Seu cérebro avisa quando você cometeu um erro

A OMS (Organização Mundial de Saúde) classifica o TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) como um transtorno de ansiedade, e diz que transtornos desse tipo são o sexto maior fator contribuinte para comprometimento não-fatal de saúde, e estão entre as dez principais causas de YLD (anos vividos com incapacidade, na sigla em inglês). Um estudo realizado nos EUA revelou um mecanismo cerebral que pode estar na raiz desse tipo de doença.

O trabalho – realizado por cientistas do Centro de Ciência e Medicina Neural do Hospital Cedars-Sinai, em Los Angeles (EUA) –, publicado em maio na revista especializada Science, buscou decifrar como o cérebro consegue generalizar e se especializar ao mesmo tempo, usando um mesmo grupo de neurônios. Essa capacidade é essencial para nosso monitoramento de desempenho – que, explicam os autores, é uma espécie de alerta, um sinal interno que permite à pessoa saber que cometeu um erro. Por exemplo: quem trafega por vias expressas já passou pela experiência (não exatamente agradável) de ver que acabou de passar direto e perder o acesso a uma ponte. O monitoramento de desempenho entra então em ação: as informações são levadas a áreas que regulam emoções, memória, planejamento e resolução de problemas. O incidente se torna experiência e vai ajudar a não cometer erros desse tipo no futuro.

Para realizar a pesquisa, os cientistas acompanharam 34 pacientes com epilepsia, registrando a atividade de um grupo de neurônios (células cerebrais) no córtex pré-frontal medial. O que se registrou foi que, ao realizar os testes cognitivos a que foram submetidos os pacientes, a atividade dos neurônios observados aumentou depois que as decisões erradas foram tomadas.

A hiperatividade nessa região cerebral se manifestaria como TOC, destaca o estudo. A descoberta pode ter aberto uma via importante para aprimorar os tratamentos para quem sofre da doença–  no Brasil, cerca de 3 milhões de pessoas teriam TOC e, segundo a OMS, em cerca de 2% da população mundial. Trata-se de uma larga população que tem de conviver com sintomas que, se não são eminentemente fatais, causam grandes transtornos, prejudicando relacionamentos, vida profissional e escolar. Na ponta oposta, a baixa atividade estaria relacionada à esquizofrenia – em que o paciente não teria percepção dos erros que comete. Com o mecanismo decifrado, abre-se o caminho para que se desenvolva medicamentos e tratamentos para aliviar quem sofre dessas duas condições.

Fonte: Veja / CLAUDIO LOTTENBERG Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

Atividade física ajuda a conservar o cérebro jovem, diz estudo

Há algum tempo, sabe-se que a prática de exercícios ajuda a proteger o cérebro dos danos associados ao envelhecimento. Agora, um estudo divulgado na revista Neurology, da Academia Norte-Americana de Neurologia, aponta os mecanismos envolvidos nessa relação. 
O artigo, do Centro de Pesquisas Inserm, na França, sugere que, ao ajudar a manter níveis de insulina e favorecer um índice de massa corporal (IMC) saudável, as atividades físicas funcionam como um escudo cerebral, evitando encolhimento do volume do órgão. Assim, ajudam a evitar ou postergar a demência.
“Esses resultados podem nos ajudar a entender como a atividade física afeta a saúde do cérebro, o que nos guiará no desenvolvimento de estratégias para prevenir ou retardar o declínio relacionado à idade na memória e nas habilidades cognitivas”, disse a principal autora, Géraldine Poisnel. 

“Adultos mais velhos que são fisicamente ativos obtêm benefícios cardiovasculares, o que pode, também, resultar em maior integridade estrutural do cérebro.” Em contraste, os pesquisadores descobriram que a relação entre o exercício e o metabolismo da glicose no órgão não foi afetada pelos níveis de insulina ou pelo IMC. Essa diminuição pode ser observada em pessoas com demência.

O estudo envolveu 134 pessoas com idade média de 69 anos, que não apresentavam problemas de memória. Elas responderam a questionários sobre o nível de atividade física praticado no ano anterior à pesquisa, além de passar por exames de imagem cerebral para medir o volume do órgão e o metabolismo da glicose. Também foram coletadas informações sobre IMC e taxas de insulina, bem como colesterol e pressão arterial, entre outros fatores.
Pessoas que praticavam mais atividade física tinham um volume total maior de massa cinzenta no cérebro do que aquelas que reportaram uma quantidade menor de exercícios, com uma média de cerca de 550 mil milímetros cúbicos, em comparação com 540 mil. Quando os pesquisadores analisaram apenas as áreas afetadas pela doença de Alzheimer, encontraram os mesmos resultados. Aquelas que se exercitavam com maior frequência também apresentaram taxas médias de metabolismo de glicose mais elevadas.
Um nível maior de atividade física, no entanto, não foi associado à quantidade de placas amiloides no cérebro. Esses depósitos gordurosos são um marcador de Alzheimer, ressalta Poisnel. De acordo com ela, embora a relação entre os exercícios e a robustez do volume cerebral tenha sido percebida neste e em outros estudos, são necessárias mais pesquisas para a compreensão detalhada dos mecanismos envolvidos. 

Ainda assim, a cientista explica que o trabalho lançou mais luz sobre o tema. “Manter um IMC mais baixo por meio da atividade física pode ajudar a prevenir distúrbios no metabolismo da insulina, que são frequentemente observados no envelhecimento, promovendo, assim, a saúde do cérebro”, disse.
EXPECTATIVA 
Uma outra pesquisa divulgada na revista The British Medical Journal também reforçou o papel protetor do estilo de vida saudável contra o envelhecimento do cérebro. Segundo o estudo, além de uma expectativa de vida mais longa, hábitos como atividades físicas, dieta pobre em gordura animal e estímulos cognitivos também ajudam a viver mais tempo e sem demência.
O número de pessoas que vivem com Alzheimer e outras enfermidades neurodegenerativas deve triplicar em todo o mundo até 2050, passando de cerca de 57 milhões em 2019 para 152 milhões em 2050, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Um dos fatores de risco para a demência é justamente a idade avançada. Assim, viver mais pode significar um aumento nos anos passados com o comprometimento cognitivo, uma questão pouco explorada que motivou o estudo, conduzido por cientistas norte-americanos e suíços.

A pesquisa analisa dados de 2.449 participantes com 65 anos ou mais (idade média de 76), sem histórico de demência, cujos dados estão disponíveis em um grande estudo epidemiológico, o Projeto de Saúde e Envelhecimento de Chicago. Os voluntários preencheram questionários detalhados sobre dieta e estilo de vida. 
Os pesquisadores desenvolveram uma pontuação, considerando uma dieta híbrida mediterrânea-Dash (rica em grãos integrais, vegetais de folhas verdes e frutas vermelhas, e pobre em alimentos rápidos/fritos e carnes vermelhas); atividades cognitivamente estimulantes (ler, visitar um museu ou fazer palavras cruzadas); pelo menos 150 minutos por semana de exercício físico; não fumar, e consumo de álcool baixo a moderado.
Para cada fator, os participantes receberam uma pontuação de um, se atendessem aos critérios de saúde, e de zero, se não o fizessem. As variáveis foram somadas para produzir um resultado que podia chegar até cinco. Pontos mais altos indicavam um estilo de vida mais salutar, de acordo com o considerado pelos cientistas.

Promoção de estilos de vida saudáveis
Depois de levar em conta outros fatores potencialmente influentes, incluindo idade, sexo, etnia e educação, os pesquisadores da Suíça e dos Estados Unidos descobriram que, em média, a expectativa de vida total aos 65 anos em mulheres e homens com estilo de vida saudável era de 24,2 e 23,1 anos, respectivamente. Mas para partipantes do sexo feminino e masculino com hábitos mais insalubres, a longevidade era menor: 21,1 e 17,4 anos, respectivamente.
Entre mulheres e homens com estilo de vida saudável, 10,8% e 6,1% viveram com Alzheimer por 2,6 e 1,4 anos, respectivamente. Esse tempo foi maior nos participantes que tinham hábitos considerados ruins: 19,3% das voluntárias passaram 4,1 anos com o distúrbio degenerativo, e 12% dos voluntários viveram 2,1 anos com o problema. Aos 85, essas diferenças eram ainda mais notáveis, disseram os cientistas. 
ESFORÇOS GLOBAIS 
Embora tenha usado dados populacionais com acompanhamento de longo prazo, a pesquisa é observacional; por isso, não estabelece uma relação de causa e efeito. No entanto, os pesquisadores concluem: “Esta investigação sugere que uma expectativa de vida prolongada devido a um estilo de vida saudável não é acompanhada por um aumento no número de anos vivendo com Alzheimer”.

Em um editorial associado ao artigo e publicado no The British Medical Journal, HwaJung Choi, pesquisadora da Universidade de Michigan destaca as “implicações importantes para o bem-estar das populações em envelhecimento e para as políticas e programas de saúde pública relacionados”. 
Ela argumenta que o desenvolvimento e a implementação de intervenções para reduzir o risco de demências é “extremamente importante” nos esforços globais para diminuir a pressão sobre sistemas de saúde. “Promover estilos de vida saudáveis pode aumentar os anos de vida sem demência, ao atrasar o início da neurodegeneração”, conclui.

Fonte: Estado de Minas

Estudo sugere que pessoas “otimistas” podem viver mais

Pesquisa descobriu que pensamento positivo é bom para longevidade, mesmo em grupos raciais e diferentes etinias “Escolha ser otimista. Parece melhor”, disse Dalai Lama. Também pode prolongar sua vida. Níveis mais altos de otimismo estão associados a uma vida útil mais longa e a uma maior chance de viver além dos 90 anos, de acordo com um novo estudo com quase 160 mil mulheres de diferentes raças e origens.

Fatores de estilo de vida saudável, como a qualidade da dieta, atividade física, índice de massa corporal (IMC), tabagismo e consumo de álcool, foram responsáveis ​​por menos de um quarto da associação entre longevidade e otimismo, de acordo com o estudo publicado quarta-feira (8) no Jornal da Sociedade Americana de Geriatria.

“Embora o próprio otimismo possa ser modelado por fatores estruturais sociais, nossas descobertas sugerem que os benefícios do otimismo para a longevidade podem se estender a grupos raciais e étnicos”, disse o principal autor Hayami Koga, estudante de pós-doutorado na Harvard TH Chan School of Public Health em um comunicado.

“O otimismo pode ser um importante alvo de intervenção para a longevidade em diversos grupos”, acrescentou Koga.

Um corpo crescente de pesquisas

Este não é o primeiro estudo a encontrar uma forte ligação entre longevidade e olhar para o lado positivo da vida. Um estudo de 2019 descobriu que homens e mulheres com os mais altos níveis de otimismo tinham uma expectativa de vida média de 11% a 15% maior do que as pessoas que praticavam pouco pensamento positivo. Na verdade, os otimistas com pontuação mais alta eram mais propensos a viver até os 85 anos ou mais.

Os resultados foram reais, segundo o estudo, mesmo quando foram considerados o nível socioeconômico, condições de saúde, depressão, tabagismo, engajamento social, má alimentação e uso de álcool.

Otimismo não significa ignorar os estressores da vida, dizem os especialistas. Mas quando coisas negativas acontecem, as pessoas otimistas são menos propensas a se culpar e mais propensas a ver o obstáculo como temporário ou mesmo positivo. Os otimistas também acreditam que têm controle sobre seu destino e podem criar oportunidades para que coisas boas aconteçam no futuro.

Ser otimista também melhora sua saúde, segundo estudos. Pesquisas anteriores encontraram uma ligação direta entre otimismo e hábitos de dieta e exercícios mais saudáveis, bem como melhor saúde cardíaca, sistema imunológico mais forte, melhor função pulmonar e menor risco de mortalidade, entre outros.

Você também pode ser otimista

Estudos de gêmeos descobriram que apenas cerca de 25% de nosso otimismo é programado por nossos genes. O resto depende de nós e de como reagimos aos limões da vida. Se é mais provável que você fique azedo quando estressado, não se preocupe. Acontece que você pode treinar seu cérebro para ser mais positivo.

Uma das formas mais eficazes de aumentar o otimismo é chamada de método “Melhor Eu Possível”, de acordo com uma meta-análise de estudos existentes. Nesta intervenção, você se imagina em um futuro em que alcançou todos os seus objetivos de vida e todos os seus problemas foram resolvidos.

Comece a escrever por 15 minutos sobre os detalhes que você realizou e passe cinco minutos imaginando como essa realidade se parece e se sente. Praticar isso diariamente pode melhorar significativamente seus sentimentos positivos, dizem os especialistas.

Em um estudo de 2011, os alunos praticaram o exercício “Melhor Eu Possível” por 15 minutos uma vez por semana durante oito semanas. Não só eles se sentiram mais positivos, como os sentimentos duraram cerca de seis meses.

Outra maneira de reforçar o otimismo é manter um diário dedicado apenas às experiências positivas que você experimentou naquele dia. Com o tempo, esse foco no positivo pode reformular sua perspectiva, dizem os especialistas.

Tirar alguns minutos todos os dias para escrever o que o faz grato também pode melhorar sua visão da vida. Vários estudos mostraram que praticar a gratidão melhora as habilidades de enfrentamento positivo, quebrando o típico estilo de pensamento negativo e substituindo o otimismo. Contar bênçãos até diminuiu o comportamento problemático em adolescentes.

Assim como o exercício, os exercícios de otimismo precisarão ser praticados regularmente para manter a perspectiva positiva do cérebro em boa forma, dizem os especialistas. Mas uma vida mais longa, mais feliz e mais positiva não vale o esforço?

Fonte: CNN Brasil

Dormir de lado, de costas, de bruços? Como as posições podem prevenir doenças ou fazer mal para a saúde

Um estudo feito por pesquisadores americanos das Universidades de Rochester, Stony Brook e Langone Medical Center de Nova York, demonstrou que a posição que costumamos dormir pode proteger o nosso cérebro de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, Parkinson e esclerose múltipla. Durante o sono, o nosso corpo faz uma verdadeira faxina no cérebro, eliminando toxinas e proteínas residuais que, quando acumuladas, iniciam um processo de neurodegeneração.

A limpeza é realizada pelo sistema glinfático — um canal que drena resíduos tóxicos do sistema nervoso central. Os pesquisadores observaram no estudo que a depuração glinfática é mais eficiente quando o sono ocorre na posição lateral (ou de lado), em comparação com as posições supinada (deitada de costas) ou pronada (deitada de bruços).

As razões para esta diferença no funcionamento do sistema glinfático durante o sono ainda não são totalmente compreendidas, relataram os cientistas. Mas os resultados estão possivelmente relacionados aos efeitos da gravidade no corpo, assim como a compressão e alongamento do tecido durante o sono.

O sono é dividido em duas fases: movimento rápido dos olhos (REM) e o sono não REM — que vai desde o adormecimento até o descanso mais profundo. Este último estágio inclui o sono de ondas lentas — quando o sistema linfático está mais ativo. As terapias do sono que melhoram esta fase são benéficas para prevenir doenças neurodegenerativas. A seguir, veja o impacto das pricipais posições no organismo.

Dormir de lado

Além de ajudar na limpeza de toxinas cerebrais, dormir de lado também alivia a pressão feita na coluna, deixando esta estrutura relaxada durante o sono. Mas, para isso, é preciso manter o pescoço alinhado. O travesseiro deve ter o tamanho ideal para que a cabeça fique reta, sem inclinar para cima nem para baixo. Especialistas recomendam também colocar um travesseiro fino entre as pernas para ajustar a posição da coluna.

Estudos mostram também que dormir do lado esquerdo pode ser ainda melhor para a saúde. Isso porque esta posição promove uma melhor circulação sanguínea para o corpo. Deitar no lado esquerdo facilita também a passagem dos alimentos pelo intestino, cenário que favorece a digestão.

Dormir de costas

Dormir de costas pode provocar dores na lombar por causa da pressão provocada pela gravidade sobre a região. Mas se você só consegue dormir desta maneira, especialistas recomendam colocar um rolo ou travesseiro mais fino entre as pernas na altura dos joelhos. Essa adaptação alivia a pressão na área da lombar, diminuindo os riscos de dores ao acordar.

Nessa posição também estimula o ronco e a apneia obstrutiva do sono. Deitar de costas provoca o deslocamento da língua e estruturas da faringe para trás, o que reduz o espaço livre para a passagem de ar pelas vias aéreas, causando o barulho irritante durante a noite e dificultando a respiração.

Dormir de bruços

Apesar de parecer uma posição confortável, dormir de bruços pode causar problemas nas regiões cervical e lombar, podendo causar dores e piorar problemas ortopédicos. Isso porque quando dormimos com a barriga sobre a cama, a nossa coluna perde sua curvatura natural, sendo pressionada a ficar reta. Além disso, para dormir de bruços é preciso virar o pescoço, deixando a região torcida e tensionada durante a noite toda, o que pode causar lesões graves na área.

Deitar de bruços não deve ser uma rotina. A posição só é recomendada para os dias em que não se consegue dormir de lado, quando há dores no quadril, por exemplo. Nos dias em que for preciso dormir de barriga, a dica dos especialistas é deitar sobre um travesseiro fino, o que vai ajudar a manter a curvatura natural da coluna e diminuir a sobrecarga sobre o pescoço.

Fonte: O Globo

‘As demências podem ser evitadas com mudanças simples nos hábitos de vida’, diz neurocirurgião

O neurocirurgião americano Sanjay Gupta. — Foto: Jeremy Freeman/Divulgaçã
As descobertas dessa jornada estão compiladas no livro “Mente Afiada: Desenvolva um cérebro ativo e saudável em qualquer idade”, recém-lançado no Brasil pela editora Sextante. Em entrevista ao GLOBO, por Zoom, Gupta garante que é possível estimular a criação de novos neurônios, melhorar a saúde e o funcionamento do seu cérebro em qualquer idade. Ele também explica qual é a melhor estratégia para manter a mente afiada (spoiler: não é palavra-cruzada nem sudoku) e oferece conselhos práticos – e simples – sobre como melhorar a função cognitiva em qualquer idade.

Em seu livro, o senhor cita cinco pilares da saúde cerebral – mexer-se, descobrir, relaxar, nutrir-se e conectar-se. Qual deles é mais importante para deixar a mente afiada?

Estudo o cérebro há 25 anos e aprendi muito. A prática regular de atividade física é a ação que tem o efeito na saúde cerebral comprovado pelo maior número de evidências científicas. Eu acho que as pessoas ficam surpresas com isso, porque o senso comum diz que fazer palavras cruzadas seria melhor. Mas exercitar-se é a forma mais confiável de liberar o BDNF, sigla para fator neurotrófico derivado do cérebro. Essa é uma substância que seu corpo produz ou não. Você não pode injetar nem tomar uma pílula disso. E a forma mais confiável de produzi-la é através do movimento. Mas há um fato curioso sobre isso. Qualquer tipo de exercício é bom parar criar esses fatores neurotróficos que ajudam a estimular o crescimento cerebral. No entanto, o exercício intenso também libera cortisol, conhecido como hormônio do stress, e isso diminui o impacto dos fatores de crescimento. Então, é preciso entender que movimento é bom, mas o tipo de exercício bom para o cérebro é diferente do que impacta no coração. Uma caminhada rápida é mais benéfica para o meu cérebro do que uma corrida. A boa dieta é vital também. O cérebro é extremamente sensível ao açúcar. Para se ter uma ideia do impacto, se alguém vai fazer uma prova ou tem uma reunião importante e come muito açúcar isso vai desacelerar a função cerebral por um período. As pessoas acham que ingerindo açúcar terão mais energia, mas, na verdade, é o oposto.

E isso vale para qualquer idade ou as estratégias variam de acordo com a idade?

Não há dúvida que quanto mais cedo você começar essas estratégias, maior será o impacto. Mas mesmo se elas forem iniciadas mais tarde, haverá efeito. Pode ser que você tenha que adotar mais estratégias ou aplicá-las com maior intensidade, à medida que você envelhece, já que seu cérebro não estará naturalmente produzindo tantas novas células. Mas, no fundo, são as mesmas estratégias, em doses diferentes.

Antes de pensar em tratar algo com medicamentos, precisamos entender o impacto negativo que nossas ações estão causando no cérebro e resolvermos isso

Bastam então manter bons hábitos de via para manter o cérebro saudável?

Sou um neurocirurgião e sei que, às vezes, as pessoas precisam de tratamentos. A maior lição para mim foi entender que a maioria das pessoas no mundo desenvolvido não vive da maneira que os seres humanos deveriam viver. Como espécie, deveríamos estar nos movendo muito. Na verdade, as pessoas não se sentavam até ficarem velhas. Agora, nós sentamos a maior parte de nossos dias. O jeito que comemos também está errado. Não comíamos açúcar, exceto quando as frutas caiam das árvores. Agora, comemos centenas de quilos de açúcar por ano, em média. Outro fator é o sono. Nas culturas indígenas, as pessoas dormem de oito a nove horas por noite, porque não ficam olhando para o celular. Então, meu ponto é que, antes de pensar em tratar algo com medicamentos, precisamos entender o impacto negativo que nossas ações estão causando no cérebro e resolvermos isso.

O senhor diz que socializar é mais importante do que fazer palavras-cruzadas para o cérebro. No entanto, nos últimos dois anos nós passamos a maior parte do tempo isolados do contato com outras pessoas. Isso terá algum tipo de consequência?

Sim e existem muitas evidências sobre isso. Mas precisamos lembrar que antes da pandemia já se falava sobre o impacto negativo do isolamento e da solidão. O interessante é que a solidão é como as pessoas se sentem. Algumas pessoas podem não estar interagindo com ninguém, mas não se sentem solitárias. Outras, podem estar perto de muitas pessoas e ainda se sentirem sozinhas. Então é muito importante entender que a solidão não significa estar só fisicamente. Eu acho que apesar dos prejuízos, a pandemia também trouxe grandes lições. Primeiro, sobre a importância de socializar ao ar livre. Entendemos que os vírus não se espalham muito bem ao ar livre, o que é um ótimo local para fazer uma caminhada rápida. Esse exercício já vai fazer bem para o seu cérebro. Se você puder fazer isso acompanhado de um amigo ou membro da família, melhor. A segunda coisa é que vimos que existem outras formas de socializar. Antes da pandemia, nós não tínhamos dados sobre conexões virtuais como esta. Os dados eram todos baseados em conexões pessoais. Agora estamos obtendo muitos dados sobre o valor de apenas poder olhar para alguém quando estamos conversando, ver sua linguagem corporal, suas bocas se movendo, mesmo que virtualmente. Meus pais estão com quase 70 anos e moram em um estado diferente. A gente conversava muito por telefone, mas durante a pandemia começamos a fazer interações por vídeo e acho que isso fez uma grande diferença.

Não lembrar, mesmo que por um breve período, para que servem as chaves, é algo para se preocupar.

Como as pessoas podem diferenciar o esquecimento normal de um indício de problema neurológico?

A falta de atenção está por trás da maioria dos problemas de memória. Acho que podemos usar o exemplo das chaves para exemplificar isso. Se você não consegue encontrar as chaves perdidas, provavelmente não é algo para se preocupar. Na maioria dos casos, isso significa apenas que ela simplesmente não estava prestando atenção no que estava fazendo. Para se lembrar de algo, você precisa se concentrar nisso. Se você não estava atento quando deixou as chaves em determinado lugar, você não esqueceu onde colocou suas chaves. Você nunca se lembrou onde colocou suas chaves. Por outro lado, não lembrar, mesmo que por um breve período, para que servem as chaves, é algo para se preocupar. Outro sinal de alerta é quando os problemas de memória começam a afetar o seu dia-a-dia de uma forma que você esquece coisas básicas, como tomar remédios ou tomar banho.

Na sociedade atual, ser multitarefas é sinônimo de produtividade. Entretanto, o senhor diz que a prática é prejudicial. A falta de atenção estaria por trás disso?

O cérebro gasta energia para alternar tarefas. A maior lição que eu aprendi é que quando você vai de uma tarefa para outra, sucessivamente, você está consumindo muita energia e não está sendo tão eficiente ou produtivo quanto pensa. Eu sou tão culpado disso como todo mundo. Às vezes você tem que fazer isso porque simplesmente precisa pegar as crianças na escola e terminar um trabalho. Mas é preciso ficar claro que ser multitarefa não vai aumentar sua produtividade. Quanto mais você puder organizar seu dia em compartimentos, por exemplo, trabalhar em uma coisa, parar, e depois iniciar outra, melhor.

O senhor fala muito sobre reserva cognitiva e resiliência cerebral. O que é isso e qual é a sua importância para manter o cérebro afiado?

Todos os humanos usamwd todo o cérebro, mas provavelmente usamos 10% do nosso cérebro, 90% do tempo. Para criar reserva cognitiva, que é a capacidade do cérebro de improvisar e se orientar em torno dos obstáculos que encontra, precisamos usar mais outras partes do cérebro. A maioria das pessoas acha que está treinando o cérebro ao fazer palavras-cruzadas ou sudoku. E, embora ambas sejam muito boas, essas duas coisas só vão ensinar seu cérebro a fazer algo repetidamente. É como ensiná-lo a dirigir na mesma rua, várias vezes. Para construir reserva, precisamos exercitar diferentes partes do cérebro. Isso significa tentar novas atividades. De preferência, algo que envolva a função motora. E se você puder fazer isso de forma diferente do que está acostumado, melhor ainda. Para mim, por exemplo, isso é pintar com a mão esquerda. Eu sou um péssimo artista, mas comecei a pintar durante a pandemia. E sou destro, mas agora me tornei um pintor canhoto. Esse é apenas um exemplo. Vale escovar os dentes ou tentar comer com a mão não dominante. Seja lá o que for, apenas tente fazer coisas diferentes. Isso vai ativar partes do seu cérebro de uma forma que nunca tinham sido ativadas antes, aumentando a reserva cognitiva, que leva à resiliência. Um cérebro resiliente vai olhar para determinada situação e ser capaz de descobrir imediatamente como lidar com ela, como resolver o problema, seja ele qual for. Já um cérebro que não tem muita resiliência é aquele que é imediatamente esmagado pela situação. Ele não sabe o que fazer e fica paralisado.

Fonte: O Globo

Como voos espaciais longos afetam o cérebro dos astronautas?

Os voos espaciais de longa duração parecem alterar os espaços entre as veias e artérias cerebrais, preenchidos por fluidos. A conclusão vem de um novo estudo conduzido pela Oregon Health & Science University, junto de outros cientistas, que examinaram imagens de ressonância magnética do cérebro de 15 astronautas antes e depois de missões na Estação Espacial Internacional (ISS).

Hoje, a fisiologia humana que observamos é o resultado de milhões de anos de evolução sob o efeito da gravidade terrestre; já na microgravidade a bordo da ISS, o fluxo do líquido cefalorraquidiano no cérebro sofre alterações. “Estamos todos adaptados para usar a gravidade a nosso favor”, disse Juan Piantino, professor assistente de pediatria na universidade. “A natureza não colocou nosso cérebro nos nossos pés, mas sim no alto; assim que você remove a gravidade da equação, o que acontece com a fisiologia humana?.”

Assim, os autores decidiram investigar estes efeitos através de medidas dos espaços perivasculares (aqueles que ficam entre os vasos sanguíneos), onde o líquido cefalorraquidiano flui no cérebro. Para isso, utilizaram imagens de ressonância magnética para medir o espaço perivascular no cérebro dos astronautas antes de missões e logo após o retorno, e também coletaram medidas de ressonância, um, três e seis meses após o retorno deles.

Depois, a equipe comparou as imagens com aquelas do mesmo espaço perivascular de 16 pessoas na Terra, que fizeram parte do grupo de controle. Como resultado, eles notaram um aumento nos espaços perivasculares no interior dos cérebros dos astronautas de primeira viagem, mas a característica não foi observada nos cérebros daqueles que já haviam servido antes no laboratório orbital.

Apesar das diferenças, os cientistas não identificaram em nenhum dos casos problemas com equilíbrio ou memórias visuais que indiquem problemas neurológicos nos astronautas. Piantino sugere que, talvez, os astronautas mais experientes podem ter chegado a algum tipo de homeostase; este é o nome dado ao processo pelo qual sistemas biológicos tendem a manter estabilidade enquanto se ajustam às condições necessárias para a sobrevivência.

Para Piantino, o estudo pode ser importante também para o diagnóstico de diferentes doenças relacionadas ao líquido cefalorraquidiano, como a hidrocefalia. “Estas descobertas ajudam não somente a entender mudanças fundamentais que ocorrem durante voos espaciais, mas também para as pessoas na Terra, que sofrem de doenças que afetam a circulação do líquido cefalorraquidiano”, disse.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Scientific Reports.

Os sete brinquedos que fazem bem para o cérebro de crianças e adultos

Brincar é coisa séria. Novos estudos comprovam que alivia a ansiedade e ativa a memória em crianças e adultos. Conduzido pelo The National Institute for Play, organização americana sem fins lucrativos, uma pesquisa foi além e detalhou o papel de brinquedos específicos na saúde cerebral. Lidar com objetos tridimensionais, como o cubo mágico, por exemplo, age no lobo frontal, a área executiva do cérebro. Os mais lúdicos, como bonecas, atuam no sistema límbico, das emoções. Abraçar um ursinho de pelúcia, por sua vez, libera uma série de neurotransmissores, como a endorfina, que acalmam e relaxam.

A relação estreita dos brinquedos com o cérebro foi deflagrada por um dos maiores sucessos mundiais durante a pandemia, os fidget toys. Inicialmente criados para motivar o desenvolvimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autismo, são brinquedos sensoriais que estimulam o bem-estar, a concentração e reduzem o estresse.

Apertar uma bolinha que se expande, usar os dedos para “estourar” uma bolha e ouvir o barulho que isso faz e ter uma pelúcia fofinha para abraçar sempre que sentir necessidade, são algumas das atividades que geram uma sensação de conforto e tranquilidade para pessoas ansiosas. Deixar as mãos ocupadas executando uma tarefa repetitiva ajuda também a focar no presente e a se desligar do motivo que gera a ansiedade, afirmam especialistas.

— Na verdade, qualquer atividade que envolva um trabalho manual faz com que a criança coloque o foco na brincadeira, minimizando os efeitos da ansiedade no organismo, pois ela transfere a tensão para o que está fazendo — explica Ana Márcia Guimarães, membro do Departamento Científico (DC) de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

O impacto é observado tanto em adultos, quanto em crianças. Mas no organismo em formação dos pequenos ele é mais intenso, sobretudo no que tratamento da ansiedade.

Ansiedade infantil

Os sintomas da ansiedade em crianças se dividem em dois grupos, de acordo com a medicina. O primeiro são os chamados sinais internalizantes. Ou seja, pensamentos ruminantes que ocupam as mentes das crianças o tempo todo, fazendo com que elas se preocupem em excesso com aquela questão. O segundo são os externantes, que se traduzem em agitações motoras e verbais: se mexer ou falar sem parar, roer unhas, balançar pernas, suar frio nas mãos, sentir o coração batendo mais rápido, ter dificuldade para dormir, entre outras sensações.

Assim como adultos, crianças podem ficar ansiosas quando estão na expectativa de algum acontecimento muito esperado — como o retorno às aulas ou a tão desejada festa de aniversário — ou quando se deparam com algo que gere uma insegurança sobre o futuro — como a separação dos pais ou a ida ao consultório médico. Apresentar os sintomas da ansiedade nesses contextos, e por um período compatível com a situação, é normal. Diante desses cenários, os brinquedos podem ajudar a aliviar a tensão que a expectativa gera. No entanto, dar sinais por mais de seis meses pode significar um transtorno de ansiedade.

Segundo Rochele Paz Fonseca, professora de Psicologia da PUC do Rio Grande do Sul e presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, a ansiedade pode ter fatores genéticos e ambientais.

— Há fatores estressores que aumentam a chance da ansiedade se manifestar em crianças, como pais com ansiedade, cobranças sociais e escolares além do que as elas conseguem corresponder, autoestima e autoimagem reduzidas — detalha.

Recentemente, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF), apoiada pelo governo americano, recomendou que as crianças a partir de 8 anos sejam avaliadas para ansiedade mesmo que não apresentem sintomas para a condição. O objetivo é diagnosticar preventivamente o problema e prevenir consequências negativas futuras. No Brasil, ainda não há orientações específicas sobre o assunto.

A família deve ficar atenta a mudanças de comportamento das crianças, principalmente diante de situações que podem servir de gatilho para a ansiedade. Ao notar que há algo de diferente, é preciso agir. O ideal é sempre procurar por uma ajuda especializada, seja de um pediatra ou de um psicólogo, para avaliar os gatilhos que lavaram a criança a ficar ansiosa.

Os melhores brinquedos para ansiedade

Massinha

Massinha tem ação relaxante pelo tato e oferece oportunidade de trabalhar a criatividade

Apertar uma massinha de modelar deflagra sensação de alívio. Além disso, esse brinquedo ainda proporciona a possibilidade de exercer a criatividade, fazendo a pessoa se concentrar naquele momento e esquecer os problemas que provocam a ansiedade.

Pop-it

O brinquedo de silicone ajuda a aliviar a ansiedade por causa dos movimentos repetitivos, do toque suave à superfície emborrachada e do barulho semelhante ao estouro de bolhas. Tudo isso produz uma sensação agradável, pois ativa áreas do cérebro ligadas à gratificação, ao alívio e conforto.

Spinner

O brinquedo giratório ajuda o cérebro a “desligar” do que acontece no entorno e a focar em apenas uma ação. Isso ajuda a esquecer das questões que geram ansiedade, por exemplo.

Squishmallows

Squishmallows: brinquedos ajudam crianças a controlar ansiedade e achar o equilíbrio — Foto: Reprodução

As pelúcias feitas de fibra de poliéster (tecido com uma textura macia) e com forma arredondada proporcionam uma estimulação tátil calmante e satisfatória. A superfície agradável e o design fofo são um convite para um abraço apertado. Abraçar libera uma série de neurotransmissores, como a endorfina, que acalmam e relaxam.

Cubo infinito

Esse brinquedo é formado por 8 cubos pequenos que podem girar em qualquer direção e ângulo, sem restrições. Ele ajuda a manter o foco, além de estimular a criatividade.

Slime

Slime: Meleca colorida traz relaxamento por meio do tato — Foto: Reprodução

Proporciona alívio da ansiedade pela utilização do sentido tátil. Esse tipo de gel mais consistente ajuda a criança a se concentrar no presente, sendo uma distração para os problemas. Os barulhos produzidos com o apertar do brinquedo também gera boas sensações.

Areia cinética

A capacidade da areia cinética de se juntar ou se espalhar é encantadora. Essa característica traz curiosidade e ativa áreas do cérebro responsáveis pelo mecanismo de recompensa.

Esfera de Hoberman

A possibilidade de movimentos de abrir e fechar podem auxiliar quando é preciso se concentrar na respiração. O movimento de abrir e fechar da bola pode acompanhar a inspiração e expiração, ajudando a relaxar.

Liquid Motion Bubbler Timer

Liquid Motion Bubble funciona quase como “hipnotizante” ao prender a atenção pelos movimentos e cores —

Esse brinquedo lembra os laboratórios de ciências. Bolhas coloridas que giram por um minuto dentro de um cilindro com água prendem a atenção e ajudam a esquecer de tudo o que acontece ao redor. O movimento e as cores têm efeitos “hipnotizantes” e acalmam o cérebro.

Entenda o que são drogas sonoras e como elas podem afetar o cérebr

Drogas digitais na forma de áudios estão associadas a batidas que supostamente induzem a experiências de alteração da consciência

Enquanto o uso de drogas psicoativas geralmente envolve a ingestão de substâncias, as drogas digitais na forma de áudios estão associadas a batidas que supostamente induzem a experiências de alteração da consciência.

Esses efeitos são possíveis por meio de um fenômeno perceptivo que ocorre ao apresentar dois tons separadamente para cada orelha que diferem ligeiramente em sua frequência. Os sons, que se incorporam às ondas cerebrais, teriam então a capacidade de levar a efeitos cognitivos e mentais.

Uma variedade de aplicativos pode ser usada para comprar as chamadas “batidas binaurais”, com diferentes ritmos com nomes de substâncias específicas.

Um estudo conduzido por pesquisadores da Austrália e do Reino Unido apontou que 5% da população já utilizou esse tipo de tecnologia para experimentar estados alterados, com as maiores taxas tendo sido registradas nos Estados Unidos, México, Brasil, Polônia, Romênia e Reino Unido. Os resultados da pesquisa foram publicados no periódico Drug and Alcohol Review.

Na edição desta segunda-feira (18) do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes abordou os riscos do uso das drogas sonoras para a saúde.

Segundo o especialista, é possível produzir efeitos semelhantes no organismo a partir do estímulo sonoro em diferentes frequências em cada orelha.

“Boto 140 Hertz em uma e 149 em outra, essa diferença de nove Hertz o cérebro tenta fazer a compensação e isso provocaria uma terceira sensação, com alguma coisa diferente que faz com que você então faça essa descrição de que a percepção dentro da cabeça está diferente”, explica.

Os sons são capazes de estimular a estrutura cerebral de maneiras diferentes, além do córtex auditivo relacionado à percepção humana do som.

“A batida pode ser sentida e você pode querer de alguma forma fazer um movimento semelhante. Pode estimular o córtex visual, têm pessoas que conseguem além de escutar a música quase que enxergar uma cena ou até mesmo sentir a própria música quando você sabe ler uma partitura”, afirma.

O neurocirurgião explica que esse tipo de tecnologia não é capaz de levar à dependência, um dos principais riscos do uso de outros tipos de drogas. No entanto, são necessários cuidados para evitar a possibilidade de perda auditiva.

“Para potencializar a experiência, o jovem que é muito curioso aumenta o volume e coloca o seu aparelho auditivo em risco. Sabemos que você escutar por um tempo muito prolongado uma determinada música ou barulho mesmo pode provocar lesão definitiva no ouvido”, alerta.

Diferentes usos da tecnologia

Pesquisas investigando batidas binaurais detectaram efeitos positivos para alívio da dor, redução da ansiedade e memória. No entanto, houve descobertas conflitantes em torno de seus efeitos na concentração.

Além de poucas pesquisas explorando o recurso como terapias ou aprimoramentos cognitivos, há também poucos estudos que abordem as drogas digitais como substitutos ou em combinação com substâncias psicoativas.

Na pesquisa, os participantes foram perguntados sobre as motivações para o uso das drogas sonoras. As respostas mais comuns para o uso das batidas binaurais foram “para relaxar ou adormecer” (72,2%) e “para mudar meu humor” (34,7%), enquanto 11,7% relataram tentar “obter um efeito semelhante ao de outras drogas”.

A última motivação foi mais comumente relatada entre aqueles que usaram psicodélicos clássicos. A maioria buscou “se conectar consigo mesmo” (53,1%) ou “algo maior que si” (22,5%) por meio da experiência.

De acordo com o estudo, as batidas binaurais foram acessadas principalmente por meio de sites de streaming de vídeo por meio de telefones celulares.

Fonte: CNN

Como funciona a memória quando o cérebro vê um rosto familiar?

0c738f83-4b5c-4ff9-97a9-193f5a6176feComo funciona a memória quando o cérebro vê um rosto familiar? Os pesquisadores do Hospital Cedars-Sinai, em Los Angeles, nos Estados Unidos, descobriram a resposta. O estudo foi recém-publicado na revista científica Science Advances e analisou como a área do cérebro – que é responsável pela memória – é acionada quando olhamos para um rosto.

“Você poderia facilmente argumentar que os rostos são um dos objetos mais importantes para os quais olhamos. Tomamos muitas decisões significativas com base em olhar para rostos, incluindo se confiamos em alguém, se a outra pessoa está feliz ou com raiva ou se já vimos essa pessoa antes”, disse o diretor do Centro de Ciência e Medicina Neural do Cedars-Sinai, e autor principal do estudo, Ueli Rutishauser.

Os pesquisadores trabalharam com 13 pacientes que sofriam de epilepsia e tinham implantes de eletrodos no cérebro para ajudar a identificar o foco das convulsões. Foi então que registraram as atividades das ondas Theta no cérebro, que são ondas elétricas criadas no hipocampo e ativas no processamento de informações e na formação de memórias.
O estudo foi realizado com coleta dos dados durante um período em que diversas imagens eram exibidas para os participantes contendo rostos humanos e outros objetos, flores, carros e formas geométricas, por exemplo. Depois, os pesquisadores mostraram um novo conjunto de imagens, apenas de rostos humanos, com alguns repetidos do experimento anterior.

Com isso, eles observaram que cada vez que os olhos dos participantes olhavam para um rosto humano, certas células da amígdala disparavam, o que não acontecia quando as imagens eram de objetos. Quando essas “células faciais” eram liberadas, o padrão das ondas Theta no hipocampo era reiniciado ou redefinido .

A amígdala é uma área do cérebro relacionada com o sistema emocional e nesse estudo, os pesquisadores descobriram que ao ver um rosto, certas células da amígdala reagem e desencadeiam a atividade de criação de memória.

Além disso, os cientistas perceberam que, quando as células disparavam de forma rápida, significava uma maior chance de o participante reconhecer o rosto da pessoa. Assim como, quando essas células eram acionadas de maneira lenta, era provável que o rosto fosse esquecido.

O disparo também foi mais lento quando os participantes olhavam para rostos que já tinham visto antes, o que sugere que são pessoas que já estavam armazenadas na memória, portanto, o hipocampo não precisava ser ativado novamente.

Rutishauser comentou que os resultados indicam que pessoas que têm dificuldades para se lembrar de rostos podem ter uma disfunção em sua amígdala. “Se as ondas Theta no cérebro são deficientes, esse processo desencadeado pela amígdala em resposta aos rostos pode não ocorrer. Então, restaurar as ondas Theta pode ser um alvo de tratamento eficaz”, explicou Rutishauser, em comunicado.

Fonte: O Globo

Cientistas criam gráfico com evolução do cérebro desde o feto até 100 anos

Ferramenta poderá ajudar a identificar alterações cerebrais ligadas a doenças como Alzheimer e Parkinson

Ferramenta poderá ajudar a identificar alterações cerebrais ligadas a doenças como Alzheimer e Parkinson Eduardo Cesar/Pesquisa FAPESP/Divulgação

 Um grupo internacional de cientistas, incluindo brasileiros, reuniu 123.984 exames de ressonância magnética para mapear o desenvolvimento do cérebro humano desde as primeiras semanas do feto até os 100 anos de idade. Com esse banco, foram montados gráficos que mostram a evolução cerebral ao longo dos anos, incluindo fases de rápida expansão no início da vida e de redução do tamanho do órgão durante o envelhecimento.
 

Essa ferramenta sistematizando os processos de desenvolvimento típico e atípico do cérebro poderá servir como uma referência, funcionando de forma semelhante às atuais tabelas de acompanhamento de medidas de altura e peso de crianças. Além de base para novos estudos, a expectativa é que as curvas de referência tenham, no futuro, uma aplicação clínica.

O trabalho, liderado por pesquisadores das universidades de Cambridge (Reino Unido) e da Pennsylvania (Estados Unidos), foi publicado na revista Nature. Ao fornecer uma métrica por idade e sexo, a ferramenta permite comparações e poderá apontar caminhos, por exemplo, para identificar distúrbios que surgem em diferentes estágios da vida ou até mesmo alterações cerebrais capazes de sinalizar doenças neurodegenerativas progressivas, como Alzheimer e Parkinson.

O banco está sendo considerado o maior deste tipo – reúne exames de 101.457 pessoas de vários países. Apesar de haver uma predominância da representatividade de descendências europeia e americana, o estudo incluiu informações de indivíduos da América do Sul, da África e da Austrália. Porém, essa diversidade ainda é pequena se comparada ao total de informações. Por meio de um site, chamado BrainChart, os pesquisadores pretendem continuar alimentando os dados.

“O grande diferencial metodológico da pesquisa foi abrir a possibilidade de montar referências robustas e adequadas que até então não havia. Agora, ao estabelecer essas curvas, com as pontuações e percentis, é possível colocar cada indivíduo e entender como o cérebro está se desenvolvendo em comparação à trajetória padrão. Quando há um banco com tantas amostras é possível demonstrar pequenas diferenças com mais robustez”, explica o médico Pedro Pan, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coautor do trabalho.

Pan é vice-coordenador do Estudo Brasileiro de Coorte de Alto Risco para Transtornos Psiquiátricos na Infância (BHRC na sigla em inglês), uma grande pesquisa de base comunitária que acompanha 2.511 crianças e jovens de Porto Alegre (RS) e São Paulo desde 2010.

O BHRC, considerado um dos principais acompanhamentos sobre riscos de transtornos mentais realizados no Brasil, faz parte do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes (INPD), apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O INPD, com mais de 80 professores e pesquisadores de 22 universidades, tem como coordenador-geral o professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) Eurípedes Constantino Miguel Filho.

O instituto dispõe de mais de 2 mil imagens cerebrais coletadas na última década. Parte delas contribuiu com o trabalho publicado agora na Nature, que tem entre os coautores os professores Giovanni Abrahão Salum, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Andrea Parolin Jackowski, da Unifesp, e André Zugman, do INPD.

Achados

Os pesquisadores usaram métricas de ressonância magnética quantificadas por pontuações em relação a trajetórias não lineares de mudanças estruturais cerebrais e taxas de alterações ao longo da vida. Foi utilizado um software de neuroimagem padronizado para extrair os dados dos exames de ressonância magnética, começando com o volume de substância cinzenta (células cerebrais, neurônios) e branca (que inclui as conexões do cérebro).

Depois, houve expansão para análises da espessura do córtex e volume de regiões cerebrais específicas. Para gerar os gráficos cerebrais, o grupo adotou uma estrutura implementada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para desenvolver as curvas padronizadas de altura e peso.

A modelagem adotada – a GAMLSS (sigla em inglês para modelos aditivos generalizados para escala e forma de localização) – permitiu alavancar o conjunto de dados agregados de neuroimagem ao longo da vida dos indivíduos, derivando os marcos de desenvolvimento cerebral (ou picos de trajetórias) e comparando com a literatura atual.

Com isso, foi possível confirmar, e em alguns casos até mesmo mostrar pela primeira vez, marcos que haviam sido levantados por hipóteses. Entre eles estão a idade em que as principais classes de tecidos do cérebro atingem o volume máximo e quando regiões específicas do órgão chegam à maturidade.

Em relação ao volume de substância cinzenta, os cientistas mostraram que há um rápido aumento a partir da metade da gestação, atingindo o pico pouco antes de a criança chegar aos 6 anos de idade. Em seguida, começa a diminuir lentamente. Já o volume de matéria cinzenta na região subcortical – que controla as funções corporais e o comportamento básico – atinge o pico na adolescência, por volta dos 14 anos.

O volume de substância branca também aumenta rapidamente desde a metade da gestação até a primeira infância, atingindo o pico pouco antes dos 29 anos de idade. Seu declínio começa a acelerar após os 50 anos. “Isso mostra que o espaço de plasticidade dessas conexões vai até o início da vida adulta”, explica Pan.

A partir dos 60 anos, há um crescimento do líquido cefalorraquidiano, implicando redução do cérebro. “Atualmente esse marcador é usado na clínica como um indício indireto de envelhecimento cerebral, que pode ser associado a doenças neurodegenerativas. Algumas dessas referências para o cérebro ainda não tínhamos com essa fidedignidade”, completa o pesquisador brasileiro.

Até então, os cientistas sabiam que esse volume do líquido aumentava com a idade, já que normalmente está associado à atrofia cerebral, mas não tinham a dimensão da velocidade do crescimento em uma amostra tão significativa.

Cooperação

Ao contrário do que acontece na genética, em que os bancos de dados chegam à casa dos milhões, em neurociência os estudos tradicionalmente são baseados em conjuntos de amostras relativamente pequenas. Alguns fatores que contribuem para esse cenário são a dificuldade de coletar as imagens, por depender de estrutura física e de equipamentos de ressonância, e o alto custo.

Em março deste ano, um artigo publicado na Nature discutiu o tema, colocando em questão o fato de que muitas das pesquisas usando neuroimagem deixam de produzir resultados válidos exatamente porque tendem a incluir pequeno número de participantes, ficando aquém do necessário para gerar resultados confiáveis.

“O caminho para resolver esse ponto é trabalhar com amostras grandes e diversas, como esse grupo internacional se propôs a fazer”, afirma Pan, recordando da primeira reunião que teve com os pesquisadores Richard Bethlehem (Cambridge) e Jakob Seidlitz (Pennsylvania) em dezembro de 2020 para tratar da cooperação. Ambos são os primeiros autores da pesquisa sobre desenvolvimento cerebral.

Para criar a amostra representativa global, os cientistas agregaram os exames de ressonância magnética de mais de cem estudos de diversos países. Em editorial na mesma edição da Nature, que trata sobre a autoria dos dados abertos, a revista destaca que “nem todos os conjuntos de dados estavam originalmente disponíveis para uso dos pesquisadores”.

Em entrevista ao site da Universidade de Cambridge, Bethlehem destacou que a cooperação permitiu reunir dados de todas as faixas etárias, possibilitando detectar mudanças precoces e rápidas do cérebro humano. “Uma das coisas que conseguimos fazer, por meio de um esforço global muito coordenado, é reunir dados ao longo de toda a vida útil”, afirmou.