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Seu cérebro não desliga? Pode ser excesso de preocupação ou até transtorno

burnout-cansaco-estresse-1609681962966_v2_750x421Da Revolução Industrial nos séculos 18 e 19 para cá, o mundo nunca mais foi o mesmo. Estamos muito mais acelerados na forma como trabalhamos, nos relacionamos e vivemos. Se de um lado o avanço da tecnologia tem sua parcela de culpa, de outro preocupações e excesso de demandas são os principais fatores para não pausar a mente.

“Se a pessoa não muda o foco e costuma ir para a cama com a cabeça nas pendências do dia seguinte, esse ‘ruminar’ de pensamentos faz o cérebro receber uma descarga adrenérgica e se acelerar, ficando em alerta constante e pronto para reagir”, alerta Fábio Porto, neurologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Pensar demais pode apontar também a presença de problemas psiquiátricos, como ansiedade, transtorno afetivo bipolar, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, depressão. Outras causas incluem lembranças traumáticas, alterações genéticas hereditárias, comprometimento do tálamo (estrutura cerebral importante na regulação da consciência e sono-vigília), consumo excessivo de substâncias estimulantes e uso de internet.

Há alguns psiquiatras que defendem ainda a teoria da síndrome do pensamento acelerado. Ela propõe que o excesso de informação —independentemente se há relação direta com problemas ou não — impregna o cérebro, resultando em pensamentos velozes e constantes que poderiam gerar irritabilidade, insônia, inquietação, dificuldade de concentração e vício por estímulos. Quem desempenha muitas atividades, sobretudo mentais e sob pressão estaria mais sujeito.

“De fato, os sintomas existem, mas essa síndrome, fruto de um trabalho único e difícil de comparar com a maioria das pesquisas, não é, atualmente, reconhecida internacionalmente pela comunidade científica”, explica Luiz Scocca, psiquiatra pelo HC-FMUSP e membro da APA (Associação Americana de Psiquiatria). Ele acrescenta que a aceleração do pensamento individualmente não indica uma causa específica, exigindo ser acompanhada com a presença de outros sinais para definir patologias e distingui-las de preocupações e excesso de tarefas.

Problemas também são físicos

Não abstrair, além dos prejuízos citados e da própria aceleração do cérebro, pode, caso a velocidade de processamento das informações estiver muito elevada —o que é observado em quadros de transtornos de ansiedade generalizada e bipolaridade —, causar ainda uma sobrecarga das funções cognitivas. Nessa situação, ocorrem alterações na fala, que fica confusa, lapsos de memória, mudança de humor repentina e incapacidade de tomar decisões lógicas.

O estresse e a ansiedade intensificam a atividade nervosa, elevando os níveis de hormônios, como adrenalina e cortisol. Isso também altera a percepção de tempo e, caso ele pareça insuficiente para se fazer tudo o que deseja, o corpo começa a manifestar que o emocional e o psicológico estão esgotados. São indicativos psicossomáticos: tremores, fadiga excessiva, falta de ar, tensão muscular, dor de cabeça, queda de cabelo, gastrite e elevação dos batimentos cardíacos.

Em contrapartida, quando a velocidade está com grau de intensidade menor e a pessoa se sente bem, com bastante energia, pode haver certa vantagem. “Se o foco estiver um pouco acelerado, isso contribui para estudar, agilizar trabalhos pendentes, mas é preciso cuidado para não atravessar uma linha vermelha em busca de se atingir sempre os melhores resultados”, afirma Porto. Continuar sendo workaholic (pessoa viciada em trabalho) após os 60 anos não é bom, por exemplo, pois a partir dessa idade a insônia naturalmente aumenta e o ritmo puxado só a piora.

Como frear os pensamentos.

Para desacelerar a mente é preciso compreender antes e com suporte médico o que se passa com ela. Após feita uma investigação e concluído o diagnóstico, entram os tratamentos, específicos para a fonte do problema. Transtornos requerem psicoterapia, acompanhamento profissional e intervenção medicamentosa, a depender da intensidade e recorrência dos sintomas. Quadros menos graves podem se resolver com adesão de novos hábitos e exercícios.

Nesse processo, vale separar poucos minutos por dia para meditar, fazer o que gosta, prestar atenção em cada tarefa que realiza, mesmo as que parecem não ter grande importância, como mastigar, respirar, caminhar. “Ao final do dia, deixe de lado celular, computador e filmes com muita ação e priorize leituras e programações leves”, sugere Marina Vasconcellos, psicóloga pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Ela explica que embora as telas distraiam, também transmitem um combo de informações que deixam o cérebro agitado.

Some a essas iniciativas também fazer uma coisa de cada vez e, se a lista for muito grande, intercale com atividades que não demandem muito raciocínio e que seriam realizadas de todo jeito, como regar as plantas, tirar o lixo para fora, lavar os pratos. Quando conversar com alguém, evite falar o tempo todo e escute mais o outro. Isso ajuda a se manter no presente, assim como atividades físicas que exigem concentração nos movimentos do corpo. A ioga tem muitas sequências e posturas, além de técnicas de respiração e equilíbrio.

Cérebro precisa de pausas entre reuniões, aponta estudo da Microsoft

siteMultinacional identificou que videoconferências consecutivas aumentam o estresse e reduzem capacidade de engajamento nos encontros

Usando análise de ondas cerebrais, um estudo conduzido pela Microsoft mostrou que as reuniões virtuais, tão comuns em tempo de pandemia, são estressantes. No entanto, pequenas pausas podem fazer a diferença e, inclusive, aumentar a capacidade do indivíduo de se concentrar e se envolver no encontro.

O estudo faz parte de uma pesquisa maior sobre o futuro do trabalho diante da pandemia. O Laboratório de Fatores Humanos da Microsoft — empresa proprietária do aplicativo Teams, de videoconferências — buscava uma solução para o cansaço gerado pelas reuniões virtuais.

Quatorze pessoas participaram de videoconferências enquanto usavam equipamentos de eletroencefalograma, que monitoram a atividade elétrica do cérebro.

Cada voluntário esteve em duas sessões. Na primeira, eles compareceram a quatro reuniões consecutivas, cada uma com duração de meia hora, cada uma sobre uma tarefa diferente. No segundo dia, os quatro encontros foram intercalados com intervalos de dez minutos, nos quais os participantes meditaram com o aplicativo Headspace.

O estudo obteve algumas conclusões. Uma delas é que as pausas permitem que o cérebro dê um “reset” e não acumule tanto o estresse das reuniões. Os encontros consecutivos podem reduzir a capacidade de focar e se envolver nas discussões, mas, com os intervalos e a meditação, os padrões de ondas cerebrais mostraram níveis positivos de assimetria alfa frontal, que se correlaciona com um maior envolvimento durante a reunião.

Além disso, o momento de transição entre as videoconferências também pode se tornar uma grande fonte de estresse: os pesquisadores identificaram picos de tensão justamente nestas ocasiões.

Mudanças na Microsoft

A partir dos resultados do estudo, a Microsoft anunciou adaptações em seus produtos. Agora, será possível ajustar o Outlook para que ele reduza automaticamente em cinco, dez ou 15 minutos o tempo de uma reunião do Teams, para que haja um intervalo entre as conversas.

A multinacional alerta, porém, que é importante se afastar do computador no momento das pausas. “Tente não usar esses cinco ou dez minutos para trabalhar em alguma outra coisa”, disse Michael Bohan, diretor sênior do grupo de Engenharia de Fatores Humanos da Microsoft, que supervisionou o projeto. “Aguente firme e fique um tempo longe de sua tela.”

Cérebro moderno tem ao menos 1,7 milhão de anos, afirmam pesquisadores

_98011009_667379906Andar sobre duas pernas, perder a cauda e não ter mais o corpo coberto de pelos não foram os principais elementos que, na evolução da humanidade, levaram ao surgimento do homem moderno. Há 2,5 milhões de anos, os primeiros espécimes do gênero Homo já eram assim. Porém, uma diferença drástica os aproximava mais dos macacos primitivos do que da nossa espécie: seus cérebros diminutos, da metade do tamanho do de um ser humano.

O aumento do volume cerebral, esse sim, é considerado a principal transformação que, na escala evolutiva, permitiu a existência do Homo sapiens. A reorganização do órgão levou à especialização de áreas, traduzida em capacidades cognitivas não vistas nos ancestrais mais antigos. Quando isso aconteceu permanecia um mistério porque, diferentemente dos ossos, o cérebro não fossiliza. Agora, uma equipe internacional de pesquisadores afirma, na revista Science, que a evolução do cérebro ocorreu entre 1,7 milhão e 1,5 milhão de anos atrás e foi sofrendo novas adaptações até que, há 200 mil anos, o homem moderno, finalmente, saiu do forno. Até agora, acreditava-se que a evolução do órgão tinha acontecido por volta de 700 mil a 500 mil anos atrás.
Os pesquisadores usaram a tomografia computadorizada para examinar os crânios de fósseis de Homo que viveram na África e na Ásia, entre 2 e 1 milhão de anos atrás. Em seguida, compararam os dados fósseis com informações de referência de grandes macacos e de humanos. Assim, conseguiram detectar que o maior volume cerebral já estava presente em hominídeos habitantes de Dmanisi (onde hoje é a Geórgia) há 1,7 milhão de anos.

Maria Ponce de León, do Departamento de Antropologia da Universidade de Zurique e principal autora do artigo, explica que, embora longe de terem as habilidades cognitivas do homem moderno, esses espécimes já eram capazes de fabricar diversas ferramentas, necessárias para sobreviver às novas condições climáticas da Eurásia, mais quente e com novas fontes de alimentos que exigiam adaptações tecnológicas.

Segundo Ponce de León, durante esse período, as populações ancestrais se tornaram mais complexas e diversificadas, o que pode ser constatado pela descoberta de vários tipos de ferramentas de pedra. “É provável que as primeiras formas da linguagem humana também se tenham desenvolvido durante esse período”, diz. Fósseis encontrados em Java, na Indonésia, fornecem evidências de que as novas habilidades cognitivas surtiram efeitos práticos: pouco tempo depois de surgirem na África, já estavam migrando para o sudeste da Ásia.
Pensamento complexo
A pesquisadora esclarece que, além do tamanho, o cérebro humano difere do dos grandes macacos na localização e na organização de regiões individuais. “As características típicas dos humanos são principalmente as regiões do lobo frontal, responsáveis pelo planejamento e pela execução de padrões complexos de pensamento e ação e, em última instância, também pela linguagem”, observa. Como essas áreas são significativamente maiores no cérebro humano, as regiões cerebrais adjacentes se deslocaram mais para trás quando o órgão evoluiu em tamanho.

Reconstruir a cronologia e o modo de evolução do cérebro dos hominídeos requer um bom conhecimento dessas mudanças sutis, observa a paleontóloga Amélie Beaudet, da Universidade Autônoma de Barcelona, que não participou da pesquisa. “Nesse aspecto, a parte inferior do lobo frontal, onde se localiza a área de Broca, tem sido foco de investigações e intensas discussões”, diz. “Além de ser um marco crítico para a reorganização do cérebro, ela desempenha um papel fundamental na produção e na compreensão da linguagem, cuja evolução é um tema igualmente intrigante. A área de Broca dos humanos difere estruturalmente da de nossos parentes vivos mais próximos, os chimpanzés e bonobos”, explica.

Segundo a especialista, esses dois animais têm um sulco diferente nessa região, denominado sulco fronto orbital. “Isso está ausente em humanos, que, em vez disso, têm dois sulcos verticais. Em estudos evolutivos humanos, presume-se que os cérebros dos chimpanzés e dos bonobos se aproximam mais da condição primitiva do dos hominídeos.” O surgimento do sulco único, diz Beudet, pode ser interpretado como o primeiro passo da organização do cérebro humano.
Mas Christoph Zollikofer, também pesquisador da Universidade de Zurique e coautor do estudo, diz que, até agora, era difícil fazer essa análise. “Como as impressões deixadas pelos sulcos nas superfícies internas dos crânios fósseis variam consideravelmente entre os indivíduos, não era possível determinar claramente se um fóssil de Homo em particular tinha um cérebro mais semelhante ao de um macaco ou um mais humano”, afirma. De acordo com ele, as tomografias computadorizadas dos crânios estudados permitiram, pela primeira vez, fazer essa diferenciação, determinando que o cérebro humano surgiu há 1,7 milhão de anos.

Neurociência ganha espaço no futebol com treinamentos para melhorar a atenção

728x409A aplicação pode ser feita no futebol inclusive em atividades com bola. Em treinos de campo reduzido, a cada palma, grito ou sinal visual do comandante, a atividade passa a ter uma nova regra, como a restrição ao número de toques na bola, mudança de direção ou a substituição de alguns atletas no exercício. O técnico Tite costuma comandar esse tipo de treinamento na seleção brasileira, por exemplo.

As regras são estabelecidas anteriormente. Assim, além de trabalhar a parte técnica, o jogador passa a ter um estímulo para se concentrar mais no que está fazendo. Outro trabalho é fazer o atleta ficar parado diante de uma pessoa que segura em cada mão uma bola de tênis. Para praticar os reflexos, é preciso ficar atento para ver qual das mãos soltará a bola e então reagir para não deixá-la chegar ao chão.

O desafio dos neurocientistas é até mesmo observar particularidades de cada jogador e desenvolver um trabalho específico para quem precisa melhorar o tempo de reação, a visão periférica ou a falta de atenção durante uma partida de futebol. “As técnicas são muito variadas, porque temos objetivos coletivos e individuais. Quando se trata de um atleta em recuperação de lesão, fazemos um trabalho especial para melhorar sua reabilitação”, explicou ao Estadão a neurocientista Andrea Ricagno, do Racing, da Argentina.

O pesquisador Caio Margarido Moreira, doutor em comportamento e cognição pela Universidade de Göttingen, na Alemanha, é um dos principais estudiosos brasileiros da aplicação da neurociência no futebol. Em 2017, ele realizou um trabalho com as categorias de base do Palmeiras, em que os garotos utilizavam um óculos de realidade virtual para avaliar atributos como tempo de reação, tomada de decisões, visão periférica, impulsividade e atenção.

Pela estimativa do seu trabalho, em uma partida de futebol o jogador precisa tomar cerca de 6 mil decisões em 90 minutos. Isso inclui o momento de dar um passe, a forma como vai chutar a bola, qual adversário marcar, onde melhor se posicionar, entre outras escolhas no gramado. Uma pessoa que não é atleta toma no máximo 3 mil decisões ao longo de 24 horas.

“O neurocientista pode ajudar a desenvolver uma capacidade decisiva no jogador de futebol e aumentar o repertório dele. Ao longo dos anos, o atleta repete bastante os movimentos, mas é importante que ele adquira flexibilidade cognitiva e esteja preparado para agir de acordo com a situação de jogo, que é sempre imprevisível”, explicou o especialista.

NEUROMODULAÇÃO
Um artigo científico recente coordenado pelo professor da USP (Universidade de São Paulo) Alexandre Moreira, da Escola de Educação Física e Esporte, se debruçou sobre outro benefício da neurociência ao futebol. No trabalho, os pesquisadores fizeram um experimento com jogadores das categorias base do Red Bull. Os atletas passaram por sessões de 20 minutos de estimulação de correntes elétricas leves no cérebro no dia seguinte às partidas. O equipamento utilizado custa cerca de R$ 3,5 mil.

O objetivo foi avaliar o impacto disso na recuperação psicológica e no estresse gerado pelas partidas. Antes e depois da estimulação, os jogadores passaram por exames cardíacos e responderam a questionários sobre bem-estar. “Os atletas se sentiram melhor. Até a frequência cardíaca melhorou. Em conjunto, temos um indicador de percepção que o atleta se sente mais bem recuperado”, explicou Moreira.

Para o neurologista e neurofisiologista clínico Samir Magalhães, a estimulação elétrica no cérebro tem potencial de se tornar uma grande aliada no futebol, em especial na recuperação pós-jogo. “O funcionamento da parte física depende do grau de estimulação da mente de um atleta. Não à toa, há dias em que um jogador tem performance pior e isso se deve ao caráter emocional. Por isso, estimular a área do cérebro que envolve o controle de emoções pode trazer benefícios ao atleta dentro de campo”, afirmou.

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Fonte: Estadão

Estudo liderado por brasileiros identifica como antidepressivos atuam no cérebro

coronavirussofrimentomentalPesquisa pode ajudar a desenvolver medicamentos mais precisos, já que mecanismo de funcionamento foi melhor entendido.

Um estudo liderado por cientistas brasileiros traz luz para uma velha questão na psiquiatria: a atuação dos antidepressivos no cérebro humano. Os medicamentos usados em larga escala para tratar depressão e ansiedade no mundo todo ainda se baseiam em diretrizes da tentativa e erro. Isso significa que no decorrer do tratamento os médicos buscam as doses corretas e a combinação ideal de antidepressivos que traga o conforto terapêutico desejado, porém nem sempre a melhora diante do tratamento ocorre como o esperado.

O uso dos antidepressivos para o tratamento dessas doenças se baseia, sobretudo, na chamada hipótese monoaminérgica, segundo a qual os distúrbios do humor são causados por uma deficiência no nível de neurotransmissores como serotonina, norepinefrina e dopamina. Esses medicamentos visam aumentar a concentração dessas substâncias no cérebro para eliminar a doença. Entretanto, a melhora diante do tratamento medicamentoso nem sempre é certa.

Considerada o mal do século 21, a depressão atinge cerca de 4,4% da população do planeta e é a principal causa de incapacidade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). De 10% a 30% das pessoas com depressão não apresentam melhora depois do início do tratamento com remédios, segundo estudos de 2019.

Novas descobertas

A chave para finalmente entender a atuação dos antidepressivos nos neurônios está na identificação da partícula celular responsável por facilitar a atuação dos medicamentos. É o que mostra o estudo liderado pelos brasileiros Plínio Casarotto e Caroline Biojone, atualmente contratados como pesquisadores no grupo do professor Eero Castrén, da Universidade de Helsinki (Finlândia). O estudo contou também com a participação de outro brasileiro, o pesquisador Cassiano Ricardo Alves Faria Diniz, que realiza pós-doutoramento na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Embora com mecanismos de ação diferentes, acreditava-se que tanto os antidepressivos tradicionais quanto a ketamina, que promove um efeito terapêutico quase que imediato, conduziam à melhora dos sintomas da depressão e da ansiedade ao aumentarem os níveis cerebrais de uma proteína chamada BDNF. Essa proteína, por sua vez, ao atuar sobre receptores denominados como TRKB, aumentariam a capacidade de adaptação do cérebro promovendo a recuperação do paciente.

O estudo publicado na revista científica americana ‘Cell’ mostra que, tanto os antidepressivos clássicos quanto os de efeito rápido são bem sucedidos ao promover a ativação direta de outro receptor, o TRKB. “Antes, acreditávamos que o efeito sobre o receptor TRKB era indireto, uma consequência de outros mecanismos de ação, e agora entendemos que o TRKB é na verdade o protagonista”, explica Cassiano Ricardo Alves Faria Diniz. “Isso muda substancialmente o que compreendemos sobre estas drogas, e sugere também que a latência para os efeitos terapêuticos dos antidepressivos tradicionais ocorre porque essas drogas levam tempo para atingir as concentrações necessárias dentro do sistema nervoso central para agir sobre o TRKB”, completa.

Para chegar a esse resultado o grupo se valeu de testes in vitro (realizadas com células) in silico (usando simulações computacionais de alta performance) e testes in vivo (com animais de laboratório) para confirmar que de fato os efeitos dos antidepressivos, mesmo sobre organismos complexos, dependem ainda dessa ação direta sobre o TRKB.

Essa descoberta é importante porque pode trazer assertividade a um tratamento que foi por décadas incerto. Desde que o primeiro antidepressivo foi utilizado no tratamento de distúrbios de humor, em 1956, as drogas são administradas com doses baseadas em tentativa e erro.

“A partir de agora, a indústria farmacêutica pode desenvolver drogas melhores porque até então eles estavam desenvolvendo drogas baseadas em um mecanismo de ação que não era o correto”, defende Caroline Biojone.

Colesterol no cérebro

O estudo também relevou, pela primeira vez, uma importante relação entre os níveis de colesterol no cérebro com a eficácia do tratamento realizado com drogas antidepressivas. De acordo com a investigação, há uma quantidade considerada ideal de colesterol no cérebro que facilita a ativação do receptor TRKB, o que promoveria um tratamento mais eficaz.

Mitos e verdades sobre a ação da Covid-19 no cérebro

fotoMédico neurocirurgião aponta os mitos e verdades sobre a interferência da Covid-19 na saúde do cérebro

Com muitas especulações sobre o que a Covid-19 causa no organismo, as sequelas, os sintomas, o neurocirurgião da UNICAMP, Dr. Marcelo Valadares, que ministra a disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Hospital Albert Einstein esclarece alguns pontos e desvenda o que é mito e verdade.

A Covid-19 pode interferir nas funções cognitivas? Verdade.

Trabalho publicado pelp InCor (Instituto do Coração) da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), aponta que após o fim da infecção podem surgir  perda de memória, dificuldade em manter o foco e dificuldades com a percepção visual.

A perda do olfato é sintoma incomum após o paciente ser infectado? Mito.

Com a infecão é comum que lesões nos nervos e bulbos olfatórios provoquem à perda de olfato. Pesquisa feita na Europa em 2020 aponta que em 87% dos pacientes a perda do olfato foi um dos sintomas mais comuns. A incidência de casos permanentes seja cerca de 5%.

A infecção por Covid-19 aumenta as chances do AVC? Verdade.

A infecção pela Covid-19 está relacionada ao aumento na formação de coágulos em artérias, e isso pode provocar o AVC. Nos Estados Unidos, pesquisas internacionais identificaram que muitos pacientes jovens com a Covid-19 também foram diagnosticados com Acidente Vascular Cerebral.

O vírus pode ter sequelas neurológicas permanentes? Mito.

A infecção pela Covid-19 demonstrou causar sintomas de longo prazo. Além da perda do olfato, os pacientes podem sentir dores de cabeça crônica, a já citada sensação de fadiga no corpo, tontura, fraqueza generalizada e até mesmo ansiedade e depressão.

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Como o cérebro reage ao estresse gerado pela pandemia?

site-copiaEstresse e isolamento social

O isolamento social foi muito estudado pela neurociência e, segundo os especialistas, está comprovado que pode causar danos psicológicos significativos e duradouros.

“Na pandemia temos o isolamento social e físico forçados, o que leva ao aumento dos casos de ansiedade, estresse e depressão. As mulheres são mais propensas à ansiedade, pois estão sobrecarregadas com os afazeres domésticos, filhos e trabalhos profissionais. Um grande número delas tem que pegar transporte público e ir aos supermercados, ficando mais vulneráveis à contaminação”, diz o médico e neurocirurgião Wanderley Cerqueira de Lima, do Hospital Albert Einstein e da Rede D’or.

O especialista complementa que a depressão ocorre mais em pessoas idosas, pois elas se sentem mais vulneráveis à contaminação pelo vírus, uma vez que estão mais distantes da família e propensas à letalidade. “Na quarentena forçada existe a necessidade de respeitar o seu estilo de vida, os seus limites e, se possível, seria indicado fazer algum exercício, como a caminhada”, pontua.

Leia também: Papel da eletroneuromiografia na Covid-19

Segundo o neurocirurgião, as consequências a médio e longo prazo na saúde mental estão atreladas ao sedentarismo, como alterações no ritmo do sono, apatia, alterações do apetite, palpitações, irritabilidade, insegurança, pensamentos negativos e desesperança na cura da doença e na chegada da vacinação.

O fisiatra Marcus Yu Bin Pai, médico pesquisador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), também está preocupado com o nível de sedentarismo durante o isolamento social.

“Estamos vendo efeitos do confinamento já na saúde de pessoas, que vem relatando aumentos não só de patologias crônicas como dores musculoesqueléticas devido ao sedentarismo e diminuição de atividade física, mas também de aumentos de queixas de ansiedade, depressão e insônia crônica”, ressalta Marcus Yu Bin Pai, que também é colunista do Portal PEBMED.

É importante lembrar que todo estresse ou depressão influencia diretamente na baixa de resistência do organismo predispondo a qualquer tipo de infecção, principalmente se o paciente já possui alguma comorbidade.

Orientações aos médicos

De acordo com o neurocirurgião Wanderley Lima, os principais sintomas que afetam a saúde mental neste período de pandemia são os distúrbios de sono, lentidão para as atividades diárias, alterações no apetite, emagrecimento ou ganho de peso, estabilidade facial, sensação de solidão, pensamentos negativos e uma desesperança frequente.

No entanto, os médicos devem estar atentos também aos sinais não verbalizados pelos pacientes, como explica Marcus Yu Bin Pai. “Devemos sempre avaliar o que o paciente fala e não fala, ou seja, perguntar ativamente questões psicológicas, como está seu sono, como estão suas relações, seu dia a dia e atividades laborais. Procurar sinais indiretos de fadiga, cansaço e burnout”, diz.

O fisiatra esclarece que devem ser solicitados exames laboratoriais e de imagem, dependendo das queixas e sintomas do paciente. Para suspeita de ansiedade, insônia e depressão podem ser solicitados exames para afastar suspeitas de doenças metabólicas ou outras enfermidades sistêmicas.

Já o neurocirurgião Wanderley de Lima lembra que se o paciente apresentar alterações clínicas associadas é indicado solicitar uma avaliação hematológica bioquímica do sangue, uma avaliação nutricional com dosagem de vitaminas no sangue e um exame de imagem ou fisiológicas, de acordo com sinais e sintomas dos pacientes.

Como o cérebro cria as motivações e o desejo de viver

O impacto motivador da dopamina se reflete no descontrole que se apossa de todos nós quando continuamos a comer depois que abrimos a boca para o primeiro salgadinho

_98011009_667379906Um dos efeitos de certos alimentos “viciantes”, como o chocolate, é a liberação de dopamina cerebral que aumenta o poder de incentivo dos estímulos relacionados ao prazer.

Quem a conheceu conta que minha bisavó Rosa, que viveu até os 103 anos, tinha perdido a vontade de viver e só desejava morrer. Mas minha tia-avó Felisa, que viveu quase 102 anos, nunca perdeu essa vontade e sempre, até as últimas horas, encontrou um motivo para continuar vivendo, fosse o casamento de um sobrinho, o batizado de um novo membro da família, o copinho de aguardente ou o torrone da festa da cidade. Sempre me perguntei o que haveria no cérebro exausto de cada uma das minhas duas anciãs para abrigar um sentimento tão diferente.

Uma possível resposta me leva aos muitos anos em que no nosso laboratório da Universidade Autônoma de Barcelona exploramos o comportamento de ratos que pressionam uma pequena alavanca dentro de sua gaiola para ativar o dispositivo que envia pequenos choques elétricos a seus cérebros por meio de um eletrodo implantado nele. Nunca duvidamos de que essas descargas fossem agradáveis e, por isso, os ratos pressionavam a alavanca continuamente, horas e até dias, até cair exaustos de inanição. Quando fazem isso, os neurônios em uma região do tronco do encéfalo (área tegmental ventral) liberam através de seus prolongamentos o neurotransmissor dopamina em outra região da base do cérebro (o núcleo accumbens). Por isso, durante os primeiros anos de pesquisa, acreditávamos, e assim explicávamos aos nossos alunos, que a dopamina era a substância cerebral que produzia o prazer.

Mas as coisas mudaram quando a revista Nature publicou um artigo mostrando que os ratos continuavam pressionando a alavanca mesmo quando a dopamina se esgotava e não era mais liberada em seu cérebro, o que significa que ainda havia prazer sem dopamina. O que então a dopamina faz, nos perguntamos, intrigados? Achados experimentais recentes apontaram a resposta. Por um lado, agora sabemos que quando se reduz a dopamina no cérebro de ratos pela injeção de substâncias que a desativam (6-hidroxi-dopamina), sua capacidade de sentir prazer não desaparece, pois suas reações positivas ao sabor doce permanecem intactas. Os doentes de Parkinson, que também têm escassez de dopamina no cérebro, também não perdem suas reações de prazer com o sabor doce. Por outro lado, também foi comprovado que os camundongos com déficit de dopamina apresentam perda total de interesse ou motivação para realizar ações, como pressionar uma alavanca ou percorrer um labirinto, destinadas a alcançar prazeres como a comida, e somente se os níveis de dopamina são restaurados nos locais do cérebro onde é normalmente liberada os animais e recuperam a motivação e o comportamento para chegar até ela.

Por tudo isso, o que agora acreditamos que a dopamina faz quando liberada no cérebro é aumentar a motivação e o poder de incentivo das coisas agradáveis, produzindo desejo, embora sem causar prazer nem ter um verdadeiro impacto hedônico. É como se essa substância nos motivasse a fazer o necessário para conseguir o bom, o prazer, onde quer que esteja. Curiosamente, também há dados que indicam que pacientes com Parkinson tratados com substâncias como L-dopa, que elevam a dopamina cerebral, não aumentam suas reações positivas ao prazer, mas exibem certa motivação compulsiva, um incremento no desejo por atividades como jogos, hobbies, compras, pornografia, Internet em geral, etc, mesmo quando não se percebe neles um aumento de prazer que possa justificar esse comportamento.

Este impacto motivador da dopamina se reflete de uma maneira muito especial no descontrole que todos nós sentimos ao continuar a comer depois de abrirmos a boca para o primeiro salgadinho ou batata frita em uma festa. Mais do que aguçar o apetite, que já temos, o que parece acontecer com a primeira e contida degustação é uma liberação de dopamina cerebral que aumenta o poder de incentivo dos estímulos relacionados ao prazer, neste caso, a comida, mas não o prazer em si, tornando mais intenso e frequente o comportamento contínuo que o busca. É por isso que depois da primeira batata frita não conseguimos mais nos conter e parar de comer. Esse incentivo parece especialmente forte no dependente de uma droga, ou qualquer outro tipo de dependência, perante qualquer estímulo relacionado ao seu consumo. A simples visão do “passador de drogas”, do local onde as vendem, pode desencadear a dopamina cerebral e com ela o desejo e a motivação para fazer o que for preciso para consegui-las.

Agora também sabemos que a dopamina aumenta quando somos estimulados por todo tipo de novidades, ou seja, quando acontecem coisas novas e inesperadas em nosso entorno, o que a neurociência chama de “erro de predição”. A novidade está quase sempre presente na rica vida dos jovens, mas muito menos na vida muitas vezes empobrecida dos idosos, que a fraqueza, a preguiça ou a falta de apoio familiar leva a se refugiarem no sedentarismo e no isolamento em casa. É, portanto, muito importante incentivar, por todos os meios, que os idosos tenham uma vida pessoal e social tão rica e ativa quanto possível para que seu cérebro libere dopamina e, com isso, aumente e mantenha sua motivação e seu desejo de continuar vivendo bem até em idades avançadas.

Ignacio Morgado Bernal é professor de Psicobiologia no Instituto de Neurociências e na Faculdade de Psicologia da Universidade Autônoma de Barcelona. É autor de ‘Deseo y placer: la ciencia de las motivaciones’ (Ariel, 2019).

FADIGA DE VIDEOCONFERÊNCIA: ESTUDO APONTA QUATRO CAUSAS E SOLUÇÕES

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Desde que a pandemia começou, as chamadas de vídeo têm sido muito utilizadas para  reuniões de trabalho e encontros virtuais. No entanto, um estudo publicado no periódico Technology, Mind and Behavior na última terça-feira (23), mostrou o que muita gente já tinha percebido:  passar muito tempo em videoconferências pode causar fadiga.

O professor da Universidade de Stanford, Jeremy Bailenson, que conduziu o estudo, listou os quatro fatores que mais trazem cansaço aos usuários dessas plataformas. Veja quais são:

1) Contato visual excessivo

Tanto a quantidade de contato visual que mantemos durante os vídeos quanto o tamanho dos rostos nas telas não são naturais.

Em uma reunião normal, as pessoas costumam olhar para quem fala, tomando notas ou às vezes desviando o olhar. Mas nas ligações do Zoom, Meet ou Teams, todos estão olhando para todos, o tempo todo. Um ouvinte é tratado de forma não verbal como um orador, então mesmo que você não fale uma vez em uma reunião, ainda terá a sensação de que é encarado. Ou seja: a quantidade de contato visual aumenta drasticamente. Bailenson explica que, assim como no mundo não virtual, a fobia de falar em público também existe nas plataformas, e saber que todos estão te olhando o tempo todo aumenta ainda mais o estresse.

Outra fonte de desgaste é que, dependendo do tamanho do seu monitor, os rostos nas chamadas de videoconferência podem parecer grandes demais para o seu conforto. Quando isso acontece na vida real, o cérebro interpreta como uma situação mais intensa, como um contato íntimo ou um conflito. “O que está acontecendo, na verdade, quando você usa o Zoom por muitas, muitas horas, é que você está nesse estado de hiperexcitação”, explica Bailenson.

Para melhorar isso, o professor recomenda tirar a opção de tela inteira e reduzir o tamanho da janela do aplicativo em relação ao monitor para minimizar o tamanho do rosto.

2) Se observar o tempo todo

A maioria das plataformas de vídeo permite que a pessoa se veja durante um bate-papo, mas isso também não é natural, diz Bailenson. “No mundo real, se alguém estivesse seguindo você com um espelho constantemente – de forma que enquanto você estivesse falando com as pessoas, tomando decisões, dando feedback, recebendo feedback – você estivesse se vendo em um espelho, isso seria loucura”.

Bailenson cita estudos que mostram que quando você vê seu reflexo, acaba ficando mais crítico com si próprio. “É desgastante para nós. É estressante. E muitas pesquisas mostram que há consequências emocionais negativas em se ver no espelho.”

Uma solução dada por Bailenson é que os usuários usem o botão “ocultar visão própria”, que pode ser acessado clicando com o botão direito do mouse em sua própria foto, assim que virem que seu rosto está devidamente enquadrado no vídeo.

3) Redução da mobilidade

Em uma conversa normal, as pessoas costumam se movimentar, até para dar mais fluidez no discurso. Contudo, na videoconferência, a maioria das câmeras têm um campo de visão definido, o que significa que uma pessoa geralmente precisa ficar no mesmo lugar. O movimento é limitado de maneiras que não são naturais. “Há uma pesquisa crescente agora que diz que quando as pessoas estão se movendo, elas têm um desempenho cognitivo melhor”, disse Bailenson.

4) Carga cognitiva maior

Em uma conversa que se dá pessoalmente, a comunicação não-verbal é bastante natural e a grande maioria das pessoas faz e interpreta gestos e pistas não-verbais de forma natural. Mas em chats de vídeo, temos que trabalhar mais para enviar e receber sinais.

Na verdade, fala Bailenson, os humanos pegaram uma coisa simples e fácil e a transformaram em algo que envolve muito pensamento: “Você precisa ter certeza de que sua cabeça está emoldurada no centro do vídeo. Se você quiser mostrar a alguém que está de acordo com a pessoa, faça um aceno exagerado com a cabeça ou levante os polegares. Isso adiciona carga cognitiva, pois você está usando calorias mentais para se comunicar. ”

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Estudo aponta relação entre sono ruim e maior risco de demência para idosos.


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Pessoas que dormiram menos de cinco horas por noite tiveram maior risco de demência e até de morte prematura, conforme mostra uma nova pesquisa publicada na revista científica Aging.



Embora a relação possa parecer alarmante, o geriatra Natan Chehter, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo reforça que a pesquisa não mostra causalidade.



”Esse estudo não é de causa e efeito, mas de relação. Ele pega dados e vê se tem uma porcentagem de pessoas que desenvolveram a doença que estuda, mas não pode afirmar que a falta de sono causa a demência”, diz.



”Em uma explicação leiga, é parecido com dizer que pessoas que andam com isqueiro no bolso são mais propensas a ter câncer de pulmão — no caso, tem um fator oculto aí, que é o cigarro.

“

De acordo com o médico, após descobrir a relação, os pesquisadores podem focar para desenhar estudos que busquem comprovar — ou não — a ligação entre falta de sono e demência.



Como o estudo foi feito

Para chegar aos resultados, os pesquisadores acessaram questionários respondidos por 2610 pessoas com mais de 65 anos que fizeram parte do levantamento do National Health and Aging Trends Study entre 2013 e 2014 nos Estados Unidos.



Os médicos do Brigham and Women’s Hospital, em Boston, nos Estados Unidos, analisaram as respostas dos entrevistados às perguntas relacionadas à perturbação e deficiência do sono.



Eles examinaram como os participantes avaliaram seu nível de energia, frequência de cochilos, quanto tempo demoraram para adormecer, se roncaram e a duração e a qualidade do sono.



A equipe seguiu coletando dados dos participantes por até cinco anos, com o intuito de observar desfechos de demência e morte.



Resultados



Os pesquisadores indicam, a partir do acompanhamento dos participantes entrevistados, que há uma ligação entre os problemas de sono e quanto tempo alguém leva para adormecer e o maior risco de demência.

Cochilar com frequência, lutar para ficar alerta e dormir mal de qualidade também estiveram relacionados a um risco maior de morte.



De acordo com os pesquisadores, cada vez mais estudos mostram que os problemas de sono estão relacionados à saúde do cérebro — antes acreditava-se que não conseguir dormir era apenas um sintoma de pessoas com diagnóstico de Alzheimer (a forma mais comum de demência).



“Esses dados aumentam a evidência de que o sono é importante para a saúde do cérebro e destacam a necessidade de mais pesquisas sobre a eficácia de melhorar o sono e tratar distúrbios do sono sobre o risco de demência e mortalidade”, afirmou Charles Czeisler, um dos autores do estudo.



Idosos têm sono mais leve naturalmente



Conforme aponta Chehter, pela própria dinâmica do sono do idoso, esse grupo de pessoas já tem uma pior qualidade de sono.
”Isso é inclusive constatado em idosos saudáveis, é algo que vem com o envelhecimento. Ao passar os anos, o sono se torna mais superficial, o que pode ter como impacto acordar mais vezes e ter dificuldade para voltar a dormir. Além disso, há doenças que são mais comum em idosos, como apneia do sono e síndrome de pernas inquietas”, explica.