Música pode revelar como cérebro se adapta ao envelhecimento, diz estudo


Pesquisadores da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, fizeram uma descoberta importante sobre como o envelhecimento afeta o cérebro. Ao contrário do que se pensa, o processo não significa necessariamente um declínio nas funções mentais. Em vez disso, o cérebro dos idosos encontra maneiras de se adaptar às mudanças que ocorrem com o tempo, ativando outras áreas para compensar aquelas que ficam menos eficientes. As descobertas foram publicadas em um artigo na revista científica Communications Biology, que investigou as respostas cerebrais de jovens e idosos enquanto ouviam música clássica.

No estudo, 76 pessoas foram divididas em dois grupos: 39 idosos (com mais de 60 anos) e 37 jovens (entre 18 e 25 anos). Todos ouviram trechos de uma peça musical de Johann Sebastian Bach e os pesquisadores analisaram a atividade cerebral de cada um usando exames de ressonância magnética e magnetoencefalografia (MEG). Enquanto os jovens reconheceram facilmente novas melodias, o cérebro dos idosos mostrou dificuldades. Porém, algo interessante aconteceu: os cérebros mais velhos ativaram com mais intensidade as áreas sensoriais, especialmente o córtex auditivo, que processa sons.

Isso significa que, quando os idosos ouviam uma música familiar, partes do cérebro responsáveis pela percepção auditiva trabalhavam mais para compensar a menor atividade nas áreas de memória. Ou seja, o cérebro “se esforça” mais para lembrar algo que já conhece, compensando a redução da função das áreas diretamente envolvidas na memória.

O que isso significa para o envelhecimento?
Esse achado é importante porque desafia a ideia de que o envelhecimento é sempre sinônimo de declínio mental. Em vez disso, o cérebro dos idosos aitem grande capacidade de adaptação. O aumento da atividade em áreas sensoriais mostra que o cérebro busca outras maneiras de continuar funcionando bem, mesmo quando algumas regiões não são tão ativas quanto antes.

Essa capacidade de adaptação do cérebro pode ser uma chave para entender melhor o envelhecimento saudável e também para diagnosticar doenças como a demência. Os cientistas esperam que, no futuro, seja possível usar esses conhecimentos para detectar mudanças no cérebro de forma precoce, o que ajudaria a prevenir ou tratar problemas de memória antes que eles se tornem graves.

Mas por que Bach?
A escolha da música de Bach para esse experimento não foi por acaso. As composições de Bach são bem estruturadas, com padrões claros que são fáceis de memorizar. Isso ajudou os pesquisadores a ver como o cérebro dos participantes reagia à repetição e à mudança nas sequências musicais. A música, por ser intuitiva e fácil de lembrar, foi uma ferramenta valiosa para entender como o cérebro processa informações ao longo do tempo.

Agora, os pesquisadores planejam expandir o estudo, incluindo pessoas com demência leve. Eles acreditam que essas descobertas podem ser aplicadas para identificar precocemente os sinais de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, e ajudar no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.

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Fonte: Revista Veja