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Fadiga pode impulsionar decisões ruins para preservar saúde do cérebro, diz estudo

Depois de um longo dia de trabalho, é muito melhor deixar a louça suja na pia ou adiar as finanças, certo? Não chame isso apenas de preguiça: depois de um longo período pensando muito, tomar decisões que favorecem a facilidade no curto prazo, mas são piores no geral, parece ser uma ferramenta de regulação biológica para combater a fadiga cognitiva, de acordo com um novo estudo publicado na quinta-feira (11) na revista Current Biology.

“Teorias influentes sugeriram que a fadiga é uma espécie de ilusão inventada pelo cérebro para nos fazer parar o que estamos fazendo e nos voltarmos para uma atividade mais gratificante”, disse o autor do estudo, Mathias Pessiglione, diretor de pesquisa do Inserm no Brain and Spine Institute em Paris, em um comunicado de imprensa.

“Nossas descobertas mostram que o trabalho cognitivo resulta em uma verdadeira alteração funcional — acúmulo de substâncias nocivas — então a fadiga seria, de fato, um sinal que nos faria parar de trabalhar, mas com um propósito diferente: preservar a integridade do funcionamento do cérebro”.

No estudo, 40 pessoas receberam uma versão fácil ou difícil de uma tarefa que envolvia diferenciar letras em uma tela por mais de seis horas.

Os participantes relataram seus níveis de fadiga e os pesquisadores usaram espectroscopia de ressonância magnética (MRS) para monitorar sua resposta metabólica durante todo o período do estudo.

Foi oferecida, a cada participante, a escolha de uma recompensa menor imediatamente gratificante que exigisse menos controle cognitivo ou uma que fosse de maior valor a longo prazo, mas envolvia algum controle de impulso (por exemplo, eu lhe darei $ 10 agora ou transferirei $ 50 para sua conta no banco amanhã).

Os participantes que tiveram que pensar mais para a tarefa de seis horas eram mais propensos a receber a recompensa menor, de acordo com o estudo.

Os pesquisadores descobriram que quanto mais os volntários pensavam, mais altos eram os níveis de glutamato, um neurotransmissor que funciona na memória e no aprendizado.

Os resultados mostraram que depois que as pessoas passam longos períodos pensando muito, o acúmulo de glutamato desencadeia uma resposta no cérebro, tornando mais difícil usar o córtex pré-frontal (a área do cérebro que nos permite controlar nossos pensamentos) para que possamos fazer escolhas que são mais impulsivas do que estratégicas, disse o estudo.

Com o pensamento menos controlado colocado nas escolhas após um longo dia, o glutamato menos provável continuará a se acumular em níveis potencialmente tóxicos.

Se você está prestes a tomar uma decisão importante ou tentando evitar que as tarefas se acumulem, é importante garantir que você não esteja muito cansado, disse o autor do estudo Antonius Wiehler, neurocientista cognitivo e pesquisador de pós-doutorado no Paris Brain Institute.

Mas más notícias: também pode ser difícil para as pessoas avaliar com precisão o quão cansadas elas realmente estão, de acordo com o estudo.

Faça pausas e experimente coisas novas

Para aprender a vencer a fadiga cognitiva, primeiro precisamos reconhecer quando isso acontece.

É menos provável que você fique cognitivamente fatigado por uma atividade de que gosta do que por uma que não gosta, disse Phillip Ackerman, professor de psicologia do Instituto de Tecnologia da Geórgia. Ackerman não esteve envolvido no estudo.

Pense em quanto mais mentalmente exausto você pode se sentir depois de 30 minutos lendo um livro do que se ficasse acordado até altas horas da noite lendo um romance, acrescentou.

Dito isto, se você fizer algo que exija poder cerebral por tempo suficiente, provavelmente ficará cansado, de acordo com Ackerman.

Às vezes, não há como evitar os longos períodos de pensamento difícil, e você tem que dar o melhor de suas habilidades. Nesses casos, como você aborda a fadiga cognitiva pode fazer toda a diferença, disse Ackerman.

“Sentir-se cansado não é a mesma coisa que ter um decréscimo de desempenho”, disse ele.

Existem três respostas que as pessoas tendem a ter em relação à sensação de exaustão: continuar a atividade com menos esforço, concentrar-se para superar a tensão ou forçar-se a pensar ainda mais.

A primeira opção geralmente se correlaciona com uma queda no desempenho, pois a tarefa recebe menos atenção e esforço sem um período de descanso para se recuperar verdadeiramente, disse ele. O terceiro pode ser útil para o seu pensamento e concentração, mas se você tiver que continuar por muito tempo, corre o risco de esgotar.

O segundo muitas vezes mantém um nível de desempenho semelhante ou ainda mais alto em toda a linha do tempo do pensamento concentrado, acrescentou.

Na melhor das hipóteses, as pessoas podem evitar a fadiga cognitiva construindo pausas durante o pensamento difícil, disse Ackerman.

Essas pausas podem ser relaxantes para um cérebro cansado se envolverem uma atividade diferente. Mesmo que envolva outra coisa que exija esforço, mudar as coisas pode ajudar a rejuvenescer uma mente cansada, disse ele.

Isso significa que pode ser útil interromper um longo dia de intensa pesquisa com um jogo de cartas com um amigo ou uma caminhada ao ar livre. E tirar o tempo pode significar que quando você voltar ao trabalho, o que você ganha com isso é ainda melhor.

E o verdadeiro descanso também ajuda, disse Pessiglione. “Eu empregaria boas e velhas receitas: descansar e dormir! Há boas evidências de que o glutamato é eliminado das sinapses durante o sono“, disse ele no comunicado.

Fonte: CNN

Como falar outras línguas mexe com nosso cérebro

Falar um segundo ou até um terceiro idioma pode oferecer vantagens óbvias, mas, às vezes, palavras, gramática e até sotaques podem se misturar.

Estou na fila da padaria que frequento em Paris, pedindo desculpas ao atendente. Ele está totalmente confuso. Acabou de perguntar quantas baguetes eu queria e, completamente sem querer, respondi em mandarim, em vez de francês.

Estou igualmente perplexa: minha língua principal é o inglês, e não uso o mandarim devidamente há anos. No entanto, aqui, neste cenário mais parisiense impossível, o mandarim resolveu se reafirmar.

Quem fala mais de uma língua geralmente domina os idiomas que conhece com facilidade. Mas, às vezes, podem ocorrer deslizes acidentais. E a ciência por trás de por que isso acontece está revelando perspectivas surpreendentes sobre como nossos cérebros funcionam.

As pesquisas sobre como as pessoas multilíngues fazem malabarismo com mais de um idioma em suas mentes são complexas, e às vezes, contraintuitivas.

O que acontece é que quando um indivíduo multilíngue quer falar, os idiomas que ele conhece podem estar ativos ao mesmo tempo, mesmo que apenas um seja usado.

Esses idiomas podem interferir uns com os outros, se intrometendo, por exemplo, na fala quando você não espera. E essas interferências podem se manifestar não apenas em lapsos de vocabulário, mas até mesmo na gramática ou no sotaque.

“Pelas pesquisas, sabemos que, sendo bilíngue ou multilíngue, sempre que você fala, todos os idiomas que você conhece são ativados”, diz Mathieu Declerck, pesquisador da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica.

“Por exemplo, quando você quer dizer ‘dog‘ (“cachorro”, em inglês) como um bilíngue de francês-inglês, não apenas a palavra ‘dog‘ é ativada, como também sua tradução equivalente, ‘chien‘ (“cachorro”, em francês), também é ativada.”

Dessa forma, a pessoa que está falando precisa ter algum tipo de processo de controle de linguagem. Se você pensar bem, a capacidade dos indivíduos bilíngues e multilíngues de separar os idiomas que aprenderam é notável.

A forma como fazem isso é normalmente explicada por meio do conceito da inibição, uma supressão das línguas não relevantes.

Quando você pede a um voluntário bilíngue para dizer o nome de uma cor que aparece em uma tela em determinado idioma, e depois o nome da cor seguinte em outro idioma, é possível medir picos de atividade elétrica em partes do cérebro responsáveis pela linguagem e atenção.

Mas quando esse sistema de controle falha, intrusões e lapsos podem ocorrer. Por exemplo, a inibição insuficiente de um idioma pode fazer com que ele “apareça” e se intrometa quando você deveria estar falando em uma língua diferente.

O próprio Declerck, que é belga, está acostumado a misturar idiomas acidentalmente. Seu repertório linguístico inclui holandês, inglês, alemão e francês.

Quando trabalhava na Alemanha, a viagem habitual de trem que fazia para voltar para casa na Bélgica passava por várias regiões com idiomas diferentes, um verdadeiro treino para suas habilidades de alternância de idioma.

“A primeira parte era em alemão, e eu entrava em um trem belga em que a segunda parte era em francês”, diz ele.

“E depois, quando você passa por Bruxelas, eles mudam o idioma para holandês, que é minha língua nativa. Então, neste período de três horas, toda vez que o cobrador vinha, eu tinha que trocar de idioma.”

“Eu sempre respondia no idioma errado, de alguma forma. Era simplesmente impossível acompanhar.”

Na verdade, cenários de troca de idiomas, como esse do trem, mas em laboratório, são frequentemente usados por pesquisadores para aprender mais sobre como pessoas multilíngues dominam os idiomas.

E os erros podem ser uma ótima maneira de compreender melhor como usamos e dominamos os idiomas que sabemos.

Tamar Gollan, professora de psiquiatria da Universidade da Califórnia em San Diego, nos EUA, estuda há anos o domínio da linguagem em indivíduos bilíngues. E sua pesquisa muitas vezes levou a descobertas contraintuitivas.

“Acho que talvez uma das coisas mais singulares que vimos em indivíduos bilíngues quando eles misturam idiomas é que, às vezes, parece que inibem tanto a língua dominante que, na verdade, acabam sendo mais lentos para falar em certos contextos”, diz ela.

Em outras palavras, a língua dominante de uma pessoa multilíngue pode sofrer um impacto maior em certos cenários.

Por exemplo, na tarefa de nomear as cores, descrita anteriormente, pode levar mais tempo para um participante lembrar o nome de uma cor no seu primeiro idioma quando estava sintonizado no segundo idioma antes, em comparação com a situação inversa.

Em um de seus experimentos, Gollan analisou as habilidades de alternância de idioma de pessoas bilíngues em espanhol-inglês, fazendo-as ler em voz alta parágrafos que estavam apenas em inglês, apenas em espanhol, e parágrafos que misturavam aleatoriamente inglês e espanhol.

Os resultados foram surpreendentes. Mesmo que estivessem com os textos bem ali na frente deles, os participantes ainda cometeriam “erros de intrusão” ao ler em voz alta, dizendo acidentalmente, por exemplo, a palavra espanhola “pero” (que significa “mas”), em vez da palavra correspondente em inglês “but“.

Esse tipo de erro acontecia quase exclusivamente quando estavam lendo em voz alta os parágrafos mistos, o que exigia alternar entre os idiomas.

O mais surpreendente foi que uma grande proporção desses erros de intrusão não eram palavras que os participantes haviam “pulado”.

Por meio do uso da tecnologia de rastreamento ocular, Gollan e sua equipe descobriram que esses erros eram cometidos mesmo quando os participantes olhavam diretamente para a palavra em questão.

E embora o inglês fosse a língua principal da maioria dos participantes, eles cometeram mais erros de intrusão com palavras em inglês do que com as palavras que deviam dizer em espanhol, idioma que não dominavam tanto algo que, segundo Gollan, é quase como uma inversão do domínio do idioma.

“Acho que a melhor analogia é imaginar que há uma condição na qual você de repente se torna melhor em escrever com sua mão não dominante”, diz ela.

“Chamamos isso de dominância invertida, e estamos dando grande importância a isso, porque quanto mais penso sobre isso, mais percebo o quão único e louco isso é.”

Isso pode acontecer, inclusive, quando estamos aprendendo uma segunda língua, quando os adultos estão imersos no novo idioma, podem achar mais difícil acessar as palavras na sua língua nativa.

De acordo com Gollan, os efeitos da dominância invertida podem ser particularmente evidentes quando os bilíngues alternam entre os idiomas em uma mesma conversa.

Ela explica que, ao misturar idiomas, os multilíngues fazem uma espécie de malabarismo, inibindo o idioma mais forte para equilibrar as coisas e, às vezes, vão longe demais na direção errada.

“Os bilíngues tentam tornar as duas línguas igualmente acessíveis, inibindo a língua dominante para facilitar a alternância”, diz ela. “Mas, às vezes, eles ‘excedem’ nessa inibição, e acabam falando mais devagar do que na língua que não é dominante.”

Os experimentos conduzidos por Gollan também se depararam com a dominância invertida em outra área surpreendente: a pronúncia.

Os participantes, às vezes, liam uma palavra no idioma certo, mas com o sotaque equivocado. E, novamente, isso acontecia mais com as palavras em inglês (idioma dominante) do que em espanhol.

“Às vezes, os bilíngues falam a palavra certa, mas com o sotaque errado, o que é uma dissociação realmente interessante que indica que o controle da linguagem está sendo aplicado em diferentes níveis de processamento”, diz Gollan.

“E há uma separação entre a especificação do sotaque e a especificação de qual léxico você vai extrair as palavras.”

Até mesmo o uso da gramática na nossa língua nativa pode ser afetado de maneiras surpreendentes, especialmente se você estiver muito imerso em um ambiente linguístico diferente.

“O cérebro é maleável e adaptável”, explica Kristina Kasparian, escritora, tradutora e consultora que estudou neurolinguística na Universidade McGill de Montreal, no Canadá.

“Quando você está imerso em um segundo idioma, isso afeta a maneira como você percebe e processa seu idioma nativo.”

Como parte de um projeto mais amplo feito para sua pesquisa de doutorado, Kasparian e seus colegas realizaram testes com pessoas cujo italiano era a língua nativa e que haviam migrado para o Canadá e aprendido inglês quando adultos.

Todos haviam declarado que seu italiano estava ficando enferrujado e que não o usavam muito no dia a dia.

Os pesquisadores mostraram aos participantes uma série de frases em italiano e pediram a eles para avaliar o quão aceitável eram gramaticalmente.

Ao mesmo tempo, a atividade cerebral deles também foi medida por meio de um método de eletroencefalografia (EEG). As respostas deles foram comparadas às de um grupo de italianos monolíngues que vivia na Itália.

“Havia quatro tipos diferentes de frases, e duas delas eram aceitáveis, tanto em italiano quanto em inglês, e duas delas eram aceitáveis, apenas em italiano”, diz Kasparian.

Os migrantes italianos eram mais propensos a rejeitar frases corretas em italiano como não gramaticais, se não correspondessem à gramática correta do inglês.

E quanto maior a proficiência em inglês, quanto mais tempo moravam no Canadá, e quanto menos usavam o italiano, maior a probabilidade de acharem que as frases corretas em italiano estavam incorretas gramaticalmente.

Eles também apresentaram padrões diferentes de atividade cerebral em comparação com os italianos que viviam na Itália.

E os pesquisadores descobriram que, quando apresentados a frases que eram gramaticalmente aceitáveis, apenas em italiano (mas não em inglês), os italianos que moravam no Canadá apresentavam padrões de atividade cerebral diferentes dos que viviam na Itália.

Na verdade, sua atividade cerebral era mais consistente com o que seria esperado de falantes de inglês, diz Kasparian, sugerindo que seus cérebros estavam processando as frases de maneira diferente de seus homólogos monolíngues na Itália.

O inglês depende mais da ordem das palavras do que o italiano, explica Kasparian. E os migrantes confiavam mais nas pistas gramaticais do inglês, diz ela, embora estivessem lendo em italiano.

“Até o primeiro idioma pode mudar, mesmo que seja um idioma que você usou todos os dias durante a maior parte de sua vida”, afirma.

É claro que a maioria das pessoas multilíngues é capaz de manter a gramática de sua língua nativa sem problema.

Mas o estudo de Kasparian, assim como outros feitos como parte de seu projeto de pesquisa mais amplo, mostram que nossas línguas não são estáticas ao longo da vida, mas mutáveis, competindo ativamente e interferindo umas com as outras.

Navegar por essas interferências talvez seja parte do que torna difícil para um adulto aprender um novo idioma, especialmente se ele cresceu monolíngue.

“Toda vez que você fala esse novo idioma, é como se o outro idioma dissesse: ‘Ei, estou aqui, pronto'”, explica Matt Goldrick, professor de linguística da Universidade Northwestern, em Illinois, nos EUA.

“Então o desafio é que você tem que suprimir essa coisa que é tão automática e tão fácil de fazer, em favor dessa coisa que é incrivelmente difícil de fazer quando você está aprendendo (um idioma) pela primeira vez.”

“Você está tendo que aprender a puxar as rédeas de algo que você normalmente nunca tem que inibir, que apenas sai naturalmente, certo? Não há razão para conter. E acho que essa é uma habilidade muito difícil que alguém tem que desenvolver, e é parte do motivo pelo qual é tão difícil.”

Uma coisa que pode ajudar? Ficar imerso no ambiente da língua estrangeira.

“Você está criando um contexto no qual está retendo fortemente essa outra língua e está praticando bastante, retendo essa outra coisa, de modo que dá espaço para a outra (nova) língua se tornar mais forte”, diz Goldrick.

“E depois, quando você voltar dessa experiência de imersão, provavelmente estará em uma posição na qual será capaz de gerir melhor essa competição”, acrescenta.

“Isso nunca vai acabar, essa competição nunca vai acabar, você só fica melhor em dominá-la.”

Esse domínio é certamente algo em que os multilíngues tendem a ter muita prática.

Muitos pesquisadores argumentam que isso oferece a eles certas vantagens cognitivas, mas é importante observar que ainda não existe um consenso, já que outros afirmam que suas próprias pesquisas não mostram evidências confiáveis de uma vantagem cognitiva bilíngue.

Seja lá como for, o uso das línguas é sem dúvida uma das atividades mais complexas que os seres humanos aprendem a fazer. E ter que dominar vários idiomas tem sido associado a benefícios cognitivos em muitos estudos, dependendo da tarefa e da idade.

Alguns estudos mostraram que pessoas bilíngues apresentam um desempenho melhor em tarefas de controle executivo, por exemplo, em atividades em que os participantes precisam se concentrar em informações contraintuitivas.

Falar vários idiomas também tem sido associado a um retardo no aparecimento dos sintomas de demência.

E, claro, o multilinguismo oferece muitos benefícios óbvios que vão além do cérebro, inclusive o benefício social de poder falar com muita gente.

Mas, embora meu multilinguismo possa ter me oferecido algumas vantagens, não poupou meus rubores.

Um tanto envergonhada, ainda não voltei àquela padaria desde meu incidente linguístico.

Talvez mais idas à padaria sejam necessárias, então. Tudo em nome da prática do domínio do idioma, é claro.

Fonte: BBC

Por que a natação é uma ‘fonte da juventude’ para o cérebro

Não é novidade que o exercício físico é benéfico para o nosso cérebro. Atende a um princípio básico: o que é bom para o nosso coração é bom para o nosso sistema nervoso. Mas será que existe alguma atividade física que ofereça mais vantagens do que outras?

Há muitas razões para ir à piscina, a um lago ou ao mar no verão: para tornar o calor mais suportável, para ter momentos agradáveis, para exercitar os músculos, etc.

Mas a melhor de todas é que a natação é um dos exercícios mais completos para melhorar nossa saúde física… e mental.

E para convencê-lo a continuar lendo este artigo, vamos revelar um segredo. A expressão “fonte da juventude” pode ser literal. E o segredo está na água.

Só para você ter uma prévia: a natação promove a liberação de substâncias no cérebro que melhoram a cognição e a memória, graças em parte ao fato de que ajuda a estabelecer novas conexões cerebrais.

Ajuda nosso corpo a combater o estresse oxidativo e os radicais livres, reduz os níveis de estresse e melhora nosso sistema imunológico. Como um todo, melhora o humor.

Comecemos a nadar.

Em primeiro lugar, os benefícios físicos da natação são inegáveis. É um exercício bastante completo que ativa os principais grupos musculares do corpo.

Além de estimular o sistema cardiovascular, o trabalho realizado acaba sendo muito maior do que em outras atividades, graças à resistência da água.

Outra vantagem é que o corpo, estando submerso, recebe menos impacto físico, e acaba sendo mais fácil de se movimentar.

Mas o condicionamento físico é tão importante quanto a saúde mental.

Descarga de endorfina

Como um bom exercício aeróbico — aquele que requer um esforço do coração e dos pulmões para fornecer oxigênio aos músculos —, a natação produz a liberação de endorfinas.

Estas substâncias são a droga natural do cérebro, pois reduzem a percepção da dor, nos proporcionam prazer e uma imensa sensação de bem-estar e felicidade.

Esta é a razão pela qual a natação é tão viciante, porque as endorfinas secretadas se ligam aos receptores opioides no cérebro, responsáveis ​​por funções como sedação, redução da dor e euforia.

Não se assustem. As endorfinas não são nada negativas, muito pelo contrário.

Entre outras coisas, demonstraram ser efetivas no tratamento da depressão. Alguns estudos mostraram, inclusive, que são muito mais eficazes do que alguns medicamentos antidepressivos.

Neste sentido, a natação como terapia melhora o humor e reduz os sintomas de quem sofre deste transtorno. Isso permitiria reduzir ou até mesmo eliminar a medicação em alguns pacientes.

Parte do efeito antidepressivo pode ser devido à formação de novos neurônios no hipocampo, algo que ocorre após praticar natação.

O hipocampo também é a área do cérebro responsável pela memória e aprendizado.

Treinamento cerebral para todas as idades

Sabemos que a atividade física ajuda a manter nossa mente afiada à medida que envelhecemos, mas não apenas em pessoas idosas. Alguns estudos descobriram que a natação ajuda a desenvolver o cérebro infantil.

Em particular, um estudo recente mostrou que crianças entre 6 e 12 anos têm mais capacidade de lembrar vocabulário após nadar por vários minutos. Esta atividade, portanto, parece reforçar a memória em pessoas de todas as idades.

Outra de suas grandes virtudes é que estimula a função cerebral. Este foi o resultado alcançado após um estudo realizado com nadadores adultos, que, depois de 20 minutos de natação, melhoraram esta função.

Grande parte da responsabilidade por estes benefícios é do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF, na sigla em inglês), um fator de crescimento cerebral que melhora a memória e a cognição. Porque o que diferencia a natação de outras atividades cardiovasculares é justamente que estimula a liberação de BDNF.

Relaxe e desconecte

O motivo poderia ser mais simples do que pensamos: a água. Por um lado, o meio líquido produz relaxamento, mas, além disso, o movimento rítmico da natação nos faz entrar em um estado meditativo.

Soma-se a isso o fato de que na água podemos nos desconectar dos sons que nos rodeiam e ouvir apenas nossa respiração.

Os benefícios não param por aqui. A natação reduz a tensão emocional, uma vez que diminui os níveis de cortisol, o hormônio do estresse.

Também aumenta a produção de serotonina, um dos hormônios da felicidade que nos ajudam a combater a ansiedade, a depressão e o estresse.

E como se não bastasse, as fibras nervosas do corpo caloso — a fiação cerebral que permite a comunicação entre os dois hemisférios — são mais desenvolvidas nos nadadores, graças à precisão das braçadas e à forma como os movimentos cruzados bilaterais são usados ​​para nadar.

E a natação coloca em operação os dois hemisférios, que precisam de uma quantidade maior de oxigênio.

Este aumento da comunicação entre os dois lados do cérebro implica num aumento da cognição e em melhores habilidades de aprendizado.

Mas não vá embora… ainda tem mais!

Um freio para a deterioração cognitiva

Recentemente, um estudo mostrou que a natação suprime o declínio cognitivo em camundongos obesos.

O objetivo deste estudo foi reproduzir em animais o que acontece em humanos quando ganham peso como resultado de uma má alimentação.

Isso se traduz em uma deterioração da capacidade de aprendizado e memória, que está bastante relacionada à inflamação do tecido nervoso e à diminuição dos fatores neurotróficos e de crescimento no cérebro.

A natação reverte estas mudanças anormais. Consequentemente, salva camundongos obesos da deterioração da capacidade de aprendizado e memória, reduzindo a obesidade, diminuindo a inflamação do hipocampo e aumentando a produção de fatores neurotróficos como o BDNF.

Se você nada habitualmente, certamente não havia pensado em tudo o que esta atividade oferece. Então, de agora em diante, depois da onda após nadar ou do vício por piscina, pense em tudo o que está acontecendo no seu cérebro ao praticar natação.

Para aqueles que não nadam, se você precisa de uma desculpa para pular na piscina, considere este artigo como um sinal.

Quem sabe? O segredo da fonte da juventude também é encontrado na água.

Fonte:  The Conversation

Idosos são mais felizes que adultos na meia-idade, mostra estudos

A maioria das pessoas teme o envelhecimento por seu declínio físico e mental. Mas um novo estudo, realizado em conjunto pela National Geographic e pela AARP (American Association of Retired Persons, que reúne pessoas com mais de 50 anos em torno da ideia de aposentadoria), mostra que as pessoas mais velhas são muito mais felizes do que imagina o senso comum – incluindo o que os próprios entrevistados imaginavam quando eram mais jovens. 

O estereótipo de velhos ​solitários que perdem o propósito do trabalho e sua relevância para uma sociedade baseada em dinheiro, juventude e status, é invertido pelos dados. Quanto mais velho você fica, menos teme a morte e mais valoriza as coisas boas da vida. Abaixo dos 40 anos, o foco está na saúde mental e na independência. Aos 80, é quase tudo sobre amor. 

Quem precisa de mais ajuda hoje são os que estão na meia-idade, vivendo entre filhos carentes, uma carreira que exige demais, pais doentes e o noticiário cheio de tragédias que precisam de ajuda.

Leia mais: Como ter um envelhecimento saudável sem fórmulas mágicas

Prepare-se o quanto antes para os 4 trimestres da vida – cedo
Este relatório propõe uma reformulação da velhice. Ele poderia ser usado para atualizar a percepção das pessoas sobre a segunda metade da vida – desde crianças até jovens de 20 ou 30 anos que estão olhando, mas ainda não planejando, os 60 anos de vida profissional. As longas aposentadorias de hoje provavelmente vão diminuir à medida em que a população envelhece. Ajudar as pessoas a se prepararem para uma vida mais longa exigirá educação – física, financeira e relacional. Os velhos de hoje, sugerem este relatório, podem estar mostrando o caminho.

Aprender a economizar e ter uma boa compreensão dos juros compostos é necessário para cobrir os custos de uma vida mais longa. Essa pesquisa mostra que grande parte da população com menos de 40 anos não tem uma visão clara de onde virá sua renda na aposentadoria. Também revela que os idosos priorizam o condicionamento físico e a nutrição muito mais do que os mais novos. Quanto mais cedo cuidarmos da parte física na vida adulta, maior será a capacidade de termos saúde à medida que aumenta nossa expectativa de vida. 

Pais, empregadores e políticos têm um papel importante ao fazer as pessoas entenderem o que significará viver 100 anos de vida, estimulando as pessoas a economizar desde cedo, exercitar-se regularmente e a comer bem. E muitos dos idosos pesquisados já ​​fazem isso.

A nova aposentadoria

A aposentadoria em si é um conceito em evolução. Fala-se muito sobre as pessoas terem que trabalhar mais e a maioria dos pesquisados ​​não acredita que se aposentará quando quiser. No entanto, a pandemia gerou um movimento em massa em direção à aposentadoria antecipada no mundo. O relatório também mostra que a maioria dos aposentados atuais se aposentou mais cedo do que esperava (globalmente falando), enquanto uma pequena proporção de trabalhadores resistentes (14%) nunca quer se aposentar.

Saúde mental dos adultos é preocupação
A pesquisa sobre a felicidade mostra uma clara curva em U, com a parte mais baixa, ou seja, mais infeliz, nas décadas da vida em que as pessoas têm que fazer malabarismos com as grandes tarefas da vida. Ter filhos, ganhar dinheiro, construir carreiras e cuidar de pais e comunidades pode ser  muito desgastante e as demandas podem ser inconciliáveis. 

Este estudo mostra aqueles com menos de 40 anos com saúde mental como sua principal prioridade de saúde – e nos Estados Unidos é mais fácil encontrar atendimento para crianças e velhos, mas não para adultos.  Não é à toa que as taxas de natalidade estão caindo – as pessoas vêem filhos e o sacrificio para criá-los como uma demanda que nem sempre é possível cumpri. 

Morte assistida
Geralmente, os entrevistados não estavam muito preocupados com quanto tempo viveriam. Quanto mais tempo eles já viveram, menos eles se importam com a longevidade. “A morte não deve ser temida”, resume o relatório, “mas deve estar preparada”, como a maioria dos entrevistados fez – financeira, legal e relacionalmente. O relatório aponta para a importância da assistência médica na morte, particularmente entre os ricos e instruídos (65%). Aqueles que discordam dessa assistência (18%) mais fortemente, o fazem por motivos religiosos.  Áustria, Bélgica, Canadá, Alemanha, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Espanha, Suíça, partes dos EUA e Austrália são países que já falam em morte assistida (Colômbia e Itália legalizaram, mas ainda não implementaram). 

Ter saúde é relativo
Os participantes definem ter boa saúde como ser alguém independente, com mobilidade e mentalmente saudável. Curiosamente, o declínio físico não influencia muito os entrevistados a respeito da ideia. Mesmo que a maioria se preocupe com doenças cardíacas, diabetes ou câncer, o importante é que o tratamento dessas doenças os permite manter  a mente sã e a independência. 

Logo, um recado aos médicos:  incentivar mais procedimentos médicos, principalmente se eles comprometerem a qualidade de vida futura, não é o que os idosos estão pedindo. Os entrevistados foram claros em sua esperança de um sistema médico mais respeitoso das escolhas e desejos maduros de fim de vida.

Projetar casas para todas as idades e estágios
O relatório destaca a clara prioridade que nossos idosos (e provavelmente nossos futuros eus) colocam na família e nos relacionamentos. Também sublinha o quanto as pessoas preferem viver em suas próprias casas ou com a família, em vez de em instituições de qualquer tipo.

A era das comunidades de aposentadoria segregadas por idade pode estar chegando ao fim. Mas boas alternativas ainda não estão prontamente disponíveis. Cerca de 95% do parque habitacional norte-americano não é construído tendo em mente o envelhecimento da população. O Instituto Nacional de Construtores de Casas recentemente promoveu a ideia de ‘design universal‘ que integra as necessidades de pessoas de todas as idades em todos os aspectos de uma casa – desde entradas e maçanetas acessíveis até banheiros maiores. Eles também podem construir pensando no desejo claro desta pesquisa de habitação que permita que as pessoas vivam com a família quando forem mais velhas. “A alegria e o propósito da família aumentam com a idade”, atingindo o pico acima dos 80.


Fonte: Revista Forbes

Como a pandemia impactou o sono dos jovens, fase em que o cérebro ainda está em formação

Os impactos da pandemia na vida dos jovens, com o interrompimento das aulas presenciais, a necessidade de permanecer em isolamento e a série de incertezas durante um período que já é fortemente caracterizado por mudanças, ainda estão sendo desvendados pela ciência. Porém, um deles cada vez mais claro é a forma como a crise sanitária impactou a hora de dormir – com uma série de pesquisas apontando para uma piora na qualidade do sono. O cenário envolve uma preocupação em dobro, já que se trata de uma fase da vida em que o cérebro ainda está em formação.

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Os dados mostram que, no geral, os brasileiros já têm problemas relacionados ao sono. Segundo a última pesquisa da Associação Brasileira do Sono (ABS), as dificuldades para atingir uma noite de qualidade afetam 65% da população – informação corroborada por um estudo publicado recentemente na revista científica Sleep Epidemiology, que ressalta ainda a maior propensão dos jovens a um sono ruim.

— Sabemos que é uma faixa etária mais vulnerável à privação de sono e às adversidades no geral, porque é uma etapa de enorme plasticidade cerebral, de modificação das redes neuronais. Não é só de modificação do pensamento, do comportamento, mas de estrutura física mesmo do cérebro — explica o especialista em sono e doutor em neurociências Fernando Louzada, coordenador do Laboratório de Cronobiologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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E esse cenário piorou com a pandemia. Em comparação com o ano anterior, um levantamento da ABS de 2020 mostrou que a média de horas de sono por noite caiu de 7,12 horas – o mínimo recomendado pela Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos – para 6,23 horas. Entre os jovens, que precisam de mais tempo por noite, um estudo conduzido no primeiro ano da pandemia pela Fiocruz mostrou esse impacto da Covid-19.

Cerca de 36% dos adolescentes de 12 a 17 anos relataram uma piora na qualidade do sono com a chegada da pandemia, com 24% tendo desenvolvido problemas relacionados a hora de dormir e 12% que já tinham dificuldades relatando uma piora. E a situação não é exclusiva do primeiro ano da Covid-19: um estudo publicado em 2022 na revista científica Sleep Science por pesquisadoras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com adolescentes de 13 a 18 anos, mostrou que um índice maior, de 58,2%, ainda relatava uma piora na qualidade do sono.

— A pandemia colocou um grande ponto de interrogação sobre o futuro . Os jovens que estavam em momentos cruciais, como entrada numa universidade ou no mercado de trabalho, tiveram que lidar com a frustração de não dar o “próximo passo” — avalia a neurologista Christianne Martins Bahia, responsável pelo Ambulatório de Distúrbios do Sono do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Hupe – Uerj).

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Como é o impacto nos jovens
A forma como a pandemia provocou mudanças no sono dos jovens pode ser resumida em três principais áreas, segundo os especialistas. A primeira, e a principal, é a perda da ritmicidade com o isolamento social, algo decorrente da súbita mudança de rotina. A diretora de Ensino e Pesquisa do Instituto do Sono Monica Andersen, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que, já que as pessoas não precisavam sair de casa tão cedo, elas postergaram a hora de dormir, e alteraram repentinamente o ciclo do sono.

— Isso é muito ruim porque o fator mais importante para nossa qualidade do sono é a ritmicidade. Na hora que você perde isso, os processos fisiológicos do corpo passam a funcionar de forma diferente. Por exemplo, no entardecer, nosso corpo começa a liberar a melatonina, estimulada pela escuridão, que sinaliza para o corpo que é hora de dormir. Como as pessoas ficaram mais horas acordadas de madrugada, na televisão, na internet, estimulando o cérebro, houve uma alteração na produção desse hormônio — afirma a professora da Unifesp.

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Esse impacto é mais forte entre os jovens porque eles já são mais propensos a sofrer algo chamado de atraso de fase do sono, explica a neurologista e neuropediatra Rosana Alves, membro da Associação Brasileira do Sono (ABS).

— Esse atraso é uma tendência natural a dormir e a acordar mais tarde, postergando o ciclo circadiano. Isso é relativamente comum nessa faixa etária, mas com a chegada da pandemia, especialmente no início, esse atraso que já costuma acontecer piorou — diz a médica.

Um estudo brasileiro, publicado no Journal of Clinical Sleep Medicine, mostra como isso de fato alterou os hábitos de sono. A partir de um questionário, realizado antes e depois da pandemia, foi observado que os alunos de ensino médio passaram a dormir uma hora e meia mais tarde e acordar duas horas depois do habitual.

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Além dessa perda de ritmicidade, outro fator para as alterações e piora do sono com a Covid-19 foi a maior adesão aos dispositivos eletrônicos, que se tornaram parte ainda mais importante da rotina com o isolamento social. Segundo a pesquisa da Fiocruz, 70% dos entrevistados passaram a ficar mais de quatro horas por dia em frente ao computador, tablet ou celular.

— São pessoas que estão numa fase de construção de redes de socialização, o que não pôde acontecer de forma física, apenas digital. Então, eles acabaram se tornando mais dependentes ainda desses dispositivos e, consequentemente, diminuindo a quantidade de horas de sono. E essa privação potencializa o que já era ruim, porque os dispositivos provocam no cérebro uma avalanche de substâncias que estimulam para que ele permaneça acordado — afirma Monica, do Instituto do Sono.

Para Louzada, da UFPR, como o jovem já tem a dificuldade do atraso do sono, a tecnologia encontra um ambiente favorável para exacerbar essa tendência.

— Os dispositivos atuam de duas maneiras. Uma com a própria luz que eles emitem, que sinaliza para o nosso cérebro que não anoiteceu, e a outra pelo conteúdo. Se é algo estimulante, como um jogo, um filme, uma interação social, isso leva à produção de substâncias que empurram o sono para mais tarde — explica o neurocientista.

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Um estudo da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, publicado na revista científica BMJ Open, comprovou isso a partir da avaliação de 12 mil jovens de 13 a 15 anos. Os pesquisadores concluíram que o uso por mais de três por dia de redes sociais, por exemplo, levou a uma tendência de adormecer após as 23h e de acordar diversas vezes durante a noite.

Saúde mental é chave
Toda essa realidade de quebra da rotina e maior uso de aparelhos eletrônicos encontra um cenário de piora da saúde mental com a pandemia, um quadro cada vez mais claro para os especialistas. Eles destacam que problemas como ansiedade e depressão cresceram na faixa etária e atuam tanto piorando o sono como sendo intensificados pela ausência do descanso adequado.

— A insônia pode ser um sintoma da ansiedade e da depressão. Geralmente no caso da ansiedade, o jovem tem mais dificuldade para pegar no sono, mas depois dorme. Já aqueles com depressão, podem até adormecer de forma rápida, mas costumam acordar de madrugada. Só que esse sono de tempo reduzido ou interrompido também predispõe os problemas de saúde mental. Então uma coisa piora a outra, o jovem tem uma insônia, isso piora os sintomas de saúde mental que pioram o sono — explica Rosana, da ABN.

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De acordo com a mesma pesquisa da Fiocruz que apontou a piora no sono, cerca de metade dos adolescentes relataram sentir-se mais nervosos, ansiosos e de mau humor com a chegada da pandemia. Já uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), publicada na European Child and Adolescent Psychiatry, mostrou que 36% dos jovens brasileiros apresentaram sintomas de depressão e ansiedade após o início da Covid-19, índice que permaneceu no patamar elevado até o momento atual da crise sanitária.

— Hoje fala-se tanto em como a saúde mental foi afetada pela pandemia. E tem fatores, como a exposição às perdas, que não temos como evitar, mas dá para trabalharmos fatores que são protetores, como alimentação, atividade física e, não menos importante, o sono — orienta Louzada.

Riscos de um sono ruim
Uma rotina de noites mal dormidas causa uma série de efeitos negativos ao organismo. Um deles é justamente o para a saúde mental. Uma análise de 16 trabalhos sobre o tema, realizada por pesquisadores canadenses e publicada na revista Jama Network Open, avaliou as evidências em estudos com mais de 20 mil participantes de 5 a 24 anos. Os responsáveis constataram a ligação entre o sono ruim e uma maior incidência de depressão, e alertam que “a alta prevalência de distúrbios do sono” implica em um grande número de crianças e jovens vulneráveis mentalmente.

Christianne, do ambulatório do sono do Hupe, explica que essa faixa etária é mais suscetível aos problemas da mente relacionados ao sono devido a um processo de amadurecimento cerebral chamado de mielinização, que apenas se completa aos 25 anos.

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Louzada destaca ainda que há outros efeitos da redução ou interrupção do sono nessa idade que podem ser observados em poucos dias ou semanas. São eles um impacto negativo na consolidação da aprendizagem, na memória, na capacidade de atenção e na regulação emocional, tornando-os mais impulsivos, irritados e mais propensos a manifestar alterações de humor.

— Nessa época, eles são mais frágeis mesmo, em termos de equilíbrio, de regulação emocional. Então nessa faixa etária a gente pode pensar em um efeito protetor do sono ainda maior porque o cérebro não está plenamente maduro ainda — complementa Louzada.

Outros estudos já mostraram que o sono inadequado pode levar também a um aumento na gordura abdominal e visceral, que é ligada ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Um trabalho da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, publicado no American Journal of Human Biology, estimou que o risco para obesidade, por exemplo, aumenta em 80% a cada hora reduzida no sono de jovens entre 11 e 16 anos.

— O sono insuficiente, de 4, 5 horas por dia, ou muito interrompido, pode levar a alterações cardiovasculares a longo prazo, hipertensão arterial, e predisposição a doenças metabólicas, como obesidade e diabetes, mesmo no paciente jovem. Então, quando você afeta o sono, acaba tendo prejuízos no corpo todo, até no próprio sistema imune, afetando a capacidade de combater infecções — explica a neuropediatra Rosana Alves.

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Quantidade não quer dizer qualidade
Entre os impactos do sono, um ponto importante é que os relatos de uma piora entre os adolescentes podem não estar relacionados necessariamente apenas à duração. Isso porque especialistas explicam que um sono considerado ruim não é apenas aquele mais curto, como também aquele que não atinge o resultado “reparador”.

— Sono bom é aquele que quando acordamos nos sentimos revigorados. Alguns indicativos de que o sono não está adequado são roncos, pausas respiratórias, despertares no meio da noite, movimentos bruscos, falar ou andar enquanto está dormindo, dificuldade de iniciar ou manter o sono, acordar antes do desejado e não conseguir voltar a dormir e o excesso de sono durante o dia — explica Christianne, do ambulatório do sono do Hupe.

Nesse contexto, embora os estudos mostrem que os jovens relataram uma piora do sono com a pandemia, uma série de trabalhos, como um conduzido por Louzada, em Curitiba, mostram que o isolamento proporcionou uma duração maior da quantidade de horas dormidas devido à flexibilidade nos horários escolares.

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Com base em um questionário com cerca de 1.500 adolescentes, realizado antes e depois da pandemia, o pesquisador observou que o número de jovens que dormiam ao menos oito horas por noite, que antes era cerca de 20% do total, passou para mais da metade da amostra.

— Isso expressa a inadequação dos horários escolares matutinos. Na hora que você dá oportunidade para o adolescente dormir mais porque não precisa estar na sala de aula às 7h da manhã, eles dormem mais, o que é benéfico não só para a cognição como para a saúde no geral, especialmente a mental — defende Louzada.

O que fazer para reverter o cenário
Há algumas dicas que podem ajudar a recuperar uma rotina saudável de sono e prevenir as consequências negativas de uma noite ruim. A primeira, sugerem os especialistas, é recuperar o ritmo que foi perdido com a pandemia. Assim como a quebra da regularidade no sono traz danos, estabelecer horários para dormir e acordar ajuda a acostumar o cérebro a entender quando ele deve “desligar”.

— Isso quer dizer dormir e acordar no mesmo horário com uma certa regularidade. Logicamente, em alguns dias, como final de semana, vamos extrapolar um pouquinho. Mas não devemos sair, por exemplo, de um ritmo de dormir às 23h de segunda a quinta e no final de semana dormir às 4h — orienta Monica, do Instituto do Sono.

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Para ajudar a recuperar o ritmo, existem alguns hábitos que mostram ao nosso corpo que é hora de dormir. Um deles é justamente em relação aos dispositivos eletrônicos, que devem ser evitados pelo menos duas horas antes de ir para a cama. Isso porque a luz atua dizendo ao cérebro para liberar os hormônios relacionados às fases do dia: o cortisol pela manhã e a melatonina à noite.

Por isso, além de evitar os aparelhos que emitem luz à noite, ser exposto ao sol pelo dia, por meio de caminhadas, ou apenas colocando o computador mais próximo à janela, já são medidas eficazes para ajudar a delimitar o ciclo do sono.

Há ainda práticas que desregulam essa produção de hormônios e devem ser deixadas de lado, como a ingestão de cafeína, refrigerantes e alimentos gordurosos após as 20h e a realização de atividade física ao menos três horas antes de dormir. Evitar o álcool também é uma boa ideia já que, embora ele provoque uma sensação de relaxamento no início, o efeito passa a ser estimulante no decorrer das horas.

Fonte: O Globo

Quando o cérebro humano poderá ser armazenado em um computador?

No futuro, será possível “enviar” o cérebro humano para um computador? E quando isso deve acontecer? Essas são dúvidas cada vez mais comuns no mundo de hoje. Em um artigo publicado no site The Conversation, Guillaume Thierry, professor de Neurociência Cognitiva da Universidade de Bangor, do País de Gales, debate essas questões.


Segundo ele, é comum imaginar que “a consciência humana é tão simples quanto a entrada e a saída de sinais elétricos dentro de uma rede de unidades de processamento – portanto, comparável a um computador”. Mas a realidade é mais complicada. “Para começar, não sabemos quanta informação o cérebro humano pode conter”, destaca ele.

A extração e o armazenamento dos dados são outros pontos de atenção. Thierry pontua que um estudo realizado por uma equipe do Allen Institute for Brain Science, de Seattle, mapeou a estrutura 3D de todos os neurônios (células cerebrais) que compõem um milímetro cúbico do cérebro de um camundongo.

Nesta tarefa, foram exigidos dois petabytes, ou dois milhões de gigabytes de armazenamento e, os microscópios automatizados utilizados tiveram que coletar 100 milhões de imagens de 25.000 fatias da amostra minúscula continuamente ao longo de vários meses. Se esse é o volume de apenas um milímetro cúbico de cérebro de camundongo, imagine o quanto seria o do cérebro todo de um humano.

E há mais desafios. Segundo o professor, “para que um computador se assemelhasse ao modo de operação do cérebro, ele precisaria acessar toda e qualquer informação armazenada em um período de tempo muito curto: a informação precisaria ser armazenada em sua memória de acesso aleatório (RAM), em vez de discos rígidos tradicionais”.

Thierry pontua que o cérebro humano contém cerca de 100 bilhões de neurônios, o que equivale a um milhão de vezes os contidas no milímetro cúbico de cérebro de camundongo. “E o número estimado de conexões é de impressionantes dez elevado a 15. Isso é dez seguido de 15 zeros – um número comparável aos grãos individuais contidos em uma camada de areia de dois metros de espessura em uma praia de 1 km de extensão”, comparou.

Espaço suficiente
Para fazer o armazenamento de informações, é fundamental ter espaço suficiente antes de começar o processo. Caso contrário, seria preciso saber exatamente a ordem de importância do que será guardado, algo complicadíssimo quando se trata do cérebro.

“Se você não souber quanta informação precisa armazenar ao iniciar, poderá ficar sem espaço antes que a transferência seja concluída. Isso significa que a sequência de informações pode estar corrompida ou impossível de ser usada por um computador”, avalia o professor. “Além disso, todos os dados teriam que ser armazenados em pelo menos duas (se não três) cópias, para evitar as consequências desastrosas de uma possível perda de dados.”

E, novamente, este não é o único problema. No estudo com o camundongo, o armazenamento das informações foi feito a partir da coleta de 25.000 fatias (extremamente finas) de tecido cerebral. Nos humanos, a mesma técnica teria que ser aplicada. Mas será que alguém permitiria que seu cérebro fosse cortado dessa maneira?, questiona Thierry.

Questão de tempo
Ao longo da vida, nosso cérebro envelhece e aí surge outra questão: será preferível armazenar uma mente de 20 anos ou de 80 anos? Ao optar pela primeira situação, corre-se o risco de perder muitas memórias e experiências construídas com o tempo. Porém, ao tentar a transferência para um computador tarde demais, pode ser que o cérebro tenha alguma demência e não funcione tão bem.

Levando em conta que ainda não é possível saber quanto armazenamento é necessário, que é preciso esperar encontrar tempo e recursos suficientes para mapear inteiramente a estrutura 3D de um cérebro humano, que seria necessário cortá-lo em zilhões de cubos minúsculos e fatias e que é essencialmente impossível decidir quando realizar a transferência, o professor afirma que esse processo não será viável por um bom tempo – ou talvez nunca.

Mas ele não encerra o assunto aí. Para o especialista, mesmo que todos os obstáculos citados sejam ultrapassados, ainda se sabe muito pouco sobre os mecanismos subjacentes. “Depois da pergunta ‘o quê’ (que informação existe?) e da pergunta ‘quando’ (quando seria o momento certo para transferir?), a mais difícil é a pergunta ‘como’.”

A partir saí, entra em cena a forma como os neurônios se comunicam. A fim de saber quais tipos de conexão se aplicam entre dois neurônios, teria de ser usadas técnicas moleculares e testes genéticos. “Isso significa novamente fixar e cortar o tecido em fatias finas. Muitas vezes também envolve técnicas de tingimento, e o corte precisa ser compatível com elas. Mas isso não é necessariamente compatível com o corte necessário para reconstruir a estrutura 3D”, explica Thierry.

“E a forma como os neurônios se comunicam é mais uma camada de informação, o que significa que será preciso muito mais memória do que a quantidade incalculável anteriormente prevista. Portanto, a possibilidade de enviar as informações contidas nos cérebros para os computadores é totalmente remota e pode estar para sempre fora de alcance”, completa.

Fonte: Revista Época


Neurologista revela 7 atividades que melhoram a saúde do cérebro

Buscar maneiras de melhorar a saúde do cérebro é uma tendência que não para de crescer. Principalmente após o início da pandemia de Covid-19, muitas pessoas começaram a dar mais valor para temas psicológicos, neurológicos e tudo que envolva o bem-estar mental. O confinamento imposto pelo coronavírus e todos os aspectos negativos que estão atrelados ao problema, de certa forma, evidenciaram algumas outras questões.

“Somos constantemente bombardeados com informações, atualizações, demandas ativas e passivas, que podem gerar um enorme amontoado de estresse, ansiedade, insônia e síndrome de burnout. Tirar uma pausa de alguns dias pode auxiliar na produtividade, velocidade de processamento cerebral e saúde cerebral de forma geral, criatividade, satisfação profissional e pessoal”, explica o Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA).

Dessa maneira, o especialista separou sete atividades simples que podem evitar e combater possíveis problemas relacionados à saúde do cérebro. Confira:

1 – Praticar exercícios – “Mesmo durante as férias, vale a pena praticar algum tipo de atividade física. Os exercícios regulares podem auxiliar na redução do estresse, manutenção do peso durante um período de maior tendência a consumir alimentos calóricos e bebidas alcoólicas, além de ajudar no sono”, diz o neurologista.

2 – Ouvir música – “Esse é um hábito que traz comprovadamente benefícios para o cérebro, mas, obviamente, depende do estilo musical escolhido e como ele é usado. Músicas podem ativar diversas áreas do cérebro em concomitância, auxiliando no aprendizado, foco, mas podem também prejudicar um aprendizado se forem músicas com letras que tomem a atenção do paciente. Acaba sendo algo pessoal, e cada paciente vai encontrar sua playlist dedicada ao momento”, diz.

3 – Dormir – “Durante as férias temos maior liberdade para dormir até mais tarde, algo que por si só já pode compensar as horas necessárias para dormir. Mas, também podemos organizar um horário preferencial para dormir, sem estresse ou anseios, que pode ser mantido por muito tempo após o término das férias. Devemos aproveitar as férias para ajustar nosso relógio interno”, diz o médico.

4 – Desenvolver novas habilidades manuais – “Pode ser muito bom para alguns pacientes desenvolver atividades manuais, justamente por serem um tipo de terapia em diversos contextos”, conta o Dr. Batistella. Nesse caso, vai de acordo com o gosto de cada pessoa. Você pode desenhar, fazer artesanato ou aprender um novo jogo. As possibilidades são enormes.

5 – Ter contato com a natureza – Segundo o neurologista, entrar em contato com a natureza provoca, comprovadamente, estímulos benéficos ao cérebro. Tanto que é uma forma terapêutica para pacientes psiquiátricos e com distúrbios neurológicos do espectro autista.

6 – Visitar pessoas queridas – Fortalecer o ambiente social pode ser uma atividade fantástica para a saúde cerebral. Mas, é preciso ter cuidado. “Ficar em ambientes sociais ruins ou com desavenças acabaria sendo prejudicial”, diz.

7 – Não fazer nada – Reservar um tempo para ficar, literalmente, sem fazer nada também pode ser uma boa alternativa para melhorar a saúde do cérebro. “Pode ser muito benéfico tirar um tempo para si. Cabe aqui também incentivar a atividade de meditação, assim como o mindfulness, hoje tão em alta”, finaliza o Dr. Batistella.

Seu cérebro avisa quando você cometeu um erro

A OMS (Organização Mundial de Saúde) classifica o TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) como um transtorno de ansiedade, e diz que transtornos desse tipo são o sexto maior fator contribuinte para comprometimento não-fatal de saúde, e estão entre as dez principais causas de YLD (anos vividos com incapacidade, na sigla em inglês). Um estudo realizado nos EUA revelou um mecanismo cerebral que pode estar na raiz desse tipo de doença.

O trabalho – realizado por cientistas do Centro de Ciência e Medicina Neural do Hospital Cedars-Sinai, em Los Angeles (EUA) –, publicado em maio na revista especializada Science, buscou decifrar como o cérebro consegue generalizar e se especializar ao mesmo tempo, usando um mesmo grupo de neurônios. Essa capacidade é essencial para nosso monitoramento de desempenho – que, explicam os autores, é uma espécie de alerta, um sinal interno que permite à pessoa saber que cometeu um erro. Por exemplo: quem trafega por vias expressas já passou pela experiência (não exatamente agradável) de ver que acabou de passar direto e perder o acesso a uma ponte. O monitoramento de desempenho entra então em ação: as informações são levadas a áreas que regulam emoções, memória, planejamento e resolução de problemas. O incidente se torna experiência e vai ajudar a não cometer erros desse tipo no futuro.

Para realizar a pesquisa, os cientistas acompanharam 34 pacientes com epilepsia, registrando a atividade de um grupo de neurônios (células cerebrais) no córtex pré-frontal medial. O que se registrou foi que, ao realizar os testes cognitivos a que foram submetidos os pacientes, a atividade dos neurônios observados aumentou depois que as decisões erradas foram tomadas.

A hiperatividade nessa região cerebral se manifestaria como TOC, destaca o estudo. A descoberta pode ter aberto uma via importante para aprimorar os tratamentos para quem sofre da doença–  no Brasil, cerca de 3 milhões de pessoas teriam TOC e, segundo a OMS, em cerca de 2% da população mundial. Trata-se de uma larga população que tem de conviver com sintomas que, se não são eminentemente fatais, causam grandes transtornos, prejudicando relacionamentos, vida profissional e escolar. Na ponta oposta, a baixa atividade estaria relacionada à esquizofrenia – em que o paciente não teria percepção dos erros que comete. Com o mecanismo decifrado, abre-se o caminho para que se desenvolva medicamentos e tratamentos para aliviar quem sofre dessas duas condições.

Fonte: Veja / CLAUDIO LOTTENBERG Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

Atividade física ajuda a conservar o cérebro jovem, diz estudo

Há algum tempo, sabe-se que a prática de exercícios ajuda a proteger o cérebro dos danos associados ao envelhecimento. Agora, um estudo divulgado na revista Neurology, da Academia Norte-Americana de Neurologia, aponta os mecanismos envolvidos nessa relação. 
O artigo, do Centro de Pesquisas Inserm, na França, sugere que, ao ajudar a manter níveis de insulina e favorecer um índice de massa corporal (IMC) saudável, as atividades físicas funcionam como um escudo cerebral, evitando encolhimento do volume do órgão. Assim, ajudam a evitar ou postergar a demência.
“Esses resultados podem nos ajudar a entender como a atividade física afeta a saúde do cérebro, o que nos guiará no desenvolvimento de estratégias para prevenir ou retardar o declínio relacionado à idade na memória e nas habilidades cognitivas”, disse a principal autora, Géraldine Poisnel. 

“Adultos mais velhos que são fisicamente ativos obtêm benefícios cardiovasculares, o que pode, também, resultar em maior integridade estrutural do cérebro.” Em contraste, os pesquisadores descobriram que a relação entre o exercício e o metabolismo da glicose no órgão não foi afetada pelos níveis de insulina ou pelo IMC. Essa diminuição pode ser observada em pessoas com demência.

O estudo envolveu 134 pessoas com idade média de 69 anos, que não apresentavam problemas de memória. Elas responderam a questionários sobre o nível de atividade física praticado no ano anterior à pesquisa, além de passar por exames de imagem cerebral para medir o volume do órgão e o metabolismo da glicose. Também foram coletadas informações sobre IMC e taxas de insulina, bem como colesterol e pressão arterial, entre outros fatores.
Pessoas que praticavam mais atividade física tinham um volume total maior de massa cinzenta no cérebro do que aquelas que reportaram uma quantidade menor de exercícios, com uma média de cerca de 550 mil milímetros cúbicos, em comparação com 540 mil. Quando os pesquisadores analisaram apenas as áreas afetadas pela doença de Alzheimer, encontraram os mesmos resultados. Aquelas que se exercitavam com maior frequência também apresentaram taxas médias de metabolismo de glicose mais elevadas.
Um nível maior de atividade física, no entanto, não foi associado à quantidade de placas amiloides no cérebro. Esses depósitos gordurosos são um marcador de Alzheimer, ressalta Poisnel. De acordo com ela, embora a relação entre os exercícios e a robustez do volume cerebral tenha sido percebida neste e em outros estudos, são necessárias mais pesquisas para a compreensão detalhada dos mecanismos envolvidos. 

Ainda assim, a cientista explica que o trabalho lançou mais luz sobre o tema. “Manter um IMC mais baixo por meio da atividade física pode ajudar a prevenir distúrbios no metabolismo da insulina, que são frequentemente observados no envelhecimento, promovendo, assim, a saúde do cérebro”, disse.
EXPECTATIVA 
Uma outra pesquisa divulgada na revista The British Medical Journal também reforçou o papel protetor do estilo de vida saudável contra o envelhecimento do cérebro. Segundo o estudo, além de uma expectativa de vida mais longa, hábitos como atividades físicas, dieta pobre em gordura animal e estímulos cognitivos também ajudam a viver mais tempo e sem demência.
O número de pessoas que vivem com Alzheimer e outras enfermidades neurodegenerativas deve triplicar em todo o mundo até 2050, passando de cerca de 57 milhões em 2019 para 152 milhões em 2050, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Um dos fatores de risco para a demência é justamente a idade avançada. Assim, viver mais pode significar um aumento nos anos passados com o comprometimento cognitivo, uma questão pouco explorada que motivou o estudo, conduzido por cientistas norte-americanos e suíços.

A pesquisa analisa dados de 2.449 participantes com 65 anos ou mais (idade média de 76), sem histórico de demência, cujos dados estão disponíveis em um grande estudo epidemiológico, o Projeto de Saúde e Envelhecimento de Chicago. Os voluntários preencheram questionários detalhados sobre dieta e estilo de vida. 
Os pesquisadores desenvolveram uma pontuação, considerando uma dieta híbrida mediterrânea-Dash (rica em grãos integrais, vegetais de folhas verdes e frutas vermelhas, e pobre em alimentos rápidos/fritos e carnes vermelhas); atividades cognitivamente estimulantes (ler, visitar um museu ou fazer palavras cruzadas); pelo menos 150 minutos por semana de exercício físico; não fumar, e consumo de álcool baixo a moderado.
Para cada fator, os participantes receberam uma pontuação de um, se atendessem aos critérios de saúde, e de zero, se não o fizessem. As variáveis foram somadas para produzir um resultado que podia chegar até cinco. Pontos mais altos indicavam um estilo de vida mais salutar, de acordo com o considerado pelos cientistas.

Promoção de estilos de vida saudáveis
Depois de levar em conta outros fatores potencialmente influentes, incluindo idade, sexo, etnia e educação, os pesquisadores da Suíça e dos Estados Unidos descobriram que, em média, a expectativa de vida total aos 65 anos em mulheres e homens com estilo de vida saudável era de 24,2 e 23,1 anos, respectivamente. Mas para partipantes do sexo feminino e masculino com hábitos mais insalubres, a longevidade era menor: 21,1 e 17,4 anos, respectivamente.
Entre mulheres e homens com estilo de vida saudável, 10,8% e 6,1% viveram com Alzheimer por 2,6 e 1,4 anos, respectivamente. Esse tempo foi maior nos participantes que tinham hábitos considerados ruins: 19,3% das voluntárias passaram 4,1 anos com o distúrbio degenerativo, e 12% dos voluntários viveram 2,1 anos com o problema. Aos 85, essas diferenças eram ainda mais notáveis, disseram os cientistas. 
ESFORÇOS GLOBAIS 
Embora tenha usado dados populacionais com acompanhamento de longo prazo, a pesquisa é observacional; por isso, não estabelece uma relação de causa e efeito. No entanto, os pesquisadores concluem: “Esta investigação sugere que uma expectativa de vida prolongada devido a um estilo de vida saudável não é acompanhada por um aumento no número de anos vivendo com Alzheimer”.

Em um editorial associado ao artigo e publicado no The British Medical Journal, HwaJung Choi, pesquisadora da Universidade de Michigan destaca as “implicações importantes para o bem-estar das populações em envelhecimento e para as políticas e programas de saúde pública relacionados”. 
Ela argumenta que o desenvolvimento e a implementação de intervenções para reduzir o risco de demências é “extremamente importante” nos esforços globais para diminuir a pressão sobre sistemas de saúde. “Promover estilos de vida saudáveis pode aumentar os anos de vida sem demência, ao atrasar o início da neurodegeneração”, conclui.

Fonte: Estado de Minas

Estudo sugere que pessoas “otimistas” podem viver mais

Pesquisa descobriu que pensamento positivo é bom para longevidade, mesmo em grupos raciais e diferentes etinias “Escolha ser otimista. Parece melhor”, disse Dalai Lama. Também pode prolongar sua vida. Níveis mais altos de otimismo estão associados a uma vida útil mais longa e a uma maior chance de viver além dos 90 anos, de acordo com um novo estudo com quase 160 mil mulheres de diferentes raças e origens.

Fatores de estilo de vida saudável, como a qualidade da dieta, atividade física, índice de massa corporal (IMC), tabagismo e consumo de álcool, foram responsáveis ​​por menos de um quarto da associação entre longevidade e otimismo, de acordo com o estudo publicado quarta-feira (8) no Jornal da Sociedade Americana de Geriatria.

“Embora o próprio otimismo possa ser modelado por fatores estruturais sociais, nossas descobertas sugerem que os benefícios do otimismo para a longevidade podem se estender a grupos raciais e étnicos”, disse o principal autor Hayami Koga, estudante de pós-doutorado na Harvard TH Chan School of Public Health em um comunicado.

“O otimismo pode ser um importante alvo de intervenção para a longevidade em diversos grupos”, acrescentou Koga.

Um corpo crescente de pesquisas

Este não é o primeiro estudo a encontrar uma forte ligação entre longevidade e olhar para o lado positivo da vida. Um estudo de 2019 descobriu que homens e mulheres com os mais altos níveis de otimismo tinham uma expectativa de vida média de 11% a 15% maior do que as pessoas que praticavam pouco pensamento positivo. Na verdade, os otimistas com pontuação mais alta eram mais propensos a viver até os 85 anos ou mais.

Os resultados foram reais, segundo o estudo, mesmo quando foram considerados o nível socioeconômico, condições de saúde, depressão, tabagismo, engajamento social, má alimentação e uso de álcool.

Otimismo não significa ignorar os estressores da vida, dizem os especialistas. Mas quando coisas negativas acontecem, as pessoas otimistas são menos propensas a se culpar e mais propensas a ver o obstáculo como temporário ou mesmo positivo. Os otimistas também acreditam que têm controle sobre seu destino e podem criar oportunidades para que coisas boas aconteçam no futuro.

Ser otimista também melhora sua saúde, segundo estudos. Pesquisas anteriores encontraram uma ligação direta entre otimismo e hábitos de dieta e exercícios mais saudáveis, bem como melhor saúde cardíaca, sistema imunológico mais forte, melhor função pulmonar e menor risco de mortalidade, entre outros.

Você também pode ser otimista

Estudos de gêmeos descobriram que apenas cerca de 25% de nosso otimismo é programado por nossos genes. O resto depende de nós e de como reagimos aos limões da vida. Se é mais provável que você fique azedo quando estressado, não se preocupe. Acontece que você pode treinar seu cérebro para ser mais positivo.

Uma das formas mais eficazes de aumentar o otimismo é chamada de método “Melhor Eu Possível”, de acordo com uma meta-análise de estudos existentes. Nesta intervenção, você se imagina em um futuro em que alcançou todos os seus objetivos de vida e todos os seus problemas foram resolvidos.

Comece a escrever por 15 minutos sobre os detalhes que você realizou e passe cinco minutos imaginando como essa realidade se parece e se sente. Praticar isso diariamente pode melhorar significativamente seus sentimentos positivos, dizem os especialistas.

Em um estudo de 2011, os alunos praticaram o exercício “Melhor Eu Possível” por 15 minutos uma vez por semana durante oito semanas. Não só eles se sentiram mais positivos, como os sentimentos duraram cerca de seis meses.

Outra maneira de reforçar o otimismo é manter um diário dedicado apenas às experiências positivas que você experimentou naquele dia. Com o tempo, esse foco no positivo pode reformular sua perspectiva, dizem os especialistas.

Tirar alguns minutos todos os dias para escrever o que o faz grato também pode melhorar sua visão da vida. Vários estudos mostraram que praticar a gratidão melhora as habilidades de enfrentamento positivo, quebrando o típico estilo de pensamento negativo e substituindo o otimismo. Contar bênçãos até diminuiu o comportamento problemático em adolescentes.

Assim como o exercício, os exercícios de otimismo precisarão ser praticados regularmente para manter a perspectiva positiva do cérebro em boa forma, dizem os especialistas. Mas uma vida mais longa, mais feliz e mais positiva não vale o esforço?

Fonte: CNN Brasil