06 de Maio, 2015 – Fundador da NeuroForma Tecnologias é autor principal do estudo que estabelece um novo marco para o diagnóstico precoce da doença Alzheimer
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificaram que níveis elevados de uma pequena molécula chamada D-serina estão associados com o declínio cognitivo na doença de Alzheimer (DA). A descoberta tem o potencial de estabelecer um novo e eficaz biomarcador para o diagnóstico precoce dessa doença degenerativa do cérebro, que afeta milhões de pessoas no mundo inteiro.
A D-serina é um aminoácido – classe de moléculas que compõem as proteínas ou podem funcionar de forma independente para transmitir sinais fisiológicos no corpo humano. A D-serina pertence à subclasse de D-aminoácidos, que muitas vezes não se compõem em proteína, mas tem importantes funções de sinalização.
O autor sênior do estudo Prof. Rogerio Panizzutti (M.D, PhD), seus colegas e outros pesquisadores já vêm relatando que a D-serina está presente no cérebro e atua como uma molécula essencial de sinalização nas sinopses – os pontos de contato entre os neurônios, onde sinais neuronais são propagados.
Agora, ao olhar para o tecido post-mortem de pacientes com doença de Alzheimer (DA) e comparar com indivíduos sem a doença, a equipe liderada pelo Dr. Panizzutti constatou que a D-serina é anormalmente elevada no hipocampo e córtex, regiões cerebrais afetadas na DA. Eles verificaram ainda que o aumento de D-serina pode ser causado pela acumulação de oligômeros do peptídeo beta-amilóide, toxinas que se sabe desempenharem um papel central na fase inicial da doença.
A descoberta principal, no entanto, é que os níveis de D-serina são elevados no fluido cerebroespinhal de pacientes portadores da doença que já exibem sintomas clínicos precoces. Atualmente, o diagnóstico da doença de Alzheimer definitivo só é possível após investigação patológica de cérebros post-mortem e, a falta de biomarcador efetivo para detectar a doença precocemente, impede os esforços para deter ou reverter sua progressão.
No entanto, através da combinação de dados de avaliações cognitivas em pacientes, níveis de do peptídeo beta-amilóide no fluido cerebroespinhal e níveis de proteína tau, os autores identificaram um grupo de doentes que provavelmente pode desenvolver a doença de Alzheimer (DA). Nesses pacientes, os níveis no fluido cerebroespinhal de D-serina foram claramente superiores do que em grupos controles sadios, pareados por idade, ou mesmo em pacientes afetados por doenças não relacionadas. Além disso, os níveis de D-serina no fluido cerebroespinhal se correlacionaram com o declínio cognitivo em pacientes com DA provável, sugerindo que se poderia melhorar a predição clínica para deter o avanço da doença.
Para testar essa possibilidade, os autores Rogério Panizzutti e Caroline Madeira incluíram as medidas de D-serina em um índice amilóide-tau (AITA), que tem sido proposto para auxiliar no diagnóstico da doença de Alzheimer (DA). A incorporação das medidas de D-serina ao AITA notavelmente melhorou a sensibilidade e especificidade de diagnóstico, indicando que a D-serina pode, efetivamente, ser adicionada a um painel de biomarcadores destinados a detecção inicial de DA. Estes resultados foram publicados on-line no último dia 5 de maio, na revista Translational Psychiatry, do grupo Nature.
Embora níveis normais de D-serina sejam necessários para as funções cerebrais apropriadas, níveis excessivos de D-serina podem ser prejudiciais para o cérebro e contribuir para a DA. Mas talvez o que é mais interessante é que este estudo piloto revelou que D-serina poderia ir além de suas funções neuromoduladores e a sua medida ter aplicações clínicas, servindo como um potencial biomarcador para a doença. Novos estudos em grupos maiores de pacientes são necessários para replicar os resultados e confirmar esse potencial.