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Saúde mental: O impacto da violência da guerra no cérebro humano é brutal, afirmam especialistas

Mais de 1,7 milhão de  ucranianos fugiram de seu país desde o início da invasão pela Rússia, em 24 de fevereiro, segundo dados atualizados das Nações Unidas. Centenas de mulheres, crianças e idosos se amontoam, todos os dias, na estação de trem de Lviv, a maior cidade do Oeste da Ucrânia e ponto final para quem deseja entrar na União Europeia. Por determinação do governo, os homens de 18 a 60 anos não podem deixar o território ucraniano e são obrigados a pegar em armas contra os russos.  Por outro lado, há também notícias de que soldados inimigos estariam se rendendo sem resistência — a imagem de um deles chorando ao ligar para a mãe rodou o mundo.

Toda guerra tem muitos lados. Mas há, talvez, um menos  visível, que consome por dentro, em silêncio: os efeitos dessas situações extremas na mente, deflagrando, de uma hora para outra, ansiedade, depressão, distúrbios comportamentais e estresse pós-traumático. Os impactos, diretos ou indiretos, da violência de uma guerra são brutais, afirmam especialistas. 

— Essas pessoas [os ucranianos] estão passando por um evento traumático incapacitante. É o que chamamos de “estresse tóxico elevado”. Quando o corpo é submetido a um estresse constante, nesse caso a ataques contínuos, bombardeios e insegurança, a frequência cardíaca dispara e diversos tipos de reações químicas no corpo são ativadas continuamente, gerando uma repetida resposta ao estresse corporal — explicou ao GLOBO Theresa Betancourt, professora da Escola de Serviço Social da universidade Boston College e especialista em saúde mental para jovens afetados pela guerra.

A existência de traumas provocados pela experiência de guerra ou de conflito armado são velhos conhecidos até das pessoas comuns — há uma vasta cartela de filmes sobre o assunto, por exemplo, como o popular “Rambo — programado para matar”, de 1982, imortalizado por Sylvester Stallone. Mas não há no campo da psicologia ou da psiquiatria nenhum instrumento capaz de avaliar precisamente o quão profundo é o trauma de uma pessoa ou quais situações são mais traumatizantes que outras nesses contextos, afirma Joop de Jong, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Comportamentais da Universidade de Amsterdã e autor do livro “Trauma, War and Violence: Public Mental Health in Socio-Cultural Context” (Trauma, Guerra e Violência: Saúde Mental Pública em Contexto Sócio-Cultural, sem tradução para o português).

— O problema tem dimensões enormes, envolve famílias, comunidades, perdas materiais… Mas o que sabemos pela literatura é que uma das coisas mais dramáticas para as crianças, por exemplo, é quando os próprios pais estão traumatizados — afirma Jong. — A reação de uma mãe ou de um pai ao estresse traumático não tem consequências psicológicas e psiquiátricas apenas para eles, mas também para seus filhos.

Danos biológicos

Segundo Betancourt, a ciência é muito clara quanto às evidências de que a exposição ao estresse tóxico afeta a arquitetura do cérebro em desenvolvimento da criança. Ainda de acordo com a especialista, a situação é agravada se não houver esse papel amortecedor de figuras primárias de apego, como os pais ou outros entes queridos. As consequências, afirma, “são duradouras”, com impactos diretos na saúde mental e nos resultados sociais dessas pessoas, incluindo sua capacidade de se sair bem na escola e economicamente.

Um estudo apresentado em 2019 por pesquisadores norte-americanos dá conta de que passar por uma situação traumática pode, além de comprometer a saúde mental, causar danos biológicos. Eles analisaram a estrutura cerebral de sobreviventes do Holocausto e constataram que o estresse e o sofrimento levaram a uma redução significativa da massa cinzenta dessas pessoas. A diminuição era ainda maior entre as que tinha 12 anos ou menos na ocasião do genocídio, disseram. O estudo revelou também diferenças substanciais nas estruturas cerebrais envolvidas no processamento de emoção, memória e cognição social entre os sobreviventes e indivíduos que não viveram esse trauma.

Estresse pós-traumático

Num contexto de guerra, os riscos de desenvolvimento de transtornos mentais ou problemas de saúde são elevados, mesmo depois de findado o conflito e alcançada uma sensação de estabilidade de longo prazo, afirma Theresa Betancourt, do Boston College. Em situações como essas, as taxas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, abuso de substâncias e ansiedade sobem, às vezes, 30%, segundo Jong. 

Entre 50% e 75% das pessoas que viveram uma experiência de guerra também sofrerão com pesadelos constantes, flashbacks do conflito, sensação constante de vigília e atenção, insônia ou ansiedade, afirma o especialista holandês. Todos esses sintomas são enquadrados no que a ciência chama de “reação aguda ao estresse”, que ainda inclui se assustar facilmente com sons abruptos, completa Jong.

No caso de homens adultos, há ainda consequências mais imediatas, como o alcoolismo e o abuso de substâncias.

— O alcoolismo é um problema em qualquer lugar do mundo onde você tenha homens reunidos, especialmente em uma guerra — diz. — É claro que se houver um ataque hoje e outro amanhã, é bom poder beber algo depois para relaxar. Mas se você está sob ataque contínuo, você tende a usar o álcool como uma forma de conviver com o medo e a ansiedade, mas isso facilmente evolui para abuso de substâncias como cocaína, e o abuso de substâncias é sempre um grande problema.

Em muitos casos há também um problema transgeracional. Depois de uma guerra, é muito comum que os pais não falem sobre o conflito, para não expor as crianças às histórias. Mas há também aqueles que falam o tempo todo sobre a guerra. Em ambos os casos, as crianças sentem que não recebem a atenção devida . Também pode ocorrer de os pais nunca serem agressivos com seus filhos, temendo a agressividade da guerra, ou de serem violentos o tempo todo. 

— Quando os pais são traumatizados, eles podem traumatizar a próxima geração. Mas o que a próxima geração sofrerá com os traumas dos pais nem sempre é negativo. Às vezes pode gerar um sentimento de resiliência. — afirma Jong. — A narrativa de guerra dos ucranianos, que sofreram por dois séculos nas mãos do Império Russo, da União Soviética, do regime nazista e agora nas de Putin, por exemplo, é a da resistência.

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Cientistas brasileiros descobrem proteína ligada ao envelhecimento do cérebro

site-copyUm grupo de cientistas brasileiros, em parceria com pesquisadores na Holanda e nos Estados Unidos, identificou a relação de uma proteína com o envelhecimento do cérebro. Trata-se de um composto já conhecido pela comunidade científica, chamado lamina B-1, presente em todo o corpo humano.

De maneira inédita, o estudo identificou que a presença dessas proteínas na região cerebral diminui à medida que os indivíduos ficam mais velhos. Esse resultado pode representar um avanço no entendimento do déficit cognitivo.

Apesar da descoberta, cérebros de pacientes com doenças como o Alzheimer e Parkinson não foram analisados na pesquisa. Estudiosos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pretendem, a longo prazo, avançar na compreensão das diferenças entre o cérebro de idosos saudáveis e de uma pessoa da mesma idade com alguma dessas doenças neurodegenerativas.

O trabalho avaliou os sistemas nervosos tanto de animais como de seres humanos para realizar as associações entre a lamina B-1 e o processo de envelhecimento. A professora do Instituto de Ciências Biomédicas, Flávia Gomes, e a bolsista de pós-doutorado do Ministério da Saúde (Decit), Isadora Matias, são as responsáveis pelo projeto.

“Nós caracterizamos exatamente o tipo celular afetado pela diminuição dessa proteína: os astrócitos. Eles são células essenciais no funcionamento do sistema nervoso, por conta da formação de memória e de sinapses. Identificar um fenômeno que faz com que essa célula pare de funcionar é uma informação importante, porque isso impacta em entender como acabamos caminhando para um déficit cognitivo”, explica Flávia.

A neurocientista também destaca os possíveis desdobramentos frente às análises. “O que acontece é que, ao longo do envelhecimento, existe uma perda de memória, uma perda cognitiva. O nosso próximo passo, que é exatamente o que a gente está fazendo agora, é tentar reverter esse quadro aumentando essa proteína. Assim, veríamos, por exemplo, se esse animal passa a resgatar a memória”, explica.

De acordo com Flávia, o estudo está dividido em três etapas, que consideram o isolamento em laboratório das células do sistema nervoso do cérebro dos animais, a avaliação de camundongos envelhecidos e a análise do tecido cerebral post-mortem.

Essa última análise diz respeito a tecidos cerebrais vindos de bancos de encéfalos. “Os familiares doam o cérebro de pessoas que morreram. São idosos saudáveis e pacientes que faleceram com doenças neurodegenerativas ou doenças do envelhecimento. O banco de cérebros do Brasil, na USP, é um dos maiores do mundo. Isso é algo importante, porque nós não trabalhamos com pessoas vivas”, justifica.

As conclusões do estudo foram publicadas em um artigo na revista científica Anging Cell, referência em assuntos ligados à biologia do envelhecimento.

O artigo contou com o financiamento do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde (Decit/MS); da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ); da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes).

Veja quais são os melhores alimentos para a saúde do seu cérebro

Estudos sugerem que hortaliças de cores vivas, como pimentão vermelho, mirtilo, brócolis e berinjela, podem afetar a memória, o sono e o humor Foto: ANDREW B. MYERS / NYT
Estudos sugerem que hortaliças de cores vivas, como pimentão vermelho, mirtilo, brócolis e berinjela, podem afetar a memória, o sono e o humor Foto: ANDREW B. MYERS / NYT
É hora de começar a alimentar seu cérebro. Durante anos, a pesquisa sobre alimentação saudável concentrou-se principalmente na saúde física e na ligação entre dieta, peso e doenças crônicas. Mas o campo emergente da psiquiatria nutricional estuda como os alimentos podem nos fazer sentir.

— Muitas pessoas pensam em comida em termos de gordura abdominal, mas o alimento também afeta nossa saúde mental. É uma parte pouco explorada nesse assunto — disse Uma Naidoo, psiquiatra de Harvard e diretora de psiquiatria nutricional e de estilo de vida do Massachusetts General Hospital.

A conexão entre o estômago e o cérebro é forte e começa no útero. O intestino e o cérebro se originam das mesmas células do embrião, explica Naidoo. Uma das principais maneiras pelas quais o cérebro e o intestino permanecem conectados é através do nervo vago, um sistema de mensagens químicas bidirecional que explica por que o estresse pode desencadear sentimentos de ansiedade em sua mente e borboletas em seu estômago.

Derrubando um mito

Muitas vezes, as pessoas tentam influenciar seu humor comendo alimentos reconfortantes, como sorvete, pizza ou macarrão com queijo. O problema, dizem os especialistas, é que, embora esses alimentos normalmente ofereçam uma combinação tentadora de gordura, açúcar, sal e carboidratos que os tornam hiperpalatáveis, eles podem realmente nos fazer sentir pior.

Traci Mann, que dirige o laboratório de saúde e alimentação da Universidade de Minnesota, conduziu uma série de estudos para determinar se a comida preferida de uma pessoa melhora seu humor. Os participantes responderam à seguinte pergunta: “Quais alimentos fariam você se sentir melhor se estivesse de mau humor?”

As respostas mais comuns foram chocolate, sorvete e biscoitos. Os entrevistados também classificaram os alimentos que gostavam, mas normalmente não comiam para buscar conforto.

Antes de cada teste, os participantes assistiram a clipes de filmes que eram conhecidos por provocar raiva, hostilidade, medo, ansiedade e tristeza. Após o filme, os espectadores preencheram um questionário de “humor negativo” para indicar como estavam se sentindo. Em seguida, receberam uma porção de sua comida favorita; outra da comida que eles gostavam, mas não viam como uma comida reconfortante; e uma com comida “neutra” (uma barra de granola com aveia e mel); ou nada de comida. Todos tinham três minutos sozinhos para comer sua comida, ou sentar-se quietos. Após o intervalo, eles preencheram novamente o questionário de humor.

Se um participante comeu comida reconfortante, qualquer comida ou nenhuma comida não fez diferença no humor da pessoa. O fator que parecia importar mais era a passagem do tempo.

— Se você comer comida reconfortante, pode se sentir melhor, mas se não comer, também se sentirá melhor com o passar do tempo. As pessoas acreditam em comida reconfortante e estão dando crédito a melhorias de humor que teriam acontecido de qualquer maneira — disse Mann.

Contra a depressão

A pesquisa de Mann descobriu que os alimentos que tradicionalmente trazem conforto não têm um efeito significativo no humor, e um crescente conjunto de pesquisas mostra que melhorar a qualidade da dieta de uma pessoa pode ter um efeito significativo na saúde mental. Uma análise de 16 estudos descobriu que as intervenções dietéticas reduziram significativamente os sintomas de depressão.

Os cientistas sabem que cerca de 20% de tudo o que comemos vai para o cérebro, disse Drew Ramsey, psiquiatra e professor da Universidade Columbia, em Nova York. Neurotransmissores e receptores críticos são produzidos quando você come nutrientes e aminoácidos específicos, explicou. Suas células gliais, por exemplo, que compõem uma porção substancial do cérebro, são dependentes de gorduras ômega-3. Minerais, incluindo zinco, selênio e magnésio, fornecem a base para a atividade celular e o tecido cerebral e a síntese de neurotransmissores que afetam diretamente o humor. Ferro, folato e vitamina B12 ajudam seu corpo a produzir serotonina.

— Nossos cérebros evoluíram para comer quase qualquer coisa para sobreviver, mas cada vez mais sabemos que há uma maneira de alimentá-lo para melhorar a saúde mental geral. Sabemos que se você come um monte de lixo, você se sente um lixo, mas a ideia de que isso se estende a um risco para a saúde mental é uma conexão que não fizemos na psiquiatria até recentemente — disse Ramsey, autor do livro “Eat to beat depression and anxiety” (em português, “Coma para combater a depressão e a ansiedade”.

O que comer para a saúde do cérebro

Para ajudar os pacientes a se lembrarem dos melhores alimentos para manter a saúde do cérebro, Ramsey criou um mantra simples: “Frutos do mar, verduras, nozes e feijão – e um pouco de chocolate amargo”.

Grande parte da ciência sobre os possíveis benefícios cerebrais dos alimentos ainda está em seus estágios iniciais, e comer esses alimentos não resultará em mudanças de humor da noite para o dia. Mas incorporar vários desses alimentos em suas refeições melhorará a qualidade geral de sua dieta diária — e você poderá notar uma diferença em como se sente.

  • Verde frondoso: para Ramsey, as folhas verdes são a base de uma dieta saudável para o cérebro porque são baratas, versáteis e têm uma alta proporção de nutrientes por calorias. Couve é o seu favorito, mas espinafre, rúcula, beterraba e acelga também são ótimas fontes de fibra, ácido fólico e vitaminas C e A. Se você não é fã de saladas, adicione verduras a sopas, ensopados, frituras e smoothies, ou pode transformá-los em um pesto. Ele também recomenda adicionar uma pequena porção de algas marinhas (o “verde folhoso do mar”) ao seu prato uma vez por semana como fonte de iodo, fibra, zinco e outros fitonutrientes.
  • Frutas e vegetais coloridos: quanto mais colorido for o seu prato, melhor será a comida para o seu cérebro. Estudos sugerem que os compostos em frutas e vegetais de cores vivas, como pimentão vermelho, mirtilo, brócolis e berinjela, podem afetar a inflamação, a memória, o sono e o humor. Alimentos avermelhados-púrpura são “jogadores de poder” nesta categoria. E não se esqueça dos abacates, que são ricos em gorduras saudáveis que melhoram a absorção de fitonutrientes de outros vegetais.
  • Frutos do mar: Sardinhas, ostras, mexilhões, salmão selvagem e bacalhau são fontes de ácidos graxos ômega-3 de cadeia longa que são essenciais para a saúde do cérebro. Os frutos do mar também são uma boa fonte de vitamina B12, selênio, ferro, zinco e proteínas. Se você não come peixe, sementes de chia, sementes de linhaça e vegetais do mar também são boas fontes de ômega-3. Para aqueles com orçamento limitado, o salmão enlatado é uma opção mais acessível, disse Naidoo.
  • Nozes, feijões e sementes: Tente comer entre meia xícara e uma xícara cheia de feijão, nozes e sementes por dia, diz Ramsey. Nozes e sementes, incluindo castanhas de caju, amêndoas, nozes e sementes de abóbora, são um ótimo lanche, mas também podem ser adicionadas a refogados e saladas. Feijões pretos e vermelhos, lentilhas e legumes também podem ser adicionados a sopas, saladas e ensopados ou apreciados como refeição ou acompanhamento. As manteigas de nozes também contam.
  • Especiarias e ervas: Cozinhar com especiarias não apenas melhora o sabor da comida, mas estudos sugerem que certas especiarias podem levar a um melhor equilíbrio dos micróbios intestinais, reduzir a inflamação e até melhorar a memória. Naidoo gosta especialmente de açafrão; estudos sugerem que seu ingrediente ativo, a curcumina, pode ter benefícios para a atenção e a cognição geral. “A cúrcuma pode ser muito poderosa ao longo do tempo”, disse ela. “Tente incorporá-lo em seu molho de salada ou legumes assados” ou adicioná-lo a marinadas, curry, molhos, ensopados ou smoothies. “Adicionar uma pitada de pimenta preta torna a curcumina 2.000% mais biodisponível para o nosso cérebro e corpo”, disse ela. “É um truque fácil de fazer quando você está cozinhando.” Outras especiarias que podem apoiar a saúde do cérebro incluem canela, alecrim, sálvia, açafrão e gengibre.
  • Alimentos fermentados: Os alimentos fermentados são feitos combinando leite, vegetais ou outros ingredientes crus com microorganismos como leveduras e bactérias. Um estudo recente descobriu que seis porções diárias de alimentos fermentados podem diminuir a inflamação e melhorar a diversidade do microbioma intestinal. Alimentos fermentados incluem iogurte; Chucrute; kefir, uma bebida láctea fermentada; kombucha, bebida fermentada feita com chá; e kimchi, um acompanhamento tradicional coreano de repolho fermentado e rabanete. O kefir de coco é uma opção não láctea. Outros alimentos fermentados incluem missô, queijo cottage, queijo Gouda e alguns tipos de vinagre de maçã. Você também pode beber “injeções intestinais” contendo probióticos, que são pequenas garrafas de bebidas fermentadas, geralmente com cerca de 60 gramas, vendidas em muitos supermercados.
  • Chocolate amargo: As pessoas que comem regularmente chocolate amargo têm um risco 70% menor de sintomas de depressão, de acordo com uma grande pesquisa do governo com quase 14.000 adultos. O mesmo efeito não foi observado em quem comeu muito chocolate ao leite. O chocolate escuro é embalado com flavonóis, incluindo epicatequina, mas o chocolate ao leite e as barras de chocolate populares são tão processados que não têm muita epicatequina.Conheça na nossa plataforma de treinamento cognitivo digital exercícios que ajudam a sintonizar o seu cérebro. Acesse e confira todas as informações:
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O que acontece com o cérebro quando a pessoa morre?

post_blogO que acontece com o cérebro quando a pessoa morre? Ao longo dos anos, diversos pesquisadores se prontificaram a desvendar o mistério. Um estudo da Universidade de Michigan (EUA), por exemplo, já chegou a perceber que a atividade cerebral de roedores aumentou nos momentos que antecederam sua morte.

O artigo constatou que a redução de oxigênio durante uma parada cardíaca pode estimular a atividade cerebral. Posteriormente, um estudo da Universidade Stony Brook (EUA) entrevistou pessoas que sobreviveram a uma parada cardíaca e relataram lembranças dos eventos relacionados à sua reanimação.

O conhecimento geral é de que o cérebro não pode funcionar quando o coração para de bater, mas o estudo argumenta que a percepção consciente parece ter continuado por até três minutos depois que o coração sofreu uma parada.

Ainda assim, os especialistas batem na tecla de que essa “consciência” pode ser apenas uma resposta neurológica ao estresse dos eventos cardíacos: uma experiência cognitiva anterior, que os pacientes acabam confundindo, achando que aconteceu depois de sua morte clínica.

Ciência explica o que acontece com o cérebro quando a pessoa morre (Imagem: cookelma/envato)

Em entrevista à Vice, especialistas chegaram a apresentar uma teoria: o cérebro tende a perder as funções gradativamente, primeiro deixando para trás características como o senso de identidade e a capacidade de pensar no futuro. É algo que leva de dez a 20 segundos para acontecer.

Com isso, à medida que a onda de células cerebrais sem sangue se espalha, as memórias e os centros de entram em “curto”, até restar apenas um núcleo, o que caracteriza estado vegetativo. Em outras palavras, não há consciência alguma dos arredores. Nos últimos instantes, resta apenas a capacidade de respirar, até que não seja mais possível.

Fonte: PNASRessuscitation JournalViceScience Alert

Atividade física pode proteger cérebro mesmo com sinais de demência, diz estudo

idosos-hidroginasticaexercício físico é bom para você. Foi demonstrado que suar a camisa melhora quase todos os órgãos do corpo, combate quase todas as doenças que os médicos diagnosticam e melhora quase todas as condições de saúde com as quais você convive diariamente.

E o que é ainda melhor. Um novo estudo descobriu que os exercícios aumentam os níveis de uma proteína conhecida por fortalecer a comunicação entre as células cerebrais por meio de sinapses, o que pode ser um fator-chave para manter a demência sob controle.

Esse efeito protetor foi encontrado até mesmo em idosos ativos, cujos cérebros apresentavam sinais de placas, emaranhados e outras características da doença de Alzheimer e das doenças cognitivas.

“As sinapses são as junções críticas de comunicação entre as células nervosas, são onde a mágica realmente acontece quando se trata de cognição”, disse em um email a autora do estudo Kaitlin Casaletto, professora assistente de neurologia no Centro de Memória e Envelhecimento da Universidade da Califórnia, em San Francisco.

“Todo o nosso pensamento e memória ocorrem como resultado dessas comunicações sinápticas”, acrescentou.

Estudos anteriores mostraram que a atividade física pode reduzir o risco de demência entre 30% e 80%, “mas não entendemos como isso acontece em nível biológico nos humanos”, explicou Casaletto.

“Descrevemos, pela primeira vez em humanos, que o funcionamento sináptico pode ser um caminho pelo qual a atividade física promove a saúde do cérebro”, disse ela, acrescentando que o estudo só pode mostrar uma associação, não necessariamente causa e efeito.

Ainda assim, Casaletto acrescentou: “Acho que essas descobertas começam a apoiar a natureza dinâmica do cérebro em resposta às nossas atividades, e a capacidade do cérebro idoso de montar respostas saudáveis à atividade mesmo nas idades mais avançadas”.

Regulação das proteínas é fundamental

Um cérebro em bom funcionamento mantém os sinais elétricos movendo-se suavemente através das sinapses de neurônio para neurônio e para outras células do corpo. Para fazer isso, o cérebro precisa substituir constantemente proteínas desgastadas nessas sinapses, além de garantir que elas estejam adequadamente equilibradas e reguladas.

“Existem muitas proteínas presentes na sinapse que ajudam a facilitar diferentes aspectos da comunicação célula a célula. Essas proteínas precisam estar em equilíbrio umas com as outras para que a sinapse funcione da maneira ideal”, escreveu Casaletto.

Tudo faz parte de como o cérebro remodela seus circuitos neurais, os mantendo saudáveis.

Estudos feitos em camundongos autopsiados mostraram há muito tempo o efeito protetor que os exercícios físicos tem no cérebro, mas estabelecer essa ligação em humanos tem sido difícil.

Neste novo estudo, publicado na última sexta-feira no Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association, os pesquisadores foram capazes de estudar cérebros humanos. Eles analisaram os níveis de proteína em pessoas que doaram seus cérebros para a ciência como parte do Projeto Memória e Envelhecimento, da Rush University, em Chicago. Em média, as pessoas que foram estudadas tinham entre 70 e 80 anos, disse Casaletto.

Como parte desse projeto, a atividade física no final da vida dos participantes idosos também foi rastreada. Os resultados mostraram que as pessoas que se movimentavam mais tinham proteínas mais protetoras.

“Quanto mais atividade física, maiores os níveis de proteínas sinápticas no tecido cerebral. Isso sugere que cada movimento conta quando se trata de saúde cerebral”, disse Casaletto.

“Recomendamos focar em 150 min/semana de atividade física. Estudos anteriores mostraram que até mesmo a caminhada está relacionada à redução do risco de declínio cognitivo!”, acrescentou ela por e-mail.

E parece funcionar independentemente de uma pessoa já ter marcas de Alzheimer e outras demências, acrescentou.

“Vários estudos anteriores mostram consistentemente […] que níveis mais altos dessas mesmas proteínas sinápticas no tecido cerebral se associam a um melhor desempenho cognitivo, independente de placas e emaranhados”, escreveu ela.

“Esses dados reforçam a importância de incorporar atividade física regular em nossas vidas cotidianas – não importa quão jovens ou velhos sejamos”, disse Heather Snyder, vice-presidente de relações médicas e científicas da Alzheimer’s Association, que financiou parcialmente o estudo.

“É importante encontrar um exercício que você goste para que ele seja sustentável em sua rotina. Para adultos mais velhos, é importante discutir qualquer nova atividade física com seu médico, para se certificar de que é seguro fazê-la”, acrescentou Snyder, que não esteve envolvida no estudo.

Como se mexer

 Quer começar a se exercitar, mas não sabe como? Pedimos à colaboradora de fitness da CNN, Dana Santas, as principais dicas sobre como adicionar mais exercícios à sua vida.

Não tente fazer tudo no começo. Você só vai se machucar e atrapalhar sua motivação, disse Santas, que é coach de mente e corpo para atletas profissionais. Em vez disso, comece com exercícios de respiração e movimento, projetados para reconectar sua mente e seu corpo. Então, comece a andar! Tente construir um ritmo moderado a rápido.

“Comece caminhando apenas cinco a 10 minutos diariamente nos primeiros dias, enquanto você descobre o melhor horário e local para suas caminhadas”, disse Santas. “Depois de determinar a logística, comece a adicionar alguns minutos a mais a cada caminhada. O ideal é que você faça cerca de 20 a 30 minutos de caminhada por dia”.

Se você quiser adicionar o treinamento com pesos, ela disse, você pode acompanhar assistindo este vídeo (em inglês)

Tão importante quanto adicionar o movimento à sua vida, é torná-lo um hábito, aconselha Santas.

“Tome medidas para torná-lo sustentável para que ele vire parte do seu estilo de vida, e que você goste e se orgulhe, em vez de vê-lo negativamente, como uma tarefa”, disse Santas.

Ela sugere “empilhar hábitos”, ou fazer um exercício simples antes, depois ou durante uma tarefa diária normal, como fazer a cama, tomar banho e escovar os dentes.

“Há quase oito anos, faço 50 agachamentos com peso corporal ou dois minutos encostada na parede enquanto escovo os dentes”, disse Santas à CNN.

Adicionar movimento às tarefas diárias pode aumentar rapidamente. Digamos que você se levantou e se exercitou três vezes por hora durante seu dia de trabalho.

“São 24 minutos de exercício diário. Adicione mais 10 minutos de caminhada ou subida de escadas antes ou depois do trabalho, e você terá 34 minutos diários, ou 170 minutos por semana de trabalho de cinco dias”, disse Santas.

“Isso está bem acima do limite semanal de 150 minutos, ou duas horas e meia, recomendado pela Organização Mundial da Saúde – sem nunca pisar em uma academia”.

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Fonte: CNN

O flash criativo que acontece no cérebro na transição da vigília ao sono

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Reza a lenda que Thomas Edison, o inventor, usava e recomendava um recurso meio mágico para estimular o surgimento de suas ideias criativas. Esparramava-se em uma poltrona segurando em cada mão uma bola, e perdia-se em pensamentos até bambear de sono. Logo suas mãos relaxavam, as bolas caíam no chão e, com o barulho, Edison acordava. Nesse momento, espocava nele um flash criativo, e uma nova invenção surgia. Consta que assim faziam também Edgar Allan Poe, o romancista, e Salvador Dalí, o pintor. O que eles não imaginavam é que, quase um século depois, o truque mágico deixaria de ser mágico e se tornaria um recurso cognitivo validado pela neurociência.

É o que descrevem pesquisadores do Instituto do Cérebro da Sorbonne em recente artigo. Disposto a esclarecer as bases científicas do truque de Edison, o grupo formulou a hipótese de que a transição da vigília para o sono é que propicia essa capacidade, colocando o cérebro em “modo criativo”. Para isso, bolaram um experimento revelador. Propuseram a cerca de 100 voluntários sadios um problema matemático simples: após uma série de oito números cuja sequência obedece a uma lógica oculta, qual deve ser o nono número? Os voluntários matutavam como Edison, em uma poltrona confortável, com um objeto na mão. Só que, no experimento, a atividade elétrica cerebral era captada por meio do eletroencefalograma, os movimentos oculares monitorados pelo eletrooculograma, e a atividade muscular acompanhada pelo eletromiograma. Completamente conectados. Eram três grupos de voluntários: o primeiro permanecia acordado, o segundo adormecia até estágios mais profundos e o terceiro entrava no primeiro estágio de sono, chamado N1, e despertava. Estes últimos seguravam uma garrafinha com a mão direita, que caía para acordá-los.

A coisa funcionava assim: primeiro, o problema lhes era apresentado algumas vezes. Pensavam na solução enquanto o clima da sala de experiência lhes fazia permanecer acordados ou lentamente adormecer. Os aparelhos indicavam isso, atestando a vigília ou o estágio do sono, em tempo real. No grupo N1, os registros acusavam o relaxamento muscular, e, de repente, a garrafinha caía, e o cérebro acordava. Os pesquisadores então apresentavam novas sequências de oito números solicitando a todos os voluntários que preenchessem o nono número de acordo com a regra oculta. Demorava para surgir a solução, mas acabava aparecendo. Quer dizer: só para o grupo da garrafinha.

Foi possível tirar conclusões incríveis. Primeiro, apenas um minuto de N1 era suficiente para aumentar de 3 a 6 vezes a percentagem de voluntários que descobriam o segredo dos números. Quase 90% deles, contra 30% do grupo acordado, e 15% do grupo do sono profundo. Confirmando a maior eficácia na resolução do problema, o grupo N1 relatava a sensação de ter tido um flash inspirador, um insight. Nada disso se passava nos dois outros grupos de voluntários, que acabavam o experimento sem conseguir descobrir o segredo da série numérica.

Que será que acontece no cérebro nessa transição da vigília ao sono? A pessoa primeiro tem episódios de “microssono” que depois se fundem em sono mesmo, ainda no estágio superficial N1. Por aí surge o surto criativo que fica na memória até o momento posterior de tentar resolver o mistério dos números. A memória segura esse “eureca” por cerca de 30 minutos, período em que os voluntários faziam as suas tentativas até o sucesso. Nada acontecia nos demais participantes: nenhum insight. Não se sabe ainda por que esse período de transição da atividade cerebral propicia o “milagre” de Edison, quais os malabarismos das redes neurais que explicam o fenômeno.

Mas o fato é que já estão à venda dispositivos eletrônicos portáteis para colocar no pulso, desenvolvidos pelo MIT Media Lab, nos EUA, e comercializados para estimular a criatividade. Ao contrário do esperado, mais inova quem dorme no ponto.

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Alzheimer, um recomeço? Três histórias surpreendentes sobre a demência

alzaimer“Logo ela deixou de se lembrar de mim. No começo eu falava, ‘olha, sua filha chegou’“ Lígia Galli.

“Eu não tenho saudade do pão que ela fazia, da roupa que ela costurava. Eu tenho saudade do sorriso, que é a presença dela mesmo” Ivani Alexandre.

“Eu falei: ‘Mãe, você entrou na contramão, você quase se matou e matou o Matheus junto’… ela falou: ‘nossa, eu fiz isso?’“ Denise Marques.

Quando tudo de uma pessoa parece ter ido embora – identidade, linguagem, habilidades, memória – onde fica guardado o amor?

Especialistas alertam que a pandemia de covid-19 vai acelerar uma epidemia de demência que já existe hoje no mundo. A notícia preocupa, mas entre profissionais de saúde, pacientes e familiares, cada vez mais pessoas vêm propondo que busquemos formas diferentes de pensar a doença. Não como o fim, mas como um possível recomeço.

Nesta reportagem, três mulheres cujas mães viveram ou vivem hoje com demência e uma médica geriatra compartilham visões sobre a doença que podem surpreender muita gente.

“Quando você recebe um diagnóstico de demência de um ente querido seu, parece que tudo acabou”, diz a geriatra Celene Pinheiro. “Só que nem sempre é assim”, ressalva.

“Foram os melhores anos da vida dela e os melhores anos dela comigo”, diz Denise.

E quando aceitam fazer seus depoimentos, as mulheres (e sim, é sobre elas que recai, na grande maioria dos casos, a responsabilidade de cuidar) expressam um desejo em comum: contribuir para que a sociedade conviva melhor com uma doença que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) afeta hoje 50 milhões de pessoas no mundo e deve afetar mais de 150 milhões em 2050.

Denise e Eneide – Alzheimer, um recomeço?

Denise Marques tem 54 anos e é terapeuta. Sua mãe, Eneide Marques Cavalcante, recebeu o diagnóstico de doença de Alzheimer em janeiro de 2015 e faleceu em dezembro de 2019 aos 85 anos.

“A minha mãe teve Alzheimer, é uma doença que quando a gente ouve a respeito, assusta. Mas eu aprendi que o Alzheimer não é terrível como falam.”

Eneide tinha uma deficiência: ela nasceu sem a cabeça do fêmur, o maior osso da perna.

“Minha mãe foi criada pelos meus avós com muito amor, carinho e cuidado, devido à deficiência dela. E aí eu imagino o choque que ela teve quando se viu num casamento totalmente abusivo. E ela não conseguia sair porque meu pai ameaçava que se ela se separasse ele mataria todos nós — eu, minha mãe e meus avós.”

No relato de Denise, o horror da violência doméstica vivenciada por ela e outros familiares momentaneamente toma lugar central na narrativa.

“Quando meu pai chegava em casa, já estava todo mundo tremendo. De que jeito ele ia chegar? Ele voltava alcoolizado, uma força, entortava a torneira, arrebentava a geladeira. Era uma coisa muito violenta.”

Mais adiante, veremos que, sobre o pano de fundo dos 35 anos de abuso físico e psicológico que Eneide viveu, a doença de Alzheimer que ela desenvolve terá um papel singular em sua vida — e na de sua filha.

Denise conta que seu pai morreu em janeiro de 1997, mas a mãe nunca se recuperou da violência que sofreu e começou a fazer tratamento para depressão. Episódios estranhos, como aquele em que Eneide entra na contramão em uma rua movimentada de Campinas e depois não se lembra do que fez (episódio descrito no início dessa reportagem), são para Denise um prenúncio do que estava por vir.

“Eu entendo que o Alzheimer é uma doença muito sorrateira, silenciosa”, diz.

Dez anos mais tarde, Eneide tornou-se paciente da geriatra Celene Pinheiro.
“Eu conheci e acompanhei a dona Eneide por pelo menos dez, doze anos”, diz a médica. “E uma coisa que chamava muito a atenção no relacionamento das duas é que ambas se tratavam muito mal.”

“Quando elas chegavam à clínica, nesse relacionamento conflituoso — a filha falava às vezes de forma ríspida com a mãe — as minhas secretárias já vinham: ‘doutora, nossa, como ela trata mal a mãe! Coitada da nona Eneide!’. E eu falava: ‘gente, calma. A gente não deve julgar. A gente deve ouvir. E entender o cenário onde essa relação se construiu.’ E foi o que acabou acontecendo”, conta Celene.

Em seu depoimento, Denise oferece pistas sobre como era o relacionamento com a mãe: “A Eneide que eu conhecia era extremamente rígida. Eu a chamava de general.”

“Quando eu comecei o relacionamento com minha namorada, a minha mãe não aceitou de jeito nenhum”, ela recorda. “Ficou muito indignada e não permitia que eu conversasse com ela sobre isso.”

De repente, a relação entre mãe e filha se transforma, conta Celene.

“Quando ela (Denise) leva (Eneide) para a instituição, e a demência da dona Eneide avança mais um pouquinho, a hora que eu vejo, as duas começam a se relacionar de uma forma leve, bem humorada, alegre, afetuosa. Um afeto muito grande da Denise para com a Eneide.”

A médica conta que não entendia o que estava acontecendo. Até que, um dia, quando visitava sua paciente na clínica de repouso, Denise lhe falou de seu relacionamento, e da recusa da mãe em aceitar a homossexualidade da filha. Mas o Alzheimer mudaria tudo isso.

“Quando a dona Eneide desenvolve a demência, essas convenções sociais caem por terra”, conta Celene. “E ela começa a dar espaço para essa aproximação que, eu acho, a Denise desejava tanto.”

Dois anos após a morte de Eneide, em entrevista por Zoom à BBC News Brasil, Denise ri, maravilhada, ao recordar os últimos quatro anos na vida da mãe. Não ficou nada mal resolvido, diz.

“Quando a minha mãe chegou nesse nível maior do Alzheimer, virou a chavinha. Como se essa couraça que ela desenvolveu para se proteger de tanto sofrimento na vida tivesse caído, vindo abaixo.”

“E aí foram os melhores anos da minha mãe, e os melhores anos meus com ela. Conheci aquela mulher alegre, risonha, que fazia todo mundo sorrir. Carinhosa, abraçava, beijava. Foi uma coisa incrível. Eu vejo que o Alzheimer deu para a minha mãe e para mim uma oportunidade de a gente fazer um resgate. Foi uma história linda.”

Os efeitos inesperados da demência

Na experiência de Eneide, a doença de Alzheimer não apagou apenas regras e convenções sociais. A demência fez também o que anos de terapia e medicamentos não tinham conseguido fazer: eliminou da memória de Eneide sua experiência traumática de violência.

“No caso da Eneide, a demência foi um presente, porque ela pôde apagar essa memória muito triste e pôde voltar a ser a pessoa alegre que ela era antes”, reflete Celene. Mas, infelizmente, não é assim para todos, diz a médica.

“Eu conheço uma senhora que até hoje repete: ‘não bate na criança’. Porque o marido dela era muito violento com os filhos. Até hoje ela verbaliza isso: ‘Ai, coitadinha, não bate.’ Tem pessoas que ficam com essas recordações por terem um valor afetivo muito grande.”

Lígia e Áurea – Levar pessoa com demência para a instituição é abandonar?

A dona de casa Lígia Galli tem 59 anos. Sua mãe, Áurea Moraes Galli, tem 81 anos e recebeu o diagnóstico de demência em 2012. Desde então, Áurea vive em uma instituição de longa permanência (ILPI).

“Minha mãe sempre foi uma pessoa ativa, prestimosa com a casa, com os cuidados com os filhos. Fazia tricô, crochê, bordado. Ela cozinhava extremamente bem, fazia pinturas a óleo lindíssimas”, conta Lígia.

“Então eu notei muita diferença, retomando, após a morte do meu pai. Quando eu ia visitá-la, a casa estava muito suja, muito largada, com um cheiro ruim, comida estragada na geladeira. Era uma coisa que chocava a mim porque minha mãe não passava nem perto de um tipo de comportamento assim.”

Logo, Lígia percebe que a mãe não pode mais viver sozinha. Seu depoimento nos remete a um dilema quase universal entre pessoas afetadas pela demência: cuidar em casa ou levar para uma ILPI?

“Várias pessoas falaram em colocar minha mãe numa clínica, mas para mim, naquele momento, aquilo era impensável. Aquela ideia de que a gente vai abandonar o idoso, largar aos cuidados de estranhos”, diz.

Lígia decide levar a mãe para morar com ela em Indaiatuba, interior de São Paulo. Ela conta que, no começo, sua filha, que tinha 7 anos de idade, achava certas situações engraçadas.

“Porque minha mãe ainda mantinha um bom humor”, lembra. “Com piadas, com coisas engraçadas, que começaram a ser misturadas com momentos de raiva, mau humor, desespero, de falar sozinha, de tirar a fralda e guardar as fezes em gaveta.”

“Começou um drama muito grande”, lembra Lígia. De um lado, a filha, aos prantos. De outro, uma mãe que agora precisava de atenção 24 horas por dia.

“E quanto mais difícil a situação ficava, mais eu achava que tinha de ser capaz de cuidar”, lembra.

Para ter um pouco de descanso, Lígia começa a levar Áurea para passar o dia em uma clínica.

“Quando eu chegava em casa, o dia que ela ficava em casa, eu abria a porta e sentia o cheiro de fezes. Eu brigava com ela. Sentava no banheiro, fechava tudo, chorava, chorava. Senão eu ia realmente perder a paciência com ela.”

Do consultório, a geriatra Celene Pinheiro acompanhou a luta de Lígia para cuidar da mãe.

“A Lígia é minha paciente. Ela veio me contando como foi o diagnóstico da mãe, de doença de Alzheimer.”

“Ela estava se desdobrando, se desgastando, sofrendo, até que ela fala: ‘meu Deus, só tem uma saída: pedir ajuda especializada'”, recorda a médica.

Mas Lígia ainda precisou de um último empurrão. Um dia, ela recebe um telefonema da clínica onde a mãe estava passando o dia. Áurea tinha caído e sofrido várias fraturas.

“Depois desse acidente, para mim ficou claro que ela tinha de ir para uma clínica de longa permanência”, diz Lígia.

“Minha prima ainda brincou: ‘coitada da tia Aurinha. Deus teve que quebrar a sua mãe toda para você entender que era hora de levar ela para uma clínica. Para ter um tratamento adequado e você também, de ficar cuidando de você e da sua filha.'”

Quando você leva um idoso com demência para uma ILPI, está atendendo a uma necessidade dele, diz Celene Pinheiro.

“Eu falo para os filhos dos meus pacientes, você sabe ler e escrever? Quando seu filho entrou na idade de ser alfabetizado, você levou para a escola, para que ele fosse alfabetizado por especialistas em fazer isso. Não está abandonando seu filho.”

Quando se trata de um idoso com demência, você tem de pensar assim, prossegue a médica. “Você sabe cuidar, mas às vezes a pessoa precisa de algo a mais.”

Livre da responsabilidade de cuidar, Lígia passa a se relacionar com a mãe de maneira diferente.

“Ela me disse que pela primeira vez, depois de muito tempo, se sentia filha da mãe dela”, diz a geriatra.

E é como filha que Lígia viverá um encontro inesquecível com a mãe.

“Um dia, cheguei em uma visita e estava tão triste, tão abalada, com tanto problema da minha filha, do meu marido, falta de dinheiro…”, conta.

“Minha mãe estava no terraço sozinha, sentei e comecei a conversar com ela. Até hoje eu converso com ela, como se ela entendesse. Acaba saindo sem querer e acho que alguma coisinha sobra, lá dentro da cabecinha dela. E eu deitei no colo dela. E chorei tanto, tanto. Falei, ‘poxa mãe, estou com tanto problema’.”

Lígia continua.

“Ela passou a mão na minha cabeça e falou: ‘ah, coitadinha, ela tá triste.’ E falou: ‘eu te amo’. Foi a primeira vez, na minha vida, que eu ouvi a minha mãe falar ‘eu te amo’. Eu chorei muito, e em seguida ela começou a cantar ‘boi, boi, boi, boi da cara preta…’. Que é uma música que ela canta até hoje.”

“Foi um consolo”, conta. “O momento de amor que eu nunca tinha recebido da minha mãe a minha vida inteira. Recebi aquele dia.”

Em seguida, sorrindo entre as lágrimas, Lígia pede: “Você tem um lencinho aí pra mim?”

Como se comunicar com quem tem demência? O poder da linguagem não verbal

Ao ler o relato desse precioso encontro entre mãe e filha, alguns talvez se perguntem: mas então, onde é que estava esse sentimento que Áurea expressa? Onde fica guardado o amor?

Talvez não haja uma resposta, claro. Mas o episódio sugere que pessoas com demência são, sim, capazes de sentir e expressar amor.

Para Celene, essa história ilustra a importância da comunicação não verbal com pessoas que têm demência.

“Se a Lígia falasse para a mãe, ‘mãe, eu estou triste’, talvez a mãe não compreendesse porque, muitas vezes, ela não entende o significado da palavra em si. Mas à medida que ela deita no colo da mãe, se coloca nessa posição de fragilidade e chora, e externa esse sentimento dela, a mãe percebe pela posição, e pelo choro, a situação que a filha está passando. E aí ela compreende, e fala: ‘tadinha, ela está triste’.”

Na verdade, pondera a médica, não se trata de entender com a razão.

“Ela entendeu da forma como ela podia, ou (melhor), acho que ela não entendeu, ela sentiu. Tem coisas que não passam pelo campo da compreensão, passam pelo campo do sentimento.”

Por outro lado, observa a médica, uma expressão facial hostil, ou alarmada, pode assustar a pessoa que tem demência.

“Isso é muito nítido. Às vezes, você pode falar uma coisa que não seja agressiva, mas por uma feição agressiva, a pessoa se assusta.”

Um dilema e um privilégio

Antes de concluirmos a história de Lígia e Áurea, é importante ressaltarmos que, para a grande maioria dos brasileiros, o dilema vivido por Lígia — cuidar em casa ou na instituição? — é quase um privilégio. E por que privilégio?

Segundo Celene Pinheiro, que além de geriatra é também presidente voluntária da regional paulista da Associação Brasileira de Alzheimer e Outras Demências (ABRAz), estima-se que entre 1,5 e 2 milhões de pessoas vivam hoje com alguma forma de demência no Brasil.

Faltam estudos sobre o tema, a médica explica, e os números são imprecisos. Ainda assim, aqui vão dados preliminares fornecidos pela Frente Nacional de Fortalecimento às ILPIs:

  • Haveria 7 mil ILPIs no Brasil, abrigando por volta de 300 mil idosos.
  • Dessas ILPIs, 5% apenas seriam públicas. Outras 35% seriam filantrópicas (muitas das quais pagas) e 60% particulares.
  • Entre as pagas, as mensalidades oscilariam entre 70% de um salário mínimo e R$ 20 mil reais.

Ou seja, há uma carência gritante de ILPIs no país. E entre as instituições que existem, a maioria está fora do alcance do brasileiro comum.

Para esses brasileiros, a mensagem da geriatra é: peça ajuda.

“Procure a assistente social no posto de saúde mais próximo”, ela sugere. “Busque saber que recursos estão disponíveis. Medicamentos? Fraldas?”

Ela prossegue.

“É importante que a família se sensibilize e se mobilize para cuidar desse idoso. Muitas vezes, fica uma só pessoa cuidando, isso é muito cruel com quem cuida”, comenta.

Por fim, diz Celene, as instituições de apoio (entre elas a ABRAz) oferecem uma gama de serviços. Aconselhamento jurídico, por exemplo.

“Às vezes, a orientação jurídica permite que a pessoa viabilize recursos para cuidar desse idoso.”

As associações também oferecem suporte emocional e oportunidades para que cuidadores e outras pessoas afetadas pela demência se encontrem, se apoiem mutuamente, troquem experiências e recebam informações práticas sobre como cuidar, explica.

A médica deixa claro que tudo isso está longe de ser suficiente. Mas diz que profissionais de saúde como ela e entidades de apoio vêm pressionando autoridades e políticos para que promovam mais pesquisas sobre as demências e aumentem a oferta de serviços e de instituições públicas para pacientes.

Não por acaso, acaba de ser aprovado no Senado um projeto de lei que institui uma política nacional de enfrentamento à doença de Alzheimer e outras demências.

“Vamos avançar para aumentar o acesso ao cuidado de qualidade e às instituições”, diz.

Mas nem todo paciente com demência precisa ser cuidado em uma instituição. A história que encerra essa reportagem é uma experiência de cuidar bem — em casa.

Luzia da Silva, 81 anos, vive com Alzheimer e outras demências há pelo menos 8 anos. Ela mora com a filha, a professora aposentada Ivani Alexandre, 59 anos — Foto: Arquivo Pessoal

Ivani e Luzia – O que é um bom evoluir da demência?

Ivani Alexandre, professora aposentada, tem 59 anos. Sua mãe, Luzia da Silva, com 81 anos, vive com Alzheimer e outras demências há pelo menos 8 anos.

“Minha mãe costurava, quando foi para a minha casa ainda costurou. Costurou uma colcha de retalhos maravilhosa, mas nos últimos retalhos foi muito difícil, e eu falo que essa colcha de retalhos foi a história da minha aceitação.”

“Eu insistindo e e eu percebendo que cada dia ela tinha uma dificuldade. Ela não gravava o que tinha feito no dia anterior e a gente começava do zero. Sempre começando do zero. Mas foi super bacana essa colcha, e aí eu entendi.”

Celene Pinheiro diz que começou a atender Luzia em 2012.

“A Ivani percebeu que era entrando nesse mundo de novas necessidades da dona Luzia, e atendendo a essas necessidades, que ela ia conseguir tanto estimular a dona Luzia como também trazer muito mais conforto e serenidade”, diz.

As demências são doenças degenerativas e progressivas, diz a médica. Elas vão piorar — mas podem evoluir de formas diferentes.

O bom evoluir da demência se apoia em dois grandes pilares, explica. Um é a saúde geral do paciente — que depende de fatores como boa alimentação, exercícios físicos e o controle de doenças crônicas como diabetes, por exemplo.

O outro grande pilar tem a ver com as interações sociais, a qualidade do ambiente, o entorno da pessoa.

“Tem casos de pessoas que têm diagnóstico de demência há bem mais de dez anos e estão estáveis porque têm engajamento social, uma vivência interessante com a família, uma vida bem organizada no sentido da rotina”, diz. “Você vê que essas pessoas evoluem melhor.”

Aqui, a médica toca em um ponto central ao novo jeito de pensar a demência que surge no Brasil e no mundo: chega de segregação. A pessoa com demência precisa ser incluída na sociedade, ela defende.

Como incluir a pessoa com demência e quem ganha com isso?

Como educadora, Ivani já tinha familiaridade com o conceito de inclusão. Ela conta que, quando era professora de educação física, adorava ver crianças com deficiência e sem deficiência fazendo aula juntas. Ela diz à BBC News Brasil que, hoje, pratica inclusão em casa, com a mãe.

A família mora em uma chácara. Luzia é incentivada a contribuir com pequenas tarefas, como debulhar feijão, por exemplo.

“A coordenação fina dela ainda é muito boa”, explica.

Mas a história vai ficar ainda mais interessante. Por causa da pandemia, a neta de Ivani, Dyanna, com 4 anos de idade, vem passar uma temporada na chácara.

Agora, são quatro gerações em convivência: Luzia, Ivani e seu marido, o filho do casal e a neta. “A gente foi construindo um relacionamento”, conta.

Bisneta e bisavó passam a fazer refeições juntas. Luzia torna-se “a ajudante” de Dyanna e participa das atividades escolares. “Minha mãe sempre prestativa”, comenta Ivani. “Afinal, ela quer ser útil.”

“Por exemplo, meu filho e minha neta fizeram um bilboquê e a minha mãe brincou junto”, lembra. “Ela mostrou uma habilidade, todo mundo ficou admirado, aplaudiu, e ela ficou toda feliz, sorridente.”

Ivani não se esquiva de falar do aspecto mais dolorido dessa convivência com a demência.

“Sinto falta do sorriso, que é a presença dela mesmo. Não gosto muito quando ela está com aquele ar ausente, isso me machuca. E a minha neta trouxe essa vivacidade para a minha mãe.”

Luzia, por sua vez, também oferece a Dyanna oportunidades de se incluir e fazer sua contribuição.

“Havia alguns momentos em que minha mãe falava para a Dyanna: ‘ah, vou embora’.”

“Ela levantava, ia saindo, e não dava tempo de a Dyanna vir contar para mim, para eu tomar uma atitude.”

Esse, aliás, é um quadro comum entre pacientes com demência. Durante certos períodos do dia, ficam inquietos e começam a vagar, forçar as portas e querer ir embora. Médicos chamam esse comportamento de Síndrome do Pôr do Sol. Dyanna logo aprende a lidar com ele.

“Ela corria atrás da minha mãe, pegava pela mão e explicava: ‘não, bisa, você mora aqui.’ Aí ela levava a minha mãe no quarto: ‘olha, aqui é seu quarto, aqui é seu banheiro.’ Ela estava repetindo os gestos que tinha me visto fazer”, conta. “Ela se prontificou a ser cuidadora também.”

O depoimento de Ivani é repleto de momentos encantadores, em que bisavó e bisneta parecem habitar um mundo só delas. Dyanna e Luzia pescando. Dyanna sentada na poltrona ao lado da cama da bisavó, trocando histórias.

“A conversa ia longe! E eu ouvindo atrás da porta, para saber se estavam fazendo arte.”

E o episódio em que Dyanna tenta convencer a a avó a sentar em um pequenino balanço, feito sob medida para a criança.

“Se eu não tivesse surtado, eu deveria ter filmado: ‘Não, bisa, senta aqui, põe uma perna, depois põe a outra… não, não tem problema, não vai acontecer nada’.”

Ivani ri, deliciada, ao recordar o episódio.

“E minha mãe simplesmente indo… não têm amarras, nenhuma das duas.”

Poder trocar histórias, conviver e participar da vida da família eleva muito a autoestima da pessoa que tem demência, diz Celene. Mas para a geriatra, a história de Ivani, Luzia e Dyanna mostra que não só o idoso se beneficia.

“A criança também, começa a perceber o outro, a não olhar só para si.”

“E ganha a cuidadora Ivani, que aprendeu tanto e tem tido momentos tão ricos de convívio.”

Dizendo adeus aos poucos

Ao longo de várias entrevistas à BBC News Brasil, Celene Pinheiro não esconde seu desejo de mudar a imagem que se faz das demências. Mas ela reconhece: “Ninguém quer ter de enfrentar um caso de demência na família.”

Por outro lado, “quantos perdem familiares de forma repentina e sofrem tanto”, observa. A demência pode ser a oportunidade de uma despedida gradativa.

“Quando você percebe que essa é uma condição que vai levar tempo para acontecer, e que você pode fazer dele um tempo bom, e se permitir ter esses momentos bonitos, é muito engrandecedor.”

Mas as palavras finais de Celene Pinheiro vão para quem não conseguiu se enxergar nos relatos de Lígia, Ivani e Denise.

Ela conta que, em 18 anos de geriatria, já viu muitas famílias saírem do consultório ou da sala de palestras se sentindo culpadas.

“Não estamos pregando modelos virtuosos, que devam ser erguidos”, explica. “Conhecemos muito mais histórias tristes do que bem sucedidas. Mas, quem sabe ouvir histórias positivas nos ajuda a vislumbrar outras possibilidades?”

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Pesquisa mostra uma nova possível causa para o Alzheimer

site-copiaEm um novo artigo publicado no Journal of Proteome Research, pesquisadores da Universidade Califórnia em Riverside (UCR), Estados Unidos, parecem ter descoberto o que causa uma das demências mais comuns na população idosa: o Alzheimer. Segundo a pesquisa, a doença pode acontecer por conta da perda da habilidade das células de fazer a autofagia — processo natural no qual elas consomem e desintegram suas proteínas, reciclando os materiais. À medida que esse processo enfraquece, há acúmulo desses componentes durante longos períodos no cérebro, o que causa perda de memória e alterações de personalidade associadas à demência.Os cientistas também descobriram que o quadro clínico pode estar associado a duas condições no cérebro: acúmulo de placas de proteínas beta-amiloides e desordem de novelos neurofibrilares, composta principalmente por uma proteína chamada tau — que pode matar os neurônios.

Ryan Julian, coautor do artigo e professor de química da UCR disse que aproximadamente 20% das pessoas têm as placas, mas nenhum sinal de demência, isso faz parecer que as placas em si não são a causa da doença.

Logo, a equipe associou que os acúmulos parecem estar associados ao Alzheimer, mas não como causa direta. Buscando entender melhor esse processo, os pesquisadores direcionaram o estudo para a maneira como a proteína tau se manifesta nos cérebros de pessoas com e sem sintomas de demência.

Entendendo a causa do Alzheimer

A pesquisa focou nas diferentes formas que uma única molécula pode assumir, chamadas de isômeros. Na química, são isômeras duas moléculas que possuem a mesma composição, mas suas ligações formam diferentes configurações geométricas. Quer um exemplo disto? Nossas mãos são “isômeras” uma da outra, como se fossem imagens espelhadas, mas não cópias exatas.

Da mesma forma, os aminoácidos (partículas que compõem as proteínas) podem ser isômeros que chamaremos de “destros” (dextrogiros) ou “canhotos” (levogiros). De acordo com Julian, as proteínas nos seres vivos são feitas de todos os aminoácidos canhotos.

Apesar disso, os cientistas identificaram em pacientes com Alzheimer, que os acúmulos das placas contêm proteínas tau destras, enquanto nos que não manifestaram sintomas da doença continuam no padrão — sendo canhotas.

O pesquisador disse em comunicado à imprensa da universidade que isso pode gerar problemas no metabolismo. Funciona assim, se você tentar colocar uma luva destra na sua mão esquerda, não irá dar certo. É um problema semelhante em biologia; as moléculas não funcionam como deveriam depois de um tempo, porque uma luva canhota pode realmente se converter em uma luva destra que não se encaixa, explicou Julian.

Evolução no tratamento do Alzheimer

Os pesquisadores da UCR estão planejando estudar o que causa a desaceleração do processo de autofagia. Mesmo assim, os resultados apresentados já são suficientes para a elaboração de testes de tratamentos.Além disso, alguns medicamentos também estão sendo testados para incitar a autofagia artificialmente. Julian pontua que uma desaceleração na autofagia é a causa principal, então medidas que a estimulam devem ter um efeito oposto e benéfico.

Como ser fisicamente ativo pode proteger o cérebro que envelhece

1Manter-se fisicamente ativo à medida que envelhecemos reduz significativamente nosso risco de desenvolver demência durante a vida, e isso não inclui exercícios prolongados. Andar e até simplesmente mover-se, em vez de ficar horas sentado, pode ser o suficiente para ajudar a fortalecer o cérebro, explica um novo estudo com octogenários de Chicago, nos Estados Unidos.

A pesquisa rastreou a frequência com que as pessoas mais velhas se moviam ou ficavam sentadas e, em seguida, examinou profundamente seus cérebros após a morte, descobrindo que certas células imunológicas vitais funcionavam de maneira diferente no cérebro de pessoas mais velhas que eram ativas em comparação com seus pares mais sedentários.

A atividade física parecia influenciar a saúde de seus cérebros, suas habilidades de pensamento e se eles experimentaram a perda de memória característica do Alzheimer. As descobertas aumentam as evidências de que, quando movimentamos nossos corpos, mudamos nossas mentes, independentemente do quão avançada seja nossa idade.

Muitas evidências científicas indicam que a atividade física aumenta o tamanho do nosso cérebro. Pessoas mais velhas e sedentárias que começam a andar por cerca de uma hora na maioria dos dias, por exemplo, normalmente adicionam volume ao hipocampo, o centro de memória do cérebro, reduzindo ou revertendo o encolhimento que normalmente ocorre ao longo dos anos.

Pessoas ativas de meia-idade ou mais velhas também tendem a ter um desempenho melhor em testes de memória e habilidades de pensamento do que pessoas da mesma idade que raramente se exercitam e têm quase metade da probabilidade de, eventualmente, serem diagnosticadas com Alzheimer. As pessoas ativas que desenvolvem demência geralmente apresentam seus primeiros sintomas anos mais tarde do que as pessoas inativas.

Células imunes e vigilantes

O mecanismo exato que faz o exercício remodelar nossos cérebros ainda permanece um mistério embora os cientistas tenham indícios de experimentos com animais. Quando ratos e camundongos de laboratório adultos correm sobre rodas, por exemplo, eles aumenam a produção de hormônios e substâncias neuroquímicas que estimulam a criação de novos neurônios, bem como sinapses, vasos sanguíneos e outros tecidos que conectam e nutrem essas células cerebrais jovens.

O exercício feito pelos roedores também retarda ou interrompe os declínios relacionados ao envelhecimento no cérebro dos animais, mostram estudos, em parte pelo fortalecimento de células especializadas chamadas micróglia. Pouco compreendidas até recentemente, essas células são agora conhecidas por serem células imunes e vigilantes do cérebro.

Elas procuram sinais de diminuição da saúde neuronal e, quando as células em declínio são detectadas, liberam substâncias neuroquímicas que iniciam uma resposta inflamatória. A inflamação, a curto prazo, ajuda a limpar as células problemáticas e quaisquer outros resíduos biológicos. Depois, a micróglia libera outras mensagens químicas que acalmam a inflamação, mantendo o cérebro saudável e organizado e o pensamento do animal intacto.

Mas, à medida que os animais envelhecem, descobriram estudos recentes, sua micróglia pode começar a funcionar mal, iniciando a inflamação sem revertê-la posteriormente, levando a uma inflamação cerebral contínua. Essa inflamação crônica pode matar células saudáveis e causar problemas de memória e aprendizagem, às vezes graves o suficiente para induzir uma versão “roedora” do Alzheimer.

A menos que os animais se exercitem. Nesse caso, exames póstumos de seus tecidos mostram que os cérebros dos animais normalmente fervilham de micróglia saudável e útil até a velhice, exibindo poucos sinais de inflamação cerebral contínua, enquanto os próprios roedores idosos mantinham uma capacidade juvenil de cognição e memória.

Ampla base de dados

No entanto, não somos ratos e, embora tenhamos micróglia, os cientistas não haviam encontrado uma maneira de estudar se a atividade física regular à medida que envelhecemos influenciaria — ou não — o funcionamento interno das células micróglias. Assim, para o novo estudo, que foi publicado em novembro no Journal of Neuroscience, cientistas do Centro Médico da Universidade Rush, de Chicago, e da Universidade da Califórnia, em San Francisco, além de outras instituições, recorreram a dados do ambicioso Projeto Rush de Memória e Envelhecimento. Para este estudo, centenas de cidadãos de Chicago, a maioria na casa dos 80 e poucos anos, participaram de extensos testes anuais de pensamento e memória e usaram monitores de atividade por pelo menos uma semana. Poucos faziam exercícios de verdade, mostrou o monitoramento, mas alguns se moviam ou andavam com muito mais frequência do que outros.

Muitos dos participantes morreram com o estudo em andamento, e os pesquisadores examinaram os tecidos cerebrais armazenados de 167 deles, em busca de marcadores bioquímicos remanescentes da atividade microglial. Eles queriam ver, de fato, se a micróglia das pessoas parecia ter sido perpetuamente superestimulada durante seus últimos anos, levando à inflamação do cérebro, ou se era capaz de diminuir sua atividade quando apropriado, bloqueando o processo inflamatório.

Os pesquisadores também procuraram características biológicas características do Alzheimer, como as placas e os emaranhados reveladores que assolam o cérebro. Em seguida, cruzaram esses dados com informações dos rastreadores de atividade das pessoas.

Eles descobriram uma forte relação entre manter-se em movimento e uma micróglia saudável, especialmente em partes do cérebro ligadas à memória. As células micróglias de homens e mulheres idosos mais ativos continham marcadores bioquímicos que indicavam que as células sabiam como ficar quietas quando necessário. Mas a micróglia de participantes sedentários mostrou sinais de ter ficado presa em um excesso de atividade durante seus anos finais. Esses homens e mulheres inativos geralmente também pontuaram mais baixo em testes cognitivos.

Talvez o mais interessante, porém, é que esses efeitos foram melhores em pessoas cujos cérebros mostraram sinais do Alzheimer quando morreram, independentemente de terem ou não graves problemas de memória enquanto ainda estavam vivos. Se essas pessoas fossem inativas, sua micróglia tenderia a parecer bastante disfuncional e sua memória, irregular. Mas se as pessoas se movimentassem com frequência durante a vida adulta, sua micróglia geralmente teria um aspecto saudável após a morte, e muitos não haviam experimentado perda de memória expressiva em seus últimos anos. Seus cérebros podem até ter mostrado sinais de Alzheimer, mas suas vidas e habilidades de pensamento não.

Volume de atividade necessária não é grande

O que essas descobertas sugerem é que a atividade física pode atrasar ou alterar a perda de memória do Alzheimer em pessoas mais velhas, em parte por manter a micróglia em forma, explicou Kaitlin Casaletto, professora assistente de neuropsicologia do Centro de Memória e Envelhecimento da Universidade da Califórnia, que conduziu o novo estudo.

De forma encorajadora, o volume de atividade necessária para ver esses benefícios não era grande, disse Casaletto. Nenhum dos participantes correu maratonas em seus anos finais. Poucos haviam se exercitado formalmente. “Mas havia uma relação linear” entre o sedentarismo deles e a saúde do cérebro, disse ela.

— Quanto menos se sentavam, mais ficavam em pé, quanto mais se moviam, melhores foram os resultados — explicou.

O estudo é importante, disse Mark Gluck, professor de neurociência da Universidade de Rutgers em New Jersey, que não esteve envolvido na pesquisa. Os resultados são “os primeiros a usar análises póstumas do tecido cerebral para mostrar que um marcador de inflamação no cérebro, a ativação da micróglia, parece ser o mecanismo pelo qual a atividade física pode reduzir a inflamação do cérebro e ajudar a proteger contra os estragos cognitivos do Alzheimer”, disse ele, embora sejam necessárias mais pesquisas em pessoas vivas.

Além disso, ninguém acredita que a micróglia seja o único aspecto do cérebro afetado pelo movimento, conclui Casaletto. A atividade física altera inúmeras outras células, genes e substâncias químicas no órgão, ela continua, e alguns desses efeitos podem ser mais importantes do que a micróglia para nos manter mentalmente aguçados.

Esse estudo também não prova que a atividade faz com que a micróglia funcione melhor, apenas que a presença dessa célula saudável é comum em pessoas que são ativas. Por fim, não nos diz se obtemos benefícios adicionais para o cérebro por sermos fisicamente ativos quando temos muito menos de 80 anos. Mas Casaletto, que tem 36 anos, disse que os resultados do estudo a fazem continuar se exercitando.

Estado de flow: estudo diz como levar o cérebro ao ápice da produtividade

site-copiaVocê já ouviu falar do estado de flow? Conhecido também como estado de fluxo, trata-se de uma condição momentânea em que o cérebro atinge o ápice da concentração e da produtividade, de modo que se desligue a qualquer distração que houver ao redor. Em um estudo publicado na revista científica Journal of Communication, pesquisadores da Universidade de Oxford tentaram entender como conduzir o cérebro a esse estado.

Para investigar como o cérebro entra nesse estado, os pesquisadores pediram a 142 pessoas para jogar videogame. Quando o nível de dificuldade do jogo era muito baixo, os participantes relatavam um estado de tédio, enquanto um nível muito alto de dificuldade resultava em frustração. Já na dificuldade mediana, os jogadores se envolviam totalmente.

A descoberta inicial levou os autores do artigo a compreender que o estado de fluxo surge quando uma pessoa está tão imersa em uma atividade que mal percebe qualquer distração, mas também é capaz de completar essa tarefa com facilidade o suficiente para não ficar frustrada.

Com isso em mente, os cientistas tentaram distrair os participantes do estudo com um círculo vermelho no canto da tela. A ideia é que os participantes teriam que relatar sempre que percebessem esse círculo. Na dificuldade mediana, os jogadores estavam tão concentrados que percebiam mais lentamente essa distração.

O que é o estado de fluxo?

Através da ressonância magnética, os cientistas descobriram que no estado de fluxo, a conectividade dentro de determinadas redes cerebrais se torna mais forte. Segundo o artigo, as configurações cerebrais modulares ficam mais “eficientes”, o que pode explicar por que tarefas complexas parecem mais fáceis de se executar.

Os cientistas perceberam esse efeito principalmente em uma região cerebral chamada rede executiva central, também conhecida como rede frontoparietal, que está associada à atenção focada e resolução de problemas complexos.