas milissegundos, o erros que quem nunca tinha ouvido a famosa melodia argentina ia cometer ao dançar pela primeira vez.

“O que os resultados deste estudo mostram é que as reações no cérebro que permitiram antecipar esse erro foram inteiramente devidas à experiência de quem ouvia e dançava tango há muitos anos”, explica.

Até o último suspiro
Recentemente, viralizou um vídeo de uma idosa sentada em uma cadeira, que depois que alguém a fez ouvir a famosa peça de balé O Lago dos Cisnes, de Pyotr Ilyich Tchaikovsky, parece começar a dançar.

Em sua cadeira de rodas, com os olhos fechados, como se evocassem uma luz, realiza movimentos de balé com as mãos, quase como se estivesse diante de um auditório lotado.

Mas a verdade é que ela estava em uma casa de repouso. Seu nome era Marta González, e ela sofria de Alzheimer (faleceu em 2019, logo após a gravação do vídeo). Mas ela havia estudado balé em Cuba e não havia esquecido aqueles belos movimentos do Lago dos Cisnes, apesar do avanço da doença. E eles foram ativados ao ouvir música.

Como isso pode acontecer, se um dos locais mais afetados pelo Alzheimer é o lobo frontal?

“É algo que ainda não podemos responder de forma conclusiva. O que poderíamos afirmar é que a música é a chave para muitas memórias que ainda estão na nossa memória, apesar de sofrermos de uma doença degenerativa”, explica Amoruso.

No entanto, nem qualquer música pode ser usada para tratar pessoas afetadas por demência senil ou Alzheimer.

“Não se pode dizer com certeza que a música é a última coisa que esquecemos. Muitos pacientes com Alzheimer não reagem aos tratamentos com música”, diz Zatorre.
Mas o especialista aponta uma diferença: quando a música para o tratamento é escolhida pelo paciente é quando há os melhores resultados.

“O vínculo com a música e a memória tem um alto grau emocional. Muitos desses pacientes acessam essas memórias graças à música. Na verdade, às vezes, é o último recurso para acessar essas memórias”, nota Amoruso.

Para Zatorre e Amoruso, a música também tem sido um elemento fundamental para lidar com o confinamento. E talvez seja assim que nos lembramos de 2020 e do contexto da pandemia do coronavírus.

“Muitos dos pacientes que tratei me confessaram que nem sexo, nem comida, nem bebida alcoólica ajudaram muito a lidar com o confinamento e as circunstâncias que nos levaram a viver a pandemia”, disse Zatorre .

“A maioria indica que a música tem sido sua maior aliada. Que essa tem sido uma forma de aguentar o que está acontecendo. E tenho certeza que muitas memórias foram criadas a partir dessa combinação.”

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fonte: BBC